Desidratação
Hidratação venosa
Distúrbio hidroeletrolítico
Distúrbio ácido-básico
Carina Lassance de Albuquerque
Interna- ESCS
Coordenação: Elisa de Carvalho
Caso clínico

EMM, 3 anos, sexo feminino, branca, natural
de Brasília, procedente de S. Sebastião-DF.

História de febre (38°) há um dia associada a
20 episódios de diarréia aquosa com muco e
sangue, além de 17 episódios de vômitos,
inicialmente alimentares, evoluindo para
líquido de aspecto claro.
Caso clínico

Mãe refere oligúria, anorexia e prostração.
Procurou serviço de saúde, onde foi feita
hidratação venosa e encaminhamento para
HRAS para conclusão do tratamento. Relata,
ainda, 2 episódios de convulsão hipertônica
em membros, durante pico febril, de
resolução espontânea .
Caso clínico

-
-
-
Ao exame
Criança com saliva espessa, contactuante,
olhos empaçados.
AR: MV fisiologico,sem RA, taquipneica
AC: BNF 2T, taquicárdica
Abdome: RHA aumentados, sem VCM
Caso clínico


HD: GECA + desidratação grave + distúrbio
hidreletrolítico.
Conduta: soro fisiológico 500ml-correr em 1h
EV (11 Kg). Colher exames após fase rápida.
Caso clínico
Reavaliação:
- Não apresentou diurese
- Ectoscopia: REG, prostrada, olhos fundos, mucosas
secas, sem lágrimas, saliva escassa, apática.
- AR: MV +,sem RA, taquipnéia (FR: 44 irpm)
- AC: BNF 2T, s/ sopros
- Abdome: flácido, globoso, RHA+, sem VCM.
- Membros: bem perfundidos, sem edemas

Caso clínico
Conduta:
1.Nova expansão com soro ao meio SG5% +
SF0,9% a 30ml/Kg em meia hora.
2. Reavaliar após o término.

Caso clínico

-
-
Admissão (40 min apos a reavaliação):
REG, mucosas úmidas,saliva fluida, olhos com
lágrimas.
AR: MV fisiológico,eupneica
Demais sistemas:sem alterações
Conduta:
1.HV de manutenção (Holliday + 20%) com
reposição de Na 3% e K 2%
2. Resgatar exames e avaliar necessidade de
reposição de eletrólitos.
Caso clínico

-
-
Reavaliação vespertina(3 horas após a
internação):
Não apresentou novos episódios de vômito,
evacuou 1X fezes líquidas, esverdeadas,
sem muco, pus ou sangue.
Apresentou 2 picos febris.
Diurese clara e abundante.
Caso clínico

-
-
Exames solicitados no dia da internação:
Leu 8900 ( 29,8,58,2,1)
Hg: 10,8 g/dl (11,5 a13,5) - Ca: 7,4 mmol/l (8,3 a 10)
Ht: 33,9 % (34 a 40)
- Mg: 1,6 mEq/l
VHS: 20
(4 a 7)
- Fosf: 6,2 mg/dl (2,5 a 5)
Na: 125 mEq/l (130 a 150) - Uréia: 46
K: 4,5 mEq/l
- Creat: 0,9
Cl 102 mEq/l
Caso clínico
Conduta:
1.HV ( Holl + 20%) 3 etapas
- SG 5% 420 ml (peso:11 →1000 ml + 50 ml =
1050 + 20% =1260 : 3 = 420 ml)
- 4% NaCl 20% ( 420 x 4% = 16,8 : 3,4 = 5 ml)
- 2% KCl 10% (420 x 2% = 8,4 : 1,34 = 6,26 ml)
- Gluc Ca 10% --------- 7 ml
- Gotejamento : 438,2 : 8 = 55 mcgts/ min

Caso clínico

-
-
-
2 dias após a admissão:
Leu 11 200 (61/2/34/2/1)
Hg: 9,6
- Uréia : 17
Ht : 30,5
- Creat : 0,8
Na : 135
- Ca : ?
K : 4,6
Cl : 107
Caso clínico

4 dias após a internação, recebeu alta
hospitalar em boas condições clínicas
(hidratada e com valores de eletrólitos
normais).
Desidratação
Leve
Moderada
Grave
Turgor da Pele
Normal
Pastoso
Ausente
Enchimento capilar
Normal (até 3
seg)
Lentificado (3 a
10 seg)
Muito lentificado (mais
de 10 seg).
Mucosa oral
Úmida
Seca
Ressecada
Olhos
Normal
Enoftalmia
Enoftalmia
Acentuada
Choro/Lágrimas
Presente
Reduzido
Ausente
Fontanela
Normal
Deprimida
Muito deprimida
SNC
Consolável
Irritável
Letárgico/
Obnubilado
Pulso
Regular
Pouco
Aumentado
Aumentado
Débito urinário
Normal
Oligúria
Anúrico
Déficit estimado
25 a 50 ml/Kg
50 a 100 ml/Kg
> 100 ml/Kg
Tipos de desidratação



Hipernatrêmica
Isonatrêmica
Hiponatrêmica
Desidratação hipernatrêmica

Concentração de Na> 150mEq/l

Causas: reposição com solução hipertônicas,
diabetes insípido, diuréticos osmóticos, sudorese

Perda de água intracelular: febre alta, sede intensa,
irritabilidade, meningismo, convulsões e coma
Desidratação hipernatrêmica

-
Tratamento :
Corrigir com SG 5% ou 2,5% em 4 horas
Cálculo de déficit de água livre:


SG 4ml/kg para 1mEq de sódio que se queira
reduzir;
Vol SG = peso x 0,6 x (Na encontrado – 170)
170
Desidratação isonatrêmica




Na entre 130 e 150 mEq/l
Principais causas: vômitos e diarréia
Redução do volume extracelular e
menutenção do intracelular.
Tratamento : reposição hídrica
Desidratação hiponatrêmica





Na < 130mEq/l
Perda renal de Na, perdas GI, doenças com
edema.
Edema SNC – agitação, convulsões e coma
Tratamento: se hipovolemia, hidratar.
Cálculo da quantidade em mEq :
[(130- Na atual) x peso x 0,6]
Hipocalemia




K< 3,5 mEq/l
Causas: vômitos com alcalose, uso crônico
de furosemida, doenças renais crônicas.
Quadro clínico: fraqueza, arritmias, parada
respiratória.
Tratamento: 4 mEq/100ml/h. Checar após 4
h.
Hipercalemia
K> 5 mEq/l
 Causas: IRA, acidose metabólica, drogas
(espironolactona,...)
 Quadro clinico : fraqueza muscular, parada
respiratória, arritmias
 Tratamento:
1.Restringir/suspender K e corrigir causas
2.Antagonizar os efeitos neuromusculares com Gluc de
Ca
3. Aumentar a excreção de K com diuréticos de alça

Hipercalcemia




Ca > 10 mg/dl
Causas: hipertireoidismo, tiazídicos, acidose
metabólica
Quadro clínico : hipotonia, letargia,
constipação, dor abdominal
Tratamento: tratar causa básica, hidratar p/
excretar Ca, hemodiálise em casos graves.
Hipocalcemia




Ca < 8,3 mg/dl
Causas: hipovitaminose D, uso crônico de
furosemida.
Quadro clínico: tremores, convulsões,
taquicardia e hipotensão.
Tratamento: gluconato de Ca a 10%
2 ml/Kg/dose
Indicações para hidratação venosa




Desidratação grave,
Distúrbio HE intenso,
Vômitos incoercíveis ou perdas continuadas
intensas (> 100 ml/Kg/dia).
Não aceitação do soro.
Hidratação venosa



Fase rápida : corrigir déficit hidroeletrolítico
SG5% + SF 0,9% (1 : 1)
50ml/Kg/h
Reavaliar a cada hora
Repetir/ reduzir para 25ml/Kg/h
Quando parar ?


Sinais de desidratação desaparecerem
2 micções claras e abundantes.
Fase rápida

Ex. 1: 8Kg, com sinais de desidratação
moderada sem aceitação de TRO.
Prescrição
1) FASE RÁPIDA
Cálculo:
Volume = 50ml/Kg/h x 8Kg
Volume = 400ml em 1h
SF 0,9%, 200ml, EV
SG 5%, 200ml, EV
Correr em 1 h
2)Reavaliar após 1h.
Composição da volume:
SG 5% + SF 0,9% (1:1)
(200ml + 200ml)
Fase rápida

Ex. 2: 14 Kg, em desidratação grave.
Prescrição
1) Fase rápida (2 etapas)
Cálculo do volume:
Volume = 50ml/Kg/h x 14Kg
SF 0,9%, 175ml, EV
SG 5%, 175ml, EV
Correr em 30 min.
2) Reavaliar após 1h.
Volume = 700ml em 1h
Volume = Duas etapas de 350ml em
30 min cada
Composição do volume:
SF 0,9% + SG 5% (1:1)
(175ml + 175ml)
Fase de manutenção

Corresponde às necessidades hídricas e
eletrolíticas normais.
Até 10 Kg --------------- 100 ml por Kg/dia
Até 20 Kg --------------- 1000 ml + 50 ml por Kg/dia
> 20 Kg
-------------- 1500 ml + 20 ml por Kg/dia

Composição do vol: SF 0,9% + SG5% 1:4



Fase de manutenção


Ex. 1: Criança de 4Kg
Volume = 4Kg x 100ml/Kg/dia = 400ml/dia
Ex. 2: Criança de 14Kg
Volume = 10Kg x 100ml/kg/dia =1000ml/dia
4Kg x 50ml/Kg/dia = 200ml/dia
Total 1200ml/dia
3 Etapas: 8/8hs
400ml
SF 0,9% + SG 5% (1:4)
(80ml
+ 320ml)
Fase de manutenção

Ex. 3: Criança de 24 Kg
Volume = 10Kg x 100ml/Kg/dia = 1000ml/dia
10Kg x 50ml/Kg/dia = 500ml/dia
4 Kg x 20ml/Kg/dia = 80ml/dia
1580ml/dia
4 etapas:6/6hs
395ml
SF 0,9% + SG 5% (1:4)
(79ml + 316ml)
Fase de reposição


Correção de perdas anormais continuadas
de água e eletrólitos
Fase de Reposição
–
Desidratação isotônica


3 – 4mEq de Na em 100ml
–
Desidratação hipotônica


SG5% + SF0,9% (3:1 ou 4:1)
SG5% + SF 0,9% (2:1)
5mEq de Na em 100ml
Fase de reposição

Fase de Reposição
– Desidratação Hipertônica
 Se Na > 200 ou insuficiência renal: diálise
 Se Na > 180 e hipernatremia hiperaguda (<12 horas)
– Corrigir com SG 5% ou 2,5% em 4 horas
– Cálculo de déficit de água livre:
 SG 4ml/kg para 1mEq de sódio que se queira
reduzir;
 Vol SG = peso x 0,6 x (Na encontrado – 170)
170
Distúrbios do equilíbrio ácidobásico
Equilíbrio entre ácidos e bases depende de :
- ação de tampões
- regulação respiratória
- regulação renal

Distúrbios do equilíbrio ácidobásico

-
Sistemas-tampão:
Ácido carbônico-bicarbonato (45%)
Fosfato (hemácias, células tubulares renais)
Proteínas
Hemoglobina
Equação de HASSELBALCH

pH = pK + log[HCO3]
comp. metabólico
paCO2 X 0,03
comp. respiratório
pK = 6,1
pH = 6,1 + log 20 = 6,1 + 1,3= 7,4

Se ↑ HCO3¯ ou ↓ paCO2 → ↑pH : ALCALOSE

Se ↓ HCO3 ¯ ou ↑ paCO2 → ↓pH : ACIDOSE


Linhas de defesa

1ª linha : sistemas-tampão químicos (imediato)

2ª linha : pulmões (50%) -10 a 30 min

3ª linha : sistema renal – 24 a 72 horas
Valores normais

pH = 7,35 a 7,45

paCO2 = 35 a 45 mmHg (média de 40mmHg)

BE = - 2,5 a +2,5

paO2 = 50 a 70 mmHg
Distúrbio do equilíbrio ácidobásico
Distúrbio metabólicos:
Ganho ou perda de ácidos ou bases
Distúrbios respiratórios:
Redução ou aumento da ventilação pulmonar
Correlação entre K+ e equilíbrio ácidobásico






Acidose e K+:
↓ de 0,1 unidade no pH → ↑ de 0,6 mEq/l na
calemia, e vice-versa.
Ex: pH 7,1 K+ 6,0 mEq/l
K+ real: 7,4 – 7,1 = 0,3 ( 0,1 X 3)
K+ sérico aumentou 3 X 0,6 = 1,8
Portanto, K+ real = 6,0 – 1,8 = 4,2 ( normal).
Correlação entre Ca++ e equilíbrio
ácido-básico

↑ pH de 0,1→ ↓ de 0,46 mg% na calcemia e
vice-versa.

Acidose→ hipercalcemia

Alcalose→ hipocalcemia
Casos clínicos

Criança com diarréia e desidratação do II
grau

pH = 7,20
pCO2 = 25,0
HCO3 = 9,0
BE = - 17,0



Acidose metabólica
parcialmente compensada:
(o pH não está nomal)
Casos clínicos

Criança com diarréia e desidratação do II
grau

pH = 7, 35
pCO2 = 25,0
HCO3 = 14,0
BE = - 11



Acidose metabólica compensada:
Casos clínicos

RN em um respirador

pH = 7, 52
pCO2 = 28
HCO3 = 22,0
BE = +1



Alcalose respiratória
decompensada
Casos clínicos





Criança em uso de respirador
pH = 7, 44
pCO2 = 24
Alcalose Respiratória
Compensada
HCO3 = 16
BE = - 6
Casos clínicos





Paciente em uso de furosemida K+ = 2,0
pH = 7,56
Alcalose
metabólica
pCO2 = 40,0
descompensada
HCO3 - = 34
BE = + 11
•pH : 7,44
•pCO2 : 65,0
•HCO3 - : 34
•BE : + 11, 0
Alcalose metabólica
compensada
Casos clínicos






Paciente que ingeriu uma superdosagem de
opiáceos
pH = 7, 11
pO2 =30
Acidose respiratória descompensada
pCO2 = 85 com hipoxemia severa não corrigida
HCO3 = 24
BE
=-3
Casos clínicos





Criança com fibrose pulmonar
pH = 7, 36
pCO2 = 85
Acidose respiratória
HCO3 = 47
compensada
BE = + 15
Casos clínicos

Criança com diarréia
pH = 7, 1
Peso : 6 Kg/
pCO2 = 15,1
K+ : 6,0 mEq/l
pO2=105
Acidose metabólica
HCO3 - = 5,0
BE = - 22,5
parcialmente compensada
•
K+ real : 7,4 – 7,1= 0,3 →0,3:0,1=3→3 X 0,6=1,8
•
K+ real = 6 – 1,8 = 4,8 (normal)





Bibliografia




Oliveira, R.G. Black Book : Manual de referências
de pediatria, medicamentos e rotinas médicas.
2a. Ed. Belo Horizonte, 2002.
Margotto, P.R. Assistência ao Recém-Nascido de
Risco. 2a.ed. Brasília, 2006.
Guyton,A.C. Tratado de Fisiologia
Médica.10a.ed.Rio de Janeiro, RJ,2002.
Benseñor,I.M.Semiologia Clínica,1a.ed.São Paulo
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Distúrbio hidroeletrolítico e Distúrbio ácido-básico