Hidratação e Desidratação Fabio Macias Frade R2 de Pediatria HRAS/SES/DF Água Endógena 60% da massa corporal (1 a 12 anos) Dividida em dois compartimentos – 40% no intracelular – 20% no extracelular 15% no interstício 5% no intravascular Água Endógena Maior porcentagem de massa no RN às custas de aumento do extracelular – RNPT 80% (45/35) – RNT 75% (40/35) Diminui progressivamente com a idade Na idade adulta existem variações entre os gêneros Como a água fica nos vasos? Concentração de Sódio 30 a 35 vezes maior que o intracelular Discreto aumento na concentração de Sódio em relação ao interstício Presença de proteínas aniônicas = PRESSÃO COLOIDOSMÓTICA Como perdemos água? Diarréia:isotônica ou hipertônica Seqüestração: isotônica Perda Cutânea: hipotônica Perda Renal: iso, hipo ou hipertônica Redução na ingesta As 3 desidratações Desidratação: Depleção de água e eletrólitos no organismo. – Desidratação Hipertônica – Desidratação Isotônica – Desidratação Hipotônica Desidratação Hipertônica Tipo menos freqüente de desidratação Perda excessiva de água em relação ao Sódio Concentração de Sódio maior que 150mEq/l Osmolaridade plasmática maior que 310 mOsm/l Desidratação Hipertônica reposição com solução hipertônicas, diabetes insípido, diuréticos osmóticos Perda de água intracelular: febre alta, sede intensa, irritabilidade, meningismo, convulsões e coma Sinais discretos de hipovolemia Tratamento de risco: osmóis idiogênicos Causas: Desidratação Isotônica Tipo mais comum de desidratação Perda Homogênea de Sódio e água Sem alterações na osmolaridade sérica Concentração de Sódio entre 130 a 150mEq/l Desidratação Isotônica Sem alterações no volume intracelular Redução efetiva no volume extracelular Principal causa: diarréia e vômitos Manifestações clínicas de acordo com a intensidade das perdas hídricas Desidratação Hipotônica Perda excessiva de Sódio em relação a água Concentração de Sódio menor que 130mEq/l Osmolaridade plasmática menor que 280mOsm/l Desidratação Hipotônica Causas: diarréia e vômito associados a desnutrição grave, reposição com soluções hipotônicas, perda excessiva de suco gástrico Sinais de hipovolemia marcantes e precoces Edema SNC – agitação, convulsões e coma Desidratação - Classificação De acordo com a percentagem de redução do peso corpóreo – Leve – perda ponderal até 5% desidratação leve – Moderada – perda ponderal entre 5 e 10% - desidratação moderada – Grave – perda ponderal acima de 10% - desidratação grave Desidratação Leve Moderada Grave Turgor da Pele Normal Pastoso Ausente Toque da Pele Normal Seco Fria e Inelástica Mucosa oral Úmida Seca Ressecada Olhos Normal Enoftalmia Enoftalmia Acentuada Choro/Lágrimas Presente Reduzido Ausente Fontanela Normal Deprimida Muito deprimida SNC Consolável Irritável Letárgico/ Obenubilado Pulso Regular Pouco Aumentado Aumentado Débito urinário Normal Oligúria Anúrico Desidratação Leve Orientação familiar e profilaxia da desidratação: – Se em aleitamento materno exclusivo, manter – Se em aleitamento misto, manter LM e aumentar oferta habitual de líquidos – Sem aleitamento: manter a dieta e aumentar oferta de líquidos – Orientar sobre os sinais de desidratação – Sais de Reidratação Oral em casa Desidratação Moderada Terapia de Reidratação Oral – SRO 50 a 100 ml/kg no período de 4 a 6 horas – Oferecer em copos, conta-gotas ou colheres Aleitamento materno mantido Alimentação artificial suspensa Se vômitos, diminuir o volume das tomadas e aumentar a freqüência Sais Reidratação Oral Cada envelope deve ser dissolvido em 1 Litro de água correspondendo a: 90mMol/l de sódio 80mMol/l de cloro 20mMol/l de potássio 10mMol/l de citrato 11mMol/l de glicose com osmolaridade de 311mMol/l TRO via SNG Indicações: – Insucesso via oral – perda de peso após as duas primeiras horas de tratamento – Vômitos persistentes (mais de 4 episódios em uma hora) – Recusa persistente da solução TRO via SNG SRO nos primeiros 10 minutos na velocidade de 30 ml/kg/h, se bem tolerada pode-se aumentar até 60 ml/kg/h Na presença de náuseas ou vômitos, velocidade inicial de 15 ml/kg/h e depois aumentar gradativamente TRO – Contra-indicações Situações que não permitam a ingestão oral Ausência de ganho ponderal após 2h com SNG Vômitos persistentes após uso de SNG Íleo paralítico Suspeita de processo infeccioso grave Presença de sinais de irritação peritoneal Choque hipovolêmico TRO – Manutenção e Reposição Sais de Reidratação Oral em casa Oferecer líquidos para as necessidades hídricas basais e cobrir as perdas hidroeletrolíticas anormais Reiniciar a alimentação (não manter a criança em jejum) Respeitar a recusa Reposição Hídrica TRO Hidratação Parenteral – Fase Rápida – Manutenção: Consumo Calórico Superfície Corpórea Holliday-Segar – Reposição Hidratação Parenteral Fase de reparação (rápida): corrigir o déficit hidroeletrolítico Fase de manutenção: fornecer água e eletrólitos para atividade metabólica basal, independente das perdas patológicas Fase de reposição: corrigir perdas anormais após a reversão do quadro agudo de desidratação Desidratação Grave Hidratação Parenteral Fase de reparação: – Soro glicofisiológico (SG 5% + SF 0,9% 1:1) – Volume e velocidade: 50 ml/kg em uma hora – Reavaliar ao término da 1ª etapa. Repetir ou reduzir para 25 ml/kg/h – Suspender quando ocorrer 2 micções claras e abundantes com densidade urinária menor que 1.010, melhora clínica e desaparecimento dos sinais de desidratação. Desidratação Grave Hidratação Parenteral Fase de reparação - Situações especiais – Hiponatremia severa – Acidose grave – Hipocalemia grave Hiponatremia Severa (Na < 120mEq/l) Deve-se converter a desidratação hiponatrêmica em isonatrêmica para prosseguir o tratamento com soro glicofisiológico Corrigir com solução de NaCl 3%, equivalente a 0,5 mEq/ml (15ml NaCl 20% + 85ml AD =100ml NaCl 3%) Número de miliequivalentes de sódio a ser administrado: (Na+ desejado - Na+ encontrado) x 0,6 x peso Sem dosagem de sódio: administrar 12ml/kg de NaCl 3% em 1 hora (eleva concentração de sódio em 10 mEq/l) Hiponatremia Severa Casos agudos: velocidade de infusão de 5mEq/kg/h = 10ml/kg/h NaCl 3% Casos crônicos: velocidade de infusão de 2,5mEq/kg/h = 5ml/kg/h NaCl 3% Tempo de correção de 2 a 4 horas Em casos crônicos não elevar o nível de sódio sérico mais que 12mEq/l em 24 horas Mielinólise pontina central Acidose Grave (pH < 7,10 ou HCO3 < 8mEq/l) Deve-se diminuir a intensidade da acidose para prosseguir o tratamento Número de miliequivalentes de bicarbonato a ser administrado: (15 – HCO3 encontrado) x 0,3 x peso Corrigir com solução de NaHCO3 1,5%, isosmolar, (SG5% + NaHCO3 8,4% 5:1, concentração final 0,18mEq/l), com tempo de infusão de 2 horas Acidose Grave Se quadro clínico sugestivo (respiração de Kussmaul, má perfusão periférica) sem gasometria, utilizar solução com 7/12 de SG 5%, 4/12 de SF 0,9% e 1/12 de NaHCO3 3% (7:4:1) Administrar 50ml/kg em uma hora Hipocalemia Severa (Potássio < 2,5mEq/l) Administrar potássio em uma taxa de infusão entre 0,2 e 0,4mEq/kg/h durante 4 a 6 horas Em casos mais graves pode-se chegar a 0,3 - 0,5mEq/kg/h, 3 a 5 horas A concentração máxima para reposição em veia periférica é 4mEq/100ml de solução (3ml KCl 10% em 100ml) Hipocalemia Severa (Potássio < 2,5mEq/l) Concentrações maiores que 8mEq/100ml só podem ser usadas em veia central e sob monitorização intensiva Solução KCl 10%: 1ml = 1,3mEq Solução KCl 15%: 1ml = 2,0mEq Consumo Calórico O consumo de água e eletrólitos não está baseado no peso mas no consumo calórico Determina-se o metabolismo basal da criança por meio do gasto em repouso Ajusta-se o valor de acordo com as atividades/enfermidades Superfície Corpórea Consumo calórico é proporcional a superfície corpórea Não é recomendado para menores de 10Kg Ineficiente em vigência de alterações metabólicas – Água: 1500ml/m2 em 24h – Sódio: 30-50mEq/m2 em 24h – Potássio: 20-40mEq/m2 em 24h Holliday-Segar Rápido e simples Estima o consumo calórico baseado apenas no peso corpóreo presumindo que para cada 100 Cal metabolizadas, 100ml de água são necessários Inapropriado para prematuros e RN com menos de 14 dias Superestima a necessidade de fluidos quando comparado ao método de consumo calórico Hidratação Parenteral Holliday-Segar Peso até 10 Kg ..................100ml/Kg De 10 a 20 Kg .................. .1.000ml + 50ml para cada Kg acima de 10Kg Peso acima de 20 Kg ........1.500ml + 20ml para cada Kg acima de 20 Kg Hidratação Parenteral Holliday-Segar Reposição de Sódio Peso até 10 Kg ................ 3 mEq/Kg/dia De 10 a 20 Kg ................. 1,5 mEq/Kg/dia Peso acima de 20 Kg ....... 0,6 mEq/Kg/dia Hidratação Parenteral Holliday-Segar Reposição de Potássio Peso até 10 Kg ................ 2 mEq/Kg/dia De 10 a 20 Kg ................. 1mEq/Kg/dia Peso acima de 20 Kg ....... 0,4 mEq/Kg/dia Hidratação Parenteral Fase de Reposição – Perdas insensíveis: 50 ml/ 100cal/dia – Perdas urinárias: 60 ml/ 100cal/dia – Água endógena: -10 ml/ 100cal/dia – Balanço hidrico = 100ml/100cal/dia Hidratação Parenteral Fase de Reposição – Estimativa das perdas: Hiperventilação: 15 a 45 ml/100cal/dia Sudorese: 20 a 40 ml/100cal/dia Diarréia leve: 20 a 30 ml/100cal/dia Diarréia moderada: 30 a 60 ml/100cal/dia Febre: 10 ml/100cal/dia Fototerapia/berço aquecido: 10ml/100cal/dia Hidratação Parenteral Fase de Reposição –Desidratação isotônica SG5% + SF0,9% (3:1 ou 4:1) 3 – 4mEq de Na em 100ml –Desidratação hipotônica SG5% + SF 0,9% (2:1) 5mEq de Na em 100ml Hidratação Parenteral Fase de Reposição – Desidratação Hipertônica Se Na > 200 ou insuficiência renal: diálise Se Na > 180 e hipernatremia hiperaguda (<12 horas) Corrigir com SG 5% ou 2,5% em 4 horas Cálculo de déficit de água livre: SG 4ml/kg para 1mEq de sódio que se queira reduzir; Vol SG = peso x 0,6 x (Na encontrado – 170) 170 Hidratação Parenteral Fase de Reposição –Desidratação Hipertônica Se Na entre 160 e 180 (corrigir em 48 horas): – Sem choque: SG 5% + SF 0,9% (1:1 – 7,6 mEq/100ml) a 8 – 10ml/kg/h por 6 horas ou até diurese – Se hidratado: SG 5% + SF 0,9% (1:1 – 7,6 mEq/100ml) a 4 a 6 ml/kg/h até que a concentração sérica de sódio chegue a 160mEq/l Choque Hipovolêmico Solução: soro fisiológico 10 a 20ml/kg em 5 a 20 minutos, repetir enquanto persistirem sinais de choque Se evolução desfavorável, considerar o uso de: –Albumina: 0,5 a 1,0 g/kg ou Plasma fresco: 10ml/kg Situações Especiais Desnutridos Cardiopatas Recém-nascidos Insuficiencia renal Obrigado!!!!