TICIP AÇÃO NOS RESUL TADOS OU L UCROS: PARTICIP TICIPAÇÃO RESULT LUCROS PAR uma alterna tiv a maximizar alternativ tiva para a par a ef icácia or ganizacional eficácia org Novas formas de remuneração ganham espaço nas empresas e contribuem para melhores resultados Maria Alice Moura e Claro O desafio de se manterem competitivas em um mercado globalizado força as empresas a desenvolverem novas formas de gerenciar o negócio e de administrar as pessoas que nelas trabalham. O advento de novos métodos de trabalho e a valorização do capital intelectual exigem tecnologias de gestão mais adequadas para a obtenção dos resultados almejados. Aborda-se aqui uma das ferramentas consideradas pelos autores contemporâneos como fundamentais para a obtenção do comprometimento por parte dos empregados: o Sistema de Remuneração por Resultados. Empr esas Intelig entes Empresas Inteligentes Em muitas empresas brasileiras predomina ainda uma administração de recursos humanos burocrática, com pouca ou nenhuma preocupação com o capital intelectual. Percebe-se uma espécie de dissonância cognitiva nesses empresários, pois embora desejem uma organização eficaz não desenvolvem ações condizentes com esse pensamento. Busca-se aumentar a produção, porém investe-se o mínimo necessário naqueles que geram, com o seu trabalho, maior produtividade. A força de trabalho, na maioria das vezes, é considerada um recurso descartável. Muitos empresários, porém, aos poucos estão despertando para a necessidade de imprimir mudanças profundas na maneira pela qual as pessoas são administradas. A adoção de formas de remuneração ligadas ao desempenho, modalidade que cresce em todo o mundo, tem sido um dos caminhos seguidos. Apesar de uma evolução ainda muito tímida da remuneração por resultados e do profundo ceticismo ainda existente no Brasil, empresas inteligentes e de sucesso têm investido cada vez mais em novas formas de remuneração, por entenderem que contribuem para garantir o seu diferencial competitivo. ... 41 r e v i s t a F A E B U S I N E S S , n. 2, jun. 200 2 Consultores de renome nacional atestam que existem dois tipos de empresários: aqueles que irão esperar a remuneração por resultados tornar-se lei, e aqueles com visão de futuro, que antevêem os benefícios da participação nos resultados e estão implantando o sistema em suas empresas. O governo brasileiro, talvez com o intuito de sensibilizar as empresas para a questão da flexibilização dos salários ou da competitividade, anunciou, em dezembro de 1994, Medida Provisória relativa à participação dos empregados nos lucros ou resultados da empresa. Resultados organizacionais positivos, contudo, não acontecem por decreto, por acaso ou por milagre. São conseqüência direta do trabalho focalizado na qualidade, na preocupação com o cliente, no fortalecimento de parcerias e no investimento em empregados comprometidos com a organização. Empresas inteligentes e de sucesso têm investido cada vez mais em novas formas de remuneração, por entenderem que contribuem para garantir o seu diferencial competitivo Gestão Objetiv os da R em uner ação Objetivos Rem emuner uneração por R esultados ou Lucr os Resultados Lucros A grande maioria das empresas remunera seus funcionários com base apenas nos cargos, ou seja, nas atividades realizadas. O problema maior da remuneração por cargos é que ela não diferencia adequadamente o desempenho individual. A razão mais relevante que leva à adoção da remuneração por resultados ou por lucro é o estabelecimento de um vínculo direto entre a recompensa recebida pelo trabalhador e o esforço realizado por ele para conseguir o resultado definido pela empresa. Por isso, quanto mais transparente for esse vínculo, melhor para o sistema e melhor para o empregado. Ao se implantar um sistema de remuneração por resultados ou por lucro, os empresários têm basicamente três objetivos: a) estabelecer um vínculo do desempenho com a recompensa; b) compartilhar os bons e os maus resultados operacionais da empresa; 42 r e v i s t a F A E B U S I N E S S , n .2, jun. 2 0 02 c) transformar custo fixo em custo variável. As vantagens são muitas: reforço de uma cultura participativa e do trabalho em equipe; melhoria da coordenação do trabalho; desenvolvimento de visão mais abrangente do negócio e dos sistemas; ênfase em melhoria da qualidade e na redução de custos; incentivo à busca de inovações de produtos, processos e gestão; redução da resistência a mudanças; aumento da pressão dos funcionários por sistemas de gestão mais eficazes. Na construção do sistema de remuneração por resultado ou por lucro deverão ser definidos indicadores e metas de desempenho convergentes com as diretrizes e objetivos estratégicos da empresa. É necessário que os empregados tenham completo entendimento desses objetivos organizacionais e que as metas estejam claras e sejam adequadas e factíveis, pois poderá ocorrer a desmotivação dos empregados quando perceberem que não conseguirão atingi-las. Rem uner ação V ariáv el emuner uneração Variáv ariável Os sistemas de participação nos resultados ou lucros não têm caráter permanente. Dependem do ciclo de vida da própria empresa e são permeados por fases de crescimento, consolidação e declínio. Por essa razão, requerem diferentes políticas de remuneração. É bastante usual o modelo híbrido de sistema de remuneração variável, em que se negocia a participação nos lucros e nos resultados ao mesmo tempo. Alguns acordos trazem a fixação de metas a serem atingidas, mas o pagamento somente é realizado se a organização registrar um determinado percentual de lucro. Nesse caso, o empregado corre o risco de empenhar-se, conseguir atingir as metas, e a empresa não atingir lucro – muitas vezes em função do mercado ou de outras variáveis que estão fora do alcance do trabalhador. Para uma correta e adequada construção do sistema de participação nos resultados ou lucros, evidenciam-se alguns aspectos importantes: fazer o diagnóstico da empresa (características internas e suas interações com o meio ambiente); conhecer teoricamente os diversos tipos de remuneração; definir claramente quais os componentes do sistema para garantir os resultados; e elaborar um modelo transparente e funcional de tal forma que assegure a aceitação e manutenção. O sistema deve sempre garantir alguns princípios básicos, para que se obtenha o maior aproveitamento e se consiga reforçar os esforços individuais e/ou grupais na organização. Esses princípios baseiam-se na melhoria do desempenho, do valor da recompensa, do reconhecimento, do estabelecimento de metas, do desenvolvimento, e da atração e retenção do capital intelectual. Desconforto Inicial A implantação do sistema de remuneração variável pode provocar, num primeiro momento, algum desconforto – especialmente de natureza psicológica –, tanto para a empresa quanto para o empregado, como o estresse decorrente do receio pelas mudanças. Existem, ainda, alguns custos que devem ser considerados: os custos diretos com o diagnóstico da empresa, estudo do sistema, preparação do plano, comunicação, implantação e administração do plano; e os custos indiretos com treinamento e desenvolvimento das pessoas da empresa. Pesquisa realizada junto às empresas que possuem o sistema permite-nos deduzir que o sistema de remuneração por resultados ou por lucros, embora possa enfrentar algumas resistências para a implantação, até mesmo em função dos custos citados, traz aumento de produtividade, refletindo de forma positiva no desempenho organizacional. É correto também afirmar que ocorrem mudanças de atitude por parte dos empregados, que se tornam mais participativos, comprometidos com os resultados e motivados para a tarefa. O sistema, porém, por si só não é capaz de concretizar os anseios da empresa e dos empregados. Para que os resultados projetados sejam alcançados, faz-se necessário inserir na gestão de pessoas ferramentas capazes de oferecer adequada sustentação ao sistema. Fator es de Sucesso tores Há sete fatores essenciais para o sucesso de um plano de participação nos resultados ou lucros. São eles: 1) orientação estratégica clara; 2) flexibilidade; 3) metas factíveis (garantia de que os objetivos almejados estão ao alcance dos empregados); 4) avaliação contínua; 5) respeito à diversidade (níveis hierárquicos, funções, unidades de negócios, entre outros); 6) separação explícita entre remuneração fixa e variável; 7) simplicidade (metodologias e fórmulas complicadas levam os empregados à desconfiança do plano). O advento de novos métodos de trabalho e a valorização do capital intelectual exigem tecnologias de gestão mais adequadas para a obtenção dos resultados almejados Uma experiência nos anos 30, na indústria de equipamentos elétricos Lincoln Eletric Company, de Ohio, EUA, entrou para a história. A empresa desenvolveu àquela época uma política de participação nos resultados bastante similar à dos programas adotados atualmente. O resultado operacional alcançado por ela apresentava três vezes a produtividade média das empresas do setor. A empresa passou quase 60 anos sem ter prejuízo, e três décadas sem realizar dispensa de empregados. A Lincoln Eletric tornouse símbolo de sucesso empresarial e foi objeto de estudo da escola de Administração da Universidade de Harvard. As lições da Lincoln Eletric Company, complementadas pelas experiências contemporâneas, ensinam que uma política de participação nos resultados ou lucros depende de um programa de comunicação interna amplo e irrestrito, que divulgue o sistema para os empregados por meio de palestras, treinamentos, reuniões e cartilhas, explicitando os objetivos da empresa, uniformizando o conhecimento sobre o sistema de remuneração adotado e compartilhando com os empregados as dificuldades do programa. O sucesso estará garantido se os empregados se sentirem respeitados, perceberem transparência e desenvolverem confiança no processo. Maria Alice Moura e Claro é psicóloga, mestre em Administração e doutoranda em Gestão de Negócios pela UFSC e professora da FAE Business School. E-mail: [email protected] ... 43 r e v i s t a F A E B U S I N E S S , n. 2, jun. 200 2