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O QUE PENSAM OS ALUNOS A RESPEITO DOS MÉTODOS PEDAGÓGICOS
INOVADORES: UM ESTUDO FEITO À LUZ DA TEORIA CRÍTICA
WATANABE, Claudia Akiko Arakawa
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
Programa de Estudos Pós-Graduados em Educação: História, Política, Sociedade
Agência de fomento: CAPES
Resumo
O presente estudo é parte integrante de uma dissertação de mestrado desenvolvida com
o objetivo de verificar se haviam diferenças no modo como os alunos de uma escola
pública e de uma escola particular interagem com o conhecimento escolar. Este artigo
apresenta partes da dissertação que trata do posicionamento do grupo pesquisado a
respeito dos métodos pedagógicos utilizados em sala de aula. Os sujeitos da pesquisa
são estudantes do sexto ano do Ensino Fundamental de uma escola da rede pública
estadual e de uma escola da rede particular do município Santo André. O procedimento
metodológico para a coleta de dados consistiu no questionário aplicado no ano de 2010
com questões abertas e fechadas. A principal hipótese era de que os estudantes
considerassem os recursos pedagógicos inovadores e tecnológicos tais como Internet e
televisão como importantes meios para a aquisição do saber escolar, já que fazem parte
intensa do cotidiano da juventude atual. Utilizou-se como método de análise a Teoria
Crítica da Sociedade, desenvolvida pela primeira geração da Escola de Frankfurt, tendo
como conceito-chave a racionalidade tecnológica. Os resultados indicaram semelhanças
entre as duas escolas, manifestadas pela apreciação dos alunos por atividades
interativas, práticas e ainda, com possibilidades de exercício de autonomia. Por outro
lado, no que se referem ao seu aprendizado, os alunos sinalizaram preferir os métodos
pedagógicos considerados mais tradicionais, com menos recursos tecnológicos. Quanto
às diferenças entre as escolas, observou-se que os alunos da particular parecem aderir
mais à ideologia liberal responsabilizando-se por suas atitudes, enquanto que na escola
pública, os alunos preferem aguardar por soluções mais instrumentais, denotando maior
adesão à racionalidade tecnológica.
Palavras-chave: práticas pedagógicas, racionalidade tecnológica, formação do aluno.
Reflexões acerca dos métodos pedagógicos
Em minha prática cotidiana, como professora de História do ensino
fundamental da rede estadual de São Paulo, percebi que em determinados momentos da
aula os alunos se mostravam bastante atentos, emitindo observações e fazendo
perguntas a respeito do conteúdo proposto. Porém, em outras ocasiões, parecia reinar
certa apatia e desinteresse verificados pela dificuldade dos alunos em descrever o que
foi visto ou, ainda, a permanência das “conversas paralelas”, indício do não
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envolvimento deles pelos conteúdos propostos, sem que fosse possível identificar as
razões que geravam situações tão distintas.
Visando ampliar o entendimento acerca da falta de interesse dos alunos frente
ao conhecimento escolar, tendo como noção chave a relação entre aluno e
conhecimento, efetuou-se um levantamento bibliográfico por meio da leitura de
resumos extraídos da base de dados da Capes (banco de teses e dissertações) e do sítio
Scielo Brazil. Foram escolhidas expressões que pudessem indicar as possíveis causas
para a falta de interesse dos alunos frente aos conteúdos escolares utilizando-se as
seguintes palavras-chave: “desinteresse dos alunos”, “alunos desinteressados”,
“indisciplina no ensino”, “fundamental e médio” e “professores bem sucedidos no
ensino fundamental”. Após vários refinamentos cujo principal critério consistiu nos
resumos que fizessem alguma menção sobre as causas da falta de interesse dos alunos
do Ensino Fundamental II e Médio frente ao conhecimento escolar, observou-se que a
temática envolvendo práticas pedagógicas foi a mais citada representando 41% do total,
um indicativo de que os métodos pedagógicos são considerados, no âmbito acadêmico,
numa importante ferramenta no processo de ensino e aprendizagem. Entretanto, de igual
maneira, observou-se que a maior parte dos resumos selecionados não abordou a
pressão que a sociedade exerce sobre aqueles que participam do processo educacional.
Em outras palavras, aspectos sociais que contribuem para a formação cultural dos
sujeitos, e que interferem no seu modo de agir e pensar, não foram analisados em
profundidade.
Ao se fazer o estudo a respeito da formação dos indivíduos, à luz da Teoria
Critica, percebeu-se que o indivíduo da sociedade administrada encontra-se em declínio,
envolto numa dominação ensejada pela racionalidade tecnológica. Crochík (1990) pela
perspectiva crítica conceituou a racionalidade tecnológica como sendo aquela que:
se exprime pela ênfase na produtividade e no
produto, na invasão da esfera da interação humana
pela esfera da produção material, pela identificação
entre coisa e função, pela operacionalização de
conceitos no pensamento unidimensional. Nela, o
virtual é negado e só o atual é afirmado, forçando a
resignação à realidade tal como se apresenta no
momento, diminuindo, assim, o surgimento de
propostas e ações que venham alterá-la (Crochík,
1990, p.142)
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Segundo Marcuse (1969), a intensificação da produção industrial no século XX
provocou mudanças profundas na sociedade. Uma das alterações refere-se à substituição
gradativa do capitalismo concorrencial para o capitalismo de monopólios, em que a
relação indivíduo e sociedade, permeada pela tecnologia, transformou o modo de
pensar, agir e sentir do indivíduo. Marcuse observou que o advento das máquinas,
caracterizadas pela eficiência e a rapidez, provocou a redução da autonomia profissional
do trabalhador, aumentando a sua dominação, integrando-o social e culturalmente à
sociedade capitalista. Isso significa que, em nome do progresso técnico, o homem
passou a se submeter ao aparato produtivo. O autor observou que o indivíduo hoje
deixou de ser autônomo e de determinar a sua própria vida, preferindo depositar todas
as suas aspirações e dúvidas na ciência e na técnica, pelo fato de acreditar tratar-se de
instâncias neutras. Dito de outro modo, o processo de perda da subjetividade, iniciado
desde o século XIX, passou a adquirir contornos totalitários, levando o indivíduo à
perda da liberdade e da capacidade reflexiva, já que ele não é mais capaz de distinguir o
que é real do aparente.
Para os frankfurtianos, em nome da autoconservação, os indivíduos
desenvolvem mecanismos fazendo uso da violência, da astúcia e do emprego da técnica
para satisfazer os anseios pessoais centrados na aquisição de bens, atendendo assim aos
apelos do capital. O indivíduo passa, então, a ser medido por suas eficiência e
qualidades, incentivadas pelas instituições formadoras como a escola, que organizam
suas atividades em função de manifestações ideológicas em que, ora assumem
características liberais com a promessa de um futuro digno aos alunos por meio do seu
esforço individual, ora de mentira manifesta em que, em nome do trabalho e do
progresso, a adesão aos ditames escolares é feita irracionalmente, ora, ainda, de
racionalidade tecnológica, em que os fins escolares encontram-se somente no modo
como interagem com o conhecimento, todas elas contribuindo para o caráter de
adaptação dos alunos à sociedade estabelecida.
Giovinazzo Jr (2003) ao pesquisar o comportamento dos alunos do Ensino
Médio, também identificou na escola, a valorização excessiva da técnica, refletida na
busca dos professores por atividades inovadoras, centradas na didática e na metodologia
de ensino. Esta preocupação também consta das políticas atuais. No intuito de promover
o ensino supostamente de qualidade, verifica-se que iniciativas com vistas à
dinamização e eficiência do ensino têm sido continuamente apresentadas pela Secretaria
da Educação do Estado de São Paulo. A adoção de orientações expressas nos
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documentos oficiais inseridos nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN – Brasil,
1999) e na Proposta Curricular do Estado de São Paulo (São Paulo, 2008) tem
objetivado a padronização dos métodos pedagógicos, dos conteúdos escolares e dos
objetivos das escolas da rede estadual. Em se tratando dos métodos pedagógicos, o
governo do Estado de São Paulo tem investido em equipamentos, contratação de
professores e coordenadores, cursos de capacitação para professores e gestores,
materiais diversificados como as apostilas bimestrais, livros, filmes, entre outras
medidas, visando promover o aprendizado dos estudantes. A Secretaria também
instituiu metas de desempenho por escola por meio da análise dos dados provenientes
das avaliações Saresp, premiando inclusive as escolas que apresentam de alguma forma
melhoria no aprendizado dos alunos. Contudo, apesar das ações efetuadas pelo governo
estadual, observa-se que o nível de aprendizagem continua abaixo do esperado, refletido
nos índices de desempenho que, no geral, não apresentaram grandes avanços. Pelo
contrário, as informações de 2010 demonstraram retrocesso no desempenho entre os
alunos do 9º ano do ensino fundamental e do ensino médio, atingindo níveis de anos
anteriores. No entanto, a Secretaria da Educação de São Paulo tem sinalizado que as
reformas pedagógicas continuarão a ocorrer. Percebe-se que reflexões e investigações
sobre os fatores sociais que interferem positiva ou negativamente na formação cultural
não são discutidas, visto que a técnica é eleita como a melhor solução para os problemas
educacionais.
Pela perspectiva da Teoria Crítica, Adorno (1996) chamou a atenção ao
afirmar ser necessário romper com a educação enquanto mera apropriação de
instrumental técnico e receituário para a eficiência. Em se tratando das reformas
pedagógicas, ele afirmou que:
as reformas pedagógicas isoladas, indispensáveis, não trazem
contribuições substanciais. Poderiam até, em certas ocasiões,
reforçar a crise, porque abrandam as necessárias exigências a
serem feitas aos que devem ser educados e porque revelam uma
inocente despreocupação frente ao poder que a realidade extra
pedagógica exerce sobre eles (Adorno, 1996, p. 6).
Essa observação leva a duas questões: a confiança excessiva na técnica,
representada pelas reformas pedagógicas a partir do que, por meio das inovações, a crise
educacional estaria solucionada e a visão fragmentada da educação, em que se oculta as
condições objetivas oriundas dessas práticas.
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Entende-se que Adorno não coloca em dúvida a necessidade de reformas
escolares. Entretanto, defende que, ao centrarmos as preocupações educacionais
somente nas reformas escolares, corre-se o risco de enfraquecer ainda mais a capacidade
de dedicação, o aprofundamento espontâneo e a liberdade do indivíduo. Nesses termos,
os meios caracterizados pelas atividades desenvolvidas pelos alunos podem vir a se
tornar fins em si mesmos, o que os levaria à perda da capacidade reflexiva. O indivíduo
possuiria a liberdade, mas ao mesmo tempo não necessitaria adquiri-la; na verdade, não
enxergaria outra possibilidade, visto que ele sofre a redução da percepção do mundo em
que a visão tecnológica tende a se estender para as diversas esferas da vida, como a
política, a comunicação, a sexualidade, a família e o trabalho.
Giovinazzo Jr. (2003), ao entrevistar alunos adolescentes de uma instituição
pública, observou situações que denotaram a falta do pensamento crítico dos alunos. O
autor identificou que algumas das interpretações feitas por eles não passavam de
“reprodução de clichês e estereótipos, o que paralisa o movimento do sujeito e do objeto
e dificulta a reflexão e a auto-reflexão” (Giovinazzo Jr., 2003, p. 204). Observou, ainda,
que são escassas as possibilidades dos alunos de manterem uma relação autêntica com o
conhecimento. Nesses termos, Adorno (1996) chamou a atenção para os perigos da falta
da experiência formativa, ao afirmar que o entendido e o experimentado medianamente
pelas pessoas não constituem o grau elementar da formação, apresentam-se inclusive
como prejudiciais, ao produzir indivíduos unicamente capazes de executar o que
Adorno denominou de pseudoatividades. Para o autor, a pseudoatividade constitui-se
numa prática decorrente da perda da experiência autêntica, em que a ação é feita
automaticamente, sem a reflexão, agravada ainda pela noção da “racionalidade do
sempre igual”. (Adorno, 1995). Esse tipo de situação leva o indivíduo à
pseudoformação, definida como o tipo de formação que se dá por uma experiência
esvaziada da teoria, em que o conhecimento é assimilado de modo fragmentado,
decorrente, entre outros aspectos, da perda da visão do todo, da valorização excessiva da
técnica e da falta da crítica reflexiva. Verifica-se, portanto, a tendência a partir da qual o
estudante pode ser concebido como dotado de comportamentos padronizados, sem a
capacidade para o pensamento próprio e vivendo de acordo com os ditames da
racionalidade tecnológica, não conseguindo, portanto, visualizar além do que é proposto
pelo sistema.
Para Adorno, as reformas educacionais precisam se organizar para além da
racionalidade burocrática. É necessário perceber que a cultura tem se submetido à lógica
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exterior a ela (econômica), produzindo de acordo com regras impostas, harmonizando
meios e fins alheios, impedindo sua autonomia. Para este autor, o debate educacional
precisa ser articulado com trabalho e avanço cultural. É necessário fazer a distinção
entre falso e verdadeiro. No âmbito escolar, é preciso retomar e promover o
esclarecimento. Giovinazzo Jr. (2003), embora tenha identificado nos alunos marcas
resultantes das pressões sociais, atentou também para a existência de traços de
resistência, manifestados pelo desejo de se contraporem a estas tendências marcadas
pela racionalidade tecnológica, mesmo que tais traços ainda estejam demarcados pelas
pressões da sociedade. Seguindo os postulados dos autores da teoria crítica destacados
aqui, se faz necessário tornar consciente os elementos da sociedade por meio da
educação política com viés sociológico e filosófico. Uma educação pautada no esforço,
espontaneidade e interesse dos alunos, na ampliação do repertório cultural, com a
superação das referências que mantêm o indivíduo preso ao contexto imediato com o
objeto, na consciência que possa permitir a autoconsciência, na capacidade para o
pensamento lógico e relacional, não perdendo de vista os nexos entre o todo e as partes,
na relação com a linguagem que permita precisão, na superação da cisão entre teoria e
práxis, superação que possibilita a experiência
Relação dos alunos com as atividades didáticas
Este item apresenta dados referentes às situações que ocorrem em sala de aula
envolvendo as atividades desenvolvidas por eles, no intuito de se observar como as
opiniões emitidas a respeito destas práticas pedagógicas influem no seu comportamento
frente à aquisição do saber.
Os dados foram obtidos por meio de um questionário aplicado em duas escolas
localizadas num bairro de classe média, próximas da região central de Santo André-SP.
Com relação aos critérios utilizados na escolha das escolas, no caso da instituição
pública, como o objetivo do trabalho foi investigar a relação que o aluno possui com os
métodos pedagógicos, se fez necessário selecionar uma escola que apresentasse
condições objetivas favoráveis à aprendizagem representados pela presença constante
de professores na escola, a existência de materiais didáticos disponíveis e gestores com
eficiência reconhecida pela comunidade. Desse modo, por intermédio da Diretoria de
Ensino de Santo André, a escola estadual alvo da pesquisa foi escolhida pelo fato de
apresentar um dos melhores índices do Saresp da cidade. No caso da rede particular, a
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seleção foi feita mediante a sua proximidade geográfica com a escola pública, já que
ambas situam-se no mesmo bairro.
A amostra de alunos para a realização da pesquisa foi composta de 68 alunos
no total, sendo que 48 alunos pertencem à escola estadual e 20 alunos a uma escola
particular. Os sujeitos da pesquisa são alunos do sexto ano do Ensino Fundamental.
Optou-se por este nível de escolaridade pelo fato do aluno do sexto ano, com idade entre
10 e 11 anos, encontrar-se em processo de formação, não tendo incorporado totalmente
as determinações sociais, sentindo-se, portanto, mais livres para a emissão de opiniões
sem se preocupar com sua repercussão.
Quanto aos instrumentos de pesquisa, o questionário foi o instrumento adotado
por apresentar as seguintes vantagens: a possibilidade de englobar a um bom número de
alunos, condição considerada necessária pelo fato do objeto de investigação poder
apresentar-se envolto nas tendências do grupo, o que dificultaria extrair opiniões mais
subjetivas; o oferecimento das mesmas condições para os entrevistados que, ao
responderem ao questionário, compartilhariam do mesmo tipo de ambiente, garantindo
certa uniformidade de condições na hora de responder as perguntas; o anonimato, que
criaria condições para que os alunos se sentissem mais livres para exprimir suas
opiniões e, por fim, a disponibilidade de um tempo maior para que o aluno consiga
pensar sobre o que lhe foi perguntado, o que possibilitaria ao entrevistado organizar
melhor suas idéias, respondendo-as com mais precisão.
A principal hipótese desta pesquisa era de que os estudantes considerassem os
recursos inovadores e tecnológicos tais como Internet e televisão como importantes
meios para a aquisição do saber escolar, já que fazem parte intensa do cotidiano da
juventude atual.
Numa questão fechada, os alunos elencaram as duas atividades mais
apreciadas. De acordo com os dados, na escola pública a “confecção de desenhos” foi a
mais votada com 43% do total; em seguida eles apontaram os “filmes”, com 41,7% e os
“trabalhos em grupo”, com 33,3%. Entre os alunos da escola particular “assistir aos
filmes” foi a atividade mais lembrada com 65%, seguida dos “trabalhos em grupo”, com
55% e as “explicações do professor”, com 20%.
Quanto às ações menos apreciadas em sala de aula, os alunos da escola pública
citaram não gostar da “resolução de exercícios”, com 10,4%; dos “trabalhos
individuais”, com 10,4%; da “redação”, 12,5% e das “explicações do professor”, com
12,5%. Entre os alunos da particular, 5% não apreciam os “trabalhos individuais”;
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“leitura”, 5%; “redação”, 10% e a “confecção de desenhos” e “exercícios”, ambos com
15%. Estes dados parecem mostrar que os alunos dão preferência por atividades mais
interativas, fazendo o uso da tecnologia e ainda, que possam gozar de alguma
autonomia. Em contrapartida, eles parecem não apreciar as atividades mais
“controladas”, individualizadas e que requerem alguma concentração, como é o caso
dos exercícios, trabalhos individuais, explicações do professor e a leitura. Nesses
termos, observa-se que para eles não bastam atividades de execução, ou fazendo uso da
tecnologia, mas principalmente práticas em que possam interagir com os colegas,
usufruindo ainda de alguma liberdade.
Visando verificar as atividades consideradas como sendo as mais eficientes
para o seu aprendizado, eles escolheram dentre sete alternativas, as duas mais eficientes.
Os alunos da escola pública elegeram em primeiro lugar as “explicações do professor”,
com 67%, seguido dos “trabalhos”, com 40%. Entre os menos votados, situaram os
“filmes”, com 8,3% e a “leitura”, com 22,9%. Na particular, “exercícios” foi
considerada a mais eficiente, com 50%, seguida dos “trabalhos”, com 45%. Entre os
menos votados, ficaram a “leitura”, com 15% e os “filmes”, com 35%.
Posteriormente, embora o objetivo tenha sido o mesmo, ou seja, verificar as
atividades tidas como eficientes por eles, foi apresentada uma nova questão cujo
enunciado pedia situações e não atividades em que eles acreditavam aprender mais, o
que os levou, sobretudo na particular, a se posicionarem de maneira distinta. Para estes
alunos, “explicações do professor” foi a alternativa mais citada, com 73,7%, seguida em
menor escala de “filmes”, com 10,5% e “leitura” e “pesquisas” com 5,3% cada. Na
escola pública, as respostas mantiveram-se praticamente inalteradas, com “explicações
do professor” em primeiro lugar, seguidos da “pesquisa” e “filmes”. Estes dados
parecem mostrar que as atividades tidas como sendo as mais eficientes necessitam ser
mais individualizadas e direcionadas pelo professor que coordenaria as ações elencadas.
Os alunos também apontaram duas situações caracterizadas como sendo
ineficazes no seu processo de aprendizado. Entre os da pública, 50% citou a “análise de
imagens”, seguida dos “exercícios”, com 47,9% e “filmes”, com 45,8%. Na particular,
eles também apontaram a “análise de imagens”, com 75%, seguida dos “filmes”, com
35% e “pesquisas com computador”, com 30%. Nota-se novamente a necessidade dos
alunos por um direcionamento para que o aprendizado ocorra. Outra questão referia-se
ao uso do computador. Nesse caso, os alunos das duas escolas posicionaram-se de
maneira divergente. Enquanto os da escola pública consideraram a Informática como
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importante ferramenta na aquisição de conhecimentos, com 37,5%, atrás somente das
explicações do professor, o que denota maior confiança na tecnologia, nomeando o
computador como um dos mios mais importantes de aquisição do conhecimento formal.
Em contrapartida, na particular, apenas 5,3% dos alunos a citou. Para estes, as
atividades consideradas mais tradicionais, como as aulas expositivas, são mais
eficientes que a Internet e os filmes.
Conclui-se que os alunos, no geral, indicaram apreciar atividades práticas,
representadas pelos trabalhos coletivos, fazendo uso da tecnologia e ainda, com a
possibilidade de exercício de alguma autonomia caracterizada nesta pesquisa pela
interação com seus pares. Entretanto, eles próprios observaram que o aprendizado só
ocorre em função do direcionamento feito normalmente pelo professor. Dito de outro
modo, embora eles tenham sinalizado que não apreciam atividades mais controladas,
individualizadas e que requerem alguma concentração, o aprendizado parece ocorrer
somente em função da orientação de especialistas, no caso as ações efetuadas pelos
professores que direcionariam suas ações. Em contrapartida, observa-se a inexistência
de um aprendizado autêntico e desinteressado e que, embora possuam as ferramentas e
sejam livres para buscar conhecimento na escola e fora dela, não fazem uso delas,
preferindo o conhecimento fragmentado obtido por cada disciplina escolar e pela
mediação do professor.
Os alunos também elencaram as situações que mais os prejudicam durante o seu
aprendizado. Na escola pública, a “bagunça” foi apontada por 68,8% dos alunos;
seguida de “conteúdo difícil”, com 43,8%, “aulas entediantes”, com 37,5% e “vontade
de conversar”, com 20,8%. Na escola particular, “conteúdos considerados difíceis” foi o
item mais votado, com 60% do total; seguido da “bagunça”, com 55%; “vontade de
conversar”, com 30% e “conteúdos que não servem para nada”, com 20%. Um dado
divergente entre as duas escolas refere-se às aulas entediantes, mencionadas por
somente 5% dos alunos da privada, possível indicativo de que os alunos concordam em
termos com a forma como a escola administra as aulas, sentindo-se, portanto, mais
responsáveis pelo seu aprendizado que os da rede pública. Dito de outro modo, na
escola particular, os alunos mostraram maior adesão à ideologia liberal: julgam que
mediante o seu esforço pessoal, a instituição promoveria uma formação capaz de
melhorar as suas condições sócio-econômicas. Contudo, a menção à bagunça também
indica que, embora não expressado de modo explícito, os alunos também esperam
soluções instrumentais que façam o conteúdo tornar-se mais fácil e interessante. Já na
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escola pública verificou-se que, se por um lado, eles elegeram-na como principal
instituição formadora, paradoxalmente não deixam de desconfiar dela, condição
expressa pela busca por momentos agradáveis durante a aquisição do conhecimento.
Dito de outro modo, o que se percebeu é que os alunos da escola pública parecem aderir
mais à ideologia contemporânea caracterizada pela mentira manifesta. Se, por um lado,
afirmam a importância da escola nas suas vidas, simultaneamente se colocam contra os
seus objetivos, resignando-se frente à realidade dada. Desse modo, preferem aproveitar
o momento presente, até como uma forma de resistência, buscando aulas mais
agradáveis em detrimento das aulas consideradas, por eles próprios, como importantes
para a sua formação. Suas respostas também apresentaram certo conformismo, refletido
pela preferência em não querer aprender quando o conteúdo é considerado difícil. Nessa
medida, conclui-se que a escola reforça a adesão dos alunos à ideologia atual que tenta
introjetar noções baseadas na eficiência e no trabalho, além de conferir ênfase às
condições baseadas na racionalidade instrumental, o que faz com que os alunos passem
a acreditar que a melhoria das práticas pedagógicas e melhores atuações do professor
seriam suficientes para que o aprendizado ocorra.
Referências bibliográficas
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Petrópolis: Editora Vozes, 1995.
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SÃO PAULO. Proposta Curricular do Estado de São Paulo: História, São Paulo: SEE,
2008.
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