XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 1 O PROFESSOR EM ATIVIDADE DE ESTUDO NO MOVIMENTO DE FORMAÇÃO CONTINUADA: CONTRIBUIÇÕES DA PERSPECTIVA HISTÓRICO-CULTURAL Sandra Aparecida Santana Assali – USP Maria Eliza Mattosinho Bernardes - USP Resumo A pesquisa em andamento apresentada neste texto analisa a formação de professores em exercício de uma escola pública municipal da cidade de São Paulo. Tem como objetivo compreender as ações pedagógicas que coloquem o professor em atividade de estudo, assim como se propõe a discutir o direcionamento das ações e operações que favoreçam a constituição dos motivos para esta atividade. E nesta dimensão, repensar as condições para o desenvolvimento concreto da formação em exercício e para sua qualificação profissional. A partir das necessidades produzidas pelo grupo de professores, em reuniões coletivas, na articulação teórico-prática buscam-se as circunstâncias facilitadoras para a constituição de conhecimentos que contemplem tais necessidades, entendidas como necessidades que engendrem condições para o desenvolvimento da consciência crítica de tais profissionais da educação, mediante as reais possibilidades do ensino no movimento de transformação da realidade. O método de investigação fundamenta-se no materialismo histórico dialético que demonstra a construção de ações e as condições para a apropriação de conhecimentos científicos, articulando teoria e prática, considerada importante para orientar a constituição de ações pedagógicas que visam o desenvolvimento das condições do trabalho educativo. Diante dos dados obtidos na pesquisa participante realizada no contexto escolar são possíveis algumas percepções de serem identificadas ao longo do trabalho. Considera-se que o movimento para o exercício deva propiciar condições concretas para uma formação que instituam práticas educativas para a efetivação de um conhecimento que promova a superação das condições alienantes da escola atual, próprias das políticas educativas vigentes no sistema capitalista que não favorecem o desenvolvimento da escola pública atual. Delineia-se, neste sentido, a construção de uma proposta de acompanhamento de atividades de estudo a partir da reflexão sobre a formação em exercício de professores dentro do horário coletivo denominado Jornada Especial Integral em formação – JEIF em uma escola da rede municipal de ensino do Estado de São Paulo. Palavras Chaves: Educação, Políticas de Formação de Professores em exercício, Atividade de estudo. Introdução Esta pesquisa apresenta dados sobre o desenvolvimento de um trabalho de formação de professores em exercício em horário oficial, determinado pela Prefeitura do Município de São Paulo, cuja finalidade é de garantir um espaço para a qualificação do profissional de educação. Com a intenção de investigar as reais circunstâncias da formação de professores determinantes para o trabalho educativo da escola pública atual, observa-se Junqueira&Marin Editores Livro 2 - p.002379 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 2 que no cotidiano da formação em exercício há um distanciamento entre as propostas políticas e a qualificação do profissional da educação que, em um primeiro momento, consistia em construir uma escola que atendesse as necessidades da população, pensada no âmbito de uma escola democrática. Por outro lado, este objetivo é afastado de suas reais proposições, em consequência de sucessivas propostas educacionais, modificadas a cada gestão do município, que introduzem novos encaminhamentos para o espaço destinado à formação, tanto pelas políticas de Estado quanto pelas políticas educacionais. Atualmente, as formações de professores em exercício seguem as propostas delimitadas pela Secretaria Municipal da Educação – SME (SÃO PAULO, 2006), que se pautam nos pressupostos da teoria interacionista, tendo como meta desenvolver competências leitoras e escritoras nos estudantes da escola pública municipal. Para tanto, os coordenadores pedagógicos de cada unidade recebem orientações em reuniões bimestrais, que ocorrem com formadores denominados núcleo de apoio pedagógico. Este apresenta um caráter formativo, aos quais se devem multiplicar os direcionamentos do processo de escolarização, tratados nestes espaços, em cada unidade escolar. Pressupõe-se, portanto, que os professores desenvolvam ações pedagógicas pautadas nestes conhecimentos e avancem em direção às metas para aprendizagem determinadas pela SME. Considera-se, também, por estes mecanismos que os “saberes e conteúdos” desenvolvidos tenham significado para os alunos, e, desta forma, os professores devem providenciar ações pautadas nestes embasamentos teóricos. Tem-se identificado, a partir deste estudo, uma contradição entre a formação de professores providenciada e a que ambicionam as políticas educacionais ao que tange o desenvolvimento nas ações pedagógicas, na medida em que delimitam como metas a apropriação de conhecimentos que não são providenciados na formação. Nas unidades escolares encontramos uma autonomia bem delimitada pelas reais condições para o desenvolvimento destas propostas, mas, idealmente podem ser observadas na elaboração dos Projetos Políticos Pedagógicos – PPP – que inclui o Projeto Especial de Ação – PEA – que são direcionados pelas singularidades de cada unidade escolar e de suas regiões. Muitos destes projetos se limitam às exigências burocráticas, que se perdem no percurso do ano letivo, ou ainda, por outros encaminhamentos dados pela própria Secretaria Junqueira&Marin Editores Livro 2 - p.002380 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 3 de Educação para atender novos propósitos ou metas. A relação presente entre a elaboração destas propostas, que são idealizadas, e as reais possibilidades de sua execução, que são utilizadas para introduzir um novo modelo para a formação de professores em exercício, não possibilita que se construa o trabalho educativo pertinente ao proposto, já que se apresentam muito conflitantes entre sua idealização e suas reais condições para execução. Este tratamento ilusório que cumpre uma determinada função ideológica é anunciado por Duarte (2003) que destaca o papel das políticas de educação as quais, em certa dimensão mascara o trabalho educativo, ao desempenhar um papel essencial na reprodução ideológica de uma sociedade. Desta maneira afirma: Quando uma ilusão desempenha um papel na reprodução ideológica de uma sociedade, ela não deve ser tratada como algo inofensivo ou de pouca importância por aqueles que busquem a superação desta sociedade. Ao contrário é preciso compreender qual o papel desempenhado por uma ilusão na reprodução ideológica de uma formação societária específica, pois isso nos ajudará a criarmos formas de intervenção coletiva e organizada na lógica objetiva dessa formação societária. (DUARTE, 2003, p.13). Nestas condições, para se consolidar a formação a abordagem aqui defendida refere-se a uma perspectiva crítica ao ressaltar os aspectos da dimensão humana que permite o desenvolvimento da pesquisa com a finalidade de superar as barreiras impostas pelos campos social e político. Importante ressaltar que o homem é o único indivíduo que transforma a natureza e se transforma por estar em atividade. Logo é preciso que se aperfeiçoe mediante o trabalho e que multiplique o conhecimento que lhes foram transmitidos pelas gerações precedentes pela apropriação do conhecimento construído pelo desenvolvimento da humanidade. Coerente com esta concepção anunciada buscou-se esclarecer a questão histórica de constituição humana de trabalho, nessa perspectiva teórica recorremos às explicações desenvolvidas por Bernardes (2006) na medida em que procura explicar a constituição histórica de trabalho, concebida como processo que atribui vida ao humano no homem, transformando a natureza e a si próprio. Segundo a autora: Marx (1996, p, 2002) afirma que antes de tudo, o trabalho é um processo de que participam o homem e a natureza, processo em que o ser humano com sua própria ação, impulsiona, regula e controla seu intercâmbio material com a natureza Neste processo, Marx afirma que o homem põe em movimento suas próprias forças naturais, atribuindo à vida humana a forma útil, capaz de transformar a natureza externa e a sua própria natureza. (BERNARDES 2006, p.101). Junqueira&Marin Editores Livro 2 - p.002381 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 4 Ao levar em conta tais considerações, nossa discussão partiu do princípio de tentar estabelecer à formação de professores uma proposta que possibilite ao educador se apropriar de novos conhecimentos que objetive a construção do trabalho educativo (SAVIANI, 2008; DUARTE, 2007; OLIVEIRA, 1996) perante as necessidades apresentadas pela realidade e pelas condições da vida humana, sendo este um motivo que os conduza para a atividade de estudos (LEONTIEV, 1983). Destaca-se que na apropriação de novos conhecimentos, encontramos alternativas para providenciar a formação medidas cabíveis que solucionem as dificuldades encontradas no cotidiano escolar, ou seja, se propõe explicar a prática pela teoria e não meramente pela empiria. Em contrapartida, o que encontramos nas formações de professores é um trabalho que, por sua inadequação e por seu caráter híbrido, não responde às necessidades efetivas que requer um processo educativo, que equacione as necessidades humanas e escolares, consolidadas com muitas deficiências, desde sua implantação. Consideramos que as propostas de formação de professores em exercício da Secretaria Municipal de Educação (SÃO PAULO, 2006) e seus direcionamentos permanecem em conhecimentos fragmentados, com textos que seguem muitas linhas teórico-metodológicas que não permitem a construção de ações coletivas, ou ainda, restringem-se a reproduzir o sistema e a hegemonia dominante. Destacamos que, em muitos momentos, os espaços para o exercício de formação de professores servem simplesmente para prestar serviços burocráticos que chegam diariamente as unidades escolares. Este processo não permite, como discute este trabalho, a consolidação de uma formação que atenda a constituição de um conhecimento concreto, que permita ao homem superar as condições postas pela nossa sociedade. Portanto, esta pesquisa identifica as necessidades de direcionar a formação de professores em exercício para mediações que possibilitem a apropriação de conhecimentos inerentes à profissão do professor e ao seu papel social relacionado ao processo de conscientização da realidade construída no processo histórico. Aspectos de constituição da formação em exercício. O substrato desta pesquisa é direcionado à formação de professores para Junqueira&Marin Editores Livro 2 - p.002382 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 5 transformar o sistema de ações pedagógicas permitindo-lhes avançar para a construção da práxis pedagógica. Para tanto, é necessário pensar em sistematizações, organização e direcionamentos pedagógicos que possibilitem a construção de um conhecimento real, consciente propiciando ao professor ampliar a apropriação do conhecimento o que possibilitará atribuir sentido para o exercício de sua profissão. Neste contexto, entende-se que para a constituição de uma práxis concreta, característica do trabalho educativo, considerada como atividade humana orientada para um fim, com ações organizadas intencionalmente, necessita-se de condições para sua objetivação, que, em muitas vezes, não são dadas para serem executadas nas unidades escolares, impedindo sua manifestação e concretização. Segundo Vásquez (2011, p. 227), “Marx enfatiza o caráter real, objetivo, da práxis, na medida em que transforma o mundo exterior que é independente de sua consciência e de sua existência”. Portanto, para um trabalho educativo alcançar seus objetivos, a existência da práxis, requer uma ação pedagógica real, objetiva sobre a realidade. Sobre tal assunto, afirma o autor que: O objeto da atividade prática é a natureza, a sociedade ou os homens reais. O fim dessa atividade é a transformação real, objetiva, do mundo natural ou social para satisfazer determinada necessidade humana. E o resultado é uma nova realidade, que subsiste independentemente do sujeito ou dos sujeitos concretos que a engendraram com sua atividade subjetiva, mas que, sem dúvida, só existe pelo homem e para o homem, como ser social. (VÁSQUEZ, 2011, p.227). Desta forma, para a transformação real das práticas educativas, que satisfaça a necessidade humana, é necessário que os professores construam uma identidade com estes espaços, para garantir a transformação de suas ações e da relação com o trabalho educativo. Os dados obtidos, por meio da pesquisa participante realizada na escola, nos permitem identificar que as ações pedagógicas são fragmentadas e acabam inviabilizadas, limitando-se pela própria dissolução do corpo pedagógico, o que de alguma forma impede ações coletivas que se voltem para o mesmo fim. Em outras palavras, observamos que o corpo técnico (os profissionais designados para os cargos de direção, assistentes de direção e coordenadores pedagógicos.) não tem a mesma linha de ações e, em muitos momentos, acaba cindindo a unidade escolar em partes, por período (manhã, tarde ou noite), descaracterizando o trabalho educativo entendido como todo. Este deveria ser compreendido como ação coletiva, necessária para o bom andamento do processo pedagógico, mas acaba acarretando sérios problemas tanto para o professor como para o Junqueira&Marin Editores Livro 2 - p.002383 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 6 estudante. No contexto concreto da escola investigada, verificam-se as dificuldades e as impossibilidades de superar as dicotomias presentes na instituição educativas, buscando alternativas para compreender e explicar os procedimentos centrais que norteiam este trabalho. Para tanto, foi necessário uma longa jornada para tentar responder a algumas questões pertinentes a esta pesquisa. Uma das questões é como chegar a determinados resultados na teoria e na prática possibilitando avançar nas ações pedagógicas? Como alcançar então os procedimentos que permitiriam as transformações das ações educativas para a superação da estagnação de professores que compõem este contexto escolar e que os coloque em atividade de estudo? Para responder a estas questões devemos considerar os processos e as rupturas que ocorreram no processo histórico de desenvolvimento da humanidade e os sentidos constituídos para as ações humanas, que impedem que se realize uma educação de qualidade interferindo no processo de constituição do indivíduo e na formação das funções psicológicas, sendo por meio deste processo que encontramos um cerceamento do desenvolvimento da personalidade humana. Para analisar está realidade caótica, seguindo os pressupostos de Vigotski (2001) que propõe a identificação de uma unidade analítica e não a decomposição em elementos para possibilitar o estudo dos fenômenos Em sua obra o autor explica este processo: Procuramos mostrar, ainda que essa análise, baseada no método de decomposição em elementos, não é propriamente uma análise do ponto de vista de sua aplicação à solução de problemas concretos em algum campo definido dos fenômenos. Trata-se mais de uma projeção ao geral do que de uma decomposição interna e de uma divisão do particular contida no fenômeno suscetível de explicação. Por sua própria essência, esse método leva mais à generalização que à análise. (VIGOTSKI, 2001, p. 397-398.) Nesta linha de pensamento consideramos que a unidade de análise é que vai permitir explicar está realidade caótica. Nos estudos desenvolvidos por Shuare (1990) temse a comparação da unidade de análise vigotskiana com as abstrações iniciais de Marx o que nos permitirá constituir a nossa unidade de reflexão explicando o movimento de transformação da prática pedagógica. Assim, pretendemos explicar as reais condições para se construir ações que providencie ao professor constituir motivos para a atividade de estudo apontando alguns Junqueira&Marin Editores Livro 2 - p.002384 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 7 caminhos tais como: ações que garantam a reflexão e análise da prática, uma formação em exercício que possibilite o desvelar da realidade, que resulte em um maior protagonismo na definição de conteúdos e estratégias, não desprezando a realidade da instituição, do professor e a necessidade de compartilhar experiências pedagógicas. Neste processo, contribuir para a superação dos limites delimitados atualmente pelas políticas educacionais e elucidar as reais intenções destas propostas implantadas, que impedem o avanço da escola pública municipal, não permitindo a ela cumprir sua função que deverá ser a de providenciar as novas gerações a apropriação dos conhecimentos construídos ao longo do processo histórico da humanidade como condição para a qualificação deste profissional e de um exercício em formação concreto que construa a escola democrática. Trabalhos desta natureza, dada as devidas proporções, podem possibilitar o entendimento dos motivos que permitem aos professores certa mobilização para a atividade de estudo, elucidando em que sentido tais mecanismos promovem conhecimentos necessários que os faça compreender, analisar e transformar suas ações pedagógicas e, construir subsídios necessários para a análise e entendimento do real. Com estes esclarecimentos, pretende-se por outro lado, a partir de um caso singular, questionar na atualidade a relevância de uma formação que amplie a atividade de ensino com o objetivo específico de transmitir o conhecimento produzido historicamente através da atividade orientada que visa transformações significantes no processo educativo. A partir de tais considerações, Bernardes (2009) amplia estes conhecimentos explicando a atividade orientada, a qual: Concebe-se que a prática é uma atividade humana consciente que se diferencia da atuação prática desvinculada de uma finalidade e apresenta um produto final que se objetiva materialmente. Trata-se de uma atividade orientada por um fim que, segundo Vásquez (1977), ocorre em dois níveis, ou seja, ‘essa atividade implica na intervenção da consciência, graças a qual o resultado existe duas vezes – e em tempos diferentes-: como resultado ideal e como produto real’ (BERNARDES, 2009, p. 236). Para fundamentar nossos argumentos encontramos na psicologia as condições necessárias para entender como o indivíduo apreende os conhecimentos, como desenvolve os processos psíquicos e desta forma, temos constituído os elementos para nos ajudar a realizar ações que desenvolvam a capacidade para transformar a experiência em ações Junqueira&Marin Editores Livro 2 - p.002385 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 8 conscientes, ou seja, providencia o movimento qualitativo para ampliar o aprendizado e nossas ações para o trabalho pedagógico. Segundo Moura (1996), a concepção teórica da atividade de ensino é aquela cuja função particular organiza ações que possibilitam aos sujeitos o acesso aos conhecimentos elaborados sócio-historicamente. Para Bernardes (2009), a atividade de ensino vincula-se a ações conscientes por parte do professor. De acordo com a autora a “atividade consciente realizada no movimento de transformação da realidade objetiva, natural ou humana” (BERNARDES, 2006, p.102) surge a partir de uma necessidade. Desta forma, consideramos que a formação desta necessidade especificamente humana poderá emergir no movimento das apropriações teóricas, apresentando primeiramente as condições reais do contexto escolar possibilitando a elaboração, no coletivo, de ações pedagógicas a serem realizadas constituindo assim a práxis, condição indispensável e insubstituível para a transformação objetiva no trabalho educativo. As atividades pedagógicas consideradas práxis são evidenciadas pela autora considerada como aquela “que não só produz um mundo humano materializado, mas também aquela em que o homem se produz forma ou transforma a si mesmo” (BERNARDES, 2006, p. 103). Este posicionamento esclarece que a atividade desenvolvida na formação de professores deve mediar conhecimentos relacionando a dimensão teórica e prática que é indispensável para uma atuação consciente do professor e objetivada na ação pedagógica promovendo modificações subjetivas no professor e no estudante. Neste contexto, deve-se conceber o conhecimento pedagógico mediado nas formações em exercício como necessário para ampliar a atuação do professor nas atividades de estudo e de ensino. Tal situação transforma o trabalho educativo em algo dinâmico, que permite a transformação dos estudantes e do professor. As práxis pedagógicas elucidadas por Bernardes (2006, p.106) “explicitam as duas dimensões presentes na objetivação e materialização da atividade pedagógica” o que demonstra a necessidade de se conceber o processo de ensino e aprendizagem vinculando às áreas da psicologia e da pedagogia que permitam que se componha a compreensão do indivíduo possibilitando que se desenvolva a educação escolar. Desta forma, ampliam-se a Junqueira&Marin Editores Livro 2 - p.002386 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 9 criação de novas possibilidades de transformação da constituição do homem e da sociedade. Desta forma, é necessário compreender as concepções políticas que determinam a situação da escola atual, para a apreensão dos sujeitos que compõem o espaço de formação em exercício. Assim, é possível realizar mediações que contemplem as necessidades dos professores em formação e das práticas que o envolvem, construindo algumas ações orientadas desenvolvidas de forma à reverter as condições de deficiências da formação na tentativa de atribuir motivos para a atividade de estudo dos professores. Considerando este contexto anunciado optou-se por pensar os motivos que colocam o professor em atividade de estudo, na perspectiva de levá-lo a uma ação necessária para ampliar sua formação e qualificação profissional. A formação em exercício apresenta-se como um espaço para se compartilhar e ampliar os conhecimentos e as ações pedagógicas com vistas a melhorar conjuntamente a qualidade da educação pública municipal. Algumas Considerações Possíveis Verifica-se no desenvolvimento desta pesquisa um processo de formação que permitiu o avanço do grupo de professores sobre a compreensão da atividade pedagógica, do trabalho educativo, dos fundamentos que organizam nossa sociedade, das questões que envolvem o desenvolvimento do psiquismo humano, sendo percebida a constituição de outra visão para as questões relevantes do cotidiano escolar. Neste percurso, compreendeu-se a importância da mediação no processo de desenvolvimento das ações pedagógicas, necessários para o desenvolvimento das funções psicológicas superiores no processo de apropriação e subjetivação dos conceitos tratados nas formações. Segundo Vigotski (2001) não é qualquer atividade que possibilita a formação das funções psicológicas superiores, mas a atividade pedagógica que produza sentido para a atividade de estudos. Em muitos momentos, no exercício de formação, identifica-se certo distanciamento do professor das atividades do grupo de estudos. Em outros momentos percebe-se que o avanço era lento, deixando-os, insatisfeitos, uma vez que pleiteavam Junqueira&Marin Editores Livro 2 - p.002387 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 10 soluções imediatas para o cotidiano escolar que necessita de intervenções a curto prazo, que a sociedade contemporânea também requer agilidade e rapidez dos indivíduos no que se relaciona ao mundo do trabalho em um contexto capitalista. Assim, era compreensível em certo sentido, os professores se apresentarem ansiosos por uma transformação concreta da realidade escolar, ou pelo menos que modificassem sua forma de agir, em função de uma determinada carência sendo coerentes com o contexto escolar, mas providenciando soluções para os problemas cotidianos. Em outros momentos, captou-se que os professores estavam imersos nos temas tratados, com contribuições pertinentes que faziam o grupo discutir, analisar tais questões. Em muitos momentos, a própria condição de vida dos indivíduos participantes do coletivo era determinante para inviabilizar o desenvolvimento das ações, como as doenças dos professores, do formador, entre tantas outras emergências que impediam de estarem presentes no trabalho do coletivo. Entretanto o que se mostrava importante para a formação de professores eram os conhecimentos teórico-científicos que estavam sendo ensinados na formação, considerando os instrumentos que medeiam o conhecimento que se objetiva e se materializa nas ações de ensino (BERNARDES, 2006, p.105) o que se pergunta é se os recursos estavam sendo suficientes para a apropriação do conteúdo da atividade de ensino. Observase este dado como sendo este o ponto nodal de nossa observação no exercício de formação, ao qual nos fez refletir se estes instrumentos estavam sendo suficientes para mediar os conhecimentos que estavam sendo ensinados. Embora cientes de que não temos controle sobre o processo de apropriação do produto das ações educativas, “sendo relativo ter controle sobre sua materialidade” (BERNARDES, 2006, p. 105), e de sua não objetivação no desenvolvimento dos professores, tínhamos percepções o que nos levou a realizar atividades práticas na tentativa de ampliar o campo de ação da formação, pois aí se constituiu nosso propósito. Assim, considera-se ser este um processo que requer não somente intervenções pedagógicas, mas transformações culturais no âmbito do coletivo, caso contrário, permaneceremos no âmbito do ideal, do ilusório que somente cumpre uma determinação ideológica de nossa sociedade e, ao mesmo tempo, que impede a superação da estagnação que encontramos a educação pública atual, consciente das limitações postas pela sociedade Junqueira&Marin Editores Livro 2 - p.002388 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 11 que não se reduz a condição particular humana, mas que permite superar em suas ações pedagógicas à condição histórica alienada que determina o despreparo do indivíduo. Finalmente é necessário enfatizar que em um processo lento, coerente com as implicações de seu meio, sistematizado e consciente de suas deturpações, pesquisá-lo pode ser um caminho para viabilizarmos a possibilidade de conquistar uma educação que corresponda às necessidades humanas providenciada pela apropriação dos conhecimentos construídos ao longo do processo histórico de nossa sociedade. REFERÊNCIAS BERNARDES, M. E. M; MOURA, M. O. Mediações simbólicas na atividade pedagógica. Educação e Pesquisa. São Paulo, v.35, n3, p.463-478, 2009. BERNARDES, M. E. M. Ensino e Aprendizagem como unidade dialética na atividade pedagógica. Revista Semestral da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional (ABRAPEE), v.13, n2, p. 235-242, 2009. ______. Atividade Educativa, pensamento e linguagem: contribuições da psicologia histórico-cultural. Revista Semestral da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional, v.15, n2. p. 323-332, Julho/Dezembro de 2011. DUARTE, N. 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