XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012
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O PROFESSOR EM ATIVIDADE DE ESTUDO NO MOVIMENTO DE FORMAÇÃO
CONTINUADA: CONTRIBUIÇÕES DA PERSPECTIVA HISTÓRICO-CULTURAL
Sandra Aparecida Santana Assali – USP
Maria Eliza Mattosinho Bernardes - USP
Resumo
A pesquisa em andamento apresentada neste texto analisa a formação de professores em
exercício de uma escola pública municipal da cidade de São Paulo. Tem como objetivo
compreender as ações pedagógicas que coloquem o professor em atividade de estudo, assim
como se propõe a discutir o direcionamento das ações e operações que favoreçam a
constituição dos motivos para esta atividade. E nesta dimensão, repensar as condições para
o desenvolvimento concreto da formação em exercício e para sua qualificação profissional.
A partir das necessidades produzidas pelo grupo de professores, em reuniões coletivas, na
articulação teórico-prática buscam-se as circunstâncias facilitadoras para a constituição de
conhecimentos que contemplem tais necessidades, entendidas como necessidades que
engendrem condições para o desenvolvimento da consciência crítica de tais profissionais da
educação, mediante as reais possibilidades do ensino no movimento de transformação da
realidade. O método de investigação fundamenta-se no materialismo histórico dialético que
demonstra a construção de ações e as condições para a apropriação de conhecimentos
científicos, articulando teoria e prática, considerada importante para orientar a constituição
de ações pedagógicas que visam o desenvolvimento das condições do trabalho educativo.
Diante dos dados obtidos na pesquisa participante realizada no contexto escolar são
possíveis algumas percepções de serem identificadas ao longo do trabalho. Considera-se
que o movimento para o exercício deva propiciar condições concretas para uma formação
que instituam práticas educativas para a efetivação de um conhecimento que promova a
superação das condições alienantes da escola atual, próprias das políticas educativas
vigentes no sistema capitalista que não favorecem o desenvolvimento da escola pública
atual. Delineia-se, neste sentido, a construção de uma proposta de acompanhamento de
atividades de estudo a partir da reflexão sobre a formação em exercício de professores
dentro do horário coletivo denominado Jornada Especial Integral em formação – JEIF em
uma escola da rede municipal de ensino do Estado de São Paulo.
Palavras Chaves: Educação, Políticas de Formação de Professores em exercício, Atividade
de estudo.
Introdução
Esta pesquisa apresenta dados sobre o desenvolvimento de um trabalho de
formação de professores em exercício em horário oficial, determinado pela Prefeitura do
Município de São Paulo, cuja finalidade é de garantir um espaço para a qualificação do
profissional de educação. Com a intenção de investigar as reais circunstâncias da formação
de professores determinantes para o trabalho educativo da escola pública atual, observa-se
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que no cotidiano da formação em exercício há um distanciamento entre as propostas
políticas e a qualificação do profissional da educação que, em um primeiro momento,
consistia em construir uma escola que atendesse as necessidades da população, pensada no
âmbito de uma escola democrática. Por outro lado, este objetivo é afastado de suas reais
proposições, em consequência de sucessivas propostas educacionais, modificadas a cada
gestão do município, que introduzem novos encaminhamentos para o espaço destinado à
formação, tanto pelas políticas de Estado quanto pelas políticas educacionais.
Atualmente, as formações de professores em exercício seguem as propostas
delimitadas pela Secretaria Municipal da Educação – SME (SÃO PAULO, 2006), que se
pautam nos pressupostos da teoria interacionista, tendo como meta desenvolver
competências leitoras e escritoras nos estudantes da escola pública municipal. Para tanto, os
coordenadores pedagógicos de cada unidade recebem orientações em reuniões bimestrais,
que ocorrem com formadores denominados núcleo de apoio pedagógico. Este apresenta um
caráter formativo, aos quais se devem multiplicar os direcionamentos do processo de
escolarização, tratados nestes espaços, em cada unidade escolar.
Pressupõe-se, portanto, que os professores desenvolvam ações pedagógicas
pautadas nestes conhecimentos e avancem em direção às metas para aprendizagem
determinadas pela SME. Considera-se, também, por estes mecanismos que os “saberes e
conteúdos” desenvolvidos tenham significado para os alunos, e, desta forma, os professores
devem providenciar ações pautadas nestes embasamentos teóricos. Tem-se identificado, a
partir deste estudo, uma contradição entre a formação de professores providenciada e a que
ambicionam as políticas educacionais ao que tange o desenvolvimento nas ações
pedagógicas, na medida em que delimitam como metas a apropriação de conhecimentos
que não são providenciados na formação.
Nas unidades escolares encontramos uma autonomia bem delimitada pelas reais
condições para o desenvolvimento destas propostas, mas, idealmente podem ser observadas
na elaboração dos Projetos Políticos Pedagógicos – PPP – que inclui o Projeto Especial de
Ação – PEA – que são direcionados pelas singularidades de cada unidade escolar e de suas
regiões.
Muitos destes projetos se limitam às exigências burocráticas, que se perdem no
percurso do ano letivo, ou ainda, por outros encaminhamentos dados pela própria Secretaria
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de Educação para atender novos propósitos ou metas. A relação presente entre a elaboração
destas propostas, que são idealizadas, e as reais possibilidades de sua execução, que são
utilizadas para introduzir um novo modelo para a formação de professores em exercício,
não possibilita que se construa o trabalho educativo pertinente ao proposto, já que se
apresentam muito conflitantes entre sua idealização e suas reais condições para execução.
Este tratamento ilusório que cumpre uma determinada função ideológica é
anunciado por Duarte (2003) que destaca o papel das políticas de educação as quais, em
certa dimensão mascara o trabalho educativo, ao desempenhar um papel essencial na
reprodução ideológica de uma sociedade. Desta maneira afirma:
Quando uma ilusão desempenha um papel na reprodução ideológica de uma
sociedade, ela não deve ser tratada como algo inofensivo ou de pouca
importância por aqueles que busquem a superação desta sociedade. Ao contrário
é preciso compreender qual o papel desempenhado por uma ilusão na reprodução
ideológica de uma formação societária específica, pois isso nos ajudará a
criarmos formas de intervenção coletiva e organizada na lógica objetiva dessa
formação societária. (DUARTE, 2003, p.13).
Nestas condições, para se consolidar a formação a abordagem aqui defendida
refere-se a uma perspectiva crítica ao ressaltar os aspectos da dimensão humana que
permite o desenvolvimento da pesquisa com a finalidade de superar as barreiras impostas
pelos campos social e político.
Importante ressaltar que o homem é o único indivíduo que transforma a natureza
e se transforma por estar em atividade. Logo é preciso que se aperfeiçoe mediante o
trabalho e que multiplique o conhecimento que lhes foram transmitidos pelas gerações
precedentes pela apropriação do conhecimento construído pelo desenvolvimento da
humanidade.
Coerente com esta concepção anunciada buscou-se esclarecer a questão
histórica de constituição humana de trabalho, nessa perspectiva teórica recorremos às
explicações desenvolvidas por Bernardes (2006) na medida em que procura explicar a
constituição histórica de trabalho, concebida como processo que atribui vida ao humano no
homem, transformando a natureza e a si próprio. Segundo a autora:
Marx (1996, p, 2002) afirma que antes de tudo, o trabalho é um processo de que
participam o homem e a natureza, processo em que o ser humano com sua própria
ação, impulsiona, regula e controla seu intercâmbio material com a natureza
Neste processo, Marx afirma que o homem põe em movimento suas próprias
forças naturais, atribuindo à vida humana a forma útil, capaz de transformar a
natureza externa e a sua própria natureza. (BERNARDES 2006, p.101).
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Ao levar em conta tais considerações, nossa discussão partiu do princípio de
tentar estabelecer à formação de professores uma proposta que possibilite ao educador se
apropriar de novos conhecimentos que objetive a construção do trabalho educativo
(SAVIANI, 2008; DUARTE, 2007; OLIVEIRA, 1996) perante as necessidades
apresentadas pela realidade e pelas condições da vida humana, sendo este um motivo que
os conduza para a atividade de estudos (LEONTIEV, 1983). Destaca-se que na apropriação
de novos conhecimentos, encontramos alternativas para providenciar a formação medidas
cabíveis que solucionem as dificuldades encontradas no cotidiano escolar, ou seja, se
propõe explicar a prática pela teoria e não meramente pela empiria.
Em contrapartida, o que encontramos nas formações de professores é um
trabalho que, por sua inadequação e por seu caráter híbrido, não responde às necessidades
efetivas que requer um processo educativo, que equacione as necessidades humanas e
escolares, consolidadas com muitas deficiências, desde sua implantação. Consideramos
que as propostas de formação de professores em exercício da Secretaria Municipal de
Educação (SÃO PAULO, 2006) e seus direcionamentos permanecem em conhecimentos
fragmentados, com textos que seguem muitas linhas teórico-metodológicas que não
permitem a construção de ações coletivas, ou ainda, restringem-se a reproduzir o sistema e
a hegemonia dominante. Destacamos que, em muitos momentos, os espaços para o
exercício de formação de professores servem simplesmente para prestar serviços
burocráticos que chegam diariamente as unidades escolares.
Este processo não permite, como discute este trabalho, a consolidação de uma
formação que atenda a constituição de um conhecimento concreto, que permita ao homem
superar as condições postas pela nossa sociedade. Portanto, esta pesquisa identifica as
necessidades de direcionar a formação de professores em exercício para mediações que
possibilitem a apropriação de conhecimentos inerentes à profissão do professor e ao seu
papel social relacionado ao processo de conscientização da realidade construída no
processo histórico.
Aspectos de constituição da formação em exercício.
O substrato desta pesquisa é direcionado à formação de professores para
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transformar o sistema de ações pedagógicas permitindo-lhes avançar para a construção da
práxis pedagógica. Para tanto, é necessário pensar em sistematizações, organização e
direcionamentos pedagógicos que possibilitem a construção de um conhecimento real,
consciente propiciando ao professor ampliar a apropriação do conhecimento o que
possibilitará atribuir sentido para o exercício de sua profissão.
Neste contexto, entende-se que para a constituição de uma práxis concreta,
característica do trabalho educativo, considerada como atividade humana orientada para um
fim, com ações organizadas intencionalmente, necessita-se de condições para sua
objetivação, que, em muitas vezes, não são dadas para serem executadas nas unidades
escolares, impedindo sua manifestação e concretização. Segundo Vásquez (2011, p. 227),
“Marx enfatiza o caráter real, objetivo, da práxis, na medida em que transforma o mundo
exterior que é independente de sua consciência e de sua existência”. Portanto, para um
trabalho educativo alcançar seus objetivos, a existência da práxis, requer uma ação
pedagógica real, objetiva sobre a realidade. Sobre tal assunto, afirma o autor que:
O objeto da atividade prática é a natureza, a sociedade ou os homens reais. O fim
dessa atividade é a transformação real, objetiva, do mundo natural ou social para
satisfazer determinada necessidade humana. E o resultado é uma nova realidade,
que subsiste independentemente do sujeito ou dos sujeitos concretos que a
engendraram com sua atividade subjetiva, mas que, sem dúvida, só existe pelo
homem e para o homem, como ser social. (VÁSQUEZ, 2011, p.227).
Desta forma, para a transformação real das práticas educativas, que satisfaça a
necessidade humana, é necessário que os professores construam uma identidade com estes
espaços, para garantir a transformação de suas ações e da relação com o trabalho educativo.
Os dados obtidos, por meio da pesquisa participante realizada na escola, nos
permitem identificar que as ações pedagógicas são fragmentadas e acabam inviabilizadas,
limitando-se pela própria dissolução do corpo pedagógico, o que de alguma forma impede
ações coletivas que se voltem para o mesmo fim. Em outras palavras, observamos que o
corpo técnico (os profissionais designados para os cargos de direção, assistentes de direção
e coordenadores pedagógicos.) não tem a mesma linha de ações e, em muitos momentos,
acaba cindindo a unidade escolar em partes, por período (manhã, tarde ou noite),
descaracterizando o trabalho educativo entendido como todo. Este deveria ser
compreendido como ação coletiva, necessária para o bom andamento do processo
pedagógico, mas acaba acarretando sérios problemas tanto para o professor como para o
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estudante.
No contexto concreto da escola investigada, verificam-se as dificuldades e as
impossibilidades de superar as dicotomias presentes na instituição educativas, buscando
alternativas para compreender e explicar os procedimentos centrais que norteiam este
trabalho. Para tanto, foi necessário uma longa jornada para tentar responder a algumas
questões pertinentes a esta pesquisa. Uma das questões é como chegar a determinados
resultados na teoria e na prática possibilitando avançar nas ações pedagógicas? Como
alcançar então os procedimentos que permitiriam as transformações das ações educativas
para a superação da estagnação de professores que compõem este contexto escolar e que os
coloque em atividade de estudo?
Para responder a estas questões devemos considerar os processos e as rupturas
que ocorreram no processo histórico de desenvolvimento da humanidade e os sentidos
constituídos para as ações humanas, que impedem que se realize uma educação de
qualidade interferindo no processo de constituição do indivíduo e na formação das funções
psicológicas, sendo por meio deste processo que encontramos um cerceamento do
desenvolvimento da personalidade humana.
Para analisar está realidade caótica, seguindo os pressupostos de Vigotski
(2001) que propõe a identificação de uma unidade analítica e não a decomposição em
elementos para possibilitar o estudo dos fenômenos Em sua obra o autor explica este
processo:
Procuramos mostrar, ainda que essa análise, baseada no método de decomposição
em elementos, não é propriamente uma análise do ponto de vista de sua aplicação
à solução de problemas concretos em algum campo definido dos fenômenos.
Trata-se mais de uma projeção ao geral do que de uma decomposição interna e de
uma divisão do particular contida no fenômeno suscetível de explicação. Por sua
própria essência, esse método leva mais à generalização que à análise.
(VIGOTSKI, 2001, p. 397-398.)
Nesta linha de pensamento consideramos que a unidade de análise é que vai
permitir explicar está realidade caótica. Nos estudos desenvolvidos por Shuare (1990) temse a comparação da unidade de análise vigotskiana com as abstrações iniciais de Marx o
que nos permitirá constituir a nossa unidade de reflexão explicando o movimento de
transformação da prática pedagógica.
Assim, pretendemos explicar as reais condições para se construir ações que
providencie ao professor constituir motivos para a atividade de estudo apontando alguns
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caminhos tais como: ações que garantam a reflexão e análise da prática, uma formação em
exercício que possibilite o desvelar da realidade, que resulte em um maior protagonismo na
definição de conteúdos e estratégias, não desprezando a realidade da instituição, do
professor e a necessidade de compartilhar experiências pedagógicas.
Neste processo, contribuir para a superação dos limites delimitados atualmente
pelas políticas educacionais e elucidar as reais intenções destas propostas implantadas, que
impedem o avanço da escola pública municipal, não permitindo a ela cumprir sua função
que deverá ser a de providenciar as novas gerações a apropriação dos conhecimentos
construídos ao longo do processo histórico da humanidade como condição para a
qualificação deste profissional e de um exercício em formação concreto que construa a
escola democrática.
Trabalhos desta natureza, dada as devidas proporções, podem possibilitar o
entendimento dos motivos que permitem aos professores certa mobilização para a atividade
de estudo, elucidando em que sentido tais mecanismos promovem conhecimentos
necessários que os faça compreender, analisar e transformar suas ações pedagógicas e,
construir subsídios necessários para a análise e entendimento do real.
Com estes esclarecimentos, pretende-se por outro lado, a partir de um caso
singular, questionar na atualidade a relevância de uma formação que amplie a atividade de
ensino com o objetivo específico de transmitir o conhecimento produzido historicamente
através da atividade orientada que visa transformações significantes no processo educativo.
A partir de tais considerações, Bernardes (2009) amplia estes conhecimentos explicando a
atividade orientada, a qual:
Concebe-se que a prática é uma atividade humana consciente que se diferencia da
atuação prática desvinculada de uma finalidade e apresenta um produto final que
se objetiva materialmente. Trata-se de uma atividade orientada por um fim que,
segundo Vásquez (1977), ocorre em dois níveis, ou seja, ‘essa atividade implica
na intervenção da consciência, graças a qual o resultado existe duas vezes – e em
tempos diferentes-: como resultado ideal e como produto real’ (BERNARDES,
2009, p. 236).
Para fundamentar nossos argumentos encontramos na psicologia as condições
necessárias para entender como o indivíduo apreende os conhecimentos, como desenvolve
os processos psíquicos e desta forma, temos constituído os elementos para nos ajudar a
realizar ações que desenvolvam a capacidade para transformar a experiência em ações
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conscientes, ou seja, providencia o movimento qualitativo para ampliar o aprendizado e
nossas ações para o trabalho pedagógico.
Segundo Moura (1996), a concepção teórica da atividade de ensino é aquela
cuja função particular organiza ações que possibilitam aos sujeitos o acesso aos
conhecimentos elaborados sócio-historicamente. Para Bernardes (2009), a atividade de
ensino vincula-se a ações conscientes por parte do professor.
De acordo com a autora a “atividade consciente realizada no movimento de
transformação da realidade objetiva, natural ou humana” (BERNARDES, 2006, p.102)
surge a partir de uma necessidade. Desta forma, consideramos que a formação desta
necessidade especificamente humana poderá emergir no movimento das apropriações
teóricas, apresentando primeiramente as condições reais do contexto escolar possibilitando
a elaboração, no coletivo, de ações pedagógicas a serem realizadas constituindo assim a
práxis, condição indispensável e insubstituível para a transformação objetiva no trabalho
educativo. As atividades pedagógicas consideradas práxis são evidenciadas pela autora
considerada como aquela “que não só produz um mundo humano materializado, mas
também aquela em que o homem se produz forma ou transforma a si mesmo”
(BERNARDES, 2006, p. 103).
Este posicionamento esclarece que a atividade desenvolvida na formação de
professores deve mediar conhecimentos relacionando a dimensão teórica e prática que é
indispensável para uma atuação consciente do professor e objetivada na ação pedagógica
promovendo modificações subjetivas no professor e no estudante.
Neste contexto, deve-se conceber o conhecimento pedagógico mediado nas
formações em exercício como necessário para ampliar a atuação do professor nas atividades
de estudo e de ensino. Tal situação transforma o trabalho educativo em algo dinâmico, que
permite a transformação dos estudantes e do professor.
As práxis pedagógicas elucidadas por Bernardes (2006, p.106) “explicitam as
duas dimensões presentes na objetivação e materialização da atividade pedagógica” o que
demonstra a necessidade de se conceber o processo de ensino e aprendizagem vinculando
às áreas da psicologia e da pedagogia que permitam que se componha a compreensão do
indivíduo possibilitando que se desenvolva a educação escolar. Desta forma, ampliam-se a
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criação de novas possibilidades de transformação da constituição do homem e da
sociedade.
Desta forma, é necessário compreender as concepções políticas que determinam
a situação da escola atual, para a apreensão dos sujeitos que compõem o espaço de
formação em exercício. Assim, é possível realizar mediações que contemplem as
necessidades dos professores em formação e das práticas que o envolvem, construindo
algumas ações orientadas desenvolvidas de forma à reverter as condições de deficiências da
formação na tentativa de atribuir motivos para a atividade de estudo dos professores.
Considerando este contexto anunciado optou-se por pensar os motivos que
colocam o professor em atividade de estudo, na perspectiva de levá-lo a uma ação
necessária para ampliar sua formação e qualificação profissional. A formação em exercício
apresenta-se como um espaço para se compartilhar e ampliar os conhecimentos e as ações
pedagógicas com vistas a melhorar conjuntamente a qualidade da educação pública
municipal.
Algumas Considerações Possíveis
Verifica-se no desenvolvimento desta pesquisa um processo de formação que
permitiu o avanço do grupo de professores sobre a compreensão da atividade pedagógica,
do trabalho educativo, dos fundamentos que organizam nossa sociedade, das questões que
envolvem o desenvolvimento do psiquismo humano, sendo percebida a constituição de
outra visão para as questões relevantes do cotidiano escolar.
Neste percurso, compreendeu-se a importância da mediação no processo de
desenvolvimento das ações pedagógicas, necessários para o desenvolvimento das funções
psicológicas superiores no processo de apropriação e subjetivação dos conceitos tratados
nas formações. Segundo Vigotski (2001) não é qualquer atividade que possibilita a
formação das funções psicológicas superiores, mas a atividade pedagógica que produza
sentido para a atividade de estudos.
Em muitos momentos, no exercício de formação, identifica-se certo
distanciamento do professor das atividades do grupo de estudos. Em outros momentos
percebe-se que o avanço era lento, deixando-os, insatisfeitos, uma vez que pleiteavam
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soluções imediatas para o cotidiano escolar que necessita de intervenções a curto prazo,
que a sociedade contemporânea também requer agilidade e rapidez dos indivíduos no que
se relaciona ao mundo do trabalho em um contexto capitalista. Assim, era compreensível
em certo sentido, os professores se apresentarem ansiosos por uma transformação concreta
da realidade escolar, ou pelo menos que modificassem sua forma de agir, em função de
uma determinada carência sendo coerentes com o contexto escolar, mas providenciando
soluções para os problemas cotidianos. Em outros momentos, captou-se que os professores
estavam imersos nos temas tratados, com contribuições pertinentes que faziam o grupo
discutir, analisar tais questões.
Em muitos momentos, a própria condição de vida dos indivíduos participantes
do coletivo era determinante para inviabilizar o desenvolvimento das ações, como as
doenças dos professores, do formador, entre tantas outras emergências que impediam de
estarem presentes no trabalho do coletivo.
Entretanto o que se mostrava importante para a formação de professores eram
os conhecimentos teórico-científicos que estavam sendo ensinados na formação,
considerando os instrumentos que medeiam o conhecimento que se objetiva e se materializa
nas ações de ensino (BERNARDES, 2006, p.105) o que se pergunta é se os recursos
estavam sendo suficientes para a apropriação do conteúdo da atividade de ensino. Observase este dado como sendo este o ponto nodal de nossa observação no exercício de formação,
ao qual nos fez refletir se estes instrumentos estavam sendo suficientes para mediar os
conhecimentos que estavam sendo ensinados.
Embora cientes de que não temos controle sobre o processo de apropriação do
produto das ações educativas, “sendo relativo ter controle sobre sua materialidade”
(BERNARDES, 2006, p. 105), e de sua não objetivação no desenvolvimento dos
professores, tínhamos percepções o que nos levou a realizar atividades práticas na tentativa
de ampliar o campo de ação da formação, pois aí se constituiu nosso propósito.
Assim, considera-se ser este um processo que requer não somente intervenções
pedagógicas, mas transformações culturais no âmbito do coletivo, caso contrário,
permaneceremos no âmbito do ideal, do ilusório que somente cumpre uma determinação
ideológica de nossa sociedade e, ao mesmo tempo, que impede a superação da estagnação
que encontramos a educação pública atual, consciente das limitações postas pela sociedade
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que não se reduz a condição particular humana, mas que permite superar em suas ações
pedagógicas à condição histórica alienada que determina o despreparo do indivíduo.
Finalmente é necessário enfatizar que em um processo lento, coerente com as
implicações de seu meio, sistematizado e consciente de suas deturpações, pesquisá-lo pode
ser um caminho para viabilizarmos a possibilidade de conquistar uma educação que
corresponda às necessidades humanas providenciada pela apropriação dos conhecimentos
construídos ao longo do processo histórico de nossa sociedade.
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