XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012
A INTEGRAÇÃO ENSINO E PESQUISA NA GESTÃO DA SALA DE AULA
UNIVERSITÁRIA: VISÃO SOBRE O CURSO DE HISTÓRIA DA UECE
Lidiane Sousa Lima
Andréa da Costa Silva
Walquiria Freire de Carvalho
Ana de Sena Tavares Bezerra
Universidade Estadual do Ceará
RESUMO
Apresenta achados de investigação, desenvolvida com apoio do CNPq (Edital Universal
2008.2), acerca da integração ensino e pesquisa no âmbito da docência universitária, no curso
de licenciatura em História da Universidade Estadual do Ceará (UECE), em Fortaleza. Tem
por objetivo contribuir para a reflexão em torno da prática de professores da Educação
Superior que mantêm relação com a pesquisa. Buscou-se conhecer: Como os professores do
curso de História da UECE que mantêm vínculo com pesquisa integram seus conhecimentos e
práticas sobre essa atividade no ato de ensinar a fim de formar professores? O estudo apoiouse nos fundamentos da etnometodologia. Para a coleta dos dados foram utilizados
questionário, entrevista e observação da prática pedagógica (com gravação em áudio e/ou
vídeo). A investigação teve como sujeitos docentes universitários com vínculo com pesquisa,
ou seja, que ministram disciplina de pesquisa e /ou participam de grupos de pesquisa. A
análise evidenciou que os professores do curso se esforçam para promover uma integração da
pesquisa ao ensino; contudo, a secundarizam principalmente por terem uma visão deturpada
do que seja a pesquisa como elemento que integra o processo ensino e aprendizagem, pois
conhecem a pesquisa acadêmica, dentro de uma perspectiva clássica do conhecimento. O
grande desafio que se apresenta a esses professores universitários é o de conseguir integrar de
forma efetiva a pesquisa ao ensino, compreendendo que aprender exige inventividade,
curiosidade, significado, capacidade de crítica e produção própria e autônoma. É nessa
perspectiva que postamos a integração pesquisa e ensino como possibilidade necessário para
renovar a formação de professores.
Palavras – chave: Ensino e Pesquisa. Docência Universitária. Curso de História.
1. Introdução
É crescente o reconhecimento da pesquisa como instrumento auxiliar no processo
construtivo de professores, argumentando sobre a necessidade de ensinar pela pesquisa,
entendendo-a como atividade que fomenta no professor oportunidades para pensar, refletir e
transformar a sua prática.
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Sob essa perspectiva, este ensaio expõe achados de investigação acerca da
integração ensino e pesquisa na prática de docentes no curso de licenciatura em História da
Universidade Estadual do Ceará (UECE), em Fortaleza. Trata-se de estudo desenvolvido com
apoio do CNPq (Edital Universal 2008.2), que agrega integrantes dos grupos de pesquisa
“Educação, Cultura Escolar e Sociedade” (da UECE/Centro de Educação), “Educação e
Saúde Coletiva” (da UECE/Centro de Ciências da Saúde) e “Saber e Prática Social do
Educador” (da UFC/Faculdade de Educação), equipes que compartilham interesses e
preocupações em torno da temática estudada.
A defesa da pesquisa como elemento essencial para a formação docente consôciase a um debate internacional e nacional sobre a qualidade da Educação Básica, ganhando
respaldo, nas últimas décadas, em trabalhos de muitos pesquisadores no Brasil, dentre eles:
Ludke (2001 e 2003), André (2002), Santos (2002), Farias, Silva e Barreto (2010). Ademais, a
própria legislação vigente que trata da formação de professores para a Educação Básica
aponta a pesquisa como um dos elementos centrais na formação do futuro docente.
As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da
Educação Básica – DCNs (Resolução nº 1/2002 – CNE/CP) reconhecem a articulação entre
ensino e pesquisa como parte integrante do processo formativo. Explicita a necessidade do
“aprimoramento em práticas investigativas” (Art. 2, inciso IV) indica, entre os princípios
norteadores dessa preparação, a “pesquisa, com foco no processo de ensino e de
aprendizagem, uma vez que ensinar requer, tanto dispor de conhecimento e mobilizá-los para
a ação, como compreender o processo de construção do conhecimento.” (Art. 3º, inciso III).
Buscar compreender como acontece a relação entre ensino e pesquisa na formação
de professores é contribuir para a formação de um currículo emancipador. Tal currículo
sustenta-se em práticas de ensino que favoreçam atitudes provocadoras, incentivadoras da
reflexão, da capacidade de interpretar, argumentar e criar sobre a realidade expressa.
Na perspectiva deste “currículo emancipador”, ao trabalhar com atividades de
pesquisa, tanto docentes quanto discentes são levados a assumir uma visão mais crítica e
analítica da realidade que os cerca. De modo que o ensinar passa de uma ação meramente
instrumental para aquela que desenvolve uma atitude questionadora na descoberta dos saberes
e conhecimentos. A pesquisa amplia a capacidade de reflexão, sem a qual o trabalho docente
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poderá se comprometer, já que a “idéia do ensino vinculado à pesquisa expressa a
indiciossabilidade entre teoria e prática da atividade humana de conhecer e de produzir
conhecimento sobre si e acerca do mundo a nossa volta”. (FARIAS, SILVA e BARRETO,
2010, p. 26).
Na medida em que reflete sobre sua ação, o profissional torna-se, de acordo com
Schön (2000, p.25), um “pesquisador no contexto da prática”. Nos cursos de licenciatura,
enfatiza-se a importância da pesquisa, “por contribuir para o desenvolvimento de algumas
habilidades e atitudes que a investigação promove, como a curiosidade, a vontade de
encontrar explicações, a criatividade, o confronto com pontos de vistas diferentes”.
(SANTOS, 2002, p. 20). Sinaliza, pois, a ideia de que, ao desenvolver uma prática pedagógica
integrada à pesquisa, prepara, desde a graduação, os futuros profissionais para lidarem de
forma satisfatória com os desafios que o seu ofício lhes exigirá. Therrien e Nóbrega-Therrien,
destacam que
[...] O ensino articulado à pesquisa deve objetivar a formação para a
reflexão-na-ação, de modo que o novo profissional seja preparado para os
desafios que a prática exige e buscar respostas para as indagações advindas
dessa prática. Os resultados do processo formativo podem alcançar maior
fecundidade de acordo com a intensidade e fundamentações teóricas
propiciadas pela pesquisa que alicerça a reflexão sobre a prática. (2006,
p.283).
Com efeito, parece que os cursos de licenciatura se apresentam como um campo
fértil para o desenvolvimento desta posição, pois, os professores universitários e os
graduandos encontrar-se-iam mobilizados por um objetivo comum: a busca pelo saber. O que
se observa, no entanto, na maior parte das vezes, é um distanciamento entre ensino e pesquisa
na universidade, como anotam Therrien e Nóbrega-Therrien (2006, p. 2):
Os cursos de formação profissional nas universidades privilegiam o ensino
com tradição de aulas expositivas onde o aluno escuta, fala pouco e quase
nunca escreve. [...] Mesmo com a exigência em muitos cursos de graduação,
de elaboração de um trabalho monográfico como requisito para a obtenção
do titulo de graduação, essa formação para pesquisa ainda não está sendo
adequada [...].
Como resultado da secundarização da pesquisa na e para a formação de docentes,
tem-se observado poucos espaços e oportunidades para que os alunos reflitam e apresentem
pensamento mais autônomo. Este fato indica (ou pode indicar) que muitos professores
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desenvolvem atividades de pesquisas na universidade, contudo, não estabelecem relação entre
aquilo que eles ensinam e a investigação que desenvolvem, muitas vezes, por não
conseguirem articular sua prática de pesquisa com os conteúdos que lecionam. Essa atitude
reflete a própria formação que esses professores tiveram, cuja prática de pesquisa foi
dissociada da prática de ensinar. Alimenta-se, portanto, a ideia de que ensino e pesquisa são
atividades distintas que requerem diferentes habilidades.
Orientado por esta compreensão, este trabalho tem por objetivo contribuir para
reflexão em torno da prática de professores da Educação Superior que mantêm relação com
atividades de pesquisa, ou seja, que ministram disciplina de pesquisa e/ou participam de
grupos de pesquisa. Buscou-se conhecer: Como os professores do curso de História da UECE
que mantêm vínculo com pesquisa integram seus conhecimentos e práticas sobre essa
atividade no ato de ensinar a fim de formar professores?
Para o desenvolvimento do estudo, apoiamo-nos na etnometodologia, método que
“tem com como objetivo descrever as práticas pelas quais os atores do sistema educacional,
professores e alunos, mas também decididores e pais produzem os fenômenos reificados”
(COULON, 1995, p. 302). Os achados desta pesquisa foram organizados em três tópicos, que
serão abordados ao longo deste texto.
2. Os professores do curso de História que pesquisam: os sujeitos investigados
Quem são os docentes do Curso de História da UECE/Fortaleza que mantém vínculo
com pesquisa? Sua identificação considerou em levantamento de dados junto às coordenações dos
cursos e fontes públicas, como a Plataforma Lattes.
Inicialmente, foi realizado um levantamento junto à coordenação do curso e feitas
consultas no site da UECE, o que nos permitiu conhecer os fluxogramas das matrizes
curriculares em vigor, as disciplinas relacionadas à pesquisa e os docentes que nelas atuam.
Posteriormente, visitando a Plataforma do CNPq (CV Lattes e Diretório de Grupos de
Pesquisa), identificamos os docentes que atuam em grupos de pesquisa. Assim, do total de 22
professores dos cursos identificados no período de 2009.1, 11 tinham atuação em pesquisa.
Partindo deste levantamento inicial, dez professores concordaram em responder a
um questionário, que permitiu traçar um perfil dos sujeitos desta investigação. Desse grupo,
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foram escolhidos dois, com suporte nas suas disponibilidades, para participar do último
momento da coleta de dados, que correspondeu à entrevista e observação de sala de aula.
Os dois sujeitos participantes são do gênero masculino com idade entre 40 e 49
anos. Ambos licenciados em História, sendo que um possui titulação de Doutor em História e
o outro é Doutor em História Social. São professores efetivos e ministram disciplinas
relacionadas à pesquisa, sendo elas: Prática da Pesquisa Histórica, e Metodologia da Pesquisa
Histórica. Os dois estão vinculados a grupos de pesquisa da instituição investigada, e também
participam de projetos de pesquisa, um como pesquisador, e outro como coordenador. Um
deles não orienta bolsistas de Iniciação Científica, o outro estava com três orientandos no
período em que participou da nossa investigação.
3. Conhecendo a prática pedagógica dos docentes universitários: o que revela os
achados?
Objetivando conhecer como os professores desenvolvem seu trabalho, solicitamos
que os docentes falassem sobre o planejamento de suas aulas, procurando apreender aspectos
que relacionassem pesquisa e ensino no seu mister investigativo.
Deste modo, o Professor H1 destaca que, de acordo com convenções do próprio
Colegiado do curso, os professores podem escolher as disciplinas que irão ministrar de acordo
com suas áreas de interesse, medida que possibilita ao professor se dedicar a um campo do
conhecimento histórico em que possui mais afinidade, despertando seu interesse em
pesquisar. Essa atitude pode ser percebida de maneira clara, quando o Professor H1 fala sobre
o planejamento para a disciplina que estava ministrando naquele momento.
[…] se tratando de operacionalização essa disciplina, por exemplo, é a primeira
vez que eu vou a um laboratório de teorias e como ela é trinta e quatro horas/aulas
eu recortei algo que eu já venho trabalhando, que é a cidade, a história e o
cotidiano. Isso é reflexo de grupos de pesquisa que a gente tem vinculados ao
CNPq, ao resultado das teses de doutorado, as discussões em mesa redonda por aí,
em mesa de bar também.
O Professor H2, ao falar do planejamento, é bastante sucinto, mais destaca que já
trabalha há algum tempo com essa disciplina
Como estou com essa disciplina há algum tempo eu sempre faço um planejamento
anualmente, que ai são dois semestres, mas sempre levando em consideração o
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resultado que obtive com o planejamento anterior. A estrutura dela varia um
pouquinho, embora eu não possa mexer na ementa, mas vou variando um pouco a
abordagem dos aspectos que eu trato.
Percebe-se que os docentes, ao discorrerem sobre suas experiências de
planejamento, apresentam informações mais gerais, não especificando aspectos ligados à ação
cotidiana. Assim, fez-se necessário instigá-los a relatar sobre a sua metodologia e estratégias
de ensino.
Schmidt e Cainelli (2010) ressaltam que a palavra método vem do grego e
significa “caminho”. Nesse sentido, a metodologia coincide com os meios adotados pelos
professores para poderem alcançar determinados objetivos, as referidas autoras ainda
assinalam que,
No ensino de História, esses mencionados meios podem ser relacionados,
também, com a aplicação de métodos de aprendizagem por repetição ou por
descobrimento, métodos etnográficos ou descritivos, métodos de resolução
de problemas, como o estudo de caso, e os métodos de investigação. (2010,
p. 37).
Logo, quando os professores falam da metodologia utilizada, apresentam posturas
diferenciadas. Enquanto o professor H2 diz estruturar suas aulas em dois eixos: [...] como é
uma disciplina de primeiro semestre voltado para introdução eu mantenho dois eixos: um
para pesquisa e outro mais voltado para a sala de aula que é um pouco do que você viu
(Professor H2)(grifamos). O professor H1 assume que adota uma metodologia mais pautada
na exposição oral.
[...] mas todas as aulas, principalmente no primeiro mês, foram aulas
estritamente expositivas e depois eu fui interagindo com a turma, até por que
algumas questões no início estavam complexificadas devido à crueza talvez da
apresentação dos livros teoricamente sobre essas questões […] aí depois num
segundo momento essa interação começa a acontecer porque os alunos vão tendo
compreensão de alguns conceitos básicos (Professor H1). (grifamos).
Durante as observações, de maneira geral, foi possível identificar o fato de que os
dois professores apresentam uma preocupação em estimular o processo de aprendizagem dos
alunos, embora tenhamos observado que o grupo do Professor H2 demonstrava maior
envolvimento com as atividades desenvolvidas do que o grupo de alunos do Professor H1.
De acordo com os conceitos mais modernos, o aprender apresenta uma relação
intrínseca com o modo de ensinar, porquanto:
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A ação de ensinar está diretamente relacionada ao aprender, tendo como
meta a apropriação tanto do conteúdo quanto do processo. As orientações
pedagógicas não se referem mais a passos a serem seguidos, mas a
momentos a serem construídos pelos sujeitos em ação, respeitando sempre o
movimento do pensamento. Diferentemente dos passos, que devem
acontecer um após o outro, os momentos não ocorrem de forma estanque,
fazendo parte do processo de pensamento (ANASTASIOU e ALVES, 2003,
p. 19).
Desde modo, buscamos conhecer as estratégias de ensino utilizadas com o intuito
de favorecer uma integração do ensino com a pesquisa, podendo contribuir para a formação
de profissionais reflexivos, preparados para lidar com os desafios que a prática exige, uma vez
que, “Os resultados do processo formativo podem alcançar maior fecundidade de acordo com
a intensidade e fundamentações teóricas propiciadas pela pesquisa que alicerça a reflexão
sobre a prática” (THERRIEN e NÓBREGA-THERRIEN, 2006, p.283).
Assim, foi possível perceber nos relatos dos professores, o fato de que ambos
utilizam as mesmas estratégias de ensino, fazendo uso de estudo teórico e aulas práticas. Os
estudos teóricos são utilizados visando à aproximar os alunos de um repertório teórico denso,
como segue o relato:
Um aluno de História, hoje, na UECE, ele sai com uma carga de leitura muito
grande e com obras. A gente tem priorizado muito mais a obra do que o texto
solto, isso não significa que nós não temos textos soltos, temos sim. Ele não é tão
solto assim, está dentro de uma rede (Professor H1).
O Professor H2 vai além, e considera importante que os alunos conheçam também
os autores, confrontando suas concepções teórico-filosóficas. Deste modo, usa de maneira
consciente uma estratégia que contribui para o desenvolvimento de habilidades investigativas,
pois, ao possibilitar que o aluno tenha contato com autores de variadas correntes filosóficas,
eles os provocam a pensar, questionar, fazer comparações e tomar as próprias decisões.
As aulas práticas também são destacadas como estratégia essencial para o
desenvolvimento de uma atitude investigativa, visto que estas possibilitam aos alunos
vivenciarem na prática tudo o que foi observado durante as aulas, conforme afirma o
Professor H2: “Essa aproximação fora de sala de aula é importante e também é uma
estratégia de acompanhamento, de estímulo”. Vale ressaltar que o Professor H1 também
considera as aulas práticas como atividade importante, mas, em virtude das dificuldades, opta
por fazê-las dentro da própria cidade.
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Os professores também apontam o trabalho escrito, o que contribui para romper
com a tradição dos cursos de formação que “privilegiam o ensino com tradições de aulas
expositivas onde o aluno escuta, fala pouco e quase nunca escreve” (THERRIEN e
NÓBREGA-THERRIEN, 2006, p. 03). Logo, estimulam à escrita, seja por via da produção de
resenhas ou artigos, exercício que auxilia o aluno a superar dificuldades e aprender a produzir
textos científicos, colaborando para melhorar o desempenho na escrita da monografia.
4. A pesquisa como elemento necessário à formação docente
Intentando compreender as ações desenvolvidas por estes docentes com o intuito
de aproximar os alunos da prática de pesquisa, foi possível observar em suas falas uma
preocupação com o despertar do interesse discente pelo ato de pesquisar, porquanto
consideram a investigação como elemento importante ao processo de ensino e aprendizagem.
[...] a pesquisa pode representar para o professor, para o docente, um avanço no ensino. [...]
então eu acho que é complicado eu ficar falando de pesquisa sem está falando de ensino.
(Professor H1).
Ao exibirem, no entanto, suas concepções de pesquisa, assim como, ao
descreverem o modo como buscam realizá-la, identificaram-se diferenças entre as visões e as
ações deles. Observou-se que, para o Professor H1, a pesquisa é vista como um ato de fazer
escolhas. "Fazer pesquisa é você tomar decisões, o universo da pesquisa metaforicamente é
uma mata fechada e quem não tiver a fim de correr risco não entre, porque você vai fazer
experimentações” (Professor H1). Já o Professor H2 considera a pesquisa como uma “busca
de conhecimento”, uma “grande luta contra a ignorância, o obscurantismo, por produção de
significado, de sentido para a própria vida”.
Como é possível perceber, os dois professores apresentam compreensões
diferentes sobre o que seja pesquisar. O ponto de vista defendido pelo professor H1 deixa
transparecer os aspectos mais ligados às questões imprevisíveis e aos possíveis desafios
vivenciados por quem busca pesquisar. Se de um lado essa afirmação pode ser considerada
como verdade, especialmente num país como o Brasil, que investe ainda pouco em pesquisa,
por outro, isso não pode ser visto como um empecilho para o desenvolvimento da
investigação científica. O professor H2 sinaliza para questões mais objetivas da busca do
conhecimento e arremata a questão, destacando que tudo é passível de pesquisa.
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Quanto à maneira como integra ensino e pesquisa, ambos acentuam que os
referenciais de quem ensina deveriam estar pautados no que ele pesquisa, reconhecendo que
ensino e pesquisa são oriundos de único procedimento. Apesar de assumir seu interesse em
colocar em prática tal processo, no entanto, o Professor H2 afirma não saber definir os
fundamentos teóricos para esta atitude.
Apesar de reconhecer a importância dos processos investigativos integrados ao
ensino, o Professor H1 não executa esta ação à sua prática docente. Isto nos conduz a
concordar com a asserção de Santos (2002, p.23), para quem "[...] a integração entre ensino e
pesquisa na universidade representa um grande problema que precisa ser superado se
realmente se pretende a melhoria do ensino de graduação".
O Professor H2, ao estimular em seus alunos a atitude investigativa, leva para sala
de aula situações que aproximem teoria e prática, como, por exemplo, fontes variadas de
diversos teóricos, de modo que os alunos possam "dialogar" com outros autores. “(...) resolvi
fazer resenha de trabalhos do mestrado, que ai eu tinha a oportunidade de trazer os autores
para dialogar com eles” (Professor H2). Deste modo, ele logra transformar os seminários em
um espaço de formação para a pesquisa, na medida em que os alunos são instigados a praticar
questões teóricas, discutidas no primeiro momento da disciplina.
5. Conclusão
Reconhecemos a importância da integração desses dois processos – pesquisa e
ensino – na formação inicial do professor de História, possibilitando-lhes a oportunidade de
compreender que aprender exige inventividade, curiosidade, significado, capacidade de crítica
e produção própria e autônoma.
Deste modo, verificamos que os docentes do curso de História se esforçam para
fazer uma integração da pesquisa ao ensino. Secundarizam-na, porém, principalmente por
terem uma visão deturpada do que seja a pesquisa como elemento integrante do ensinoaprendizagem, visto que estão de uma maneira geral acostumados a pesquisar dentro de uma
perspectiva clássica do conhecimento. É necessário, pois, o rompimento de determinados
conceitos, a fim de conseguirem a integração entre a pesquisa e o ensino.
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