XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012
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A RELAÇÃO DA ESCOLA COM A FAMÍLIA DOS ALUNOS EM UMA
ESCOLA DE PERIFERIA
Michele Cristina Pedroso (UNESP – Rio Claro)
Leila Maria Ferreira Salles(UNESP – Rio Claro)
Resumo: Este trabalho pretende dar continuidade aos projetos de investigação
sobre a temática jovens e violência, verificando a relação que a escola estabelece com a
família dos alunos em um bairro de periferia conhecido como violento. Escola e família
se penetram todo o tempo. O objetivo deste trabalho é o de compreender a relação
estabelecida entre a escola e a família dos alunos, por meio do depoimento dos gestores
escolares: diretor e coordenador pedagógico. Na entrevista houve perguntas referentes a
perspectiva que ambos tem em relação a família dos alunos, bem como foi questionada
a relação que a escola estabelece com elas. Os temas básicos abordados nas entrevistas
serviram como eixos norteadores da análise. Nos depoimentos a tendência a destacar os
problemas sociais presentes na família parece contaminar a forma pela qual os gestores,
percebem e à significam. É possível supor com suas falas que a escola pouco tem feito
para que a relação com a comunidade sofra transformações, persistindo em realizar
contato com esta apenas quando necessário. O estudo realizado em uma escola
localizada na periferia de um município do interior do estado de São Paulo, indicou que
nas famílias de periferia a relação com a escola se caracteriza como uma relação de
distanciamentos e aproximações. O estudo indicou também a dificuldade desta escola
em conviver com os alunos e suas famílias e ser educador em uma escola de periferia
onde estão as camadas mais empobrecidas da população. Os dados apresentados foram
coletados e analisados durante o ano de 2011.
Palavra Chaves: gestores escolares, escola, família
1. Introdução
Este trabalho foi desenvolvido em uma unidade escolar pertencente à rede
púbica estadual, ligada a Direção Regional de Ensino de Limeira e localizada na
periferia do município de Rio Claro/SP. Esta escola atende a alunos do Ensino
Fundamental II e Ensino Médio.
A escola se localiza em um bairro da cidade em uma região conhecida como
Grande Cervezão, que é considerado área prioritária pela Prefeitura Municipal de Rio
Claro para a prevenção da violência de jovens. Esta região que compreende vários
bairros da cidade se caracteriza por grande concentração de pobreza, alta densidade
demográfica e baixos índices socioeconômicos.
Os índices de violência nestes bairros também são elevados. O dia a dia da
população está ligado à ação da polícia no combate ao crime e ao tráfico de drogas.
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Muitos jovens residentes na região já tiveram experiências marcantes com a violência e
os casos de problemas familiares, envolvendo o crime e o uso de drogas é comum. Os
alunos trazem para a escola suas experiências de vida que estão muito ligadas ao
contexto social descrito.
O objetivo deste trabalho consistiu em investigar como é a relação da escola com
a família dos alunos, procurando evidenciar aproximações e distanciamentos, pois a
relação estabelecida com a família dos alunos é fator importante nos processos
interativos que ocorrem no interior da escola, e conseguintemente na violência que pode
se manifestar de diferentes formas pelos diferentes atores. Busca-se neste estudo
investigar a relação estabelecida com a familia dos alunos em uma escola que pode ser
considerada como de periferia. A referência à periferia neste estudo tem por intenção
situar às análises, pois referir-se à periferia implica em uma multiplicidade de questões
entre as quais ás relacionadas à segregação e exclusão social (SPOSITO, 2001;
BALTRUSIS; D'OTTAVIANO, 2009), isto, porém, não implica que toda periferia
possa ser caracterizada como pobre e o centro da cidade como rico.
Para tanto foi realizada entrevista com os gestores escolares (coordenador
pedagógico e diretor), em que houveram perguntas referentes a perspectivas que ambos
tem em relação a família dos alunos, bem como foi questionada a relação que a escola
estabelece com elas. Os temas básicos abordados nas entrevistas serviram como eixos
norteadores da análise.
2. Sobre a relação da escola com a família dos alunos
As falas do Diretor e do Coordenador parece-nos, ser um tanto ambíguas quando
falam sobre as famílias dos alunos: ora são falas que destacam a “garra” das famílias
que mesmo em condições adversas criam seus filhos dentro do esperado socialmente e
ora de censura quando as mesmas famílias são criticadas por não oferecerem uma
educação considerada adequada a seus filhos. Essas falas que destacam ora um pólo e
ora outro estão relacionadas ao comportamento do aluno na escola. Deste modo as suas
falas reforçam as colocações de Thin (2006) que afirma que os professores criam
representações das práticas e do modo de vida das famílias a partir da observação das
atitudes dos alunos como o comportamento, a atenção/desatenção, a adesão às regras, o
tipo de vestuário, as conversas que têm em sala de aula.
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Para o Diretor as famílias dos alunos são bastante diversificadas. Há famílias
bem constituídas, que apóiam a escola, que apóiam o filho e que quando tem críticas
vão até a escola para expô-las:
Olha, nos temos desde famílias exemplares, que você vê que é aquela família bem
constituída, que dá total apoio para o aluno, que apóia a escola também e quando
tem as suas criticas vem, e faz, e a gente tenta melhorar, a gente conversa, até
aquelas em que as famílias são totalmente desestruturadas (Diretor ).
Para o Diretor o ideal seria que as relações pais e filhos se tornassem mais
próximas, com os pais participando da vida de seus filhos, se interessando pelo que eles
fazem. Mas há famílias desestruturadas, que não se preocupam com o dia-a-dia dos seus
filhos:
Tem algumas famílias que lavam as mãos. O filho apresenta todo o tipo de
problema, então elas lavam a mão, ou deixa o aluno pra nos cuidarmos e a gente
sabe muito bem, está comprovado que a escola sozinha fica complicado. Como o
escritor Içami Tiba fala, a educação, a formação daquele ser humano, não pode ser
só da família ou só da escola, tem que ser um trabalho conjunto. A gente aconselha
aos pais dos alunos violentos a não abandonarem, a não desistirem do filho, por
mais que eles possam estar apresentando um problema. A gente tenta mostrar pra
eles (pais) a importância deles aqui na escola, porque pode ser que com a presença
dos pais o aluno encare de uma forma diferente até a própria escola. O trabalho que
a gente desenvolve aqui, se o pai está presente é diferente, faz diferença (Diretor).
Há famílias que não estão presentes na vida do filho seja pelo fato de que
algumas delas “desistem” de seus filhos porque eles “têm problemas”, ou porque pais e
mães deixam seus filhos para serem criados pelas avós e tios, de modo que as crianças
ficam “jogadas”, ou mesmo porque os pais trabalham demais o que não permite que se
dediquem a seus filhos por falta de tempo.
A maioria sente carência de atenção, porque os pais têm que trabalhar e geralmente
é um serviço que os pais ficam o dia inteiro fora. Então eles sentem falta
(Coordenador).
O trabalho exercido pelos pais não parece justificar seu comportamento para os
educadores, de modo que os pais dos alunos considerados violentos ou daqueles que
“dão problemas” são acusados de deixar seus filhos sem supervisão. Embora o
comportamento dos pais possa ser explicado não são justificados ou justificáveis,
configurando-se assim, para os educadores em uma forma de negligência. Não foi feita
nenhuma ponderação que o trabalho dos pais pode privar os filhos do contato com eles,
mas que é plenamente justificável dada à necessidade de sobrevivência.
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A função socializadora da escola que é requisitada pelas famílias tampouco é
simples, visto que as limitações para que a escola exerça essa função existem, como
lembra o Diretor.
Os acertos e os arranjos familiares que fogem do padrão esperado acabam,
segundo o Diretor, a se fazer presente na escola:
É complicado. Só pra você ter uma idéia, uma vez veio uma mãe aqui para
matricular a filha, só que ela não queria que matriculasse a filha dela na mesma
classe de uma outra menina da mesma série. E eu falei: mas por que? Ela
respondeu: porque eu sou amante do pai dela, do pai dessa outra, então pra evitar
problemas (Diretor).
Também para o Coordenador as famílias da comunidade, podem ser sintetizadas
em dois tipos: famílias estruturadas nas quais o rendimento escolar dos alunos é melhor
e famílias desestruturadas que é a grande maioria das famílias da comunidade.
Desestruturada significa aqui que os filhos são criados somente pela mãe, ou somente
pelo pai ou ainda por parentes mais distantes, como avós e tios. Muitas vezes, o pai, ou
a mãe ou alguém da família está preso fato que acarreta uma desestruturação familiar:
Uma grande maioria é desestruturada, você não vê muito a figura do pai e da mãe
aqui, você vê ou só o pai ou só a mãe ou muito padrasto e madrasta. Os filhos às
vezes são irmãos, mas não são do mesmo pai. A gente ouve muito eles falarem:
meu pai tá preso ou minha mãe tá presa, sempre tem alguém da família preso, a
grande maioria mesmo. Eles, acho, que já estão acostumados com isso. Às vezes o
aluno não é violento, mas o pai tá preso. Tem família estruturada e o rendimento
dos alunos é até melhor. Porque senão dá a impressão de que todas as famílias são
desestruturadas, não, tem famílias estruturadas, mas na grande maioria a mãe cria o
filho sozinha, ou o pai, ou nem a mãe nem o pai é uma tia, uma vó (Coordenador).
Os alunos considerados violentos e os que “dão problemas” são, então, aqueles
que têm uma estrutura familiar fora do padrão nuclear de família. A referência é o
modelo nuclear de família que é percebido como ideal. Com a sociedade burguesa o
modelo familiar que se impõe é o da família nuclear, constituída pelo casal e pelos seus
filhos pequenos, ou seja, pai, mãe e filhos que vivem juntos (ROMANELLI, 1995).As
famílias que rompem com esse modelo são identificadas como desestruturadas ou
incompletas e são responsabilizadas pelos problemas emocionais, pela delinqüência,
pelo fracasso escolar, etc, dos filhos (CUNHA, 1997, DONZELOT, 2001). Giunta
(2007) também afirma que não há um modelo “padrão” de família, embora o modelo de
família constituído pelo pai, pela mãe e filhos, todos do mesmo casal, predomine, ele
não condiz com a atual realidade. Filhos e filhas moram com padrastos e madrastas,
enteados e enteadas.
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Bem e Wagner (2006) ao revisarem a literatura mostram que, entre as famílias
de baixo nível socioeconômico, o arranjo doméstico que predomina é o da família
extensa, na qual existem mais de um núcleo familiar ou a inclusão de parentes, como
avós, tios, primos e agregados. Esse arranjo é decorrência do desemprego, dos baixos
salários e da instabilidade das relações conjugais. Em função da instabilidade dessas
famílias o pai, a mãe ou uma avó podem exercer tanto o papel de provedor quanto o de
cuidador não havendo uma delimitação clara de funções. As adoções temporárias e
informais relativizam a noção de pai e mãe. Assim, as famílias, ao adequarem o modelo
familiar conforme seus cotidianos adotam particularidades que lhe são próprias e que
estão conformes às estratégias de sobrevivência que adotam (SARTI, 1999, 2007;
AMAZONAS et al, 2003, BILAC, 1995, 2006).
Mas ter uma estrutura familiar fora dos padrões da família nuclear indica,
segundo os educadores, não saber cuidar dos filhos, não ligar para eles ou não se
importar com o que fazem. Há uma diferenciação entre famílias pobres porém
adequadas e famílias pobres que são inadequadas para criar seus filhos, lembrando as
colocações de Wacquant (2001) e Young (2002) sobre pobres merecedores e pobres não
merecedores.
Para o Coordenador, na grande maioria das vezes, a relação do aluno com sua
família pode ser caracterizada pela “carência” de atenção. Essa carência cria, segundo
ele, um conflito intrafamiliar, já que os alunos considerados problemáticos na escola,
inclusive, os protagonistas de violência, acreditam que a sua família não gosta deles, por
não se importarem com sua vida de forma que muitas vezes se sentem como se tivessem
sido abandonados:
A gente percebe na relação deles com a gente que eles sentem falta de um
perguntar como foi seu dia. Tem bastante conflitos. A maioria dos que tem este
problema acha que a mãe não gosta dele ou que a mãe abandonou ou que a mãe
não tá nem ai (Coordenador).
Situação que é agravada pelo fato de que esses alunos alem de não conversarem
com seus pais também se recusam a receber carinho de outras pessoas. Tanto é que
quando alguém vai conversar com eles estes jovens se afastam ou respondem de forma
rude:
Eu acredito que interfere sim no jeito do aluno. Muito aluno, você quer chegar
conversando com carinho, ele parece que não tá acostumado com aquele carinho,
então ele já se afasta, ou então responde, pra já cortar o assunto (Coordenador).
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O Coordenador acredita que para que os pais melhorarem sua relação com seus
filhos é necessário que reservem um espaço de seu dia para olhar seus cadernos, passear
com eles ou ir ao cinema. Porém, de acordo com ele, isto não ocorre seja por falta de
tempo dos pais, seja porque passeios como esses são inviáveis financeiramente, uma
vez que têm muitos filhos. Talvez, esteja ai presente uma critica velada aos pais por
terem muitos filhos.
Essa despreocupação com os filhos pode ser percebida ainda quando dá
realização de reuniões de pais e mestres aonde algumas vezes vem o pai ou a mãe, outro
parente, ou então não vem ninguém.
Assim, para os educadores entrevistados, a maioria das famílias não é aquela que
possa ser considerada ideal, o que é principalmente válido quando os alunos são
protagonistas de violência na escola ou “dão problemas”.
Então eles têm certos arranjos que está um pouco longe assim daquele da família
ideal, da constituição realmente da formação da família: pai, mãe e filho. Alguns
são criados pela avó. Tinha uma família que até pouco tempo vários meninos eram
criados pela vó. De repente a avó veio a falecer. E quem que está cuidando deles?
Uma tia de longe. Então eles realmente são muito jogados. Às vezes, vamos dizer
assim, têm famílias aqui que você olha e você iria ver que é assim uma perfeição,
vamos dizer assim (Diretor).
Assim, a relação da família com seus filhos pode ser qualificada como bastante
problemática principalmente quando os alunos são considerados violentos. E, em geral,
nessas famílias, segundo o Coordenador da escola, a família também é violenta, de
modo que o filho reflete o que vivência em casa:
Eu acredito que seja assim. A gente vê que o pai também é violento com o filho. O
filho reflete o que é em casa, com algumas exceções (Coordenador).
Ressaltamos aqui que esta fala do Coordenador esta conforme a literatura na
área (CECCONELLO, DE ANTONI, KOLLER, 2003; DE ANTONI, KOLLER, 2000).
Mas como então se educam os filhos? Discorrendo sobre isso é que o Diretor
afirma que a família destes alunos, muitas vezes, dizem que não podem fazer nada para
disciplinar ou controlar o comportamento de seus filhos e que, como estes dão muito
problema na escola, só não permitem que parem de estudar porque terão que responder
ao Conselho Tutelar:
Depende da perspectiva de cada família. A gente não pode assim, digamos
generalizar, com focos nos violentos. É como eu disse pra você, algumas mães
vem, quando a gente chama, mas a gente nota, elas falam: “ah...eu não posso com
ele, eu não posso fazer nada pra ele, mas da escola eu não posso tirar porque senão
vem em cima de mim”, é o Conselho Tutelar. É aquela coisa assim de jogar
responsabilidades (Diretor ).
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De acordo com THIN (2006) os pais das famílias populares são comumente
acusados de não terem controle sobre seus filhos, que fazem o que querem e quando
querem. Também Giunta (2007) diz que muitos pais são permissivos, pois, pai e mãe,
ao trabalharem fora o dia todo, tentam compensar sua ausência realizando todas as
vontades dos seus filhos, para minimizar o sentimento de culpa. Assim, rejeitam a
educação rígida que receberam para optar por uma educação mais amena.
Mesmo, fazendo ressalvas a generalização, o Diretor e o Coordenador da Escola
1 apontam que na sociedade atual há um processo de delegar para outras instancias a
educação das crianças, entre elas a escola que mesmo com limitações, acaba ensinando
para as crianças regras de civilidade. Para os educadores isto tudo indica que os pais
abandonaram o seu papel de pais e que, mesmo quando cobrados para terem uma
atitude de controle sobre os seus filhos, não sabem o que fazer, devolvendo aos
professores essa responsabilidade. Apontando, assim, para o processo que Lasch (1986,
1991) analisou de delegação da disciplina a outras autoridades. Neste mesmo sentido
Giunta (2007) diz que muitos pais não sabem como se portar frente a dificuldades que
encontram na criação dos filhos e preferem a confortável postura de transferir as
responsabilidades para a escola, por não saberem o que fazer para oferecer uma boa
formação aos filhos em tempos de grandes contradições.
As dificuldades dos pais nas relações com os filhos e que são fruto dos modos de
organização da sociedade atual é apontada pelo Coordenador da escola que diz :
Os pais tentam uma relação autoritária, mas não conseguem, porque perderam o
respeito. Antigamente o pai falava e o filho, o pai nem falava, o pai só olhava, hoje
o pai pode olhar que o filho continua fazendo. Eu acho que é pelo pai estar muito
tempo fora de casa e ter pouco contato real com o filho. Ele acaba, assim, deixando
algumas coisas passarem para não criar problema, justo naquele tempinho que tem
com o filho (Coordenador).
Impor a autoridade não é simples, pois segundo Lasch (1991) o modelo atual de
família, é o da igualdade entre os indivíduos e o respeito às diferenças individuais. A
importância da igualdade nas relações familiares é afirmada e estas se tornam relações
ente pares, e de não exigências. Não há normas rígidas de conduta e as exigências são
vistas como irrealistas, a imposição de limites é passível de discussão. Segundo o autor
no século XX glorifica-se a juventude e diminui-se a autoridade dos pais.
Essas falas dos gestores retomam então uma fala que parece ser recorrente e que
já nos deparamos na investigação anterior (Projeto de Pesquisa Violência na Escola: as
influências do
clima organizacional e das relações familiares. FAPESP Processo
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2007/04102-1): a família joga a responsabilidade para a escola que a devolve para a
família, as formas como as famílias dos alunos se organizam e educam seus filhos é
inadequada; as famílias, principalmente a dos alunos considerados protagonistas de
violência ou que “dão trabalho” “desistiram” de seus filhos.
Entretanto, mesmo com criticas as famílias dos alunos, o Diretor enfatiza que a
presença da família na escola é muito importante, tanto que diz que constantemente fala
aos pais: “a presença de vocês é muito importante na escola, as portas estão abertas”.
Para o Diretor a relação que a escola tenta estabelecer com as famílias é de
“acolhê-las”. Esse acolhimento se dá tanto com as famílias que frequentam a escola de
forma mais habitual, como com aquelas que se oferecem dizendo que a escola pode
contar com ela quando precisar, ou ainda com as famílias que esporadicamente vêm à
escola, como pais que só vem à escola no dia da matricula e da rematrícula. Porem,
acolher as famílias parece ser mais uma intenção do Diretor, pois segundo o
Coordenador da escola a única relação estabelecida entre a escola e a família dos alunos
é a de chamar a família quando há algum problema:
Na verdade a escola só entra em contato com a família quando tem problema, e
isso deveria mudar, a escola deveria chamar os pais dos bons alunos também para
falar pros pais que o filho é um bom aluno, que é estudioso, o que não acontece.
Porque tem tanta coisa pra fazer que a gente acaba só usando os problemas pra
chamar os pais (Coordenador).
O Coordenador, embora questionando o ocorrido ao dizer que “na verdade eu
acredito que não precisaria da ronda escolar”, conta:
Às vezes a situação é tão grave que a gente pede a presença da ronda escolar,
quando, por exemplo, duas meninas se pegam e uma unha o rosto da outra e a
outra está com o rosto sangrando. Ai tem que chamar os pais e a ronda escolar, pra
ver se o pai do agredido vai fazer BO. Ai geralmente o pai do agressor acha que a
escola não deveria ter chamado a ronda e o pai do agredido não faz boletim de
ocorrência de medo de retaliação em outros dias de aula.(Coordenador)
Assim, parece que, para o Coordenador as relações com as famílias se limita a
dos alunos “problemas”, como as dos protagonistas de violência ou quando há algum
problema de aprendizagem. O que contribui para que a família somente vá até a escola
por ocasião das reuniões de pais.
Em geral, as famílias vão à escola e são chamadas pelos gestores para irem até lá
por ocasião das reuniões bimestrais e ocasionalmente para reuniões extraordinárias
quando há um problema especifico acontecido em uma serie. Nessas reuniões as
famílias têm acesso aos professores, ficam sabendo da nota, da frequência e do
comportamento dos filhos na escola. Fora isso, as famílias, como estamos apontando, só
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são chamadas quando precisam ser comunicadas sobre alguma ocorrência referente ao
seu filho.
Chamar a família só quando os filhos têm algum tipo de problema, ou se portou
de forma que a escola considera inadequada, faz com que as famílias dos alunos
protagonistas de violência não venham à escola.
No entanto, essa postura da escola está sendo revista, como diz o Diretor :
Nos já estamos revendo também esses encontros para não se tornar assim: só
chama pra reclamar. Não, tem que também mudar essa cultura. E chamadas
individuais quando o aluno apresenta problemas de indisciplina e aprendizagem.
Muitas vezes ele é indisciplinado, mas ele é capaz, se ele sentar ele vai fazer muito
bem. E tem aquele que é comportado e que não consegue atingir o objetivo, aquela
habilidade que está sendo requisitada naquela hora. Então nos fazemos o contato
com a família, principalmente telefônico ou por bilhete (Diretor ).
Essa postura que, embora justificável pelo Coordenador pelo acumulo de
afazeres que a escola tem, é questionada. Assim, o Coordenador no mesmo sentido do
Diretor propõem que os pais sejam chamados para tomar conhecimento sobre o que
seus filhos têm feito de bom e para elogiá-los.
Porém, às vezes, são as famílias que procuram a escola para reclamar. Neste
sentido o Diretor conta:
A mãe que estava no ponto de ônibus esperando o ônibus pra ir trabalhar viu (a
briga) e subiu aqui na escola. Ela veio com 7 pedras na mão atacando a escola,
dizendo que a escola tinha sido responsável por aquele problema, que nada foi
feito. Envolveu até a ronda escolar. A policial veio, fez um B.O. Mas daí a própria
policia e o Diretor , que sou eu, conversamos com a mãe tentando mostrar pra ela
que o problema pode ter começado aqui, mas que a 100 metros da escola a gente
não é mais responsável. Mas ela veio e brigou com o Coordenador e com a vicediretor a (Diretor ).
3. A relação escola/comunidade nos depoimentos: considerações
Assim a relação da escola com as famílias vai se estabelecendo pautada em
conflitos e desencontros. Ora é a escola quem chama a família para reclamar do aluno
ora são as famílias do aluno que vão para a escola para reclamar de uma atitude adotada
por esta. Mas a necessidade percebida de se aproximar das famílias está presente tanto
na fala do Coordenador como na do Diretor da Escola. Para o Coordenador a relação
entre a família e a escola deveria melhorar para que a família estivesse mais presente na
escola. No mesmo sentido o Diretor diz que é necessário que a escola mantenha relação
com a grande maioria das famílias e não somente com algumas famílias.
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Mas, mesmo assegurando a importância da escola se integrar mais com as
famílias da comunidade, não há atividades previstas que visem essa integração. A
questão como dizem os educadores entrevistados até o momento esta somente sendo
discutida entre os membros da equipe gestora: diretor, vice-diretor e coordenador.
Porém, a escola e a família se interpenetram todo o tempo. E, no caso desta
escola a relação com a família dos alunos pode então ser caracterizada como uma
relação de distanciamentos e aproximações.O estudo indicou a dificuldade desta escola
em conviver com os alunos e suas famílias e ser educador em uma escola de periferia
onde estão as camadas mais empobrecidas da população.
A análise da relação da escola com as particularidades culturais dos grupos que a
compõem torna-se então uma questão importante. A distância cultural entre os
educadores e a comunidade onde a escola se insere parece ser um ponto central para a
análise dos dados ao apontar para a presença de um processo de exclusão simbólica dos
alunos e de suas famílias. Agir para que se construa uma relação entre alunos, família
dos alunos e escola baseada no respeito é uma condição fundamental para que se possa
reduzir a violência no contexto escolar e fora dela.
Portanto estas entrevistas possibilitaram a percepção do quanto é necessário e
fundamental entendermos a escola socialmente, entendendo o contexto no qual esta está
inserida.
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a relação da escola com a família dos alunos em uma