XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012
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ESPAÇOS ‘OUTROS’ PARA ENSINAGEM DA GEOGRAFIA
Ivaine Maria Tonini
UFRGS
Resumo - A partir das reflexões sobre a inserção da escola na cultura contemporânea,
dos ‘modelos’ e/ou estratégias de ensinar que operam no cotidiano dos estudantes, bem
como das paisagens midiáticas ofertadas pelo cenário pós-moderno onde todos
transitamos e com o objetivo de abrir espaços para discutir e tensionar outras formas de
ensinagem da Geografia a finalidade deste artigo é analisar como os discursos
imagéticos veiculados em campanhas publicitárias educam, regulam e ensinam modos
de ser e estar no mundo na questão do gênero. A intenção é proporcionar uma
perspectiva de grande alcance das linhas de força que configuram problemáticas sociais
em que as relações de gênero e de poder estão muito presentes nas imagens veiculadas
pela mídia. Assim, esta comunicação é composta de insights extraídos de resultados de
pesquisas inscritas no entrecruzamento da Geografia Cultural e da Educação, sob a ótica
da centralidade da cultura, o recorte apresentado refere-se algumas peças publicitárias
veiculadas em jornais de Porto Alegre, em datas comemorativas alusivas ao gênero no
ano de 2011. As analises iniciais apontam para a potencia pedagógica das imagens para
o processo de ensinagem na medida que tais discursos imagéticos nos fazem refletir
sobre modos de não apenas vende o produto, mas que, ao se relacionarem com
determinadas qualidades socialmente desejáveis, vendem também visões de mundo,
estilos de vida, valores e posições de sujeito congruentes com os imperativos do
capitalismo de consumo e contínuos na linha de pensamento da Modernidade na
questão do gênero. Estabelecer reflexões de que forma tais práticas são incorporadas (ou
não) pelos currículos escolares são urgências a serem tomadas.
Palavras – chaves: paisagens mediáticas – ensinagem da Geografia – cultura
contemporânea.
Escola e sociedade contemporânea – Bloco I
As transformações radicais em andamento no mundo e, particularmente, os
deslocamentos nas formas de ensinagens faz com que a escola seja desafiada
diariamente e paulatinamente diante disso. São processos de grande envergadura que a
sociedade vem vivenciando, sobretudo nos últimos 30 anos, alterando profundamente os
modos de aprender e, mais aterrador, aprende-se fora da ordem estabelecida pela
instituição escolar.
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A escola é uma das instituições modernas que se estilhaça inapelavelmente em
função das mudanças tecnológicas ocorridas neste cenário contemporâneo. Não é mais
possível pensar e nem praticar o currículo escolar como antes. Costa (2012) alerta sobre
isto ao comentar sobre
à perda de um cenário que se manteve estável por longos anos. [...] vivemos
em um tempo em que novos desenvolvimentos tecnológicos e culturais,
muito especialmente a mídia, a computação e a internet, tornaram-se
organizadores privilegiados da ação e do significado na vida dos humanos.
Esta fantástica mudança desestruturou as instituições consagradas, subverteu
práticas centenárias, e instalou em seu lugar a incerteza, a provisoriedade e a
imprevisibilidade. Não penso que isto seja indiscutivelmente ruim, mas
entendo que a mudança é radical, que as conseqüências são sérias e exigem
investimentos na busca de um novo modo de ser e de fazer escola (p.7).
É uma outra sociedade que esta em andamento, onde sua configuração ser,
principalmente, engendrada pelas tecnologias da informação e da comunicação, as quais
fazem parte da vida cotidiana desde as mais diversas perspectivas: seja da economia, da
cultura, da educação, do entretenimento, das instituições entre outras. Todas se
impregnam e geram novas formas de fazer a sociedade. É uma sociedade que vive
imersa em tecnologias.
As inovações tecnológicas submetem a sociedade a um autêntico bombardeio de
informações, que evidentemente se traduz em trocas metodológicas nos processos
formativo e performativo das pessoas. Elas vieram para ficar, para melhorar a vida de
todos. Mas diante destas novas formas de viver tempos e espaços, faz-se necessário
refletir alerta Rocha (2006, p.78) sobre como estão ocorrendo estas transformações no
nosso cotidiano
que tipo de modificações estão sendo operadas e como podemos nos
relacionar com elas. É preciso particularmente conhecer as tecnologias (ou os
produtos tecnológicos) que estão sendo utilizadas de forma crescente nos
ambientes escolares, a fim de podermos entender como elas estão sendo
difundidas e como estão sendo articuladas com as conhecidas e tradicionais
operações do ensinar-aprender, do disciplinar e do controlar. É preciso
também compreender as implicações relacionadas ao
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seu uso, quais
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transformações sociais, econômicas, políticas e culturais (científicas e
pedagógicas, no nosso caso) provocam.
Assim essas mudanças tecnológicas não podem ser vista como simplesmente
algo a mais, um aditivo para nossa vida cotidiana. É preciso perceber como elas estão
sendo colocadas para ser adquiridas, acessadas, usadas. É ecológica no sentido de sua
implicação na estrutura, conteúdo e impacto sobre o ambiente em estudo, como afirma
Postamn (2002), ela permite alterar e mudar tudo. Para o autor os efeitos da tecnologia
não se produzem somente a nivel de opiniões ou de conceitos e sim que modificações
dos modos de viver, de perceber e de aprender sobre o mundo elas operam? Trata-se dos
sentidos que as pessoas adquirem para suas práticas sociais.
Diante disso, este novo cenário esta carregado de implicações que interessam
diretamente a escola. As tecnologias de informação, conseqüentemente de comunicação,
passa a dividir, a competir com a escola como local difusor. Até pouco tempo a
informação estava, em sua maioria, na escola.
Nesse sentido a escola deve estar conectada a esta sociedade contemporânea,
onde a informação passa a circular por muitos outros locais sem pedir autorização aos
templos considerados oficiais para se expandirem socialmente, comenta Wortmann
(2010). A autora também alerta sobre esta mudança de lugares e suportes de
informações fora da escola deve ser um dos desafios importantes a ser incorporado ao
sistema educativo.
Afirmação de Ramos do Ó (2010) auxilia também a refletir sobre as mudanças
trazidas pelas tecnologias no âmbito escolar, para o autor o acesso a informação ao estar
mais disponível para sociedade faz com que seja
a primeira vez na história da humanidade, as crianças possuem uma
tecnologia a sua disposição – essa que vem de mídias, dos computadores, da
informática, que lhes permitem editar e dominar uma linguagem que é
relevante do ponto de vista social e que não é inteiramente controlada pela
escola (p.173).
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Isto nos faz compreender que, para além da instituição escolar, esta sendo
configurados outros lugares de ensinagem e em todo o espaço social. O autor também
afirma ser "a primeira vez que a sociedade reconhece um conhecimento útil para
economia e que esta em grande medida fora da escola" (p. 1973). De alguma forma
todos nós colocamos a disposição das crianças tecnologias que não são ainda aceitáveis
na escola. No entanto, as reconhecemos como lugares de difusão da informação.
Na sociedade atual as crianças nascem rodeadas de tecnologias, aparatos que são
instalados em todos os âmbitos de sua vida e que aprendem a manejar de uma maneira
que parece ser intuitiva. É inegável que grande parte dos seus tempos são passados
diante do computador – seja jogando, seja conversando – com recursos tecnológicos
cada vez mais exigentes de complexas habilidades. É justamente essa condição de
aprender num mundo à parte da escola, em espaços “outros” pedagógicos os processos
de ensinagens estão acontecendo e que a escola deve estar atenta. São recursos
tecnológicos que exigem um complexo código de acesso, os quais sáo rompidos pela
lógica tradicional de aprender imposta pela escola moderna. E, mais, estão disponíveis
24h, rompendo os tempos escolares modernos.
As tecnologias disponibilizam diversas linguagens, muitas formas de
pensamento e de utilização – qualquer criança pode tirar fotografias, usar GPS nos
celulares, filmar e editar pode gravar músicas por sua própria iniciativa. Ela participa do
processo construtivo e não apenas recebe o produto pronto. Neste sentido, o aprender
esta sendo realizado fora da escola e, sem a tutela do professor.
São estas crianças que estão nas escolas hoje, é uma nova geração, denominada
por diversos autores como geração Einstein ou nativo digital, a qual definitivamente
incide sobre o rumo do processo de ensinagem. Impõe profundas transformações na
forma de aprender ao evidenciarem uma capacidade de realizar várias tarefas
simultaneamente. Isto representa um dos rasgos distintivos no modelo de ensinagem
tradicional, pois dificilmente consegue chamar a atenção dos nativos digitais, ao manter
a monotonia e o previsível na pauta.
Assim práticas pedagógicas incorporadas as tecnologias da informação e
comunicação nas aulas são necessárias no currículo escolar. Isto não quer dizer que
nossa tarefa deve ser de adaptar-se a esta situação trazida pela tecnologia, donde o
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quadro verde e o giz dêem lugar para o computador. É evidente que coloca em
andamento transformações profunda no processo de ensinagem, mas ela deve ser o
recurso. Mesmo que a tecnologia permita acesso a infinitas informações, a construção
do saber será efetivada pelo protagonismo do professor.
Espaços ‘Outros’ e Múltiplas Linguagens – Bloco II
Cada vez mais surge uma multiplicidade de novos suportes de informação, cujas
imagens e sons ali difundidos constroem paisagens que permitem ir para além das
complexas formas de entretenimento e de comunicação. Todas são constituidoras de
sujeitos, as quais não podemos nos esquivar de geo-grafar para termos uma sociedade
com valores mais humanitários.
As mudanças mais profundas que uma sociedade pode vivenciar são aquelas que
dizem respeito aos modos como nela se aprende a viver e a relacionar com as pessoas. E
a escola deve promover um cenário de debate e reflexão que seja questionador e
instigador para uma educação sobre as transformações que as tecnologias de informação
e comunicação trazem, as quais devem contribuir para formação de cidadãos críticos.
Neste cenário deve ser detonante estudos para educar pelo olhar. Funes (2004)
comenta sobre esta necessidade pois "en el siglo XIX aprendimos a leer, en el siglo XX
aprendimos fundamentalmente a escuchar, aprendimos el valor de la palabra, de la
comunicación. Y en el incipiente XXI, de la impresión de que el desafío es aprender a
mirar" (p.106).
Pensar o ensino da Geografia hoje significa interessar-se nas praticas culturais
inscritas na contemporaneidade através dos meios de comunicações. Ensinar a olhar
sobre eles e educar o olhar para um consumo saudável dos conteúdos que nos oferece a
sociedade multimidia deve ser a intenção da Geografia Escolar.
É evidente que isto muda os modos de aprender e ensinar. Até bem pouco tempo
estavamos acostumados a uma oferta audiovisual generalista fundamentalmente através
de jornais, revistas, rádio e televisão, os quais tinham na programação conteúdos
semelhantes no mesmo encarte ou horário. Hoje, sem dúvida, os canais
multitelemáticos, emprendem caminhos opostos a diversificação e a variação de
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conteúdo. Também antes da internet e dos suportes digitais cada meio de comunicação
tinha função e mercado perfeitamente definido Atualmente o mesmo conteúdo pode
cirular através de distintos meios de comunicações, são fluxos de conteúdos por meio de
múltiplas plataformas midiáticas.
Os meios de comunicações são um local de produção de inúmeras paisagens
sejam através de imagens e fluxos informáticos que estão disseminadas de forma
impressas ou eletronicamente mediante jornais, revistas, outodoors, busdoors, encartes
de propagandas, televisão, cinema, portais da internet, que acaba gerando para o planeta
auto-estradas da informação, como diz Baumann (2007). Isto é, nada do que acontece
em alguma parte dele fica de fora por todas estarem ligadas nesta malha de informação.
A centralidade da mídia na construção do conhecimento e da formação das
subjetividades tem conseqüências importantes para a educação por gestar gêneros
discursivos
e
comportamentais.
É
um
acontecimento
que
vem
minando
irreversivelmente as formas de ensinagem para todos – crianças e adultos.
Sendo assim, a mídia torna-se um dos espaços de formação para todas as
gerações, por ensinar modos de ser, de existir e de formar pessoas. Trata-se, segundo
Kellner (2001, p.11), de um lugar que “passou a dominar a vida cotidiana, servindo de
pano de fundo onipresente e muitas vezes de sedutor primeiro plano para o qual
convergem nossa atenção e nossas atividades, algo que, segundo alguns, estão minando
a potencialidade e a criatividade humana”. Diante disso nos encontramos frente um
cambio cultural importante – grande bazar da informação. Também o autor, reflete em
seus estudos o papel dos anúncios publicitários e sugere a necessidade de serem
realizadas leituras críticas das imagens publicitárias pelo papel pedagógico que elas
adquirem. Tal fato é constato desde o século passado, em que a
a publicidade tornou-se um discurso dominante, deslocando outros discursos
públicos, através das imagens de mercadorias, consumo, estilo de vida,
valores e gênero. Ela é uma pedagogia na qual as pessoas aprendem as
necessidades, os desejos, as formas de pensar e agir para serem felizes, bemsucedidos e americanos genuínos, na medida em que as imagens publicitárias
são veículos de significados e mensagens simbólicas com os quais os/as
consumidores/as são convidados/as a se identificarem. [...] as imagens
publicitárias têm um poder persuasivo e simbólico que não apenas vende o
produto, mas que, ao se relacionarem com determinadas qualidades
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socialmente desejáveis, vendem também visões de mundo, estilos de vida,
valores e posições de sujeito congruentes com os imperativos do capitalismo
de consumo (p.35).
Também Silva (2012) em seu estudo "Passe na UFRGS”: O imperativo da
aprovação veiculado em campanhas publicitárias de cursinhos pré-vestibulares,
evidencia como nas últimas décadas, torna-se possível observar a constituição de um
mundo cada vez mais midiatizado, no qual as campanhas publicitárias, entendidas como
dispositivo pedagógico, educam, regulam e ensinam modos de ser e estar no mundo.
Dessa forma, é possível pensar que a produção de si e os modos de existência do
gênero, também estão associados a peças publicitárias. Fischer (2002) argumenta que a
constituição de si pela midia
trata-se bem mais de um lugar extremamente poderoso no que tange à
produção e à circulação de uma série de valores, concepções, representações –
relacionadas a um aprendizado cotidiano sobre quem nós somos, o que
devemos fazer com nosso corpo, como devemos educar nossos filhos, de que
modo deve ser feita nossa alimentação diária, como devem ser vistos por nós,
os negros, as mulheres, pessoas das camadas populares, portadores de
deficiências, grupos religiosos, partidos políticos e assim por diante (p.153).
É evidente que a mídia náo é a única que impõe e legitima essa nova maneira de
moldar estilos de vida, de formar opiniões, mas é a de maior potencialidade por quanto
opera em matéria simbólica e mediadora das relações sociais. Por mais que os sujeitos
interpelados por tais imagens não consumam seu produtos, eles consomem seus
anúncios e os significados que carregam. E a escola vem perdendo progresivamente
ente a este terreno a favor das tecnologias de informações e comunicações.
Os meios de comunicações com suas pedagogias formam práticas de
significação que são, por definição, práticas culturais. Como comenta Ramos do Ó
(2010) “mobilizam elementos, convocam a asumirem determinadas condutas, a fazerem
determinadas escolhas… De algum modo, essas aprendizagens difusas váo encaixando
as pessoas em uma espécie de mercantilizaçao da vida, que caracteriza a sociedade
contemporanea” (175). Também Oliveira Jr. (2009, p.12) corrobora com este
pensamento ao afirmar que “nos tempos atuais, elas não mais aparecem apenas como
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partícipes da criatividade e da eficiência das ações didáticas, mas também, sobretudo,
tendo em si mesmas uma dimensão pedagógica, uma potência subjetivadora e de
pensamento”.
Então se pensarmos nossas práticas pedagógicas sacudindo e revirando os
terrenos que são construidos e divulgados as informações estaremos possibilitamos
estabelecer complexas “relações entre linhas de forças instituidoras de sentidos para não
tornar hegemonicos aquilo que escapa... Se lançar o desafio de pensar mais amplamente
a complexidade dos processos de produção e de circulaçao de sentidos, acabamos por
abrir o caminho além da enclaustrada visáo de reprodução das estruturas econômicas no
social" (FISCHER, 2010, p. 12).
Com isto os meios de comunicações podem ser potencias educativas para uma
Geografia sob um olhar mais denso, que leva em conta a dimensão do dinamismo, do
fazer-se cotidiano, levado a efeito por todos sujeiros sociais. Não se trata só de saber o
que se passa, ou seja, a informação, mas de pensar, refletir, entender, saber analisar
aquilo que é veiculado esta contextualizado. Como também nada adianta trazer as
linguagens dos meios de comunicaçoes para sala de aula. Senão, como comenta
Cavalcanti (2008) a escola se
transforme em um “fliperama”, que se organize como se fosse um “casa de
jogos eletrônicos. Tampouco o professor de geografia deve se tornar como
um animador de TV, como um mediador de reality show. Nem o conteúdo
geográfico tem de se tornar um tema de programa de vídeo ou de TV.
Acredito que não é assim que a escola vai estar mais “atenada” com o
mundo atual (p. 33).
Com este mesmo pensamento sobre o uso dos meios de comunicação no ensino
de Geografia Leão e Leão (2008) acreditam que “seu valor está condicionado à forma
como este será incorporado e utilizado para os professores” (p. 43). A confrontação
entre o que está sendo veiculado com o conhecimento geográfico permite uma interação
com o mundo dos estudantes.
Nas peças publicitárias as mulheres são assim... – Bloco III
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Estas análises estão ainda em fase inicial na pesquisa que estou desenvolvendo e
de carater exploratório, muitas podem ser provisórias, que busca refletir sobre o estatuto
pedagógico da mídia, o qual publiciza padrões de comportamento, ensinando modos de
ser e estar no mundo. Trago poucas imagens das campanhas analisadas apenas para dar
uma materialidade dos achados, mas as quais permitem evidenciar representações
daquelas que deveriam ser o ideal de mulher.
A Geografia Escolar ao ir para além dos muros escolares e se ancorar nas
complexas formas de construções do conhecimento, veiculadas nas peças publicitárias,
possibilita atender demandas em relação ao gênero que ainda permanecem muito tênues
em suas práticas pedagógicas, apesar de vivermos em pleno século XXI em que muitas
barreiras forma rompidas, mas que outras tantas necessitam ser corroídas e a Geografia
deve ainda se apropriar
É preciso levar em conta a heterogeneidade que compõe a sociedade atual, no
seu mais amplo fruto da coexistência, conflituosa ou não, da existencia de uma
pluralidade de marcadores culturais, cujas fronteiras não devem ser demarcadas pelos
indicadores de gênero, nem de classe social e nem de etnia.
O convite é aceitarmos a ensinar nas linhas de fronteiras, aquelas que nos
fazem a ficar atento a qualquer movimento, para prestar atenção ao modo como vão
sendo mantidos ou dissolvidos alguns traçados de fronteiras que nos parecem táo naturais
e incontestáveis, para pensarmos as identidades das mulheres nos meios de comunicaçães
e que apresentam uma linha de continuidade nas mais diversas linguagens dos meios de
comunicações.
Linhas que organizam a percepção da sociedade sobre as mulheres e
influenciam na produção de significados, fazendo natural o que é cultural. A importância
da educação do olhar midiático, ou como Hernadez (2007) denomina, alfabetizaçao de
uma cultura visual, esta no usuário das linguagens midiaticas ler contextualizando o que
esta sendo difundido.
Mulheres, não importa sua classe social, sua cor, sua idade, não nesta ordem
necessariamente, sempre são mostradas em cenas que dão continuidade ao pensamento
da Modernidade. Para elas são criados dispositivos de proteção: delegacias de mulheres,
“dias de” (da mulher, da amante) e legislações (Lei Maria da Penha) que não teriam
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finalidades se elas fossem posicionadas junto com a identidade do homem em todos os
ambitos da sociedade.
O imaginário coletivo da sociedade se nutre destas imagens geradas pelos
meios de comunicações para suas práticas socais. As mulheres nas peças publicitárias
aparecem como protagonistas quando são enfatizadas seus corpos através da estética, da
sensualidade, do exótico. Muitas delas evidenciam comportamentos que se desviam da
dita normalidade. Assim esta repetição trivializa a diversidade e pontua a diferença.
É na marcação da diferença entre a identidade de gênero que compõe qualquer
sistema de classificação. A construçao da identidade e a diferença estão em estreita
conexão com as relações de poder. É nesta relação que se estabelecem os lugares de cada
um, as posibilidades de acesso a certos bens e recursos socialmente valorizados.
São recorrentes as imagens da mulheres nas peças publicitárias dos Dias das
Mães perpetuadas numa condição biológica em que a maternidade é trazida como
dispositivo perfeito para harmonia da família, cujas filhas estão sempre a copiar o
modelo de mulher; das mulheres sempre é evidenciado sua estética, a beleza de seus
corpos em busca da eterna juventude alcançada pelo uso dos cosméticos (Figura 1).
Tambem aparece a afetividade (Figura 2) como condição de ser mãe, seus corpos
sempre estão
Imagens que evidenciam a necessidade do embelezamento feminino são as
mais recorrentemente inscritas nas campanhas publicitárias. Esta busca constante
pelo embelezamento é passado de mãe para filha como pode se constatar. Os seus
conselhos de beleza são de geração para geração. Assim, os produtos de beleza têm
adquirido na publicidade o atributo de tornarem as mulheres belas e felizes,
imprigindo ares cosmopolitas.
O tom descontraído e ate cômico do discurso publicitário faz parecer natural.
Entretanto, os conselhos de beleza não se destinam a todas as mulheres, são para
mulheres jovens e brancas e para os homens também tem este mesmo
direcionamento, mas os produtos são outros, especialmente, à cultura física e às
dietas.
Também nestas campanhas publicitárias de datas comemorativas nada mais
conveniente a compra de determinados produtos para presentear as mães. As imagens
mostram mães felizes com eletrodomésticos, são imagens que parecem estarem ávidas
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por eles (Figura 3). A desqualificação profissional da mulher é muito pontual nas peças
publicidades, é alargada para além do serviço doméstico ao mostrar a impossibilidade de
ser presenteada com carros de motores potentes, para ela o apelo é a compra somente de
carros semi-novos ou de baixa potencia (Figura 4). As imagens de ser mãe é apenas a
biológica são recorrentes (Figura 5).
Todas estas imagens são significados forjados na cultura dentro de um cenário
pós-moderno, da comunicação, da visibilidade, do consumo, cujas flexibilidades são
poucas e parecem permanecerem perpetuadas. A mudança somente ocorre pelo viés da
roupagem. Tudo esta moldado por forças políticas, econômicas, sociais e culturais.
Ainda que na mídia venham assumindo em maior medida a aparição de outras
posições para as identidades das mulheres, as mulheres negras e indígenas, raramente
aparecem como protagonistas. Este papel secundário reforça duplamente a exclusão e
marginalização sobre elas.
Estas representações se constroem e se reproduzem também nos livros escolares,
onde a imagem vem tomando cada vez mais lugares em suas páginas. Os livros atuais estão
conectados em avançadas tecnologias editoriais, cujos textos estão ancorados em diversos
suportes. Mas ainda a linha de fronteira demarca construções identitárias com forte
componente binário, com visão hegemonica e incorporada em conteúdos panoramicos.
Todos são enunciados que vão tomando materialidades na escola, em simples
situaçoes de entretenimentos. No entanto, vão agregar valores no exercício concreto das
práticas sociais. Com isto, o desafio é estabelecer analise da imagem da diversidade como
prática cultural e entender a importância das imagens e representações para a construção de
uma suposta realidade.
Com estas reflexões sobre a inserção da mídia na construção das identidades de
gênero na sociedade contemporânea, dos ‘modelos’ e/ou estratégias que operam os meios
de comunicações e com o objetivo de desafiar, abrir espaços para discutir e problematizar
outras formas de ensinagens que estabeleçam “um diálogo com o mundo real, extraescola” (KAERCHER, 2007, p. 73). Além de possibilitar aos professores desafios para
desenvolver outros modos, outros jeitos de fazer a Geografia a partir da cooperação entre
alunos/professor, alunos/alunos, assim como partilhar tomadas de decisões.
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Criar situações e propiciar experiências nas quais seja possível aprender a fazer
relações entre imagens, objetos, artefatos vinculados às experiências culturais do olhar e
a relacioná-los a seus contextos de produção, de distribuição e de recepção. Combinar
textos que expandem os modos de comunicação – linguistico, visual e áudio – geram
múltiplos alfabetismos devem nos acompanhar diariamente.
Foi com esse olhar que procurei investigar, através da publicidade, os
enunciados relacionados a questão do gênero que circulam no contexto dos estudantes.
As análises foram tratadas no entendimento da publicidade para além do consumo
trivial, mas como um evento cultural que ultrapassa a venda do produto ao incluir a
interação entre os produtos e a construção de comportamentos, modos de ser no mundo.
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Anexos
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Fig. 1 – Aprendendo a embelezar-se.
Fig. 2 – Maternidade afetuosa.
Fig. 4 – Acelere no carro seminovo e popular.
Fig. 3 – Mãe feliz.
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28
Fig.5 – Mãe é biológica, branca e bela.
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Livro 1 - p.001737
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espaços `outros` para ensinagem da geografia