XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 14 ESPAÇOS ‘OUTROS’ PARA ENSINAGEM DA GEOGRAFIA Ivaine Maria Tonini UFRGS Resumo - A partir das reflexões sobre a inserção da escola na cultura contemporânea, dos ‘modelos’ e/ou estratégias de ensinar que operam no cotidiano dos estudantes, bem como das paisagens midiáticas ofertadas pelo cenário pós-moderno onde todos transitamos e com o objetivo de abrir espaços para discutir e tensionar outras formas de ensinagem da Geografia a finalidade deste artigo é analisar como os discursos imagéticos veiculados em campanhas publicitárias educam, regulam e ensinam modos de ser e estar no mundo na questão do gênero. A intenção é proporcionar uma perspectiva de grande alcance das linhas de força que configuram problemáticas sociais em que as relações de gênero e de poder estão muito presentes nas imagens veiculadas pela mídia. Assim, esta comunicação é composta de insights extraídos de resultados de pesquisas inscritas no entrecruzamento da Geografia Cultural e da Educação, sob a ótica da centralidade da cultura, o recorte apresentado refere-se algumas peças publicitárias veiculadas em jornais de Porto Alegre, em datas comemorativas alusivas ao gênero no ano de 2011. As analises iniciais apontam para a potencia pedagógica das imagens para o processo de ensinagem na medida que tais discursos imagéticos nos fazem refletir sobre modos de não apenas vende o produto, mas que, ao se relacionarem com determinadas qualidades socialmente desejáveis, vendem também visões de mundo, estilos de vida, valores e posições de sujeito congruentes com os imperativos do capitalismo de consumo e contínuos na linha de pensamento da Modernidade na questão do gênero. Estabelecer reflexões de que forma tais práticas são incorporadas (ou não) pelos currículos escolares são urgências a serem tomadas. Palavras – chaves: paisagens mediáticas – ensinagem da Geografia – cultura contemporânea. Escola e sociedade contemporânea – Bloco I As transformações radicais em andamento no mundo e, particularmente, os deslocamentos nas formas de ensinagens faz com que a escola seja desafiada diariamente e paulatinamente diante disso. São processos de grande envergadura que a sociedade vem vivenciando, sobretudo nos últimos 30 anos, alterando profundamente os modos de aprender e, mais aterrador, aprende-se fora da ordem estabelecida pela instituição escolar. Junqueira&Marin Editores Livro 1 - p.001723 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 15 A escola é uma das instituições modernas que se estilhaça inapelavelmente em função das mudanças tecnológicas ocorridas neste cenário contemporâneo. Não é mais possível pensar e nem praticar o currículo escolar como antes. Costa (2012) alerta sobre isto ao comentar sobre à perda de um cenário que se manteve estável por longos anos. [...] vivemos em um tempo em que novos desenvolvimentos tecnológicos e culturais, muito especialmente a mídia, a computação e a internet, tornaram-se organizadores privilegiados da ação e do significado na vida dos humanos. Esta fantástica mudança desestruturou as instituições consagradas, subverteu práticas centenárias, e instalou em seu lugar a incerteza, a provisoriedade e a imprevisibilidade. Não penso que isto seja indiscutivelmente ruim, mas entendo que a mudança é radical, que as conseqüências são sérias e exigem investimentos na busca de um novo modo de ser e de fazer escola (p.7). É uma outra sociedade que esta em andamento, onde sua configuração ser, principalmente, engendrada pelas tecnologias da informação e da comunicação, as quais fazem parte da vida cotidiana desde as mais diversas perspectivas: seja da economia, da cultura, da educação, do entretenimento, das instituições entre outras. Todas se impregnam e geram novas formas de fazer a sociedade. É uma sociedade que vive imersa em tecnologias. As inovações tecnológicas submetem a sociedade a um autêntico bombardeio de informações, que evidentemente se traduz em trocas metodológicas nos processos formativo e performativo das pessoas. Elas vieram para ficar, para melhorar a vida de todos. Mas diante destas novas formas de viver tempos e espaços, faz-se necessário refletir alerta Rocha (2006, p.78) sobre como estão ocorrendo estas transformações no nosso cotidiano que tipo de modificações estão sendo operadas e como podemos nos relacionar com elas. É preciso particularmente conhecer as tecnologias (ou os produtos tecnológicos) que estão sendo utilizadas de forma crescente nos ambientes escolares, a fim de podermos entender como elas estão sendo difundidas e como estão sendo articuladas com as conhecidas e tradicionais operações do ensinar-aprender, do disciplinar e do controlar. É preciso também compreender as implicações relacionadas ao Junqueira&Marin Editores Livro 1 - p.001724 seu uso, quais XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 16 transformações sociais, econômicas, políticas e culturais (científicas e pedagógicas, no nosso caso) provocam. Assim essas mudanças tecnológicas não podem ser vista como simplesmente algo a mais, um aditivo para nossa vida cotidiana. É preciso perceber como elas estão sendo colocadas para ser adquiridas, acessadas, usadas. É ecológica no sentido de sua implicação na estrutura, conteúdo e impacto sobre o ambiente em estudo, como afirma Postamn (2002), ela permite alterar e mudar tudo. Para o autor os efeitos da tecnologia não se produzem somente a nivel de opiniões ou de conceitos e sim que modificações dos modos de viver, de perceber e de aprender sobre o mundo elas operam? Trata-se dos sentidos que as pessoas adquirem para suas práticas sociais. Diante disso, este novo cenário esta carregado de implicações que interessam diretamente a escola. As tecnologias de informação, conseqüentemente de comunicação, passa a dividir, a competir com a escola como local difusor. Até pouco tempo a informação estava, em sua maioria, na escola. Nesse sentido a escola deve estar conectada a esta sociedade contemporânea, onde a informação passa a circular por muitos outros locais sem pedir autorização aos templos considerados oficiais para se expandirem socialmente, comenta Wortmann (2010). A autora também alerta sobre esta mudança de lugares e suportes de informações fora da escola deve ser um dos desafios importantes a ser incorporado ao sistema educativo. Afirmação de Ramos do Ó (2010) auxilia também a refletir sobre as mudanças trazidas pelas tecnologias no âmbito escolar, para o autor o acesso a informação ao estar mais disponível para sociedade faz com que seja a primeira vez na história da humanidade, as crianças possuem uma tecnologia a sua disposição – essa que vem de mídias, dos computadores, da informática, que lhes permitem editar e dominar uma linguagem que é relevante do ponto de vista social e que não é inteiramente controlada pela escola (p.173). Junqueira&Marin Editores Livro 1 - p.001725 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 17 Isto nos faz compreender que, para além da instituição escolar, esta sendo configurados outros lugares de ensinagem e em todo o espaço social. O autor também afirma ser "a primeira vez que a sociedade reconhece um conhecimento útil para economia e que esta em grande medida fora da escola" (p. 1973). De alguma forma todos nós colocamos a disposição das crianças tecnologias que não são ainda aceitáveis na escola. No entanto, as reconhecemos como lugares de difusão da informação. Na sociedade atual as crianças nascem rodeadas de tecnologias, aparatos que são instalados em todos os âmbitos de sua vida e que aprendem a manejar de uma maneira que parece ser intuitiva. É inegável que grande parte dos seus tempos são passados diante do computador – seja jogando, seja conversando – com recursos tecnológicos cada vez mais exigentes de complexas habilidades. É justamente essa condição de aprender num mundo à parte da escola, em espaços “outros” pedagógicos os processos de ensinagens estão acontecendo e que a escola deve estar atenta. São recursos tecnológicos que exigem um complexo código de acesso, os quais sáo rompidos pela lógica tradicional de aprender imposta pela escola moderna. E, mais, estão disponíveis 24h, rompendo os tempos escolares modernos. As tecnologias disponibilizam diversas linguagens, muitas formas de pensamento e de utilização – qualquer criança pode tirar fotografias, usar GPS nos celulares, filmar e editar pode gravar músicas por sua própria iniciativa. Ela participa do processo construtivo e não apenas recebe o produto pronto. Neste sentido, o aprender esta sendo realizado fora da escola e, sem a tutela do professor. São estas crianças que estão nas escolas hoje, é uma nova geração, denominada por diversos autores como geração Einstein ou nativo digital, a qual definitivamente incide sobre o rumo do processo de ensinagem. Impõe profundas transformações na forma de aprender ao evidenciarem uma capacidade de realizar várias tarefas simultaneamente. Isto representa um dos rasgos distintivos no modelo de ensinagem tradicional, pois dificilmente consegue chamar a atenção dos nativos digitais, ao manter a monotonia e o previsível na pauta. Assim práticas pedagógicas incorporadas as tecnologias da informação e comunicação nas aulas são necessárias no currículo escolar. Isto não quer dizer que nossa tarefa deve ser de adaptar-se a esta situação trazida pela tecnologia, donde o Junqueira&Marin Editores Livro 1 - p.001726 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 18 quadro verde e o giz dêem lugar para o computador. É evidente que coloca em andamento transformações profunda no processo de ensinagem, mas ela deve ser o recurso. Mesmo que a tecnologia permita acesso a infinitas informações, a construção do saber será efetivada pelo protagonismo do professor. Espaços ‘Outros’ e Múltiplas Linguagens – Bloco II Cada vez mais surge uma multiplicidade de novos suportes de informação, cujas imagens e sons ali difundidos constroem paisagens que permitem ir para além das complexas formas de entretenimento e de comunicação. Todas são constituidoras de sujeitos, as quais não podemos nos esquivar de geo-grafar para termos uma sociedade com valores mais humanitários. As mudanças mais profundas que uma sociedade pode vivenciar são aquelas que dizem respeito aos modos como nela se aprende a viver e a relacionar com as pessoas. E a escola deve promover um cenário de debate e reflexão que seja questionador e instigador para uma educação sobre as transformações que as tecnologias de informação e comunicação trazem, as quais devem contribuir para formação de cidadãos críticos. Neste cenário deve ser detonante estudos para educar pelo olhar. Funes (2004) comenta sobre esta necessidade pois "en el siglo XIX aprendimos a leer, en el siglo XX aprendimos fundamentalmente a escuchar, aprendimos el valor de la palabra, de la comunicación. Y en el incipiente XXI, de la impresión de que el desafío es aprender a mirar" (p.106). Pensar o ensino da Geografia hoje significa interessar-se nas praticas culturais inscritas na contemporaneidade através dos meios de comunicações. Ensinar a olhar sobre eles e educar o olhar para um consumo saudável dos conteúdos que nos oferece a sociedade multimidia deve ser a intenção da Geografia Escolar. É evidente que isto muda os modos de aprender e ensinar. Até bem pouco tempo estavamos acostumados a uma oferta audiovisual generalista fundamentalmente através de jornais, revistas, rádio e televisão, os quais tinham na programação conteúdos semelhantes no mesmo encarte ou horário. Hoje, sem dúvida, os canais multitelemáticos, emprendem caminhos opostos a diversificação e a variação de Junqueira&Marin Editores Livro 1 - p.001727 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 19 conteúdo. Também antes da internet e dos suportes digitais cada meio de comunicação tinha função e mercado perfeitamente definido Atualmente o mesmo conteúdo pode cirular através de distintos meios de comunicações, são fluxos de conteúdos por meio de múltiplas plataformas midiáticas. Os meios de comunicações são um local de produção de inúmeras paisagens sejam através de imagens e fluxos informáticos que estão disseminadas de forma impressas ou eletronicamente mediante jornais, revistas, outodoors, busdoors, encartes de propagandas, televisão, cinema, portais da internet, que acaba gerando para o planeta auto-estradas da informação, como diz Baumann (2007). Isto é, nada do que acontece em alguma parte dele fica de fora por todas estarem ligadas nesta malha de informação. A centralidade da mídia na construção do conhecimento e da formação das subjetividades tem conseqüências importantes para a educação por gestar gêneros discursivos e comportamentais. É um acontecimento que vem minando irreversivelmente as formas de ensinagem para todos – crianças e adultos. Sendo assim, a mídia torna-se um dos espaços de formação para todas as gerações, por ensinar modos de ser, de existir e de formar pessoas. Trata-se, segundo Kellner (2001, p.11), de um lugar que “passou a dominar a vida cotidiana, servindo de pano de fundo onipresente e muitas vezes de sedutor primeiro plano para o qual convergem nossa atenção e nossas atividades, algo que, segundo alguns, estão minando a potencialidade e a criatividade humana”. Diante disso nos encontramos frente um cambio cultural importante – grande bazar da informação. Também o autor, reflete em seus estudos o papel dos anúncios publicitários e sugere a necessidade de serem realizadas leituras críticas das imagens publicitárias pelo papel pedagógico que elas adquirem. Tal fato é constato desde o século passado, em que a a publicidade tornou-se um discurso dominante, deslocando outros discursos públicos, através das imagens de mercadorias, consumo, estilo de vida, valores e gênero. Ela é uma pedagogia na qual as pessoas aprendem as necessidades, os desejos, as formas de pensar e agir para serem felizes, bemsucedidos e americanos genuínos, na medida em que as imagens publicitárias são veículos de significados e mensagens simbólicas com os quais os/as consumidores/as são convidados/as a se identificarem. [...] as imagens publicitárias têm um poder persuasivo e simbólico que não apenas vende o produto, mas que, ao se relacionarem com determinadas qualidades Junqueira&Marin Editores Livro 1 - p.001728 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 20 socialmente desejáveis, vendem também visões de mundo, estilos de vida, valores e posições de sujeito congruentes com os imperativos do capitalismo de consumo (p.35). Também Silva (2012) em seu estudo "Passe na UFRGS”: O imperativo da aprovação veiculado em campanhas publicitárias de cursinhos pré-vestibulares, evidencia como nas últimas décadas, torna-se possível observar a constituição de um mundo cada vez mais midiatizado, no qual as campanhas publicitárias, entendidas como dispositivo pedagógico, educam, regulam e ensinam modos de ser e estar no mundo. Dessa forma, é possível pensar que a produção de si e os modos de existência do gênero, também estão associados a peças publicitárias. Fischer (2002) argumenta que a constituição de si pela midia trata-se bem mais de um lugar extremamente poderoso no que tange à produção e à circulação de uma série de valores, concepções, representações – relacionadas a um aprendizado cotidiano sobre quem nós somos, o que devemos fazer com nosso corpo, como devemos educar nossos filhos, de que modo deve ser feita nossa alimentação diária, como devem ser vistos por nós, os negros, as mulheres, pessoas das camadas populares, portadores de deficiências, grupos religiosos, partidos políticos e assim por diante (p.153). É evidente que a mídia náo é a única que impõe e legitima essa nova maneira de moldar estilos de vida, de formar opiniões, mas é a de maior potencialidade por quanto opera em matéria simbólica e mediadora das relações sociais. Por mais que os sujeitos interpelados por tais imagens não consumam seu produtos, eles consomem seus anúncios e os significados que carregam. E a escola vem perdendo progresivamente ente a este terreno a favor das tecnologias de informações e comunicações. Os meios de comunicações com suas pedagogias formam práticas de significação que são, por definição, práticas culturais. Como comenta Ramos do Ó (2010) “mobilizam elementos, convocam a asumirem determinadas condutas, a fazerem determinadas escolhas… De algum modo, essas aprendizagens difusas váo encaixando as pessoas em uma espécie de mercantilizaçao da vida, que caracteriza a sociedade contemporanea” (175). Também Oliveira Jr. (2009, p.12) corrobora com este pensamento ao afirmar que “nos tempos atuais, elas não mais aparecem apenas como Junqueira&Marin Editores Livro 1 - p.001729 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 21 partícipes da criatividade e da eficiência das ações didáticas, mas também, sobretudo, tendo em si mesmas uma dimensão pedagógica, uma potência subjetivadora e de pensamento”. Então se pensarmos nossas práticas pedagógicas sacudindo e revirando os terrenos que são construidos e divulgados as informações estaremos possibilitamos estabelecer complexas “relações entre linhas de forças instituidoras de sentidos para não tornar hegemonicos aquilo que escapa... Se lançar o desafio de pensar mais amplamente a complexidade dos processos de produção e de circulaçao de sentidos, acabamos por abrir o caminho além da enclaustrada visáo de reprodução das estruturas econômicas no social" (FISCHER, 2010, p. 12). Com isto os meios de comunicações podem ser potencias educativas para uma Geografia sob um olhar mais denso, que leva em conta a dimensão do dinamismo, do fazer-se cotidiano, levado a efeito por todos sujeiros sociais. Não se trata só de saber o que se passa, ou seja, a informação, mas de pensar, refletir, entender, saber analisar aquilo que é veiculado esta contextualizado. Como também nada adianta trazer as linguagens dos meios de comunicaçoes para sala de aula. Senão, como comenta Cavalcanti (2008) a escola se transforme em um “fliperama”, que se organize como se fosse um “casa de jogos eletrônicos. Tampouco o professor de geografia deve se tornar como um animador de TV, como um mediador de reality show. Nem o conteúdo geográfico tem de se tornar um tema de programa de vídeo ou de TV. Acredito que não é assim que a escola vai estar mais “atenada” com o mundo atual (p. 33). Com este mesmo pensamento sobre o uso dos meios de comunicação no ensino de Geografia Leão e Leão (2008) acreditam que “seu valor está condicionado à forma como este será incorporado e utilizado para os professores” (p. 43). A confrontação entre o que está sendo veiculado com o conhecimento geográfico permite uma interação com o mundo dos estudantes. Nas peças publicitárias as mulheres são assim... – Bloco III Junqueira&Marin Editores Livro 1 - p.001730 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 22 Estas análises estão ainda em fase inicial na pesquisa que estou desenvolvendo e de carater exploratório, muitas podem ser provisórias, que busca refletir sobre o estatuto pedagógico da mídia, o qual publiciza padrões de comportamento, ensinando modos de ser e estar no mundo. Trago poucas imagens das campanhas analisadas apenas para dar uma materialidade dos achados, mas as quais permitem evidenciar representações daquelas que deveriam ser o ideal de mulher. A Geografia Escolar ao ir para além dos muros escolares e se ancorar nas complexas formas de construções do conhecimento, veiculadas nas peças publicitárias, possibilita atender demandas em relação ao gênero que ainda permanecem muito tênues em suas práticas pedagógicas, apesar de vivermos em pleno século XXI em que muitas barreiras forma rompidas, mas que outras tantas necessitam ser corroídas e a Geografia deve ainda se apropriar É preciso levar em conta a heterogeneidade que compõe a sociedade atual, no seu mais amplo fruto da coexistência, conflituosa ou não, da existencia de uma pluralidade de marcadores culturais, cujas fronteiras não devem ser demarcadas pelos indicadores de gênero, nem de classe social e nem de etnia. O convite é aceitarmos a ensinar nas linhas de fronteiras, aquelas que nos fazem a ficar atento a qualquer movimento, para prestar atenção ao modo como vão sendo mantidos ou dissolvidos alguns traçados de fronteiras que nos parecem táo naturais e incontestáveis, para pensarmos as identidades das mulheres nos meios de comunicaçães e que apresentam uma linha de continuidade nas mais diversas linguagens dos meios de comunicações. Linhas que organizam a percepção da sociedade sobre as mulheres e influenciam na produção de significados, fazendo natural o que é cultural. A importância da educação do olhar midiático, ou como Hernadez (2007) denomina, alfabetizaçao de uma cultura visual, esta no usuário das linguagens midiaticas ler contextualizando o que esta sendo difundido. Mulheres, não importa sua classe social, sua cor, sua idade, não nesta ordem necessariamente, sempre são mostradas em cenas que dão continuidade ao pensamento da Modernidade. Para elas são criados dispositivos de proteção: delegacias de mulheres, “dias de” (da mulher, da amante) e legislações (Lei Maria da Penha) que não teriam Junqueira&Marin Editores Livro 1 - p.001731 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 23 finalidades se elas fossem posicionadas junto com a identidade do homem em todos os ambitos da sociedade. O imaginário coletivo da sociedade se nutre destas imagens geradas pelos meios de comunicações para suas práticas socais. As mulheres nas peças publicitárias aparecem como protagonistas quando são enfatizadas seus corpos através da estética, da sensualidade, do exótico. Muitas delas evidenciam comportamentos que se desviam da dita normalidade. Assim esta repetição trivializa a diversidade e pontua a diferença. É na marcação da diferença entre a identidade de gênero que compõe qualquer sistema de classificação. A construçao da identidade e a diferença estão em estreita conexão com as relações de poder. É nesta relação que se estabelecem os lugares de cada um, as posibilidades de acesso a certos bens e recursos socialmente valorizados. São recorrentes as imagens da mulheres nas peças publicitárias dos Dias das Mães perpetuadas numa condição biológica em que a maternidade é trazida como dispositivo perfeito para harmonia da família, cujas filhas estão sempre a copiar o modelo de mulher; das mulheres sempre é evidenciado sua estética, a beleza de seus corpos em busca da eterna juventude alcançada pelo uso dos cosméticos (Figura 1). Tambem aparece a afetividade (Figura 2) como condição de ser mãe, seus corpos sempre estão Imagens que evidenciam a necessidade do embelezamento feminino são as mais recorrentemente inscritas nas campanhas publicitárias. Esta busca constante pelo embelezamento é passado de mãe para filha como pode se constatar. Os seus conselhos de beleza são de geração para geração. Assim, os produtos de beleza têm adquirido na publicidade o atributo de tornarem as mulheres belas e felizes, imprigindo ares cosmopolitas. O tom descontraído e ate cômico do discurso publicitário faz parecer natural. Entretanto, os conselhos de beleza não se destinam a todas as mulheres, são para mulheres jovens e brancas e para os homens também tem este mesmo direcionamento, mas os produtos são outros, especialmente, à cultura física e às dietas. Também nestas campanhas publicitárias de datas comemorativas nada mais conveniente a compra de determinados produtos para presentear as mães. As imagens mostram mães felizes com eletrodomésticos, são imagens que parecem estarem ávidas Junqueira&Marin Editores Livro 1 - p.001732 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 24 por eles (Figura 3). A desqualificação profissional da mulher é muito pontual nas peças publicidades, é alargada para além do serviço doméstico ao mostrar a impossibilidade de ser presenteada com carros de motores potentes, para ela o apelo é a compra somente de carros semi-novos ou de baixa potencia (Figura 4). As imagens de ser mãe é apenas a biológica são recorrentes (Figura 5). Todas estas imagens são significados forjados na cultura dentro de um cenário pós-moderno, da comunicação, da visibilidade, do consumo, cujas flexibilidades são poucas e parecem permanecerem perpetuadas. A mudança somente ocorre pelo viés da roupagem. Tudo esta moldado por forças políticas, econômicas, sociais e culturais. Ainda que na mídia venham assumindo em maior medida a aparição de outras posições para as identidades das mulheres, as mulheres negras e indígenas, raramente aparecem como protagonistas. Este papel secundário reforça duplamente a exclusão e marginalização sobre elas. Estas representações se constroem e se reproduzem também nos livros escolares, onde a imagem vem tomando cada vez mais lugares em suas páginas. Os livros atuais estão conectados em avançadas tecnologias editoriais, cujos textos estão ancorados em diversos suportes. Mas ainda a linha de fronteira demarca construções identitárias com forte componente binário, com visão hegemonica e incorporada em conteúdos panoramicos. Todos são enunciados que vão tomando materialidades na escola, em simples situaçoes de entretenimentos. No entanto, vão agregar valores no exercício concreto das práticas sociais. Com isto, o desafio é estabelecer analise da imagem da diversidade como prática cultural e entender a importância das imagens e representações para a construção de uma suposta realidade. Com estas reflexões sobre a inserção da mídia na construção das identidades de gênero na sociedade contemporânea, dos ‘modelos’ e/ou estratégias que operam os meios de comunicações e com o objetivo de desafiar, abrir espaços para discutir e problematizar outras formas de ensinagens que estabeleçam “um diálogo com o mundo real, extraescola” (KAERCHER, 2007, p. 73). Além de possibilitar aos professores desafios para desenvolver outros modos, outros jeitos de fazer a Geografia a partir da cooperação entre alunos/professor, alunos/alunos, assim como partilhar tomadas de decisões. Junqueira&Marin Editores Livro 1 - p.001733 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 25 Criar situações e propiciar experiências nas quais seja possível aprender a fazer relações entre imagens, objetos, artefatos vinculados às experiências culturais do olhar e a relacioná-los a seus contextos de produção, de distribuição e de recepção. Combinar textos que expandem os modos de comunicação – linguistico, visual e áudio – geram múltiplos alfabetismos devem nos acompanhar diariamente. Foi com esse olhar que procurei investigar, através da publicidade, os enunciados relacionados a questão do gênero que circulam no contexto dos estudantes. As análises foram tratadas no entendimento da publicidade para além do consumo trivial, mas como um evento cultural que ultrapassa a venda do produto ao incluir a interação entre os produtos e a construção de comportamentos, modos de ser no mundo. Referências bibliográficas BAUMANN, Zygmunt. Tempos líquidos. Rio de Janeiro: Zahar, 2007. CAVALCANTI, Lana de Souza. A Geografia Escolar e a cidade. Campinas: Papirus, 2008. COSTA, Marisa Vorraber da. Quem são? Que querem? Que fazer com eles? Eis que chegam as nossas escolas as crianças e jovens do Ssculo XXI. www.scielo.br/pdf/er/n37/a09n37.pdf. Acessado em: 02 de fevereiro de 2012. FISCHER Rosa Bueno. 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Junqueira&Marin Editores Livro 1 - p.001736 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 28 Fig.5 – Mãe é biológica, branca e bela. Junqueira&Marin Editores Livro 1 - p.001737