XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012
O ESPAÇO FÍSICO NAS INSTITUIÇÕES DE EDUCAÇÃO INFANTIL: A
PRÁTICA PEDAGÓGICA PARA A CRIANÇA DE 0 A 3 ANOS
Roseli Viola Rodrigues
Professora do Departamento de Pedagogia - UNICENTRO- PARANÁ
Gilmar Duarte Ribeiro Bueno
Professor do Departamento de Administração - UNICENTRO - PARANÁ
RESUMO
O objetivo desse estudo é refletir sobre a importância do espaço físico para o
desenvolvimento biológico, psicológico e social da criança de 0 a 3 numa instituição de
educação infantil denominada “Aconchego”, para isso utilizamos como pressupostos
teóricos Piaget, Vygostsky e Wallon e a legislação como os Parâmetros de Qualidade
para a Educação Infantil, os Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação
Infantil e a Deliberação 002/2005 do Estado do Paraná. Para tanto, realizamos pesquisa
de cunho bibliográfico e de campo, nas quais observamos a distribuição dos espaços na
instituição os quais permitiram fazer algumas considerações, como por exemplo, os
espaços interno e externo: pátio, cozinha, banheiro, sala de professores, coordenação,
enfim, todas as áreas precisam ser adequadas às necessidades da criança, ou seja,
possibilitar o desenvolvimento integral. Concluímos, conforme os teóricos abordados,
que a criança se constrói internamente conforme as possibilidades que o meio externo
lhe oferece, sua constituição dependerá de ambientes planejados para a criança, espaços
para brincar, de acordo com as necessidades de cada faixa etária, antes de tudo é
necessário liberdade para aprender e se desenvolver. A realidade das instituições de
educação infantil está muito distante de atender ao disposto na legislação apesar do
esforço dos profissionais. As teorias apontam e a legislação recomenda, mas
infelizmente existe um distanciamento do que é o ideal para o desenvolvimento das
crianças e a realidade das escolas, muito embora já tenhamos avançado bastante na luta
pelas melhorias nas instituições de educação infantil. Atingimos o objetivo ao que nos
propomos com o estudo, de estabelecer um parâmetro entre a legislação e o real, nesse
sentido, a história da educação infantil mostra o quanto avançamos e muito temos ainda
a conquistar, deixando de ser vista apenas como assistencialismo, mas de fato como um
direito do cidadão.
Palavras-chave: desenvolvimento, aprendizagem, espaço físico, educação infantil.
INTRODUÇÃO
[...] o espaço físico isolado do ambiente só existe na cabeça dos
adultos para medi-lo, para vendê-lo, para guardá-lo. Para a criança
existe o espaço-alegria, o espaço-mede, o espaço-protege, o espaçomistério, o espaço-descoberta, enfim, os espaços de liberdade ou da
opressão.
(SOUZA LIMA, apud FARIA, 2001, p.70)
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O espaço físico tanto interno quanto externo tem sido tema de debate pelos
que primam pela qualidade das práticas pedagógicas em educação infantil e que
procuram proporcionar melhor desenvolvimento e aprendizagem para as crianças. A
organização do espaço físico, segundo Abramowicz e Wajskop (1999) “interfere na
qualidade das relações e interações que a criança estabelece com o meio no qual
convive”.
O objetivo desse estudo é compreender como esta organizado o espaço na
instituição de educação infantil, a sua importância, seguindo os parâmetros de qualidade
da educação infantil do MEC e a Deliberação 02/2005 do Estado do Paraná. Para tanto,
utilizamos pesquisa bibliográfica, com base nos teóricos mais conhecidos que tratam do
desenvolvimento e da aprendizagem, Piaget, Vygotsky e Wallon, e também
desenvolvemos pesquisa de campo, por meio de observação sistemática (Marconi e
Lakatos, 2010), na qual tomamos contato com a realidade estudada. Observamos um
Centro Municipal de Educação Infantil ao qual optamos, por questões éticas, de chamálo de Aconchego, que fica situado no município de Chopinzinho - Paraná.
Historicamente percebemos que muitas mudanças ocorreram no seio da família,
desde o que se refere a concepção e sentimento de infância, como as mudanças
econômicas que levaram as mulheres, consequentemente mães, ao mercado de trabalho,
ocasionando dessa forma, a necessidade de ambientes para que os pequenos fossem
deixados. Em função desse quadro, e das exigências da legislação, nos centros de
educação infantil, está crescendo as exigências de melhorias nas adequações, a fim de
contemplar as necessidade da criança de 0 a 3 anos, deixando assim, de ser mais um
espaço apenas para cuidar, lugar de depósito de criança, onde os pais deixam seus
filhos, mas além disso, ser compreendida como um ambiente de brincadeira, de
aprendizado, de desenvolvimento das diversas dimensões do conhecimento.
Ao adentramos nas instituições para a realização das observações percebemos
que os professores procuram arranjar e adequar o espaço, de forma a atender aos seus
objetivos pedagógicos, ou seja, existe o esforço do profissional o que para Barbosa e
Horn (2001, p.76) significa “[...] que uma organização adequada do espaço e dos
materiais disponíveis na sala de aula será fator decisivo na construção da autonomia
intelectual e social das crianças.”
Para a criança de zero a três anos é fundamental a participação do adulto na
organização do espaço, pois segundo Abramowicz (1999, p.39): “As crianças começam
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a exploração do meio a partir do adulto, que precisa organizar espaços seguros para que
elas possam conhecer a si mesmas e ao ambiente em que estão.”
De acordo com Zamberlan, Basani e Araldi (2007) os espaços dedicados às
crianças devem ser organizados para atender as suas necessidades particulares, ou seja,
respeitar cada faixa etária, bem como o ritmo de cada um, utilizando os diversos
espaços disponíveis, como as salas de aula, o pátio da escola, o parque, dentre outros.
“Importante é garantir que todos esses espaços promovam o desenvolvimento global da
criança, sua autonomia, liberdade, socialização, segurança, confiança, contato social e
privacidade.” (ZAMBERLAN, BASANI E ARALDI, 2007, p.248)
Organizamos o texto em três momentos, o primeiro abordará os teóricos que
sustentam a pesquisa, num segundo momento será explanado sobre o espaço físico
interno e externo e os resultados da pesquisa de campo estabelecendo paralelo com o
que está preconizado pela legislação e para finalizar trataremos das contribuições que o
estudo trouxe para o meio acadêmicos.
CONTRIBUIÇÕES DOS TEÓRICOS: PIAGET, VYGOTSKY E WALLON
O desenvolvimento e a aprendizagem da criança sempre foram a preocupação de
muitos teóricos, nesse sentido, procuramos abordar no texto, as contribuições teóricas
de Piaget, Vygostsky e Wallon, considerando que dariam o aporte teórico para justificar
a importância de espaços interno e externo sob a perspectiva do desenvolvimento
integral da criança.
Para Pulaski (1986) Piaget, se refere ao desenvolvimento cognitivo da criança
como uma forma adaptativa, interagindo por meio de gestos, gritos e movimentos, o
período sensório-motor. Parafraseando Pulaski (1986), ao mencionar a divisão, feita por
Piaget, do período sensório motor em seis estágios: afirma que no primeiro (do
nascimento até um mês), é caracterizado pelos reflexos naturais do recém-nascido,
como, por exemplo, a sucção; no segundo (de um a quatro meses), o bebê começa a
delimitar o seu próprio corpo através do seu alcance; no terceiro (de quatro a oito
meses), se ajusta a novas situações, priorizando o mundo ao seu redor; no quarto (de
oito a 12 meses), surge um comportamento proposital onde age pra um determinado
fim; no quinto (de 12 a 18 meses), encontra um objeto, quando escondido a sua vista e
identifica familiares em fotografias e no último estágio (18 a 24 meses), a criança inicia
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o uso de símbolos no faz-de-conta; começa a deduzir o que acontece a seu redor e já
possui certa compreensão de espaço, tempo e causalidade.
Piaget continua ainda o período de desenvolvimento caracterizando o de dois a
sete anos como pré-operacional. Para Pulaski (1986, p.213), nesse estágio, a criança
comprova na imitação a representação simbólica, por meio de desenhos e atividades do
faz-de-conta, para a autora a criança é egocêntrica e presume que todos os objetos
estejam vivos e dotados de sentimentos. Nesse sentido, convém ressaltar que para
Piaget que o desenvolvimento da aprendizagem ocorre a partir de uma estrutura
biológica do homem, ligada a sua idade cronológica. Essa estrutura é herdada e leva ao
surgimento de certas estruturas mentais. Desse modo, não herdamos a inteligência e sim
um mecanismo que vai se tornar experiente em contato com o meio ambiente.
Contrapondo Piaget, Lev Vygotsky assegura que a aprendizagem surge das
relações sociais que o homem estabelece em determinado momento histórico. Para
Vygotsky, no entanto, ”a maturação biológica é um fator secundário no
desenvolvimento das formas complexas do comportamento humano, pois estas
dependem de interação da criança e sua cultura” (REGO, 1995, p.57).
A autora ainda analisa as duas teorias existentes sobre o desenvolvimento e
afirma que para Vygotsky “[...] a estrutura fisiológica humana, aquilo que é inato, não é
suficiente para produzir o indivíduo humano, na ausência do ambiente social”.
Vygotsky ressalta que: (Ibid, p.59) [...] os fatores biológicos têm preponderância sobre
os sociais somente no início da vida da criança. Aos poucos as interações com seu
grupo social e com os objetos de sua cultura passam a governar o comportamento e o
desenvolvimento de seu pensamento. Esse e um ponto discordante entre Piaget e
Vygotsky.
A criança pequena é dependente das pessoas mais experientes que a cercam,
pelo fato de não conseguir sobreviver sozinha. Correlacionando com a ideia de Rego
(1995, p.59) ao afirmar que a sobrevivência do bebê depende dos sujeitos mais
experientes e que se responsabilizam por suas necessidades básicas como alimentação e
higiene. A partir do momento que cresce, a criança adquire hábitos e costumes do meio
social e cultural em que está inserida e com a intervenção do adulto, as crianças
aprendem habilidades que foram construídas: “ela aprende a se sentar, a andar, a
controlar os esfíncteres, a falar, a sentar-se à mesa, a comer com talheres, a tomar
líquidos em copos etc. (ibid:60)
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Para Vygotsky existem três momentos importantes da aprendizagem da criança:
a Zona de Desenvolvimento Potencial, a Zona de Desenvolvimento Real e a Zona de
Desenvolvimento Proximal. A Zona de Desenvolvimento Potencial é toda atividade ou
conhecimento que a criança ainda não domina, mas que se espera que ela seja capaz de
saber e/ou realizar com o auxílio de alguém, a Zona de Desenvolvimento Real é
caracterizada por tudo aquilo que a criança é capaz de realizar sozinha e a Zona de
Desenvolvimento Proximal é a distância entre o que a criança já pode realizar sozinha e
aquilo que ela somente é capaz de desenvolver com o auxílio de alguém.
Vygotsky buscou mostrar que o indivíduo precisa interagir com o meio social
para que internalize os conhecimentos necessários para sua existência. A partir do
momento em que esses conhecimentos são apropriados, não há mais necessidade do
auxílio de outras pessoas.
Henri Wallon foi outro importante ícone no que se refere ao desenvolvimento e a
afetividade da criança, uma vez que sua teoria psicogenética o qual também dá grande
importância ao meio na constituição da pessoa, ao mesmo tempo acredita que o sujeito é
determinado fisiologicamente, de tal modo, seu desenvolvimento é resultado tanto
biológico quanto social. Segundo Wallon o pensamento a função psíquica tem base no
pensamento orgânico, o sujeito é determinado fisiológica e socialmente.
Galvão ressalta que (1995, p.35) “Foi intensa a interlocução de Wallon com as
teorias de Piaget e de Freud. No diálogo mantido com o primeiro, de quem foi
contemporâneo, alimenta o tom de polêmica, numa atitude que lhe era peculiar”. Segue
afirmando que “Concordes quanto à utilidade da análise genética para a compreensão
dos processos psíquicos, utilizavam-na para projetos teóricos distintos: Wallon
pretendia realizar uma psicogênese da pessoa e Piaget uma psicogênese da
inteligência”(GALVÃO, 1995, p.35-36). Segundo Gratiot-Alfandéry (2010, p.34),
Wallon acredita que a criança passa por diferentes estágios que variam entre períodos
“de maior interiorização e outros mais voltados para o exterior”, para melhor
compreensão subdividiu o desenvolvimento infantil em estágios, cabendo apenas a este
estudo o estágio Impulsivo-emocional e Sensório-motor e projetivo.
ESPAÇO FÍSICO DA INSTITUIÇÃO DE EDUCAÇÃO INFANTIL: DESAFIOS
PARA A EDUCAÇÃO
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Os autores que analisam o desenvolvimento infantil “[...] são unânimes em
afirmar que as aquisições sensoriais e cognitivas das crianças têm estreita relação com o
meio físico e social.” (BARBOSA e HORN, 2001, p.73).
Segundo as autoras o espaço físico e social é de suma importância para o
desenvolvimento infantil, pois auxiliam na estruturação das funções motoras, sensoriais,
simbólicas, lúdicas e relacionais. (Id) Ao pensarmos no espaço para as crianças devemos
levar em consideração que o ambiente é composto por gosto, toque, sons e palavras, regras de
uso do espaço, luzes e cores, odores, mobílias, equipamentos e ritmos de vida.
As autoras Abramowicz e Wajskop (1999) ao descreverem sobre o espaço físico
escolar, o caracterizam como sendo um território cultural que pode ser modificado
conforme as experiências, os sentimentos e ações das pessoas que dele fazem parte, ou
simplesmente ser esquecido.
Complementando as ideias acima citadas, Faria (2001, p.70-71) afirma:
O espaço físico assim concebido, não se resume a sua metragem.
Grande ou pequeno, o espaço físico de qualquer tipo de centro de
educação infantil precisa tornar-se um ambiente, isto é, ambientar as
crianças ou os adultos: variando em pequenos e grandes grupos de
crianças, misturando as idades, estendendo-se à rua, ao bairro e à
cidade, melhorando as condições de vida de todos os envolvidos,
sempre atendendo as exigências das atividades programadas
individuais e coletivas, com ou sem presença de adulto(s) e que se
permite emergir as múltiplas dimensões humanas, as diversas formas
de expressão, o imprevisto, os saberes espontâneos infantis.
A autora assegura que: “A organização do espaço físico das instituições de
educação infantil deve levar em consideração todas as dimensões humanas
potencializadas nas crianças: o imaginário, o lúdico, o artístico, o afetivo, o cognitivo,
etc.” (Ibid, p.70-71).
Conforme Barbosa e Horn (2001) para que haja um atendimento qualificado
na educação infantil é importante a interação da escola com a família, com o ambiente
em que alunos vivem, para pensar e organizar ambientes dentro da escola com o intuito
de conservar, dar seguimento ou modificar certos costumes do modo de vida das
famílias. “Nesta perspectiva, o objetivo principal é o de criar para cada espaço uma
identidade.” (BARBOSA e HORN, 2001, p.74).
Para Abramowicz e Wajskop (1999) a organização dos espaços das creches é
indispensável visto que influencia tudo o que a criança faz, interfere na percepção que a
criança tem da realidade, inspira sua habilidade de escolha, modifica as interações com
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as outras crianças, com os profissionais e com seus pais. Complementam afirmando que
o tamanho do mobiliário é importante, contudo a qualidade vem do seu bom uso.
Para Pereira e França o ambiente externo é fundamental para “[...] os
momentos de recreação, como também para o desenvolvimento motor, já que
possibilitam o caminhar, correr, subir, descer e pular, tão importantes para a formação
infantil.”(2008, p.9), aderindo a ideia exposta no Referencial Curricular Nacional para
Educação Infantil (RCNEI): (BRASIL, 1998a, p.69)
Na área externa, há que se criar espaços lúdicos que sejam
alternativos e permitam que as crianças corram, balancem, subam,
desçam e escalem ambientes diferenciados, pendurem-se,
escorreguem, rolem, joguem bola, brinquem com água e areia,
escondam-se etc.
Zamberlan, Basani e Araldi (2007) afirmam que os espaços externos também
precisam ser planejados, visto que são nesses espaços que educadores e crianças
interagem por meio de jogos e brincadeiras, além desses ambientes oferecerem ocasiões
para que as crianças valorizem a relação com o outro.
O pátio da escola é comumente ligado ao espaço externo, e este deve segundo
Abramowicz e Wajskop (1999) garantir que a criança fique em segurança num ambiente
colorido e agradável, possibilitando a interação com crianças de todas as idades.
Ainda de acordo com as autoras, os espaços externos devem proporcionar e
acolher as necessidades de imaginação das crianças; consentir que a criança se expresse
de forma natural e que possa explorar seu corpo; propiciar o conhecimento sensorial,
diversidade de emoções nas crianças e empregar os mais diversificados materiais, que
tenham elementos móveis e que possam ser manuseados e modificados por crianças e
adultos.
Pereira e França (2008, p.10) asseguram que:
[...] quanto ao pátio, devemos colocar tanques de areia em local
ensolarado, revolvido constantemente e protegido de animais;
devemos priorizar pelo uso de sombras em dias muito quentes, por
isso, as árvores necessitam ser cultivadas nesse ambiente, para que o
parque infantil seja instalado num lugar adequado; podemos enfatizar
o cultivo de um pomar e de uma horta, para que as crianças aprendam
a valorizar os alimentos e a natureza, a manipular a comida e a
adquirir hábitos de cuidados próprios e de higiene.
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Para Abramowicz e Wajskop (1999) esse tipo de atividade tem como objetivo
proporcionar uma situação de divisão de tarefas, em que as crianças estarão
desenvolvendo hábitos de cooperação e solidariedade.
Além das situações já elencadas as autoras, acima citadas, garantem que “Os
espaços externos podem oferecer ainda, um ambiente agradável e aconchegante, onde as
crianças possam ouvir uma história, dramatizar uma cena, [...]”. (Ibid, p. 54).
De acordo com Barbosa e Horn (2001) para compreender a organização dos
espaços internos, que correspondem às salas de aulas, é necessário entender
primeiramente, que esses não são apenas mais um espaço e sim parte do trabalho
pedagógico. A disposição do ambiente depende do número de crianças, da faixa etária,
das características sociais e da concepção de que o professor não é dono da sala de aula
e esta deve ser organizada em conjunto com os demais envolvidos nesse processo de
ensino/aprendizagem. “[...] uma organização adequada do espaço e dos materiais
disponíveis na sala de aula será fator decisivo na construção da autonomia intelectual e
social das crianças.” (Ibid, p.76).
Conforme Abramowicz e Wajskop (1999) a forma como são organizadas as
salas de aula retrata a rotina de cada grupo. De acordo com a faixa etária, cada turma vai
compondo seu ambiente em função do ritmo de cada um, da história do grupo e da
interferência da professora.
Segundo o RCNEI (BRASIL, 1998a, p.69) “é preciso que o espaço seja versátil e
permeável à sua ação, sujeito às modificações propostas pelas crianças e pelos professores em
função das ações desenvolvidas”.
Para Carvalho e Rubiano (2001) a interação entre as crianças é influenciada
por diversas condições, entre elas o arranjo espacial, que nada mais é do que a forma
como o mobiliário está distribuído no ambiente. Ao escreverem sobre os três tipos de
arranjos espaciais: aberto, semi-aberto e fechado, afirmam que o primeiro e o último
não trazem benefícios para as crianças, já o arranjo semi-aberto “é caracterizado pela
presença de zonas circunscritas, proporcionando à criança uma visão fácil de todo campo de
ação, incluindo a localização do adulto e demais crianças”.
Parafraseando Barbosa e Horn (2001) é por meio do uso dos espaços semiabertos que se pode promover a identidade pessoal das crianças, possibilitando que elas
possam ver-se como sujeitos inseridos num período histórico-social e ocupantes de
determinados lugares; desenvolvimento da competência, provocando sucessivamente a
criança com tarefas desafiadoras; a construção de diferentes aprendizagens, por meio de
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jogos, materiais, livros, onde as crianças possam interagir em grupo, avançar
intelectualmente sem intermédio direto do adulto.
A organização deve favorecer a autonomia, ter segurança e diversidade.
Conforme o RCNEI (BRASIL,1998c, p.110) “aconselhável que os locais de trabalho, de
uma maneira geral, acomodem confortavelmente as crianças, dando o máximo de autonomia
para o acesso e o uso dos materiais.”
Segundo Faria (2001) o espaço interno e externo precisam fortalecer a
autonomia das crianças, mesmo oferecendo segurança não necessita proteger
excessivamente, isto é, “[...] em nome da segurança não deve impedir experiências que
favoreçam o auto-conhecimento dos perigos e obstáculos que o ambiente proporciona”
(Ibid, p.79).
O CENTRO MUNCIPAL DE EDUCAÇÃO INFANTIL: UMA ANÁLISE
DO ESPAÇO FÍSICO
A instituição de educação infantil que foi observada está localizada em
um bairro de classe média, sendo que atende crianças do seu entorno e também da
região central, visto que, no município há uma grande demanda e poucos
estabelecimentos de ensino público. Seu ambiente é acolhedor, bastante colorido, como
deve ser um lugar onde estudam crianças pequenas. Segundo artigo 19 da Deliberação
N.º 02/2005, “os espaços serão projetados e/ou adaptados de modo a favorecer o
desenvolvimento integral das crianças de zero a seis anos, respeitadas as suas
necessidades e especificidades de acordo com a proposta pedagógica da instituição”.
(PARANÁ, 2005, p.7)
Em seu espaço interno, há uma cozinha, uma despensa, uma lavanderia,
um refeitório, dois banheiros adaptados, um banheiro para professores, um banheiro na
sala do berçário, hall de entrada, uma secretaria, um corredor que dá acesso às salas e
quatro salas de aula; no espaço externo há um parque e um gramado para a locomoção
livre das crianças.
No hall de entrada encontram-se uma televisão com aparelho de DVD,
uma mesa para os professores planejarem suas atividades diárias, uma porta que dá
acesso ao refeitório, os banheiros adaptados, o corredor que dá acesso às salas e a área
administrativa composta apenas pela secretaria que também é usada como sala de
direção, coordenação pedagógica e recepção, sendo uma pequena sala que contém a
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documentação, os materiais pedagógicos e um computador, que são utilizados pela
direção e pelos professores sempre que há necessidade. Aos fundos da sala existe um
pequeno banheiro utilizado pelos funcionários, que também serve como almoxarifado.
Segundo os Parâmetros Básicos de Infra-Estrutura para Instituições de Educação
Infantil (BRASIL, 2008, p.18), a área administrativa deve possuir recepção, espaço para
entrada e saída de criança, secretaria, almoxarifado, sala de professores, sala de direção e
coordenação.
Das salas de aulas, duas têm um bom tamanho (Maternal “B” e Jardim I). As
professoras adaptaram esse espaço para poderem exercer um trabalho pedagógico de
qualidade; as mesinhas e cadeiras ficam próximas às paredes, propiciando maior espaço
para as atividades recreativas que realizam dentro das mesmas. Nessas salas há cadeiras
e mesas adaptadas ao tamanho das crianças, armários para guardar materiais
pedagógicos, cadernos, jogos, brinquedos, etc.; um balcão para guardar as mochilas e
pertences dos alunos, um quadro de giz para registrar informações e até mesmo servir
de uso para os alunos, cartazes informativos nas paredes como: cartaz do tempo,
calendário, dia e noite, chamada, aniversariantes, alfabeto, números, varal para
exposição dos trabalhos, cartaz de medidas, etc.
Os Parâmetros Básicos de Infra-Estrutura para Instituições de Educação
Infantil (BRASIL, 2008, p.27) recomendam:
[...] que a área mínima para todas as salas para crianças de 0 a 6 anos
contemple 1,50 m2 por criança atendida considerando a importância
da organização dos ambientes educativos e a qualidade do trabalho.
Recomenda-se que a metragem das salas seja a mesma,
independentemente da faixa etária, possibilitando alterações nos
agrupamentos, de acordo com a demanda da comunidade.
A sala que corresponde à turma do Maternal “A” é a menor. Seu espaço é tão
limitado que é admirável o trabalho que se realiza nela. Há uma mesa comprida para
trabalhos manuais que fica encostada na parede, assim se pode brincar e realizar
atividades recreativas no pequeno espaço que sobra. Quando os trabalhos manuais
acontecem, a mesa é movida para o centro da sala e as crianças realizam suas atividades
em pé, pois não há espaço suficiente para as cadeiras, as quais até poderiam ser
deixadas em cima da mesa, mas isso traria risco de acidentes. Essa sala ainda possui um
armário, um quadro de giz e decoração condizente com a idade dos alunos. Conforme o
RCNEI (BRASIL,1998b, p.51):
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Oferecer conforto, segurança física e proteger, não significa cercear
as oportunidades das crianças em explorar o ambiente e em
conquistar novas habilidades. Significa proporcionar ambiente seguro
e confortável, acompanhar e avaliar constantemente as capacidades
das crianças, pesar os riscos e benefícios de cada atitude e
procedimento, além do ambiente. Ao organizar um ambiente e adotar
atitudes e procedimentos de cuidado com a segurança, conforto e
proteção da criança na instituição, os professores oferecem
oportunidades para que ela desenvolva atitudes e aprenda
procedimentos que valorizem seu bem-estar. Tanto a creche quanto a
pré-escola precisam considerar os cuidados com a ventilação,
insolação, segurança, conforto, estética e higiene do ambiente,
objetos, utensílios e brinquedos.
A sala de aula do “Berçário” é um pouco maior, mas em vista do número de
alunos, 15, se torna pequena. O ambiente de repouso e atividades é o mesmo, e o
número de berços não é suficiente para todas as crianças. Segundo os Parâmetros
Básicos de Infra-Estrutura para Instituições de Educação Infantil, “Os ambientes para
repouso e atividades são imprescindíveis. Os demais podem ser substituídos por outras
alternativas na organização do espaço institucional”. (BRASIL, 2008, p.13). Ao lado
dessa sala, há uma pequena cozinha para o manuseio das próprias refeições, um
fraldário com banheira e um balcão a altura do educador para banho e troca das
crianças, algumas cadeiras para a alimentação, os brinquedos pedagógicos para a idade
e um banheiro de bom tamanho, com chuveiro, porém, o sanitário do banheiro não é
adaptado ao tamanho das crianças. Para o RCNEI (BRASIL, 1998a, p.69):
[...] as crianças de zero a um ano de idade necessitam de um espaço
especialmente preparado onde possam engatinhar livremente, ensaiar
os primeiros passos, brincar, interagir com outras crianças, repousar
quando sentirem necessidade etc.
Os banheiros dos alunos localizam-se no hall de entrada, afastados das salas
de aula e não tem comunicação direta com a cozinha e o refeitório. Os dois banheiros
possuem um chuveiro cada, um lavatório maior para uso coletivo, três repartições cada
uma com um vaso sanitário, adaptados ao tamanho dos alunos.
Conforme os Parâmetros Básicos de Infra-estrutura para Instituições de
Educação Infantil (BRASIL, 2008, p.30):
Nos banheiros, a autonomia das crianças vai estar relacionada à
adaptação dos equipamentos às suas proporções e alcances; reservar
especial atenção com a prevenção de acidentes, utilizando piso
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antiderrapante, principalmente próximo às áreas do chuveiro, e cantos
arredondados dos equipamentos.
Professores e funcionários possuem banheiro de uso exclusivo, localizado
dentro da secretaria. As áreas do serviço de alimentação estão definidas pelo refeitório,
cozinha e despensa. De acordo com o documento acima citado, define-se como serviço
de alimentação aquele que: (Ibid, p.21). [...] engloba todas as atividades relacionadas ao
preparo e à distribuição das refeições, incluindo atividades de recepção, estocagem de
alimentos, limpeza de utensílios e registro de dados.
O espaço físico do refeitório é suficiente, com mobiliário na altura das crianças e
dos adultos, estando articulado à cozinha por uma abertura na parede, pela qual é
distribuído o alimento e os alunos repetem suas refeições. Apresenta boas condições de
higiene, ventilação e segurança. Há espaço para cerca de duas turmas realizarem as
refeições ao mesmo tempo, contudo, no almoço esses são separados em grupos, por
idade, para que eles possam conviver e conversar alegremente enquanto comem. Esse é
um momento de grande socialização.
A cozinha é um espaço bastante arejado e os alunos não têm acesso. Segundo os
Parâmetros Básicos de Infra-Estrutura para Instituições de Educação Infantil, as áreas
destinadas ao preparo e ao cozimento dos alimentos devem “ser de difícil acesso às
crianças, evitando-se acidentes; pode-se solucionar a restrição ao acesso utilizando
portas à meia altura, que proporcionam segurança às crianças sem restringir a
ventilação”. (BRASIL, 2008, p.26). Ao lado está a lavanderia com tamanho
proporcional ao número de crianças atendidas na Instituição. A despensa tem entrada
junto à lavanderia, contém prateleiras espaçosas adequadas aos tipos de alimentos.
A área externa do CMEI é formada por um parque com play ground, gira-gira, e
balanços, além de um espaço extenso com grama e árvores para os alunos realizem
atividades de lazer e atividades físicas. Para os Parâmetros Básicos de Infra-Estrutura
para Instituições de Educação Infantil (BRASIL, 2008, p.26):
A valorização dos espaços de recreação e vivência vai incrementar a
interação das crianças, a partir do desenvolvimento de jogos,
brincadeiras e atividades coletivas, além de propiciar uma leitura do
mundo com base no conhecimento do meio ambiente imediato. O
próprio reconhecimento das crianças de seu corpo (suas proporções,
possibilidades e movimento) poderá ser refinado pela relação com o
mundo exterior.
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Um espaço externo estruturado com qualidade faz com que as crianças se
socializem, aperfeiçoem a capacidade motora e explorem a natureza, que é fundamental
nessa fase do seu desenvolvimento, estimulando a curiosidade e a criatividade. Segundo
o RCNEI (BRASIL, 1998) a prática em sala de aula precisa garantir espaços e materiais,
bem como o mobiliário, adequado para a criança e os espaços externos também se
constituem em formas de aprendizado.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
A instituição de educação infantil observado nos forneceu evidencias de que os
teóricos e a legislação vigente encontram-se bastante distantes do que é oferecido para
as crianças. O norte para educadores, em sentido geral, são os autores que subsidiam o
trabalho pedagógico, nesse caso Piaget, Vygostsky e Wallon concordam na importância
que tem o meio, seja ele físico ou social, e as relações e ou interações que o sujeito
estabelece, a fim de desenvolver seu repertório intelectual. É importante ressaltar que o
pensamento, ou as estruturas biológicas se desenvolvem com base nas possibilidades
que o meio oferece. Isabel Galvão (1995, p.100) ao descrever sobre os pensamentos de
Henri Wallon assegura que: “O meio é o campo sobre o qual a criança aplica as
condutas de que dispõe, ao mesmo tempo é dele que retira os recursos para a sua ação.”
Complementando o descrito Carvalho e Rubiano (2001) afirmam que a criança participa
de tudo que acontece no ambiente e que seu comportamento também é influenciado,
mas que muitas vezes é planejado pelo adulto com expectativas de adulto.
Entendemos que a ausência de um espaço amplo, como o citado nos Parâmetros
Básicos de Infra-Estrutura para Instituições de Educação Infantil (BRASIL, 2008) de
1,5 m2 por aluno, pode privar o aluno de desenvolver suas habilidades motoras,
cognitivas e sociais de forma prazerosa, por meio de brincadeiras e jogos que envolvam
o equilíbrio, a coordenação, a psicomotricidade, que expressem sensações e ritmos
corporais e que ampliem sua destreza para deslocar-se no espaço (arrastar-se,
engatinhar, rolar, andar, correr, saltar, etc.). Além de causar transtornos no bom
andamento da prática educativa, visto que os alunos ficam agitados e nervosos, devido à
impossibilidade de agir e vivenciar plenamente a sua infância.
A instituição que observamos oferece dentro de suas possibilidades, o que tem
de melhor, mas está longe de atender o que está disposto na legislação que trata do
assunto. Nesse sentido, cabe ressaltar que muito os profissionais da educação infantil e a
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sociedade de modo geral, precisam lutar para ter assegurado o direito da criança a uma
educação de qualidade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante da análise bibliográfica e da observação mencionada por este estudo,
percebemos que a qualidade da educação e do desenvolvimento infantil está
intimamente ligada ao ambiente no qual a criança está inserida. É por meio desse
vínculo que a criança desenvolve seus aspectos cognitivos, motor e social, assim o
educador deve fazer uso do espaço disponível para seu trabalho de maneira que venha a
favorecer a eficácia da aprendizagem e do desenvolvimento.
O Centro de Educação Infantil analisado tem aspectos positivos que
precisamos mencionar como o de valorizar as potencialidades das crianças, por meio de
práticas inovadoras que permitem autonomia, além de ser um ambiente acolhedor que
valoriza a identidade, possibilita a interação social, o que irá contribuir para a formação
da personalidade da criança, apesar de não disponibilizar espaço físico adequado.
O espaço físico restrito é um desafio às instituições que buscam realizar um
trabalho de qualidade, porém ao estruturar adequadamente o ambiente, essa desempenha
um papel importantíssimo no desenvolvimento infantil. Esse estudo abre a possibilidade
de perguntarmos qual a concepção de criança que temos atualmente? Como as políticas
públicas pensam nesse sujeito como alguém que tem necessidades próprias e precisa ser
respeitado como tal?
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