XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 24 ARTEFATOS DIGITAIS E ESCOLA CONTEMPORÂNEA: APONTAMENTOS E DESLOCAMENTOS Roseli Belmonte Machado - SEDUC/RS Resumo: A educação e as novas tecnologias digitais têm sido alvo de grande discussão e investimento na atualidade. Escolas estão sendo equipadas com computadores, telas interativas, acervos bibliográficos digitais, lousas eletrônicas, entre outros aparatos. Foram criados sistemas de financiamento especial para que os professores possam adquirir seus notebooks e, além disso, o Ministério da Educação prometeu distribuir Tablets aos educadores. No entanto, essas tecnologias operam de diversos modos nos sujeitos inseridos no contexto escolar, visto que são manipuladas por indivíduos de várias épocas. Este trabalho tem a intenção de chamar a atenção para a diversidade de gerações presentes na escola contemporânea, ressaltando os diversos modos pelos quais esses sujeitos se subjetivam. Parte do pressuposto de que a escola ainda tende a manterse com um forte viés disciplinar – o que engloba a maioria dos professores que atuam nessas instituições e foram subjetivados por essa ordem – enquanto os sujeitos que a frequentam estão imersos dentro de uma lógica que poderíamos denominar de “digital”. Esse cenário, de certo modo, tem gerado usos diferentes desses artefatos por professores e alunos. Outro intuito desta pesquisa tem a intenção de debater as formas com que os alunos são subjetivados pelas tecnologias da chamada Era Digital – a qual se encontra inscrita na lógica da governamentalidade neoliberal. Para essa abordagem são usadas as ferramentas teórico-metodológicas dos Estudos Foucaultianos – especialmente focada sobre formas de poder -, além das colaborações de Nikolas Rose a respeito de subjetividade, de Alfredo Veiga-Neto sobre a escola contemporânea e de Marisa Vorraber Costa com relação ao consumo. Palavras-chave: tecnologias digitais; escola contemporânea; subjetividades; alunos; professores. Para início de conversa As transformações no mundo atual estão presentes em todos os campos. Novas formas de falar, escrever, se comunicar, agir e pensar surgem como se sempre tivessem existido e tornam-se comuns. Não nos causa mais espanto os avanços tecnológicos, apresentados especialmente pelos aparatos midiáticos, mas não só por eles. Todos os setores da sociedade têm sido afetados pelas mudanças tecnológicas. Tomamos conhecimento que outras tecnologias surgiram, mas isso não significa afirmar que saberemos operá-las. Essa nossa incapacidade de interação pode ocorrer tanto pela impossibilidade de acesso, pois elas podem ser superadas antes mesmo de que consigamos adquiri-las, ou mesmo pela nossa incapacidade de explorar todas as suas especificidades, visto que somos sujeitos de outros tempos e “enquanto discutimos Junqueira&Marin Editores Livro 3 - p.002348 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 25 possíveis usos de uma dada tecnologia, algumas formas de usar já se impuseram” (LÉVY, 2000, p. 26). Dentro dessa configuração, interessa-me, neste trabalho, debater a diversidade de gerações presentes na escola contemporânea, ressaltando os modos pelos quais esses sujeitos se subjetivam face às novas transformações tecnológicas. Inicio mostrando como o consumo faz parte da lógica neoliberal que vivenciamos, dentro do qual as tecnologias também podem ser entendidas. Após, discuto os diversos modos pelos quais a escola está sendo invadida pelas novas tecnologias e, ao mesmo tempo, como esses artefatos têm um papel importante para que a escola deixe de ser a principal produtora das subjetividades. Além disso, procuro pensar nos deslocamentos que essas transformações têm realizado nas relações entre os diferentes sujeitos da educação. Consumo e Tecnologias A vontade de ter e de acessar os aparatos tecnológicos que surgem está imersa na lógica da sociedade de consumo que vivemos. O constante fluxo de substituições de mercadorias, sutil e insidiosamente, nos convida a estar inseridos nesse processo. A partir disso, há uma transformação nos modos como os sujeitos se inserem socialmente e no modo como percebem a si e aos outros, capturados pela lógica do consumo. [...] a obsessão pelo consumo, marca registrada da vida nas sociedades orientadas para e pelo mercado, não corresponde a opções fortuitas e isoladas de um sempre crescente contingente de sujeitos abomináveis porque ricos, exibicionistas, esbanjadoras e insaciáveis. Em vez disso o consumo é o centro organizador da ordem social, política, econômica e cultural do presente, e todos nós somos “educados” para e por ele (COSTA, 2009, p. 35). A importância está na aquisição do bem, pois parece que o “ter” já remete a uma sensação de pertencimento e inserção social. Dominar as tecnologias e usufruir todas as suas promessas de comodidade e mobilidade também parecem não ser a motivação principal, já que é provável seu descarte iminente e a substituição pelo lançamento de um produto de última geração. As crianças e os jovens que nascem dentro dessa realidade contemporânea já estão imersos na lógica do consumo. Todavia, a sedução para que eles queiram adquirir esses novos produtos não acontece apenas pelo status que eles podem lhes trazer, mas Junqueira&Marin Editores Livro 3 - p.002349 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 26 também pelas possibilidades de interação com esses artefatos. Esses novos sujeitos convivem com essas formas de comunicação e informação desde seu nascimento e há uma naturalidade entre eles. Conectividade e interatividade fazem parte de seu mundo. Por isso, hoje em dia, é muito difícil que um jovem consiga estar totalmente “desconectado”; eles sempre carregam seus celulares, tocadores de música digitais, computadores portáteis, Tablets, etc. Assim, na tentativa de atrair essa juventude e de propiciar uma melhor qualidade na educação, instituições privadas e Governos têm investido em equipamentos para as escolas. Estão sendo comprados computadores, telas interativas, acervos bibliográficos digitais, lousas eletrônicas, softwares, dentre outros aparatos. Além disso, recentemente, o Ministério da Educação divulgou que irá distribuir Tablets aos professores conforme nota que segue: “O Ministério da Educação vai investir cerca de R$ 150 milhões neste ano para a compra de 600 mil tablets para uso dos professores do ensino médio de escolas públicas federais, estaduais e municipais. De acordo com o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, os equipamentos serão doados às escolas e entregues no segundo semestre. O objetivo do projeto Educação Digital – Política para computadores interativos e tablets, anunciado pelo ministro Mercadante nesta quinta-feira, 2, é oferecer instrumentos e formação aos professores e gestores das escolas públicas para o uso intensivo das tecnologias de informação e comunicação (TICs) no processo de ensino e aprendizagem.”(Disponível em http://portal.mec.gov.br/index Acesso em 15/02/2012) Parece que o importante, também para os Governos, é que os professores tenham esses produtos. Não interessa o modo como eles serão utilizados, outrossim, o relevante é a inserção no mundo digital, mesmo que aparente. Tais ações fazem parte da lógica neoliberal, na qual, de acordo com Lopes (2009), institui certas regras para posicionar os sujeitos numa rede de saberes, bem como para criar ou conservar o interesse de cada um em permanecer nas redes sociais e de mercado. Para a autora uma das grandes regras que faz parte desse jogo do neoliberalismo é manter-se sempre em atividade. Não é permitido que ninguém pare ou fique de fora, que ninguém deixe de se integrar nas malhas que dão sustentação aos jogos de mercado e que garantem que todos, ou a maior quantidade de pessoas, sejam beneficiados pelas inúmeras ações de Estado e de mercado. Por sua vez, Estado e mercado estão cada vez mais articulados e dependentes um do outro, na tarefa de educar a população para que ela Junqueira&Marin Editores Livro 3 - p.002350 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 27 viva em condições de sustentabilidade, de empresariamento, de autocontrole, etc. (LOPES, 2009, p.155). O interessante é que os professores tenham esses produtos e, ao mesmo tempo, façam a tentativa de utilizá-los dentro da escola incentivando os seus alunos a continuarem consumindo esses novos artefatos. Assim, o que me parece instigante é refletir quais são os usos dessas tecnologias e se, a partir disso, estariam sendo incorporadas outras relações de poder tendo em vista que são manipuladas por sujeitos de diferentes tempos. De acordo com Porto (2006) as novas tecnologias podem servir tanto para inovar quanto para reforçar comportamentos e modelos comunicativos de ensino. A Escola hoje: reflexões sobre poder e disciplina Veiga-Neto (2006, p. 31) aponta “que a escola moderna funcionou — e em boa medida continua funcionando — como um conjunto de máquinas encarregadas de criar sujeitos disciplinados num e para um novo tipo de sociedade que se gestava após o fim da Idade Média”. A escola moderna organizou e esquadrinhou o tempo, separou e sistematizou o conhecimento e disciplinou os corpos. Mais do que qualquer outra instituição, a escola subjetivou os sujeitos a serem desta ou daquela maneira, operando modos de ser adequados com o que a sociedade esperava. A escola foi sendo concebida e montada como a grande – e (mais recentemente) a mais ampla e universal máquina capaz de fazer, dos corpos, o objeto de poder disciplinar; e assim, torná-los dóceis; [...]. Na medida em que a permanência na escola é diária e se estende ao longo de vários anos, os efeitos desse processo disciplinar de subjetivação são notáveis. Foi a partir daí que se estabeleceu um tipo muito especial de sociedade, à qual Foucault adjetivou de disciplinar (VEIGA-NETO, 2007, p. 70-71). Foucault (2008), no curso Segurança, Território e População (1977-1978), mostra como a arte de governar estava bloqueada, entre os séculos XVI e XVIII, por haver uma grande diferença entre, por um lado, o poder do soberano – que era amplo, abstrato e rígido demais – e, por outro lado, o governo da família – que era estreito, inconsistente e muito frágil. Era, então, necessário estabelecer uma forma de governo que atingisse a todos, que atingisse a população. Segundo Foucault esse desbloqueio ocorreu com a transição de uma sociedade de soberania para uma sociedade baseada na gestão governamental (séculos XVI e XVIII), em que houve uma mudança de ênfase Junqueira&Marin Editores Livro 3 - p.002351 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 28 nas formas de exercício do poder. Para o autor tal transformação foi possível devido ao surgimento – não no sentido de surgir pela primeira vez, mas no sentido de ter visibilidade – das disciplinas ou de uma sociedade disciplinar (FOUCAULT, 2007), que foram desbloqueando (século XVII) as artes de governar. A sociedade da soberania era regida pelo poder do soberano em relação aos seus súditos e marcada por uma forma severa de governar, em que eram utilizadas punições exemplares e suplícios públicos. A sociedade disciplinar, que pode ser associada ao “surgimento da Modernidade”, marca a implantação de uma série de transformações em que a espetacularização do exercício do poder cede lugar ao desenvolvimento dos dispositivos disciplinares, sustentados pelo advento das instituições de sequestro e disciplinamento dos corpos: o quartel, a prisão, o hospital, a escola, a fábrica e o manicômio. Na sociedade disciplinar, a ênfase na forma de exercer o poder está em tornar os corpos dóceis. Foi uma mudança no entendimento das relações de poder. Porém, com o passar dos tempos, a crise no modelo escolar da Modernidade vem sendo nomeada por diversos autores. Dentre as transformações apontadas, pode-se dizer que a escola vem perdendo seu lugar como a principal produtora das subjetividades. Veiga-Neto (2006) expõe que uma parcela dos processos de subjetivação que, anteriormente, ocorriam preponderantemente através da escola disciplinar, está se deslocando para o espaço social mais amplo ou, mesmo que se mantenha restrito ao espaço escolar, talvez venha a ser desenvolvida por meio de outras estratégias. Assim, pode-se dizer que “abrem-se possibilidades interessantes de estudos para o novo campo de saberes pedagógicos denominado Pedagogias Culturais” (VEIGA-NETO, 2008, p. 15). Dessa maneira, podemos entender que os processos de subjetivação passaram a ocorrer, também, pelo vasto campo que as Pedagogias Culturais englobam. Para Wagner e Sommer (2009) os processos formativos e educativos estão sendo forjados e aplicados fora dos muros escolares: há uma centralidade da mídia e outras instâncias sociais nesses processos. Essas Pedagogias operam pela sedução, colonizando o desejo, capturando os indivíduos e produzindo formas padronizadas de sujeito. Pode-se dizer que educam geralmente num mundo encantado que diverte e ensina, cria, sacia e recria desejos. São as práticas culturais e/ou instituições que vão além da escola. Nesse sentido, parece que as escolas estão tentando se adequar a essa realidade importando para dentro de seus muros – e também tolerando – algumas dessas práticas Junqueira&Marin Editores Livro 3 - p.002352 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 29 que operam na subjetivação dos sujeitos. Há sempre sugestões de como “melhor” utilizar a internet ou sobre como fazer a série de televisão virar assunto a ser debatido nas classes ou ainda a respeito de como transformar a música do momento em uma paródia que trate dos conteúdos a serem aprendidos. Para que isso ocorra, o que se tem observado é que, de fato, há à disposição dos professores um grande número de equipamentos e aparatos que, de certa forma, parecem dar conta das demandas trazidas pelos alunos e se dizem poder melhorar os processos de ensino-aprendizagem. O consumo desses artefatos, porém, não garante uma melhor eficácia no ensino ou ainda a adequação da escola à velocidade e ao imediatismo do mundo contemporâneo. Os desencaixes entre ambos ultrapassam a aquisição e operação das tecnologias de informação e comunicação. Não se trata dizer que, se a escola se atualizasse tecnologicamente – se ela usasse melhor a informática, se ela usasse melhor a telemática, se ela usasse melhor a educação a distância ou quaisquer outras alternativas metodológicas e tecnológicas -, resolveríamos a coisa, ou seja, colocaríamos de novo a escola naquele “bom caminho” do qual ela parece ter saído. [...] mesmo se ela estivesse fazendo isso, ela poderia ainda estar desencaixada do mundo de hoje (VEIGA-NETO, 2003, p.113). Além disso, retomo que é preciso analisar que os sujeitos que compõe e frequentam a escola são de tempos diferentes. Cada um opera de um modo com as novas tecnologias, cada um se sujeitou à diferentes modos de subjetivação que os constituiu de uma ou de outra maneira. Essa diversidade, esses desencaixes merecem uma reflexão. Alunos digitais “As crianças de hoje nascem dentro da cultura consumista e crescem modelando-se segundo seus padrões e suas normas. Talvez apenas um pouco menos confortáveis nessa moldagem, os adultos também se instalam e se conformam em seu interior” (COSTA, 2009, p. 35-36). Na epígrafe, Costa (2009) aponta a ideia de que há uma diferença entre os sujeitos de acordo com a época em que vivem ou viveram. Segundo a autora as crianças que nascem dentro da lógica do consumo são moldadas a partir dela. Já os adultos acomodam-se nesse lugar. Junqueira&Marin Editores Livro 3 - p.002353 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 30 Com relação à escola e aos seus equipamentos, podemos afirmar que os sujeitos além de consumir de modo diferente, também se relacionam de outra maneira com as tecnologias na medida em que foram subjetivados e sujeitados de forma diversa durante suas vidas. Enquanto as crianças emergem dentro de um mundo tecnológico, os adultos vão se encaixando dentro dele. Para Rose (2003) há uma diversidade de estratégias e táticas de subjetivação que têm se desenvolvido em diversas práticas, em diferentes momentos, e em relação a diferentes classificações e diferenciações de pessoas. O ser humano é alvo de uma multiplicidade de tipos de trabalho. Por isso, pensando nas subjetividades produzidas pela mídia e pelas tecnologias de informação e de comunicação, entendo que sujeitos de diferentes tempos subjetivam-se de diferentes modos. Desse modo, entendendo que a produção das subjetividades não escapa dos equipamentos coletivos de subjetivação (GUATTARI, 1993), tais como as máquinas informacionais e computacionais, observa-se uma intensificação dos controles sobre o corpo e sobre os processos de subjetivação. A subjetivação é, assim, o nome que se pode dar aos efeitos da composição e da recomposição de forças, práticas e relações que tentam transformar – ou operam para transformar – o ser humano em variadas formas de sujeito, em seres capazes de tomar a si próprios como sujeitos de suas práticas e das práticas de outros sobre eles. (ROSE, 2001, p.143). Ao entender que os processos de subjetivação ocorrem de diversos modos em relação aos diferentes tempos, estratégias e sujeitos, pode-se dizer que a escola possui toda essa multiplicidade. Ao fazer um recorte, saliento que temos os “alunos digitais” – nome pelo qual os nomeio nesta pesquisa pelo uso constante que imprimem às tecnologias – habituados a manipular e a usufruir de todos os recursos que uma tecnologia oferece e, temos os professores, aprendizes desse mundo e estudantes dessas inovações. São esses outros papéis que têm relativizado as relações de poder dentro da sala de aula. O que nos instiga a pensar é que parece não ser suficiente que todos tenham acesso às tecnologias. Embora, atualmente, os professores possam adquirir seus computadores financiados pelas linhas de crédito ofertadas pelos Governos ou os recebam gratuitamente ou ainda tenham a sua disposição nas escolas os variados Junqueira&Marin Editores Livro 3 - p.002354 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 31 equipamentos, isso não quer dizer que os professores os utilizem do mesmo modo que os seus alunos. Por outro lado, se ambos tiverem domínio desses aparatos, mesmo assim, a relação que eles estabelecem com as tecnologias é diferente na medida em que os processos de subjetivação pelos quais passaram são outros. Considerações finais As características do modelo escolar da Modernidade ainda permanecem na escola de hoje: a regulação do tempo, o ordenamento das filas, os exames, a divisão e a sistematização dos conteúdos, etc.. Em contrapartida temos a inserção das tecnologias de informação e comunicação que invadem a escola tentando dar conta dos desencaixes existentes entre o mundo atual e a própria escola. O fato é que essas inovações são vistas por muitos como se não fizessem parte do cotidiano escolar, como se estivessem fora do mundo, em uma exterioridade. Já para os alunos elas são uma extensão de si mesmo, fazem parte de suas vidas e os atraem por serem velozes, efêmeras, interativas e produzem sensação de liberdade mesmo que os mantenham sempre conectados. Não obstante, ainda podemos dizer que essas tecnologias estão articuladas com o mundo atual e podem ser compreendidas dentro da racionalidade neoliberal que conduz nossa sociedade, em que a competição e o consumo são seus princípios. “O princípio de inteligibilidade do neoliberalismo passa a ser a competição: a governamentalidade neoliberal intervirá para maximizar a competição, para produzir liberdade para que todos possam estar no jogo econômico” (SARAIVA; VEIGA-NETO, 2009, p.189). Ressalto que este texto não teve a intenção de mostrar que os professores estão aquém dos avanços tecnológicos e devem se atualizar – como faz a maioria das pesquisas atuais que defendem os ditos avanços na educação na medida em que as escolas passam a ter equipamentos digitais. Também não quis levantar a bandeira da indiferença frente às transformações que ocorrem cotidianamente. O interesse foi enxergar esse processo sob outra perspectiva na tentativa de entender o desalinho entre professores e alunos referente ao foco das tecnologias. Assim, o que podemos perceber são as diferenças com que cada sujeito se relaciona com esses artefatos. Na maioria das vezes, os efeitos causados pelas formas de subjetivação que cada um passou em suas vidas lhes conferem um distanciamento Junqueira&Marin Editores Livro 3 - p.002355 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 32 tecnológico. Tais movimentos, então, tendem a relativizar as relações de poder dentro da escola na medida em que os saberes sobre as tecnologias e os seus usos são diferentes. Referências COSTA, Marisa Vorraber. Educar-se na sociedade de consumidores. In: COSTA, Marisa Vorraber (org.). A educação na cultura da mídia e do consumo. Rio de Janeiro: Lamparina, 2009. FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir. 33.ed. Petrópolis: Vozes, 2007. FOUCAULT, Michel. 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