XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012
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ARTEFATOS DIGITAIS E ESCOLA CONTEMPORÂNEA: APONTAMENTOS
E DESLOCAMENTOS
Roseli Belmonte Machado - SEDUC/RS
Resumo: A educação e as novas tecnologias digitais têm sido alvo de grande discussão
e investimento na atualidade. Escolas estão sendo equipadas com computadores, telas
interativas, acervos bibliográficos digitais, lousas eletrônicas, entre outros aparatos.
Foram criados sistemas de financiamento especial para que os professores possam
adquirir seus notebooks e, além disso, o Ministério da Educação prometeu distribuir
Tablets aos educadores. No entanto, essas tecnologias operam de diversos modos nos
sujeitos inseridos no contexto escolar, visto que são manipuladas por indivíduos de
várias épocas. Este trabalho tem a intenção de chamar a atenção para a diversidade de
gerações presentes na escola contemporânea, ressaltando os diversos modos pelos quais
esses sujeitos se subjetivam. Parte do pressuposto de que a escola ainda tende a manterse com um forte viés disciplinar – o que engloba a maioria dos professores que atuam
nessas instituições e foram subjetivados por essa ordem – enquanto os sujeitos que a
frequentam estão imersos dentro de uma lógica que poderíamos denominar de “digital”.
Esse cenário, de certo modo, tem gerado usos diferentes desses artefatos por professores
e alunos. Outro intuito desta pesquisa tem a intenção de debater as formas com que os
alunos são subjetivados pelas tecnologias da chamada Era Digital – a qual se encontra
inscrita na lógica da governamentalidade neoliberal. Para essa abordagem são usadas as
ferramentas teórico-metodológicas dos Estudos Foucaultianos – especialmente focada
sobre formas de poder -, além das colaborações de Nikolas Rose a respeito de
subjetividade, de Alfredo Veiga-Neto sobre a escola contemporânea e de Marisa
Vorraber Costa com relação ao consumo.
Palavras-chave: tecnologias digitais; escola contemporânea; subjetividades; alunos;
professores.
Para início de conversa
As transformações no mundo atual estão presentes em todos os campos. Novas
formas de falar, escrever, se comunicar, agir e pensar surgem como se sempre tivessem
existido e tornam-se comuns. Não nos causa mais espanto os avanços tecnológicos,
apresentados especialmente pelos aparatos midiáticos, mas não só por eles. Todos os
setores da sociedade têm sido afetados pelas mudanças tecnológicas. Tomamos
conhecimento que outras tecnologias surgiram, mas isso não significa afirmar que
saberemos operá-las. Essa nossa incapacidade de interação pode ocorrer tanto pela
impossibilidade de acesso, pois elas podem ser superadas antes mesmo de que
consigamos adquiri-las, ou mesmo pela nossa incapacidade de explorar todas as suas
especificidades, visto que somos sujeitos de outros tempos e “enquanto discutimos
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possíveis usos de uma dada tecnologia, algumas formas de usar já se impuseram”
(LÉVY, 2000, p. 26).
Dentro dessa configuração, interessa-me, neste trabalho, debater a diversidade
de gerações presentes na escola contemporânea, ressaltando os modos pelos quais esses
sujeitos se subjetivam face às novas transformações tecnológicas. Inicio mostrando
como o consumo faz parte da lógica neoliberal que vivenciamos, dentro do qual as
tecnologias também podem ser entendidas. Após, discuto os diversos modos pelos quais
a escola está sendo invadida pelas novas tecnologias e, ao mesmo tempo, como esses
artefatos têm um papel importante para que a escola deixe de ser a principal produtora
das subjetividades. Além disso, procuro pensar nos deslocamentos que essas
transformações têm realizado nas relações entre os diferentes sujeitos da educação.
Consumo e Tecnologias
A vontade de ter e de acessar os aparatos tecnológicos que surgem está imersa
na lógica da sociedade de consumo que vivemos. O constante fluxo de substituições de
mercadorias, sutil e insidiosamente, nos convida a estar inseridos nesse processo. A
partir disso, há uma transformação nos modos como os sujeitos se inserem socialmente
e no modo como percebem a si e aos outros, capturados pela lógica do consumo.
[...] a obsessão pelo consumo, marca registrada da vida nas sociedades
orientadas para e pelo mercado, não corresponde a opções fortuitas e
isoladas de um sempre crescente contingente de sujeitos abomináveis
porque ricos, exibicionistas, esbanjadoras e insaciáveis. Em vez disso
o consumo é o centro organizador da ordem social, política,
econômica e cultural do presente, e todos nós somos “educados” para
e por ele (COSTA, 2009, p. 35).
A importância está na aquisição do bem, pois parece que o “ter” já remete a uma
sensação de pertencimento e inserção social. Dominar as tecnologias e usufruir todas as
suas promessas de comodidade e mobilidade também parecem não ser a motivação
principal, já que é provável seu descarte iminente e a substituição pelo lançamento de
um produto de última geração.
As crianças e os jovens que nascem dentro dessa realidade contemporânea já
estão imersos na lógica do consumo. Todavia, a sedução para que eles queiram adquirir
esses novos produtos não acontece apenas pelo status que eles podem lhes trazer, mas
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também pelas possibilidades de interação com esses artefatos. Esses novos sujeitos
convivem com essas formas de comunicação e informação desde seu nascimento e há
uma naturalidade entre eles. Conectividade e interatividade fazem parte de seu mundo.
Por isso, hoje em dia, é muito difícil que um jovem consiga estar totalmente
“desconectado”; eles sempre carregam seus celulares, tocadores de música digitais,
computadores portáteis, Tablets, etc.
Assim, na tentativa de atrair essa juventude e de propiciar uma melhor qualidade
na educação, instituições privadas e Governos têm investido em equipamentos para as
escolas. Estão sendo comprados computadores, telas interativas, acervos bibliográficos
digitais, lousas eletrônicas, softwares, dentre outros aparatos. Além disso, recentemente,
o Ministério da Educação divulgou que irá distribuir Tablets aos professores conforme
nota que segue:
“O Ministério da Educação vai investir cerca de R$ 150 milhões neste
ano para a compra de 600 mil tablets para uso dos professores do
ensino médio de escolas públicas federais, estaduais e municipais. De
acordo com o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, os
equipamentos serão doados às escolas e entregues no segundo
semestre. O objetivo do projeto Educação Digital – Política para
computadores interativos e tablets, anunciado pelo ministro
Mercadante nesta quinta-feira, 2, é oferecer instrumentos e formação
aos professores e gestores das escolas públicas para o uso intensivo
das tecnologias de informação e comunicação (TICs) no processo de
ensino e aprendizagem.”(Disponível em http://portal.mec.gov.br/index
Acesso em 15/02/2012)
Parece que o importante, também para os Governos, é que os professores tenham
esses produtos. Não interessa o modo como eles serão utilizados, outrossim, o relevante
é a inserção no mundo digital, mesmo que aparente. Tais ações fazem parte da lógica
neoliberal, na qual, de acordo com Lopes (2009), institui certas regras para posicionar
os sujeitos numa rede de saberes, bem como para criar ou conservar o interesse de cada
um em permanecer nas redes sociais e de mercado. Para a autora uma das grandes
regras que faz parte desse jogo do neoliberalismo é manter-se sempre em atividade.
Não é permitido que ninguém pare ou fique de fora, que ninguém
deixe de se integrar nas malhas que dão sustentação aos jogos de
mercado e que garantem que todos, ou a maior quantidade de pessoas,
sejam beneficiados pelas inúmeras ações de Estado e de mercado. Por
sua vez, Estado e mercado estão cada vez mais articulados e
dependentes um do outro, na tarefa de educar a população para que ela
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viva em condições de sustentabilidade, de empresariamento, de
autocontrole, etc. (LOPES, 2009, p.155).
O interessante é que os professores tenham esses produtos e, ao mesmo tempo,
façam a tentativa de utilizá-los dentro da escola incentivando os seus alunos a
continuarem consumindo esses novos artefatos. Assim, o que me parece instigante é
refletir quais são os usos dessas tecnologias e se, a partir disso, estariam sendo
incorporadas outras relações de poder tendo em vista que são manipuladas por sujeitos
de diferentes tempos. De acordo com Porto (2006) as novas tecnologias podem servir
tanto para inovar quanto para reforçar comportamentos e modelos comunicativos de
ensino.
A Escola hoje: reflexões sobre poder e disciplina
Veiga-Neto (2006, p. 31) aponta “que a escola moderna funcionou — e em boa
medida continua funcionando — como um conjunto de máquinas encarregadas de criar
sujeitos disciplinados num e para um novo tipo de sociedade que se gestava após o fim
da Idade Média”. A escola moderna organizou e esquadrinhou o tempo, separou e
sistematizou o conhecimento e disciplinou os corpos. Mais do que qualquer outra
instituição, a escola subjetivou os sujeitos a serem desta ou daquela maneira, operando
modos de ser adequados com o que a sociedade esperava.
A escola foi sendo concebida e montada como a grande – e (mais
recentemente) a mais ampla e universal máquina capaz de fazer, dos
corpos, o objeto de poder disciplinar; e assim, torná-los dóceis; [...].
Na medida em que a permanência na escola é diária e se estende ao
longo de vários anos, os efeitos desse processo disciplinar de
subjetivação são notáveis. Foi a partir daí que se estabeleceu um tipo
muito especial de sociedade, à qual Foucault adjetivou de disciplinar
(VEIGA-NETO, 2007, p. 70-71).
Foucault (2008), no curso Segurança, Território e População (1977-1978),
mostra como a arte de governar estava bloqueada, entre os séculos XVI e XVIII, por
haver uma grande diferença entre, por um lado, o poder do soberano – que era amplo,
abstrato e rígido demais – e, por outro lado, o governo da família – que era estreito,
inconsistente e muito frágil. Era, então, necessário estabelecer uma forma de governo
que atingisse a todos, que atingisse a população. Segundo Foucault esse desbloqueio
ocorreu com a transição de uma sociedade de soberania para uma sociedade baseada na
gestão governamental (séculos XVI e XVIII), em que houve uma mudança de ênfase
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nas formas de exercício do poder. Para o autor tal transformação foi possível devido ao
surgimento – não no sentido de surgir pela primeira vez, mas no sentido de ter
visibilidade – das disciplinas ou de uma sociedade disciplinar (FOUCAULT, 2007), que
foram desbloqueando (século XVII) as artes de governar. A sociedade da soberania era
regida pelo poder do soberano em relação aos seus súditos e marcada por uma forma
severa de governar, em que eram utilizadas punições exemplares e suplícios públicos. A
sociedade disciplinar, que pode ser associada ao “surgimento da Modernidade”, marca a
implantação de uma série de transformações em que a espetacularização do exercício do
poder cede lugar ao desenvolvimento dos dispositivos disciplinares, sustentados pelo
advento das instituições de sequestro e disciplinamento dos corpos: o quartel, a prisão, o
hospital, a escola, a fábrica e o manicômio. Na sociedade disciplinar, a ênfase na forma
de exercer o poder está em tornar os corpos dóceis. Foi uma mudança no entendimento
das relações de poder.
Porém, com o passar dos tempos, a crise no modelo escolar da Modernidade
vem sendo nomeada por diversos autores. Dentre as transformações apontadas, pode-se
dizer que a escola vem perdendo seu lugar como a principal produtora das
subjetividades. Veiga-Neto (2006) expõe que uma parcela dos processos de
subjetivação que, anteriormente, ocorriam preponderantemente através da escola
disciplinar, está se deslocando para o espaço social mais amplo ou, mesmo que se
mantenha restrito ao espaço escolar, talvez venha a ser desenvolvida por meio de outras
estratégias. Assim, pode-se dizer que “abrem-se possibilidades interessantes de estudos
para o novo campo de saberes pedagógicos denominado Pedagogias Culturais”
(VEIGA-NETO, 2008, p. 15).
Dessa maneira, podemos entender que os processos de subjetivação passaram a
ocorrer, também, pelo vasto campo que as Pedagogias Culturais englobam. Para
Wagner e Sommer (2009) os processos formativos e educativos estão sendo forjados e
aplicados fora dos muros escolares: há uma centralidade da mídia e outras instâncias
sociais nesses processos. Essas Pedagogias operam pela sedução, colonizando o desejo,
capturando os indivíduos e produzindo formas padronizadas de sujeito. Pode-se dizer
que educam geralmente num mundo encantado que diverte e ensina, cria, sacia e recria
desejos. São as práticas culturais e/ou instituições que vão além da escola.
Nesse sentido, parece que as escolas estão tentando se adequar a essa realidade
importando para dentro de seus muros – e também tolerando – algumas dessas práticas
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que operam na subjetivação dos sujeitos. Há sempre sugestões de como “melhor”
utilizar a internet ou sobre como fazer a série de televisão virar assunto a ser debatido
nas classes ou ainda a respeito de como transformar a música do momento em uma
paródia que trate dos conteúdos a serem aprendidos. Para que isso ocorra, o que se tem
observado é que, de fato, há à disposição dos professores um grande número de
equipamentos e aparatos que, de certa forma, parecem dar conta das demandas trazidas
pelos alunos e se dizem poder melhorar os processos de ensino-aprendizagem.
O consumo desses artefatos, porém, não garante uma melhor eficácia no ensino
ou ainda a adequação da escola à velocidade e ao imediatismo do mundo
contemporâneo. Os desencaixes entre ambos ultrapassam a aquisição e operação das
tecnologias de informação e comunicação.
Não se trata dizer que, se a escola se atualizasse tecnologicamente – se
ela usasse melhor a informática, se ela usasse melhor a telemática, se
ela usasse melhor a educação a distância ou quaisquer outras
alternativas metodológicas e tecnológicas -, resolveríamos a coisa, ou
seja, colocaríamos de novo a escola naquele “bom caminho” do qual
ela parece ter saído. [...] mesmo se ela estivesse fazendo isso, ela
poderia ainda estar desencaixada do mundo de hoje (VEIGA-NETO,
2003, p.113).
Além disso, retomo que é preciso analisar que os sujeitos que compõe e
frequentam a escola são de tempos diferentes. Cada um opera de um modo com as
novas tecnologias, cada um se sujeitou à diferentes modos de subjetivação que os
constituiu de uma ou de outra maneira. Essa diversidade, esses desencaixes merecem
uma reflexão.
Alunos digitais
“As crianças de hoje nascem dentro da cultura consumista e crescem
modelando-se segundo seus padrões e suas normas. Talvez apenas um
pouco menos confortáveis nessa moldagem, os adultos também se
instalam e se conformam em seu interior” (COSTA, 2009, p. 35-36).
Na epígrafe, Costa (2009) aponta a ideia de que há uma diferença entre os
sujeitos de acordo com a época em que vivem ou viveram. Segundo a autora as crianças
que nascem dentro da lógica do consumo são moldadas a partir dela. Já os adultos
acomodam-se nesse lugar.
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Com relação à escola e aos seus equipamentos, podemos afirmar que os
sujeitos além de consumir de modo diferente, também se relacionam de outra maneira
com as tecnologias na medida em que foram subjetivados e sujeitados de forma diversa
durante suas vidas. Enquanto as crianças emergem dentro de um mundo tecnológico, os
adultos vão se encaixando dentro dele.
Para Rose (2003) há uma diversidade de estratégias e táticas de subjetivação
que têm se desenvolvido em diversas práticas, em diferentes momentos, e em relação a
diferentes classificações e diferenciações de pessoas. O ser humano é alvo de uma
multiplicidade de tipos de trabalho. Por isso, pensando nas subjetividades produzidas
pela mídia e pelas tecnologias de informação e de comunicação, entendo que sujeitos de
diferentes tempos subjetivam-se de diferentes modos.
Desse modo, entendendo que a produção das subjetividades não escapa dos
equipamentos coletivos de subjetivação (GUATTARI, 1993), tais como as máquinas
informacionais e computacionais, observa-se uma intensificação dos controles sobre o
corpo e sobre os processos de subjetivação.
A subjetivação é, assim, o nome que se pode dar aos efeitos da
composição e da recomposição de forças, práticas e relações que
tentam transformar – ou operam para transformar – o ser humano em
variadas formas de sujeito, em seres capazes de tomar a si próprios
como sujeitos de suas práticas e das práticas de outros sobre eles.
(ROSE, 2001, p.143).
Ao entender que os processos de subjetivação ocorrem de diversos modos em
relação aos diferentes tempos, estratégias e sujeitos, pode-se dizer que a escola possui
toda essa multiplicidade. Ao fazer um recorte, saliento que temos os “alunos digitais” –
nome pelo qual os nomeio nesta pesquisa pelo uso constante que imprimem às
tecnologias – habituados a manipular e a usufruir de todos os recursos que uma
tecnologia oferece e, temos os professores, aprendizes desse mundo e estudantes dessas
inovações. São esses outros papéis que têm relativizado as relações de poder dentro da
sala de aula.
O que nos instiga a pensar é que parece não ser suficiente que todos tenham
acesso às tecnologias. Embora, atualmente, os professores possam adquirir seus
computadores financiados pelas linhas de crédito ofertadas pelos Governos ou os
recebam gratuitamente ou ainda tenham a sua disposição nas escolas os variados
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equipamentos, isso não quer dizer que os professores os utilizem do mesmo modo que
os seus alunos. Por outro lado, se ambos tiverem domínio desses aparatos, mesmo
assim, a relação que eles estabelecem com as tecnologias é diferente na medida em que
os processos de subjetivação pelos quais passaram são outros.
Considerações finais
As características do modelo escolar da Modernidade ainda permanecem na
escola de hoje: a regulação do tempo, o ordenamento das filas, os exames, a divisão e a
sistematização dos conteúdos, etc.. Em contrapartida temos a inserção das tecnologias
de informação e comunicação que invadem a escola tentando dar conta dos desencaixes
existentes entre o mundo atual e a própria escola.
O fato é que essas inovações são vistas por muitos como se não fizessem parte
do cotidiano escolar, como se estivessem fora do mundo, em uma exterioridade. Já para
os alunos elas são uma extensão de si mesmo, fazem parte de suas vidas e os atraem por
serem velozes, efêmeras, interativas e produzem sensação de liberdade mesmo que os
mantenham sempre conectados. Não obstante, ainda podemos dizer que essas
tecnologias estão articuladas com o mundo atual e podem ser compreendidas dentro da
racionalidade neoliberal que conduz nossa sociedade, em que a competição e o consumo
são seus princípios. “O princípio de inteligibilidade do neoliberalismo passa a ser a
competição: a governamentalidade neoliberal intervirá para maximizar a competição,
para produzir liberdade para que todos possam estar no jogo econômico” (SARAIVA;
VEIGA-NETO, 2009, p.189).
Ressalto que este texto não teve a intenção de mostrar que os professores estão
aquém dos avanços tecnológicos e devem se atualizar – como faz a maioria das
pesquisas atuais que defendem os ditos avanços na educação na medida em que as
escolas passam a ter equipamentos digitais. Também não quis levantar a bandeira da
indiferença frente às transformações que ocorrem cotidianamente.
O interesse foi
enxergar esse processo sob outra perspectiva na tentativa de entender o desalinho entre
professores e alunos referente ao foco das tecnologias.
Assim, o que podemos perceber são as diferenças com que cada sujeito se
relaciona com esses artefatos. Na maioria das vezes, os efeitos causados pelas formas de
subjetivação que cada um passou em suas vidas lhes conferem um distanciamento
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tecnológico. Tais movimentos, então, tendem a relativizar as relações de poder dentro
da escola na medida em que os saberes sobre as tecnologias e os seus usos são
diferentes.
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