30 DE OUTUBRO DE 2008 Luís Rodrigues § 1 Questão tratada pelo artigo: O que é saber que algo é o caso? Primeira condição: Que aquilo que é conhecido seja verdade. Mas isto não é suficiente para podermos atribuir conhecimento. Portanto... Segunda condição: Que alguém tenha a certeza (esteja seguro) que algo é verdade. Mas a conjunção das duas condições anteriores pode não ser suficiente para podermos atribuir conhecimento. Exemplo: a crença supersticiosa que acerta na verdade por sorte. A crença é verdadeira e o agente está certo que é verdadeira, não por ter boas razões mas por ter uma superstição (fé ou algo do género) § 1 Não sendo difícil encontrar exemplos de crenças que não satisfazem os standards (critérios) do conhecimento, não é fácil identificar esses standards. Exercício 1— explique resumidamente o problema levantado por esta afirmação. § 2 Uma forma de tentar descobrir esses standards é encontrar respostas plausíveis para a questão Como é que sabes? As respostas podem passar por perceber a forma como, e com o quê, as pessoas apoiam as suas crenças. (Ver exemplos no texto). Mas apoiar uma crença, mesmo com o tipo de evidência que parece mais indicada para a apoiar, pode não ser suficiente para podermos atribuir o estatuto de conhecimento a essa crença. Será necessário, além disso, que essa evidência — oriunda de várias fontes, percepção, memória, testemunho, etc.— seja de facto fiável, forte e eficaz de modo a fazer com que a crença por ela apoiada possa ter o estatuto de conhecimento. Podemos perceber (intuitivamente?) quando é que o que apoia uma crença é suficiente para que a crença seja conhecimento, mas é difícil perceber que condições têm de ser satisfeitas para que as diferentes fontes de evidência sejam suficientes. § 3 Há casos em que é atribuível conhecimento a alguém mas i) nem essa pessoa que tem conhecimento consegue explicar como sabe o que sabe, nem ii) se consegue dar uma boa explicação sobre como é que ela sabe o que sabe. Exercício 2 – identifique e explique resumidamente os exemplos de (i) e (ii) sugeridos por Ayer neste parágrafo. § 5 O que diferencia crença verdadeira de conhecimento? O que diferencia uma série de palpites sortudos sobre uma determinada coisa (por exemplo, o resultado da lotaria) do conhecimento dessa coisa? O agente pode não encontrar diferenças entre os dois estados quando aprecia e avalia a sua própria situação epistémica, pois pode não conseguir distinguir o seu estado de conhecimento e o estado de mera crença verdadeira. (Do nosso ponto de vista de observadores externos) A diferença entre os dois estados é que no caso de ter conhecimento o agente tem o direito de ter a certeza (ou de estar seguro) que aquilo em que acredita é o caso, enquanto no caso de ter apenas uma crença verdadeira não tem esse direito (ou está suspenso). § 5 Esse direito é ganho (ou não) pelo agente em função da sua boa (ou má) performance epistémica. O direito de ter a certeza é conferido a quem tiver um comportamento epistémico louvável e bem-sucedido. O não reconhecimento dos critérios correcto para o direito de ter a certeza atribuível a quem satisfaz estas condições implica que quem não faça esse reconhecimento tenha uma compreensão deficiente e faça um mau uso da expressão “Sabe que...” e do verbo conhecer. Podem todavia existir usos de “sabe que...” em não é possível aplicar os critérios correctos para atribuição de conhecimento, caso em que é difícil decidir se é ou não rotular esses casos como casos de conhecimento. § 6 A estipulação arbitrária de critérios para atribuição de conhecimento é inútil Exercício 3 – Explique qual é para Ayer a principal razão desta inutilidade. Se colocarmos a fasquia para o conhecimento muito alta arriscamos remeter muito do que consideramos ser conhecimento para o domínio da opinião provável. Exercício 4 – Diga resumidamente porquê. § 7 Não se pode confundir a estipulação de critérios e nomes de critérios para avaliar atribuições de conhecimento com a descoberta desses critérios. No segundo caso há trabalho filosófico envolvido, no primeiro não. O céptico não discorda connosco sobre o significado de “sabe que...” mas sim sobre os casos (na opinião do céptico, poucos ou nenhuns) em que podemos aplicar correctamente esta expressão, quer dizer, fazer uma atribuição de conhecimento. O céptico discorda connosco acerca das razões que temos para definir o critério ter o direito de ter a certeza, argumentando que sobreavaliamos esse critério e as razões de que dispomos para o aceitar. § 8 Conclui-se que as condições necessárias e suficientes para saber que algo é o caso são Primeiro, que se saiba a verdade sobre o que sabemos. Segundo, que estejamos certos e seguros acerca daquilo que sabemos. Terceiro, que tenhamos o direito de ter a certeza sobre o que sabemos. É muito difícil ou mesmo impossível descrever as condições sob as quais esta terceira condição obtém. Exercício 5 – Com base no Ayer afirma no restante deste parágrafo, explique por que razão a possibilidade do conhecimento não depende de uma definição do conhecimento.