Mecanismos de Ação dos Antimicrobianos & Mecanismos de Resistência Bacteriana Profa. Cláudia R. V. de Mendonça Souza Microbiologia Clínica Depto. de Patologia Universidade Federal Fluminense CONCEITOS Antibiótico: substância produzida naturalmente por microrganismos capaz de inibir ou destruir outros microorganismos. Antimicrobiano: substância (natural ou química) com ação inibitória contra bactérias. Quimioterápico: substância sintética, com ação inibitória contra microrganismos, vírus ou células neoplásicas. Espectro de ação Estreito: contra Gram positivas (penicilinas naturais, glicopeptideos); contra Gram negativas (polimixinas). Amplo: contra Gram positivas e negativas (tetraciclinas, sulfas, cefalosporinas, carbapenêmicos...). FATORES QUE INTERFEREM NA AÇÃO DO ANTIMICROBIANO A partir dos estudos farmacodinâmicos antimicrobianos podem ser classificados em: os Tempo-dependentes Concentração-dependentes Tempo-dependentes (vancomicina, b-lactâmicos): São aqueles que têm sua ação regida pelo tempo de exposição das bactérias às suas concentrações séricas e teciduais. A ação destes antimicrobianos independe dos níveis séricos que atingem, mas dependem do tempo que permanecem acima da concentração inibitória mínima para o microrganismo em questão. Concentração ou dose-dependentes: São aqueles que exibem propriedades de destruição de bactérias em função da concentração, isto é: Quanto maior a concentração da droga, mais rápida a erradicação do patógeno. Aminoglicosídeos e Quinolonas ----- (1910) 606:Salvarsan Alexander Fleming – Descoberta da Penicilina (1928) Florey & Chain – 1940 Produção da Penicilina Streptomyces Bacillus Penicillium Cephalosporium 1935 SULFONAMIDAS MECANISMOS BÁSICOS DE AÇÃO ANTIMICROBIANOS: MECANISMOS BÁSICOS DE AÇÃO Inibição da síntese da parede celular Inibição da síntese de proteínas Inibição da síntese de ácidos nucléicos Alteração da membrana Alteração de via metabólica Inibição da Síntese da Parede Celular N-Acetil-murâmico N-Acetil-glicosamina Ligações peptídicas www.warwick.ac.uk/.../H_StoryB/peptidoglycan.jpg b-lactâmicos Glicopeptídeos PENICILINAS CEFALOSPORINAS MONOBACTÂMICOS CARBAPENÊMICOS VANCOMICINA TEICOPLANINA Inibição da Síntese da Parede Celular Os b-lactâmicos se ligam às PBPs (“Proteínas Ligadoras de Penicilina”) impedindo as ligações cruzadas da parede celular. b-lactâmicos PENICILINAS Penicilinas naturais - Penicilina G - Penicilina V Penicilinas semi-sintéticas 1. Resistentes à ação das b-lactamases - Oxacilina - Meticilina 2. De amplo espectro - Ampicilina - Amoxicilina Associação de b-lactâmico + inibidor da b-lactamase - Amoxicilina/clavulanato (® Clavulin) - Amoxicilina/sulbactam (® Unasyn) - Piperacilina/tazobactam (® Tazocin) b-lactâmicos CEFALOSPORINAS 1a Geração: - Cefalotina (® Keflin) - Cefalexina (® Keflex) 3a Geração: - Cefotaxima (® Claforan) - Ceftriaxona (® Rocefin) - Ceftazidima (® Fortaz) 2a Geração: - Cefoxitina (® Mefoxin) - Cefuroxima (® Zinacef) 4a Geração: - Cefpirona (® Cefron) - Cefepima (® Maxcef) b-lactâmicos MONOBACTÂMICOS - Aztreonam (® Azactam) CARBAPENÊMICOS - Imipenem (® Tienam) - Meropenem (® Meronem) - Ertapenem (® Invanz) Glicopeptídeos - Vancomicina (® Vancocina) - Teicoplanina (® Targocid) Inibição da Síntese da Parede Celular Os glicopeptídeos se ligam ao dipeptídeo terminal (D-ALANINA/D-ALANINA), dos precursores do peptidioglicano impedindo a formação das ligações cruzadas. b-lactãmicos Glicopeptideo Inibição da Síntese de Proteínas Aminoglicosídeos - Amicacina (®Amicacina) - Arbecacina (®Harbekacin) - Gentamicina (®Gentamicina) - Netilmicina (®Netrocina) Macrolídeos - Eritromicina (®Pantomicina; Ilosone) - Claritromicina (® Klaricid) - Azitromicina (® Zitromax) Lincosaminas - Lincomicina (® Frademicina) - Clindamicina (® Dalacin C) Tetraciclinas - Doxiciclina (® Vibramicina) - Minociclina (® Minomax) Cloranfenicol Glicilciclinas - Tigeciclina (® Tigacyl) Oxazolidinonas - Linezolida (® Zivox) Estreptogramina - Quinupristina/dalfopristina (® Synercid) - Pristinamicina (® Piostacina) Inibição da Síntese de Ácidos Nucleicos Quinolonas - Ácido nalidíxico (®Wintomylon) - Ciprofloxacina (®Cipro) - Norfloxacina (®Floxacin) - Levofloxacina (®Levaquin) - Gatifloxacina (®Tequin) Rifampicina (®Rifaldin) Metronidazol (®Flagyl) Alteração da membrana externa - Lipopeptídeos (ação contra Gram negativos) - Polimixina B - Colistina Alteração de via metabólica - Sulfametoxazol-trimetoprim (®Bactrim) Resistência Bacteriana Intrínseca Enterobactérias: penicilina G, vancomicina, macrolídeos, linezolida ... Proteus mirabilis: colistina, tetraciclina... Enterococcus: cefalosporinas, aminoglicosídeos (baixos níveis)... Pediococcus e Leuconostoc: vancomicina. Klebsiella spp: ampicilina, amoxicilina... Resistência Bacteriana Adquirida Mutações Processos de Recombinação Genética (Conjugação, Transformação e Transducção) Transposição (transposons) Modificação do Sítio de Ação b-LACTÂMICOS AMINOGLICOSÍDEOS QUINOLONAS Com a mudança estrutural do alvo, o antimicrobiano perde a capacidade de se ligar ao sítio Antibiótico Sítio Modificado Parede Celular Alteração estrutural do sítio de ação: Ligação bloqueada Interior da bactéria Alteração de Acesso ao Sítio Alvo: Diminuição da Permeabilidade b-LACTÂMICOS QUINOLONAS Antibimicrobianos geralmente entram nas bactérias através de canais protéicos (porinas) da parede celular de BGN Antibiótico Porina Parede Celular Interior da bactéria Alteração do Acesso ao Sítio Alvo: Bombas de Efluxo TETRACICLINAS QUINOLONAS MACROLÍDEOS Bombas no interior da bactéria fazem com que, assim que o antimicrobiano entra na célula, ele seja lançado para o meio externo Antibiótico Porina Entrada Saída Cell wall Interior da bactéria Bomba Ativa Inativação do Antibiótico b- LACTÂMICOS AMINOGLICOSÍDEOS CLORANFENICOL As enzimas destroem ou modificam o antimicrobiano Antibiótico destruído Antibiótico alteredo, Previne a ligação Antibiótico Enzyme Sítio de Ação Parede Celular Interior da bactéria PRINCIPAIS MECANISMOS DE RESISTÊNCIA BACTERIANA ENZIMA ALTERAÇÃO DO ALVO PERMEABILIDADE DIMINUIDA BOMBA DE EFLUXO PRINCIPAIS PATÓGENOS ENVOLVIDOS COM RESISTENCIA S. aureus resistente a meticilina: HA- MRSA, CA-MRSA Streptococcus pneumoniae resistente a penicilina Enterococcus resistente a vancomicina: VRE Escherichia coli e Klebsiella pneumoniae produtores de blactamases de espectro ampliado: ESBL Klebsiella pneumoniae produtora de carbapenemase: KPC Pseudomonas aeruginosa produtora de metalo-beta-lactamase: MbL Acinetobacter produtor de carbapenemase (oxacilinases): OXAs Resistência em S. aureus Década de 40: resistência a penicilina Resistente a: PRODUÇÃO DE bLACTAMASE (Atualmente: >90%) - Penicilinas naturais - Penicilinas de amplo-espectro Sensível a: - Oxacilina - Cefalosporinas - Carbapenêmicos Resistência em S. aureus Década de 60: resistência a meticilina PRODUÇÃO DE PBP ALTERADA: PBP2a (gene mec A) SCCmec (Cassete Cromossômico estafilocócico) Resistente a: - Oxacilina (MRSA/ORSA) -TODOS os b-lactâmicos - NOVA CEFALOSPORINA: CEFTAROLINA (S) Década de 80: Ca-MRSA (Comunity Adquired). - Cepas mais sensíveis às outras classes de antimicrobianos, porém, geralmente mais virulentas (PVL) Resistência em S. aureus Década de 90: resistência a vancomicina 1996: VISA (Japão/EUA) 2002: VRSA (EUA; gene vanA – 12 cepas até 2012) 2013: Brasil (06/13 - São Paulo) Epidemiological Alert: Vancomycin-resistant Staphylococcus aureus 27 June 2013 RESISTÊNCIA EM ENTEROCOCOS - VRE Ocorrência de VRE no Brasil 1996: primeiro relato de isolamento de amostras com resistência a vancomicina em Curitiba, PA. E. faecium vanD 2000: Hospital Pedro Ernesto, Rio de Janeiro, RJ e Porto Alegre, RS. E. faecalis vanA 2002: Hospital Universitário Antônio Pedro, Niterói, RJ. E. faecalis, vanA. Distribuição temporal de amostras de Enterococcus faecium resistentes a vancomicina isoladas em hospitais do estado de Rio de Janeiro (2002-2006) Magda de Souza Conceição Bactérias Gram negativas Klebsiella pneumoniae e Escherichia coli: ESBL e KPC Pseudomonas aeruginosa e Acinetobacter spp.: MbL (SPM) e OXA PRODUÇÃO DE b-LACTAMASES b- LACTAMASES (esquema de Ambler) • Classe A: penicilinases, b-lactamases de espectro estendido (ESBL), carbapenemases (KPC) • Classe B: Metalo-b-lactamase (carbapenemases) • Classe C: b-lactamase cromossômica (plasmidial em algumas espécies) • Classe D: carbapenemases) oxacilinases (algumas: Enzimas de amplo espectro: penicilinas de amplo espectro e cefalosporinas de 1ª geração Enzimas de espectro estendido: cefalosporinas de 1ª, 3ª e 4ª e aztreonam Metalo-b-lactamases: todos os b-lactâmicos com exceção do aztreonam KPC: cefalosporinas de 1ª, 3ª e 4a geração e carbapenêmicos Localizados em elementos genéticos móveis! KPC: Detecção Laboratorial Detecção de Carbapenemases* IPM KPC: K. pneumoniae produtora de ESBL já tem relatosfalso em P. * Amostras hiperprodutoras de AmpC podeme dar resultados + aeruginosa Teste negativo Teste positivo CAZ IPM CAZ IPM Figura 2. Disseminação mundial das diferentes classes de metalo-beta-lactamases Fonte: Metallo-B-lactamases: a last frontier of b-lactams?. Cornaglia, G. et al., 2011. Agência Nacional de Vigilância Sanitária COMUNICAÇÃO DE RISCO NO 001/2013 GVIMS/GGTES-ANVISA Circulação de micro-organismos com mecanismo de resistência denominado "New Delhi Metalobetalactamase" ou NDM no Brasil. 3 de abril de 2013 Providencia rettgeri Conclusões Resistência microbiana é um problema global em ascensão. A redução da emergência de cepas resistentes e a prevenção da sua disseminação requer, entre outras medidas: uso criterioso dos antimicrobianos, & aderência rigorosa às recomendações para o controle de infecção hospitalar.