Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal Hospital Regional da Asa Sul Residência Médica em Infectologia Pediátrica II Curso de Antimicrobianos do Hospital Regional da Asa Sul JEFFERSON A. P. PINHEIRO Supervisor da Residência Médica em Infectologia Pediátrica Médico Assistente da Enfermaria de DIP do HRAS/SES/DF www.paulomargotto.com.br 8/5/2009 Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal Hospital Regional da Asa Sul Residência Médica em Infectologia Pediátrica Penicilinas JEFFERSON A. P. PINHEIRO Supervisor da Residência Médica em Infectologia Pediátrica Médico Assistente da Enfermaria de DIP do HRAS Considerações Gerais Fatores de influência antimicrobianos sobre a prescrição de O conhecimento e as percepções do prescritor Interação do prescritor com o paciente Expectativas do paciente Características sócio-econômicas e do sistema de saúde Programa de uso racional dos antimicrobianos em instituições de saúde Otimização das prescrições Minimização dos efeitos colaterais Organização Pan-Americana da Saúde. Curso Uso racional de antimicrobianos para prescritores. 2008. Caso Clínico Criança com 5 anos de idade, iniciou quadro de febre (39 ºC) persistente, vômitos (02 episódios/dia), cefaléia frontal e mialgia. Procurou após 3 dias de evolução dos sintomas atendimento em PSI, sendo observado placas esbranquiçadas em amígdalas e hiperemia de orofaringe, sem outros achados. Foi então instituído tratamento com Penicilina Benzatina 600.000 UI + Despacilina 400.000 UI intramuscular e orientado sintomáticos. Após 40 minutos de sua liberação, retorna ao PSI com placas eritemato-pruriginosas e desconforto respiratório; sendo internado, administrado adrenalina intramuscular e mantido sob monitorização. Após melhora do quadro foi liberado em uso de Hixizine (4,5 ml VO 12/12h) por 5 dias. Evoluiu com persistência da febre e piora do estado geral, retornando para reavaliação. Após ser examinado foi instituído tratamento com amoxicilina/clavulanato por 7 dias, apresentando melhora após 72h de tratamento. Discussão Clínica Diagnóstico Tratamento inicial Efeitos adversos Tratamento final Febre persistente (39 ºC) / vômitos / cefaléia / mialgia Placas esbranquiçadas / hiperemia orofaringe Penicilina Benzatina 600.000 UI + Despacilina 400.000 UI Anafilaxia Amoxicilina / clavulanato por 7 dias Discussão Clínica Diagnóstico Amigdalite Febre persistente (39 ºC) / vômitos/ cefaléia / mialgia Placas esbranquiçadas / hiperemia orofaringe Período incubação: 2 a 4 dias Febre alta / vômitos / odinofagia / cefaléia / calafrios Orofaringe Enantema Hipertrofia amígdalas, hiperemia e exsudato Pequenas lesões puntiformes eritematosas em palato MARCONDES, E.; et al. Pediatria Básica: pediatria clínica geral. 9ª ed. ; 2003. Discussão Clínica Tratamento inicial Penicilina Benzatina 600.000 UI + Despacilina 400.000 UI Considerações Indicação da associação Diminuição da dor Ação mais rápida Menos efeitos adversos Resposta clínica CONCENTRAÇÃO SÉRICA U/ml SENSIBILIDADE – U/ml 8 Gonococo – 0,5 Penicilina G cristalina Pneumococo – 0,1 Meningococo – 0,1 Estreptococo – 0,01 Treponema – 0,005 1 0,3 Penicilina G procaína Penicilina G benzatina 0,1 0,02 4h 8h 24h 7 dias Níveis séricos de penicilina circulante após administração IM de mesma dose das diferentes apresentações da penicilina G Adaptado de: TAVARES, W. Antibióticos e quimioterápicos para o clínico. 2007. Discussão Clínica Efeitos adversos Anafilaxia Mecanismos de reação à droga Reativas com proteínas autólogas Variações individuais nas vias de metabolização Componente familiar padrão individual não é herdado Hipersensibilidade imediata por IgE (tipo I) Tratamento final Amoxicilina / clavulanato por 7 dias Penicilinas Alexander Fleming (1928): Penicillium notatum inibia o crescimento bacteriano Chain, Florey et al. (1940): identificação da penicilina Antibiótico B-lactâmico Penicilinas naturais e semisintéticas ◦ Naturais Penicilinas (F,G,K,O,X,V) Penicilinas Mecanismo de ação: inibição da síntese da parede celular Inibição de enzimas transpeptidase, carboxipeptidase e endopeptidase Ativação do sistema autolítico endógeno da bactéria. Penicilinas Mecanismos de resistência: Produção de B-lactamases: Penicilinases Modificação sítio de ligação da PBP Alteração da permeabilidade Penicilinas De acordo com espectro de atividade antimicrobiana: Penicilinas naturais Penicilinas penicilinase-resistentes Aminopenicilinas Penicilinas de espectro ampliado Penicilinas associadas aos inibidores de B-lactamase Penicilinas Naturais Penicilinas Naturais Espectro de ação: Streptococcus do grupo A,B,C,D,G, viridans Streptococcus pneumoniae Staphylococcus aureus * Neisseria meningitidis e N. gonorhoeae Treponema pallidum Leptospira spp Bacillus anthracis Corynebacterium diphteriae Streptobacillus moniliformis Actinomyces israelii Clostridium spp, peptostreptococos Penicilinas Naturais Indicações clínicas: Infecções por treponemas, clostridios e neisserias Faringoamigdalite estreptocócica Infecção de pele e partes moles (fasciite necrozante) Pneumonias por gram-positivos Sífilis Febre reumática Profilaxia de infecção pneumocócica em asplenia anatômica ou funcional Difteria Penicilinas Naturais Formulações Penicilina G Cristalina Penicilina G Benzatina Penicilina G Procaína Penicilina V Penicilinas Naturais Penicilina G Cristalina (Pencil P®) Administração EV ou IM* e alta concentração sérica da droga Concentração plasmática máxima : 30 a 60 minutos Excreção renal rápida, indetectável num período de 3 a 6 h. Pouco metabolizada no fígado; inativada em exsudatos purulentos (amidase) A droga deve ser dada em intervalos de quatro a seis horas. Dose: 100 000 a 400 000 UI/kg/dia. Penicilinas Naturais Penicilina G Benzatina (Benzetacil®) Administração IM com liberação lenta e baixa concentração sérica da droga Concentração plasmática máxima : 8 horas Nível sérico prolongado até 30 dias No RN devido imaturidade renal: tempo de circulação da droga mais prolongado Dose: 50.000 UI/kg até 25kg - 1.200.000 UI acima de 25 Kg Penicilinas Naturais Penicilina G Procaína (Despacilina®) Administração IM com liberação lenta e baixa concentração sérica da droga Concentração plasmática máxima de duas a quatro horas e níveis séricos da droga são detectados por até 24 horas. Formulação mais alergênica das penicilinas naturais Dose: 600.000 UI/dia em intervalos de 12 a 24 horas Penicilinas Naturais Penicilina V (Pen-Ve-Oral®) Administração VO, maior resistência à inativação ácida Absorção diminuída pelos alimentos e de forma irregular Intolerância gástrica em adultos. Bem tolerada pelas crianças Dose: 40.000 a 50.000 UI/Kg/dia (20 a 40mg/kg/dia) em intervalos de 6 horas Penicilinas Naturais Efeitos adversos Efeitos irritativos locais: dor, induração, abscessos estéreis e flebites Manifestações de hipersensbilidade: 0,7 a 10% dos pacientes Urticária, febre, eosinofilia, eritema nodoso, asma, rinite Choque anafilático (0,004 a 0,04% dos casos com 1 óbito / 100.000 pacientes) Vasculite generalizada, edema de glote, Steven-Johnson Mecanismos de reação à droga Reativas com proteínas autólogas Componente familiar padrão individual não é herdado Hipersensibilidade imediata por IgE (tipo I) Penicilinas Resistentes à Penicilinases Penicilinas Resistentes à Penicilinases Oxacilina (Staficilin N®) Isoxazolpenicilinas cloxacilina, dicloxacilina e flucloxacilina Administração endovenosa, com ação contra gram-positivos especialmente contra estafilococos aureus Eliminação renal e bile. Não sofrendo acúmulo em renais crônicos. Poucos efeitos adversos. Indicação: infecções estafilocócicas Dose: 100 a 200 mg/Kg/dia em intervalos de 4 a 6 horas Aminopenicilinas Aminopenicilinas (Penicilinas de 2ª geração) Ampicilina (Binotal®): 1960 Uso oral (absorção irregular – 20 a 30%) e endovenoso. Com ação contra gram-positivos e negativos. Inativada pela ação de B-lactamase estafilocócica e de bacilos gram-negativos. Eliminação renal e bile. Pequena metabolização hepática. Indicação: infecções por enterococo, meningoencefalite por listeria e estreptococos do grupo B Dose: 100 a 400 mg/Kg/dia em intervalos de 6 horas Aminopenicilinas (Penicilinas de 2ª geração) Amoxicilina (Amoxil®): 1970 Uso oral e endovenoso. Com ação contra gram-positivos e negativos. Inativada pela ação de B-lactamase estafilocócica e de bacilos gram-negativos. Produz níveis séricos elevados por 8h podendo chegar a 12h. Eliminação renal e bile. Não sofre interferência dos alimentos Dose: 50 a 100 mg/Kg/dia em intervalos de 8 a 12 horas Penicilinas de amplo espectro Penicilinas de amplo espectro (Penicilinas de 4ª geração: Ureidopenicilinas) Piperacilina: 1976 Uso endovenoso. Com ação contra gram-negativos (Serratia, Pseudomonas, Acinetobacter, Klebsiella, Enterobacter, Proteus e anaeróbios. Inativada pela ação de B-lactamase de origem plasmidial de bacilos gram-negativos. Produz níveis séricos elevados por 8h a 12h. Eliminação principalmente biliar. Não sofre interferência dos alimentos Utilizada em associação com tazobactam (Tazocin®) Dose: 200 a 300 mg/Kg/dia em intervalos de 4 a 6 horas Caso Clínico Criança com 7 anos de idade, iniciou quadro de tosse produtiva, febre (38 ºC) persistente, coriza mucopurulenta e mialgia. Após 48h do início dos sintomas procurou atendimento em um pronto-socorro infantil (PSI), sendo diagnosticado através do exame físico Pneumonia e prescrito Penicilina Benzatina 1.200.000 UI intramuscular e orientado sintomáticos para casa. Evoluiu com persistência do quadro febril, piora do estado geral e dispnéia. Procurou novamente atendimento no PSI no 5º dia do início do quadro, com piora clínica, sendo realizado Rx de tórax que evidenciou condensação em lobo inferior direito; hemograma (Hem: 4,5 / Hb: 10,2 / Ht: 29,5 / leucócitos: 20.000 / seg: 79% / bast: 7% / linf: 12% / mon: 2% ) e VHS: 40 mm/h. Diante dos resultados dos exames, foi internado e iniciado Penicilina Cristalina 200.000 UI /Kg/dia de 4/4h. Fez uso deste antibiótico por 2 dias, evoluindo com piora do desconforto respiratório, persistência da febre e toxemia. Caso Clínico Foi então colhido hemocultura, repetido os exames iniciais e trocado o esquema para oxacilina associado à gentamicina. O Rx de tórax evidenciou pequeno derrame pleural e presença de pneumatoceles em hemitórax direito. No hemograma: Hem: 4 / Hb: 8,6 / Ht: 25 / leucócitos: 32.000 / seg: 74% / bast: 9% / Linf: 10 / mon: 2% / metamielócitos: 3% / mielócitos: 2%) e VHS: 52mm/h. Evoluiu após 48h da troca do esquema antimicrobiano com piora clínica apresentando hipotensão, insuficiência respiratória, perfusão lenta, oligúria; sendo então transferido à UTI pediátrica onde foi intubado e colocado sob ventilação mecânica com altos parâmetros. Após melhora parcial dos parâmetros hemodinâmicos foi optado por trocar novamente o esquema para Meropenem e Vancomicina. Sendo que no mesmo dia a criança foi a óbito. Após revisão dos exames foi observado hemocultura positiva para S. aureus sensível à oxacilina e vancomicina. Discussão Clínica Tratamentos Penicilina benzatina 1.200.000 UI IM dose única Penicilina cristalina 200.000 UI /Kg/dia de 4/4h Oxacilina + gentamicina Meropenem + vancomicina Diagnósticos Resposta terapêutica Penicilina G Aminopenicilinas Carboxipenicilinas Ureidopenicilinas Gram –negativos: Proteus, Gram –negativos: Klebsiella Serratia Pseudomonas Gram -positivos enterococo listeria Gram-positivos Anaeróbios Poucos gram negativos Gram –positivos e negativos: H. influenzae M. catarrhalis N. gonorrhoeae e menigitidis, Escherichia coli Proteus mirabilis Enterobacter Morganella Pseudomonas B.fragilis “É possível que nos próximos anos uma combinação de antibióticos com diferentes espectros proverão um crivo terapêutico, do qual cada vez menos bactérias escaparão”. Alexander Fleming (1946)