Biofísica Potencial de repouso e equação de Nernst Prof. Dr. Walter Filgueira de Azevedo Jr. wfdaj.sites.uol.com.br BIOFÍSICA Resumo Conceitos simples de eletricidade Características elétricas da membrana celular Bomba de Na+/K+ Canais iônicos Potencial de repouso Equação de Nernst Referências wfdaj.sites.uol.com.br © 2006 Dr. Walter F. de Azevedo Jr. BIOFÍSICA Conceitos Simples de Eletricidade Diferença de potencial (Voltagem): Colocando-se eletrotodos dentro e fora de célula temos uma diferença de potencial de – 70 mV, ou seja, há um potencial negativo de 70 mV no interior da célula em relação ao meio externo. O instrumento usado para medir a diferença de potencial é o voltímetro, sua colocação está representada do diagrama esquemático abaixo. Voltímetro V I Neurônio wfdaj.sites.uol.com.br + Eletrodos © 2006 Dr. Walter F. de Azevedo Jr. BIOFÍSICA Conceitos Simples de Eletricidade Corrente elétrica (I): É o movimento de cargas elétricas em meios condutores, é medida em Ampères (A), o que equivale a 1 Coulomb/segundo, uma unidade relativamente grande para os propósitos da biofísica, assim normalmente trabalha-se com submúltiplos desta unidade física, tais como, miliampère (mA, 10-3 A), microampère (A, 10-6), nanoampère (nA, 10-9) e picoampère (pA, 10-12 A). As cargas para os fenômenos elétricos na membrana celular são íons, tais como, Na+,K+, Ca++ e Cl-. Amperímetro A I Neurônio wfdaj.sites.uol.com.br + Eletrodos © 2006 Dr. Walter F. de Azevedo Jr. BIOFÍSICA Método para Medir o Potencial de Repouso Axônio Amplificador Neurônio Eletrodos +++++++++++++++++++++++++ Meio extracelular -------------------------------------------Meio intracelular -------------------------------------------- +++++++++++++++++++++++++ wfdaj.sites.uol.com.br -70mV Oscilóscopio Dois eletrodos, inseridos no axônio de um neurônio em repouso, detectam a pequena diferença de potencial, entre os meios extra e intra celular, esse sinal é amplificado e mostrado num osciloscópio. BIOFÍSICA Comportamento Elétrico da Membrana Celular Membrana como circuito RC. A análise do comportamento elétrico da membrana celular permite traçarmos uma analogia com um circuito paralelo resistivo-capacitivo (RC). C: Capacitância do capacitor, é a relação entre a quantidade de carga elétrica (Q) e a voltagem (V), sua unidade é o Farad (F). 1 F = 1 Coulomb/Volt. R: Resistência elétrica, é a oposição à passagem da corrente elétrica, mede-se em Ohms (). wfdaj.sites.uol.com.br S C © 2006 Dr. Walter F. de Azevedo Jr. R V BIOFÍSICA Comportamento Elétrico da Membrana Celular ++++++++++++++++++++++++ +++++ R ----- ------------------------ Circuito RC wfdaj.sites.uol.com.br Modelo de membrana celular © 2006 Dr. Walter F. de Azevedo Jr. BIOFÍSICA Centro de Reação Fotossintética de Rhodopseudomonas viridis Exterior da célula Citoplasma wfdaj.sites.uol.com.br © 2006 Dr. Walter F. de Azevedo Jr. BIOFÍSICA Resistência Elétrica das Membranas Rigidez elétrica. Resistência elétrica é a oposição do meio à passagem da corrente elétrica, quanto maior a resistência elétrica, pior condutor é o meio. Dados experimentas sobre modelos de membrana artificiais apresentam resistência elétrica na faixa de 106 a 109 .cm2, esses valores excedem em muito aos observados para membranas celulares, que variam na faixa de 103 a 104 .cm2 (Weidmann, 1952, 1970). A inclusão de proteínas nas membranas artificiais reduzem consideravelmente a resistência elétrica das membranas artificiais, o que ressalta o papel das proteínas nos modelos de membranas celulares. Referências: Weidmann, S. (1952). J. Physiol., 118:348-360. Weidmann, S. (1970). J. Physiol., 210:1041-1054. Fonte: Garcia, E. A. C. Biofísica. Editora Savier, 2000 (pg. 8). wfdaj.sites.uol.com.br © 2006 Dr. Walter F. de Azevedo Jr. BIOFÍSICA Permeabilidade Elétrica das Membranas Permeabilidade elétrica. Estudos realizados por Dean em 1941 indicaram que a membrana celular é permeável a íons como sódio e potássio, foram utilizados íons radioativos, que permitiram verificar a alta concentração de sódio e e baixa concentração de potássio no meio extracelular, quando comparado com o meio intracelular. A explicação de Dean para tal observação foi a seguite: “some sort of pump possibly located in the membrane which can pump out sodium or, what is equivalent, pump in the potassium”. A descoberta da bomba de sódio/potássio viria a confirmar a previsão de Dean. Referência: Dean, R. B. (1941). Biol. Symp., 3:331-348. Fonte: Garcia, E. A. C. Biofísica. Editora Savier, 2000 (pg. 8). wfdaj.sites.uol.com.br © 2006 Dr. Walter F. de Azevedo Jr. BIOFÍSICA Bomba de + + Na /K Em 1955 Hodgkin e Keynes, realizando experimentos com axônio de sépia (Sepia officinalis), determinaram que havia transporte do íon de sódio do meio intracelular para o meio extracelular, às custas de energia metabólica. Os experimentos foram realizados em água do mar artificial, contendo o íon de sódio radioativo 24Na+ . No experimento havia estímulo do axônio de sépia, que elevava a concentração intracelular do sódio radioativo. Em seguida o axônio era lavado e mergulhado em água do mar, sem sódio radioativo. O monitoramento da radioatividade indicava que havia passagem de sódio radioativo, do axônio para a água do mar. O próximo slide indica a liberação do sódio radioativo em função do tempo. Referência: Hodgkin, A. L. & Keynes, R. D. (1955). J. Physiol. 128:28-60. wfdaj.sites.uol.com.br BIOFÍSICA O gráfico ao lado mostra a liberação do sódio radioativo em função do tempo. Na fase inicial o axônio estava mergulhado em água do mar artificial, onde então adiciona-se DNP, que tem o efeito de bloquear a cadeia respiratória. Por volta do 200 minutos a solução do banho é trocada, colocando-se água do mar natural. Observa-se a partir do gráfico um aumento do sódio radioativo no meio extracelular, indicando que há passagem de sódio. Efluxo de 24Na(contagem/min/min) Bomba de + + Na /K Tempo (min) Fonte: Garcia, E. A. C. Biofísica. Editora Savier, 2000 (pg. 11). Referência: Hodgkin, A. L. & Keynes, R. D. (1955). J. Physiol. 128:28-60. wfdaj.sites.uol.com.br BIOFÍSICA Bomba de + + Na /K O presente gráfico mostra os resultados do experimento de Caldwell e colaboradores de 1960. Nesse experimento é injetado ATP ao axônio de sépia, após a injeção de cianeto. O cianeto tem como efeito bloquear a cadeia respiratória. A injeção de ATP faz elevar o nível de sódio no meio extracelular. Os experimentos de Hodgkin & Keynes juntamente com os experimentos de Fonte: Garcia, E. A. C. Biofísica. Editora Savier, 2000 (pg. 11). Caldwell e colaboradores confirmaram a hipótese de Dean, sobre a existência de um sistema que bombeava sódio para fora da célula, às custas de ATP. Esse sistema Referência: Caldwell, P. C., Hodgkin, A. L., também bombeia potássio, para o interior Keynes, R. D. & Shaw, T. L. (1960). J. da célula e é chamado bomba de Na+/K+ . Physiol., 152:561-590. wfdaj.sites.uol.com.br BIOFÍSICA Bomba de + + Na /K K+ Na+ wfdaj.sites.uol.com.br BIOFÍSICA Canais de Canais de K+ são os canais mais usualmente abertos na membrana plasmática de neurônios em repouso. Assim há saída de íons K+, o que deixa um excesso de carga negativa no interior da célula. + K Sensor de voltagem Exterior Membrana Canal aberto wfdaj.sites.uol.com.br Canal K+ fechado Interior celular BIOFÍSICA Canal de Potássio em Ação http://wfdaj.sites.uol.com.br Difusão de Íons por Canais Passivos Fonte: http://psych.hanover.edu/Krantz/neurotut.html wfdaj.sites.uol.com.br BIOFÍSICA Difusão de Íons por Canais Passivos [Íon]fora FD = RT ln ( ) [Íon]dentro FE = VKzeA FD: Força difusional FE: Força elétrica Fonte: http://psych.hanover.edu/Krantz/neurotut.html wfdaj.sites.uol.com.br BIOFÍSICA Difusão de Íons por Canais Passivos [Íon]fora FD = RT ln ( ) [Íon]dentro = FE = VKzeA FD: Força difusional FE: Força elétrica Fonte: http://psych.hanover.edu/Krantz/neurotut.html wfdaj.sites.uol.com.br BIOFÍSICA Difusão de Íons por Canais Passivos [Íon]fora VKzeA = RT ln ( ) (No equilíbrio) [Íon]dentro FD: Força difusional FE: Força elétrica Fonte: http://psych.hanover.edu/Krantz/neurotut.html wfdaj.sites.uol.com.br BIOFÍSICA Difusão de Íons por Canais Passivos [Íon]fora) RT ln ( VK = [Íon]dentro zeA FD: Força difusional FE: Força elétrica Fonte: http://psych.hanover.edu/Krantz/neurotut.html wfdaj.sites.uol.com.br BIOFÍSICA Equação de Nernst Constante universal dos gases Temperatura absoluta Concentração do íon monovalente fora da célula [Íon]fora) RT ln ( VK = [Íon]dentro zeA Concentração do íon monovalente dentro da célula Número de Avogrado Carga elétrica do elétron Valência do Íon Diferença de voltagem através da membrana wfdaj.sites.uol.com.br © 2006 Dr. Walter F. de Azevedo Jr. BIOFÍSICA Equação de Nernst [Íon]fora) RT ln ( VK = [Íon]dentro zeA [Íon]fora 8,315 J/mol.K 293 K ln ( ) VK = -19 23 1. 1,602.10 C.6,022.10 1/mol [Íon]dentro [Íon]fora ) VK = 25 mV ln ( [Íon]dentro wfdaj.sites.uol.com.br © 2006 Dr. Walter F. de Azevedo Jr. BIOFÍSICA Equação de Nernst Concentração do íon monovalente fora da célula [Íon]fora VK = (58 mV) log ( ) [Íon]dentro Concentração do íon monovalente dentro da célula Diferença de voltagem através da membrana wfdaj.sites.uol.com.br © 2006 Dr. Walter F. de Azevedo Jr. BIOFÍSICA Equação de Nernst Concentração do íon potássio fora da célula [K+]fora VK = (58 mV) log ( + ) [K ]dentro Concentração do íon potássio dentro da célula Diferença de voltagem através da membrana wfdaj.sites.uol.com.br © 2006 Dr. Walter F. de Azevedo Jr. BIOFÍSICA Equação de Nernst A equação de Nernst é uma idealização, que considera que a membrana celular é permeável a apenas um tipo de íon. Tal idealização leva a expressão simples da equação de Nernst, contudo, a sua aplicação, não consegue prever o valor final do potencial presente na membrana celular, levando-se em consideração a ação dos diversos íons presentes nas regiões intra e extra celular. Outra consideração sobre a forma simplificada da equação de Nernst, da forma apresentada ela é válida para íons monovalentes, para íons de outra valência é necessário dividir pela valência do íon (z), como mostrado na equação abaixo. [Íon]fora VK = (58 mV) log ( ) [Íon]dentro z wfdaj.sites.uol.com.br © 2006 Dr. Walter F. de Azevedo Jr. BIOFÍSICA Aplicando a Equação de Nernst Ex. 1. No interior de neurônios de mamíferos a concentração de íons de potássio é de aproximadamente 140 mM e do lado de fora de 5 mM, aplicando-se estes resultados à equação de Nernst temos: 5 mM VK = (58 mV) log ( ) = - 84 mV 140 mM wfdaj.sites.uol.com.br © 2006 Dr. Walter F. de Azevedo Jr. BIOFÍSICA Aplicando a Equação de Nernst Ex. 2. No interior de neurônios de mamíferos a concentração de íons de Na+ é de aproximadamente 15 mM e do lado de fora de 140 mM, aplicando-se estes resultados à equação de Nernst temos: 140 mM VK = (58 mV) log ( ) = 56,3 mV 15 mM wfdaj.sites.uol.com.br © 2006 Dr. Walter F. de Azevedo Jr. BIOFÍSICA Trabalho 1) Explique o potencial de repouso da célula. 2) Usando-se a equação de Nernst determine a diferença de potencial (VK) devido a cada um dos seguintes íons, sabendo-se suas concentrações intracelular e extracelular. a) [Na+]extracelular=140 mM, [Na+]intracelular= 15 mM, b) [K+]extracelular= 5 mM, [K+]intracelular= 140 mM, A equação de Nernst é a seguinte: VK = (58 mV) log {[I]extracelular/[I]intracelular}, onde [I] é a concentração do íon sendo analisado. wfdaj.sites.uol.com.br © 2006 Dr. Walter F. de Azevedo Jr. BIOFÍSICA Referências Garcia, E. A. C. Biofísica. Editora Savier, 2000. Purves, W. K., Sadava, D., Orians, G. H., Heller, H. G. Vida. A Ciência da Biologia. 6a ed. Artmed editora. 2002. wfdaj.sites.uol.com.br © 2006 Dr. Walter F. de Azevedo Jr. BIOFÍSICA