Biofísica Modelos de Membrana Celular Prof. Dr. Walter Filgueira de Azevedo Jr. wfdaj.sites.uol.com.br BIOFÍSICA Resumo Modelos de membrana celular: modelos de Robertson, Stein & Danielli, Lucy & Glauert, Benson e Lenard & Singer Modelo de mosaico fluido Simulação computacional da membrana celular Composição lipídica da membrana celular Modelo atual de membrana celular Proteínas de membrana celular Referências wfdaj.sites.uol.com.br BIOFÍSICA Membrana Celular A principal função da membrana celular é manter, de forma seletiva, moléculas tão diversas como proteínas e pequenos solutos, no interior da célula. Assim, a membrana funciona de forma eficiente para regular seletivamente sua permeabilidade. A composição da membrana celular tem sido estudada de forma intensa, a partir do uso de diversas técnicas físicas e químicas, discutiremos a seguir a evolução dos principais modelos da membrana celular. wfdaj.sites.uol.com.br BIOFÍSICA Membrana Celular No livro clássico de Oparin, A Origem da Vida, esse propôs que para qualquer forma de vida, das mais simples que sejam, faz-se necessária uma barreira física, que separe a parte viva do meio que a cerca. Esse trabalho destaca a necessidade de uma membrana para isolar, até mesmo as formas de vida mais simples, do meio exterior. wfdaj.sites.uol.com.br BIOFÍSICA Modelos de Membrana Celular Modelo de Robertson (1957). O estudo de eritrócitos realizados por Gorter & Grendel em 1925 indicou que o conteúdo lipídico das membranas ocupava uma área duas vezes maior que a superfície da célula. Tal observação levou à hipótese da bicamada lipídica, com a parte polar voltada para os meios intra e extra celular e a parte hidrofóbica voltada para o interior da membrana, escondida do solvente. Posteriormente Schmitt e colaboradores, a partir de estudos de polarização da luz, propuseram que eritrócitos apresentavam lipídios perpendiculares ao plano da membrana, como espera-se de uma bicamada (Schmitt et al., 1937, 1938). Outros cientistas propuseram a presença de proteínas nas membranas (Danielli & Davson, 1935), com a participação protéica estendendo-se até 60 % da membrana. Baseado nessas informações Robertson (1957, 1981) propôs que as proteínas estivessem distribuídas sobre a superfície da membrana. wfdaj.sites.uol.com.br BIOFÍSICA Modelos de Membrana Celular O modelo de Robertson era coerente com a informação sobre a presença de proteínas nas membranas, bem como com a presença da bicamada lipídica, contudo falhava ao colocar proteínas globulares na superfície da membrana. A presença de uma camada de proteína na membrana formava uma blindagem na superfície da membrana, o que impossibilita a comunicação entre os meios intra e extra-celular. Referências: Robertson, J. D. (1957). J. Biophys. Biochem. Cytol., 3:1043-1048. Robertson, J. D. (1981). J. Cell Biol. 91(3 Pt 2):189s-204s. Review. Bicamada lipídica Proteína globular wfdaj.sites.uol.com.br BIOFÍSICA Modelos de Membrana Celular Modelo de Stein & Danielli. Esse modelo propõe a presença de um canal transmembrana composto por proteínas, o que permite comunicação entre os meios intra e extra celular, aumentando a permeabilidade da membrana celular. Nesse modelo toda a membrana é revestida por proteínas Stein & Danielli (1956). O principal problema desse modelo é o envolvimento de toda a membrana celular por proteínas, não há contato para porção polar da bicamada lípídica com o solvente do meio extracelular, ou com o citoplasma, a bicamada lipídica fica blindada pela proteína. Fonte: Garcia, E. A. C. Biofísica. 2000 (pg. 5). Editora Savier, Referência: Stein, W. D. & Danielli, J. F. (1956). Discuss. Faraday Soc. 21:238-251. wfdaj.sites.uol.com.br BIOFÍSICA Modelos de Membrana Celular Modelo de Lucy & Glauert. Nesse modelo o lipídeos formam micelas globulares, que estão revestidas por proteínas (Lucy & Glauert, 1964). Esse modelo apresenta o mesmo problema do modelo de Robertson, não há comunicação entre os meios extra e intra celular. Fonte: Garcia, E. A. C. Biofísica. Editora Savier, 2000 (pg. 5). Referências: Lucy, J. A. & Glauert, A. M. (1964). J. Mol. Biol. 12: 727-748. De Mello, W. C. (1972). Electrical phenomena in the heart, Academic Press, New York and London. wfdaj.sites.uol.com.br BIOFÍSICA Modelos de Membrana Celular Modelo de Benson. Nesse modelo a membrana é composta por uma matriz protéica com lipídios dispersos. O principal problema dessa proposta está na inexistência de canais transmembranas. Referência: Benson, A. A. (1966). J. Amer. Oil Chem. Soc., 43:265-270. Fonte: Garcia, E. A. C. Biofísica. 2000 (pg. 5). wfdaj.sites.uol.com.br Editora Savier, BIOFÍSICA Modelos de Membrana Celular Modelo de Lenard & Singer. Esse modelo, mais realístico, prevê a presença de proteínas numa bicamada lipídica (Lenard & Singer, 1966), há previsão de proteínas transmembranas que atravessam a bicamada lipídica. Referência: Lenard, J. & Singer, S. J. (1966). Proc. Natl. Acad. Sc. 56:18281835. wfdaj.sites.uol.com.br Modelo de Lenard&Singer, , indicando duas proteína inseridas na bicamada lipídica (elipsóides cinzas). A proteína da esquerda é uma proteína extrínseca e a da direira uma proteína intrínseca. Os fosfolipídios são indicados com a cabeça polar em preto e a cauda hidrofófica pelas linhas que saem da esfera preta. BIOFÍSICA Modelos de Membrana Celular Modelo de mosaico fluido. Experimentos mais detalhados mostraram deficiências nos diversos modelos de membrana celular. Singer e Nicolson (1972) propuseram um modelo de membrana constituído de uma bicamada lipídica, onde encontram-se inseridas proteínas. Há dois tipos de proteínas inseridas na membrana, uma que atravessa toda a membrana, chamada proteína intrínseca, ou transmembrana. O segundo tipo de proteína localiza-se sobre a membrana, sendo encontrada tanto no exterior como voltada para o citoplasma. Esse segundo tipo de proteína é chamado extrínseca. wfdaj.sites.uol.com.br Proteínas extrínsecas Proteína intrínseca, ou transmembrana Referência: Singer, S. J. & Nicolson, G. L. (1972) Science, 175:720-731. BIOFÍSICA Modelos de Membrana Celular Esse modelo prevê a passagen seletiva de íons pelas proteínas intrínsecas, que são chamadas de canais ou bombas como veremos em detalhe no estudo do potencial de membrana. Outra característica desse modelo é liberdade de movimentação das proteína na bicamada. De acordo com características básicas do modelo, mosaicismo e difusão, previu-se a liberdade lateral e rotatória, assim como a distribuição aleatória de componentes moleculares na membrana. Proteínas extrínsecas Proteína intrínseca, ou transmembrana Referência: Singer, S. J. & Nicolson, G. L. (1972) Science, 175:720-731. wfdaj.sites.uol.com.br BIOFÍSICA Modelos de Membrana Celular O modelo de mosaico fluido é usado até hoje, apesar de experimentos posteriores, terem deixado claro que a liberdade de movimentação das proteínas transmembranas e extrínsecas, não representa a realidade observada (Vereb et al., 2004). Uma das características da membrana celular, não previstas no modelo de mosaico fluido, é que as proteínas apresentam uma distribuição não aleatória, há uma concentração de proteínas em regiões definidas na membrana, conhecidas como balsas lipídicas. Essas balsas lipídicas são pequenas da membrana, onde alguns lipídios (normalmente esfingolipídeos e colesterol) e proteínas estão concentrados. Balsas lipídicas, mostrando setores da membrana que fixam essas nas regiões indicas. Fonte: Vereb et al. 2004. wfdaj.sites.uol.com.br BIOFÍSICA Modelo Atual da Membrana Celular Um modelo para membrana celular mais realístico prevê além da clássica bicamada lipídica e as proteínas transmembranas e extrínsecas os seguintes aspectos: 1) Distribuição não aleatória das proteína na membrana. O modelo original de mosaico fluido prevê uma distribuição aleatórias das proteína na bicamada lipídica. 2)Contatos moleculares quase permanentes. 3) Domínios de membrana: difusão limitada, reorganização dinâmica. 4) Plataformas lipídicas. 5) Proteínas são importantes elementos estruturais. 6) Estruturação dinâmica. wfdaj.sites.uol.com.br BIOFÍSICA Modelo Atual da Membrana Celular Proteína da classe Glicolipídio Fosfolipídeo Cadeia lateral de oligossacarídeo Proteína globular wfdaj.sites.uol.com.br Segmento hidrofóbico da proteína Colesterol BIOFÍSICA Composição Lipídica da Membrana Celular Há três tipos de lipídios na membrana celular animal, segundo estudos de Rouser e colaboradores de 1968. 1) Esteróides colesterol 2) Fosfolipídios Esfingomielina Fosfatidilcolina Fosfatidiletanoamina fosfatidilserina Lecitina 3) Glicolipídios Referência: Rouser, G., Nelson, G. J., & Fleischer, S. (1968). In: Biological Membranes Ed. by D. Chapman, Academic Press, New York. wfdaj.sites.uol.com.br BIOFÍSICA Composição Lipídica da Membrana Celular Biomembranas são baseadas principalmente em lipídios, com predominância de fosfolipídeos. A estrutura química geral de uma molécula de fosfolipídio é mostrada na ao lado (figura a). Essa molécula é basicamente um glicerol (figura b), sobre a qual foram atachadas as cadeias de ácidos graxos (R1 e R2), via ligações do tipo éster, ao fosfato pode-se ligar qualquer molécula, designada na figura a por X. a) O O CH2 CH O O C C R1 R2 CH2 O P O X OO Fosfolipídio b) H HO CH2 C CH2 OH OH Glicerol wfdaj.sites.uol.com.br BIOFÍSICA Composição Lipídica da Membrana Celular Um dos ácidos graxos típicos, encontrados nos fosfolipídios, é chamado ácido palmítico. A molécula de ácido palmítico apresenta 16 carbonos e 31 hidrogênios. Esse ácido graxo é dito saturado, pois apresenta o maior número de possível de hidrogênios. A presença de ligações duplas na cadeia de ácido graxo indica que o mesmo é não-saturado. As duas cadeias R1 e R2 não precisam ser homogêneas, ou seja, podem apresentar cadeias de tamanhos distintos. Nos fosfolipídios uma parte de molécula é polar, a cabeça hidrofílica, e a parte nãopolar, composta pelas duas cadeias de ácidos graxos. O diagrama esquemático abaixo ilustra uma molécula de fosfolipídio. Moléculas que apresentam parte polar e parte hidrofóbica são chamadas anfipáticas. Cabeça polar wfdaj.sites.uol.com.br Caudas hidrofóbicas BIOFÍSICA Simulação Computacional da Membrana Celular Um grande número de modelos computacionais de membranas celulares foram construídos e submetidos à simulação de dinâmica molecular. Esses modelos usam diferentes componentes para a formação da bicamada, no exemplo ao lado foram usadas 200 moléculas de 1-palmitoil2-oleoil-sn-glicerol-3-fosfatidilcolina, formando uma caixa retangular com 5483 moléculas de água interagindo com a parte polar da bicamada. As dimensões do sistema da membrana mais moléculas de água são de 100 x 75 x 35 Å, sendo a última a espessura da bicamada. Referência: Heller, H., Schaefer, M. & Schulten, K. (1993). J. Phys. Chem. 97:83438360. wfdaj.sites.uol.com.br BIOFÍSICA Centro de Reação Fotossintética de Rhodopseudomonas viridis O centro de reação fotossintético. O complexo protéico, centro de reação fotossintético da bactéria púrpura Rhodopseudomonas viridis, é o local da etapa inicial da captura de energia luminosa na fotossíntese. Esse complexo protéico é composto de quatro cadeias polipeptídicas, indicadas na figura ao lado, nas cores azul, vermelha, cinza e dourado. Há também quatorze cofatores de baixo peso molecular, indicados em amarelo. Entres os cofatores temos cromóforos, que absorvem a energia de excitação, que é convertida em potencial eletroquímico, através da membrana. Referência: Deisenhofer, J. & Michel, H. (1989) EMBO J. 8:2149-2170. wfdaj.sites.uol.com.br BIOFÍSICA Centro de Reação Fotossintética de Rhodopseudomonas viridis O centro de reação fotossintético. Na presente visão a molécula está deslocada aproximadamente 90 graus em relação à anterior, considerando-se o eixo vertical paralelo à tela. Ambas vistas mostram a estrutura com todos os átomos das proteínas, como esferas rígidas. São excluídas desta representação os átomos de hidrogênio. Esse complexo protéico foi a primeira proteína intrínseca de membrana a ter sua estrutura tridimensional elucidada, usando-se técnicas de cristalografia de raios X em 1989 (Deisenhofer e Michel, 1989), fato esse que foi laureado com o prêmio Nobel de Química de 1989. Referência: Deisenhofer, J. & Michel, H. (1989) EMBO J. 8:2149-2170. wfdaj.sites.uol.com.br BIOFÍSICA Centro de Reação Fotossintética de Rhodopseudomonas viridis O centro de reação fotossintético. Esse complexo protéico apresenta dimensões aproximadas de 72 Å x 72 Å x 132 Å, sendo 1 Å = 10-10 m. Referência: Deisenhofer, J. & Michel, H. (1989) EMBO J. 8:2149-2170. 132 Å 72 Å wfdaj.sites.uol.com.br BIOFÍSICA Centro de Reação Fotossintética de Rhodopseudomonas viridis O centro de reação fotossintético. Nessa representação os resíduos de aminoácidos hidrofóbicos estão em cinza, os polares em verde, os ácidos em vermelho e os básicos em azul. Átomos pertencentes aos cofatores estão em ciano. Vemos claramente uma heterogeneidade na distribuição de cargas na superfície das proteínas. No centro temos uma região hidrofóbica, e nas partes superior e inferior uma concentração de resíduos de aminoácido carregados e polares. 132 Å Referência: Deisenhofer, J. & Michel, H. (1989) EMBO J. 8:2149-2170. 72 Å wfdaj.sites.uol.com.br BIOFÍSICA Centro de Reação Fotossintética de Rhodopseudomonas viridis O centro de reação fotossintético. A cadeia azul é a proteína chamada citocromo, as cadeias vermelha e cinza são chamadas subunidades L (Light) e M (Medium), respectivamente e a cadeia dourada é chamada cadeia H (Heavy). wfdaj.sites.uol.com.br BIOFÍSICA Centro de Reação Fotossintética de Rhodopseudomonas viridis O centro de reação fotossintético. A representação à esquerda indica os elementos de estrutura secundária, notadamente: hélices, fitas beta e regiões de coil. As cadeias L e M apresentam preponderantemente hélices, enquanto o citocromo e a cadeia H apresentam outros elementos de estrutura secundária. Observação: As coordenadas atômicas usadas para representar a estrutura do centro de reação fotossintético estão depositadas no banco de dados de estruturas PDB (Protein Data Bank) com código de acesso: 1PRC. O endereço do PDB é www.rcsb.org/pdb . wfdaj.sites.uol.com.br BIOFÍSICA Trabalho 1) Faça um diagrama esquemático da membrana celular e discuta suas principais características. 2) A partir da análise da estrutura do centro de reação fotossintético proponha um modelo para sua interação com a membrana celular. Parte polar Parte hidrofóbica Parte polar wfdaj.sites.uol.com.br BIOFÍSICA Referências Danielli, J. F. & Davson, H. (1935). J. Cell. Comp. Physiol., 5:495-508. Garcia, E. A. C. Biofísica. Editora Savier, 2000. Gorter, E. & Grendel, F. (1925). J. Exp. Med. 41:439-443. Purves, W. K., Sadava, D., Orians, G. H., Heller, H. G. Vida. A Ciência da Biologia. 6a ed. Artmed editora. 2002. Schmitt, F. O., R. S. Bear, and E. Ponder. (1937) . J. Cell. Comp. Physiol 9: 89-92. Schmitt, F. O., R. S. Bear, and E. Ponder. (1938) . J. Cell. Comp . Physiol. 11 :309-313. wfdaj.sites.uol.com.br BIOFÍSICA