Biofísica Sistema nervoso, neurônios e sinapses Prof. Dr. Walter Filgueira de Azevedo Jr. wfdaj.sites.uol.com.br BIOFÍSICA Resumo Sistema nervoso Neurônio Aspectos estruturais dos neurônios Células gliais e de Schwann Junção neuromuscular Neurotransmissores Sinapses Sinapses excitatórias e inibitórias Sinapses elétricas Receptores Referências wfdaj.sites.uol.com.br © 2006 Dr. Walter F. de Azevedo Jr. BIOFÍSICA Sistema Nervoso Animais multicelulares apresentam células especializadas chamadas neurônios, que possuem as seguintes funções: recebimento, codificação e transmissão para outras células de informação. Essas informações são captadas por células sensoriais, também chamadas de células receptoras, que a transformam em sinais elétricos que podem ser transmitidos e processados pelos neurônios. Os sinais dos neurônios podem ser transmitidos para células especializadas, que darão a resposta fisiológica ou comportamental, essas células são chamadas de efetores, como os músculos e glândulas. O diagrama esquemático abaixo mostra uma rede simples de comunicação da célula sensorial com o efetor. Células sensoriais wfdaj.sites.uol.com.br Neurônios © 2006 Dr. Walter F. de Azevedo Jr. Efetores BIOFÍSICA Cérebro Humano O cérebro humano é o centro de um sistema complexo, formado até 1011 neurônios, cada um desses neurônios podem formar mais de 10.000 conexões, ou sinapses, assim o cérebro humano pode apresentar até 1014 sinapses. O cérebro é dividido em redes de trabalho, ou redes neuronais, que funcionam em paralelo. Essas redes são responsáveis por funções específicas e podem envolver até milhares de neurônios. wfdaj.sites.uol.com.br BIOFÍSICA Computador x Cérebro Com o desenvolvimento da computação surgiu uma analogia entre o cérebro e os computadores, analogia essa intensivamente explorada pela ficção científica. Contudo, as diferenças são tão acentuadas, que as analogias são sempre fracas e distantes. A tabela abaixo mostra algumas das características dos dois sistemas (Barone, 2003). Sem considerarmos aspectos sobre a constituição física dos dois sistemas, computador e cérebro, vemos que a informação e forma de operação são totalmente distintas. Cérebro Computador Tempo de processamento de 1 informação: 1ms ~0,01 ms Número de unidades de processamento: 1014 1-1000 Tipo de controle Distribuído Centralizado Forma de processamento: paralelo serial Representação do conhecimento Empírico Teórico Adaptativo Renovável Topológico Simbólico Fonte: Barone, D. Sociedades Artificiais. A Nova Fronteira da Inteligência nas Máquinas. Porto Alegre, Bookman, 2003 (pg. 124) wfdaj.sites.uol.com.br © 2006 Dr. Walter F. de Azevedo Jr. BIOFÍSICA Neurônio, Sinapse e Comunicação A complexidade dos pensamentos e do tráfego de sinais no organismo humano são resultados da interação entre neurônios conectados. O impressionante número de conexões entre os neurônios cria um sistema altamente complexo envolvendo 1014 sinapses. Os resultados da ação deste sistema vemos a cada segundo de nossas vidas, pensando, criando e aprendendo... As interações, que geram padrões complexos, são resultados das sinapses entre as células. Iremos ver as principais características dos neurônios e das sinapses. wfdaj.sites.uol.com.br © 2006 Dr. Walter F. de Azevedo Jr. BIOFÍSICA Neurônio Corpo celular O neurônio é uma célula nucleada, apresenta diversos dendritos que possibilita sua conexão com outros neurônios, apresenta um terminal único e longo, chamado axônio, responsável pela transmissão do impulso nervoso para células póssináptica. O neurônio apresenta um estrutura característica no corpo celular, chamada cone de implantação, que é responsável pela soma dos impulsos nervosos e pelo disparo de uma resposta, chamada potencial de ação. O potencial de ação propaga-se ao longo do axônio até os terminais axonais. wfdaj.sites.uol.com.br Dendritos Núcleo Axônio Cone de implantação Terminais axonais Direção do impulso BIOFÍSICA Aspectos Estruturais dos Neurônios Os neurônios podem apresentar uma diversidade de formas e tamanhos, conforme sua localização e função, contudo, todos os neurônios apresentam corpo celular, também chamado de soma, localizado normalmente no centro da célula. Todos os neurônios apresentam, também, diversas ramificações, que chegam ao corpo celular, chamadas dendritos e um único terminal de saída, chamado axônio. wfdaj.sites.uol.com.br BIOFÍSICA Aspectos Estruturais dos Neurônios Variabilidade dos neurônios. A maioria dos neurônios apresenta 4 estruturas básicas: corpo celular, dendritos, um axônio e terminais axonais, como já descrito anteriormente. Contudo, os neurônios apresentam amplo espectro de formas. Os axônios funcionam como linhas telefônicas do sistema nervoso. O sinal recebido pelos dendritos pode levar o corpo celular a gerar um impulso nervoso, chamado potencial de ação, que é conduzido ao longo do axônio para a célula alvo, ou célula pós-sináptica. Essa célula alvo pode ser outro neurônio, uma célula muscular ou uma célula glandular. Fonte: Purves et al., Vida A ciência da Biologia. 6a. Ed. Artmed editora, 2002 (pg. 775). wfdaj.sites.uol.com.br BIOFÍSICA Células Gliais Células de Schwann: São células que se enrolam ao redor dos axônios neuronais, cobrindo-os com camadas de uma membrana plasmática isolante. Localizam-se no SNP. Oligodentrócitos: Possuem função similar às células de Schwann mas localizam-se no SNC. A camada envoltória produzida pelos oligodentrócitos e pelas células de Schwann é chamada mielina. Essa camada possui uma aparência branca brilhante. Astrócitos (Barreira hematoenfecálica): Essas células, em formato de estrela, contribuem para a barreira hematoenfefálica, que fornece proteção ao cérebro contra toxinas encontradas na corrente sangüínea. wfdaj.sites.uol.com.br BIOFÍSICA Células de Schwann Célula da Schwann Bainha de mielina Neurilema wfdaj.sites.uol.com.br Nodo de Ranvier Axônio BIOFÍSICA Sinapses e Comunicação Sinapses: São junções estruturalmente especializadas, em que uma célula pode influenciar uma outra célula, diretamente por meio do envio de sinal químico ou elétrico. A forma mais comum de sinapse é a sinapse química. Na sinapse temos a participação das células pré-sináptica e pós-sináptica. Célula pré-sináptica: É a célula que envia o sinal nervoso. Célula pós-sináptica: É a célula que recebe o sinal da célula pré-sináptica. Membrana pré-sináptica Vesícula de acetilcolina Autoreceptor Neurotransmissor Canal de cálcio Membrana pós-sináptica Fenda sináptica wfdaj.sites.uol.com.br Receptor BIOFÍSICA Junção Neuromuscular wfdaj.sites.uol.com.br BIOFÍSICA Neurotransmissores Fonte: Purves et al., Vida A ciência da Biologia. 6a. Ed. Artmed editora, 2002 (pg. 787). wfdaj.sites.uol.com.br BIOFÍSICA Acetilcolina wfdaj.sites.uol.com.br BIOFÍSICA Receptor de Acetilcolina Subunidades Acetilcolina Membrana celular wfdaj.sites.uol.com.br BIOFÍSICA Junção Neuromuscular Terminal axônico Terminal axônico Membrana pós-sináptica wfdaj.sites.uol.com.br BIOFÍSICA Sinapses Fonte: Purves et al., Vida. A ciência da Biologia. 6a. Ed. Artmed editora, 2002 (pg. 787). wfdaj.sites.uol.com.br BIOFÍSICA Sinapses Excitatórias e Inibitórias Sinapses excitatórias: São sinapses onde a membrana pós-sináptica é despolarizada, como por exemplo as sinapses entre neurônios motores e o músculo esquelético. Sinapses inibitórias: São sinapses onde há hiperpolarização da membrana póssináptica. Os neurotransmissores mais comuns em sinapses inibitórias de vertebrados são o ácido -aminobutírico (GABA) e glicina. As células pós-sinápticas das sinapses inibitórias apresentam canais de cloro dependentes ligantes. Quando esses canais são ativados por um neurotransmissor, eles podem hiperpolarizar a membrana póssináptica. Assim há uma probabilidade menor de lançamento de um potencial de ação. wfdaj.sites.uol.com.br © 2006 Dr. Walter F. de Azevedo Jr. BIOFÍSICA PPSE e PPSI Os neurotransmissores que despolarizam a membrana pós-sináptica são excitatórios. Eles executam um potencial pós-sináptico excitatório (PPSE). Os neurotransmissores que hiperpolarizam a membrana pós-sináptica são inibitórios, eles executam um potencial pós-sináptico inibitório (PPSI). O neurônio realiza a soma dos potenciais pos-sinápticos inibitórios (PPSIs) e dos extatórios (PPSEs), caso a soma ultrapasse o potencial limiar, há lançamento de um potencial de ação. Esse somatório é realizado no cone de implantação. A membrana plasmática na região do cone de implantação não é coberta por células gliais e apresenta alta densidade de canais dependentes de voltagem. wfdaj.sites.uol.com.br © 2006 Dr. Walter F. de Azevedo Jr. BIOFÍSICA Soma de Estímulos I1 + I2 + I3+ I4+.... Fonte: Purves et al., Vida A ciência da Biologia. 6a. Ed. Artmed editora, 2002 (pg. 788). wfdaj.sites.uol.com.br BIOFÍSICA Soma de Estímulos Se a soma dos impulsos (I) (I1 + I2 + I3 + I4 +.....) for maior que o potencial limiar, temos a geração de um potencial de ação a partir do cone de implantação. Caso contrário, não temos potencial de ação. Expressando matematicamente esta afirmação: Se Ij=I1 + I2 + I3 + I4 +.... > potencial limiar então: temos potencial de ação. Senão: Não temos potencial de ação. wfdaj.sites.uol.com.br © 2006 Dr. Walter F. de Azevedo Jr. BIOFÍSICA Receptores Ionotrópicos São canais iônicos, a ligação de um neurotransmissor a esse tipo de receptor gera mudança no movimento iônico na célula pós-sináptica. O receptor de acetilcolina (ACh) é um receptor ionotrópico, esse receptor é também conhecido como receptor nicotínico de acetilcolina, pois liga-se também à nicotina. Esse receptor é uma proteína transmembrana formada por cinco subunidades. Essas subunidades formam um pentâmero que quando inseridos na membrana podem permitir a entrada de sódio na célula pós-sináptica. A estrutura tridimensional do receptor de acetilcolina foi resolvida por cristalografia de difração de raios X. A conformação do pentâmero é mostrada nos próximos slides. wfdaj.sites.uol.com.br © 2006 Dr. Walter F. de Azevedo Jr. BIOFÍSICA Receptor de Acetilcolina Código pdb: 1BG9 wfdaj.sites.uol.com.br © 2006 Dr. Walter F. de Azevedo Jr. BIOFÍSICA Receptor de Acetilcolina Código pdb: 1BG9 wfdaj.sites.uol.com.br © 2006 Dr. Walter F. de Azevedo Jr. BIOFÍSICA Receptores Metabotrópicos Esses receptores induzem mudanças na célula pós-sináptica, que podem levar a abertura de canais iônicos. Os receptores metabotrópicos não são canais iônicos, contudo podem contribuir para a abertura dos canais iônicos por meio de um mecanismo mais complexo, e, geralmente, mais lento do que a resposta dos canais ionotrópicos. Os receptores metabotrópicos também são proteínas transmembranas e estão acopladas a uma outra proteína trimérica chamada proteína G. O receptor muscarínico de ACh é um exemplo de canal metabotrópico. Esse receptor liga-se tanto a ACh quanto a muscarina, uma toxina encontrada em cogumelos. Os receptores muscarínicos estão presentes no músculo cardíaco, e quando ativados causam a abertura de canais de potássio que reduzem a freqüência cardíaca. wfdaj.sites.uol.com.br © 2006 Dr. Walter F. de Azevedo Jr. BIOFÍSICA Receptores Metabotrópicos Fonte: Purves et al., Vida A ciência da Biologia. 6a. Ed. Artmed editora, 2002 (pg. 789). wfdaj.sites.uol.com.br BIOFÍSICA Sinapses Elétricas As sinapses elétricas têm participação minoritária no sistema nervoso, contudo estão presentes inclusive no cérebro de mamíferos. São diferentes das sinapses químicas porque acoplam neurônios eletricamente. Nesse tipo de sinapse as membranas das células pré-sináptica e pós-sináptica estão separadas por 2 a 3 nm. wfdaj.sites.uol.com.br Sinapses Elétricas As membranas dos dois neurônios pré e pós-sinápticos estão bem próximas, e estão conectados por uma junção comunicante (gap junction). Essas junções apresentam pares canais precisamente alinhados nos neurônios pré e pós-sinápticos, de forma que cada par forma um poro, conforme o diagrama abaixo. Esse poros são maiores que os poros dos canais dependentes de voltagem. Proteínas específicas de membrana, chamadas conexons ligam os dois neurônios, formando um túnel molecular entre as duas células. As sinapses elétricas funcionam permitindo o fluxo passivo de corrente iônica através dos poros de um neurônio para outro. O arranjo da sinapse elétrica permite que ela seja bidirecional. wfdaj.sites.uol.com.br Sinapses Elétricas O estudo da sinapse elétrica em crayfish determinou a rapidez da sinapse elétrica, quando comparada com a sinapse química (Furshpan & Potter, 1959). Um sinal póssináptico é observado em uma fração de milisegundo, após a geração do potencial de ação pré-sináptico. No caso do crayfish, as inteconecções das sinpases elétricas, permitem uma rápida resposta ao ataque de um predador. Sinapses elétricas também são usadas para sincronizar a atividade de populações de neurônios, como em neurônios de secreção de hormônio localizados no hipotálamo de mamíferos. Referência: Furshpan, E. J. & Potter, D. D. (1959). J. Physiol. 145:289-325. wfdaj.sites.uol.com.br Tetrodoxina (TTX) A toxina tetrodoxina (TTX) é encontrada no peixe baiacu (puffy fish). Essa toxina, de origem não protéica, tem a capacidade de bloquear canais de sódio e foi encontrada pela primeira vez no peixe fugu no mar do Japão, onde é servido como iguaria. Essa toxina bloqueia os canais de sódio, como uma rolha fecha uma garrafa, sendo um veneno mortal, mil vezes mais potente que cianeto de potássio. O envenenamento por TTX causa parada respiratória, há diversos relatos de envenenamento acidental devido ao consumo do fugu. wfdaj.sites.uol.com.br BIOFÍSICA Tetrodoxina (TTX) A tetrodoxina apresenta uma estrutura molecular relativamente simples (C11H17O8N3). A complementaridade de forma e carga, apresentada pela molécula de TTX com relação ao canal de sódio dependente de voltagem, é responsável por uma forte interação intermolecular, entre o canal de sódio e a TTX, bloqueando fortemente o canal. wfdaj.sites.uol.com.br BIOFÍSICA Trabalho 1) Desenhe um diagrama de um neurônio e discuta a função de seus componentes. 2) Desenhe um diagrama esquemático de uma junção neuromuscular e discuta a função de seus componentes. wfdaj.sites.uol.com.br © 2006 Dr. Walter F. de Azevedo Jr. BIOFÍSICA Referências Garcia, E. A. C. Biofísica. Editora Savier, 2000. Purves, W. K., Sadava, D., Orians, G. H., Heller, H. G. Vida. A Ciência da Biologia. 6a ed. Artmed editora. 2002. wfdaj.sites.uol.com.br © 2006 Dr. Walter F. de Azevedo Jr. BIOFÍSICA