Descrição e Interpretação da Actividade Cognoscitiva OBSERVE A IMAGEM DA PINTURA DE VAN GOGH “O Quarto de Van Gogh”, 1889 O que vê? Como interpreta? Qual a sensação ou sensações que o quadro lhe transmite? Page 2 SENSAÇÃO, PERCEPÇÃO E RAZÃO «Todo o conhecimento humano é, inevitavelmente, uma interpretação disso a que chamamos realidade. A significação consiste fundamentalmente nesta interpretação. É óbvio que temos que atribuir [...] esta significação e esta interpretação [...] à intervenção do dinamismo do sujeito. [...] Em toda a experiência cognoscitiva existem dois elementos: os dados imediatos, por exemplo ou sensoriais, que são apresentados ou dados à mente e juntamente com eles dá-se uma forma, construção ou interpretação que se origina na actividade do pensamento. [...] Se não se dessem dados à mente, então o conhecimento [...] careceria de conteúdo e seria arbitrário [...] mas ao mesmo tempo, se não há construção ou interpretação «imposta» pela própria mente, então o pensamento torna-se supérfluo [...]. Page 3 SENSAÇÃO, PERCEPÇÃO E RAZÃO [...] A experiência ultrapassa o nível do facto para se converter em conhecimento porque há uma razão cognoscente e pensante que elabora e até ‘manipula’ os dados. É uma manipulação intencional, ordenadora, relacional e a sua importância sobe de grau nos casos como os da experiência científica [...]. Então o papel da razão ou do pensamento é muito maior, porque [...] em algumas experiências científicas a razão tem de começar por suprir a deficiência dos sentidos na procura de dados. Diz Reichenbach: “A razão é um instrumento indispensável para a organização do conhecimento, sem a qual os factos de uma ordem mais elevada não poderiam ser conhecidos [...]. Qual é a achega que a razão traz ao conhecimento adquirido por observação? [...] É a introdução de relações abstractas de ordem”. Romeo, S. R., Experiencia, Cuerpo y Conocimiento, Madrid, C.S.I.C., 1985, pp. 71-76. Page 4 A percepção é o processo cognitivo através do qual contactamos com o mundo, que se caracteriza pelo facto de exigir a presença do objecto, da realidade, da realidade a conhecer. Assim, é a interpretação que nos leva a organizar e interpretar o mundo. A percepção necessita das informações provenientes dos órgãos receptores que são sensíveis a estímulos específicos. Page 5 Dá-se o nome de sensação ao processo de detecção e recepção dos estímulos nos órgãos dos sentidos. Page 6 O pensamento/ razão vai posteriormente fazer os raciocínios mais elaborados e que implicam outro tipo de processos mentais. Page 7 A Fenomenologia, que foi fundada por Edmund Husserl, é o estudo descritivo dos fenómenos que aparecem à consciência do sujeito, passíveis de serem apreendidos por intermédio da representação. A fenomenologia caracteriza-se pela actividade intencional que o sujeito realiza em direcção ao objecto com a finalidade de o conhecer. Page 8 SUJEITO E OBJECTO “ Em todo o conhecimento, um «cognoscente» e um «conhecido», um sujeito e um objecto encontram-se face a face. A relação que existe entre os dois é o próprio conhecimento. A oposição entre os dois termos não pode ser suprimida; esta oposição significa que os dois termos estão originariamente separados um do outro, transcendentes um ao outro.[…]” Nicolai Hartmann Page 9 Não há conhecimento sem esta dualidade sujeito – objecto, que implica uma correlação, já que um dos elementos não existe se o outro não existir; são termos correlatos, embora independentes e transcendentes um ao outro. Page 10 O conhecimento consiste na capacidade do sujeito construir na sua consciência a imagem mental do objecto e suas características, isto é, uma representação, que lhe permite evocá-lo na sua ausência. Page 11 O conhecimento, enquanto fenómeno da consciência, apenas provoca alterações no sujeito e não no objecto, uma vez que este permanece transcendente. Page 12 TIPOS DE CONHECIMENTO SABER-FAZER – refere-se ao conhecimento de uma actividade, isto é, à capacidade, aptidão ou competência para fazer alguma coisa: por exemplo, saber cozinhar, saber conduzir, saber dançar, apanhar borboletas, dançar, entre outros. Page 14 Saber-Que (Proposicional) – refere-se ao conhecimento proposicional ou conhecimento de verdades. Grande parte dos nossos conhecimentos é relativa ao saber-que. Sabemos que: 2+2=4; de acordo com Lavoisier, na Natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma; etc. Page 15 CONHECIMENTO POR CONTACTO- refere-se ao conhecimento directo de alguma realidade, seja de pessoas ou lugares: conhecer o Papa ou Veneza, ou seja, conhece-los pessoalmente. Page 16 O CONHECIMENTO COMO CRENÇA VERDADEIRA JUSTIFICADA S sabe que P se, e só se, S acredita que P; P é verdadeira; S tem justifição para a acreditar que P. Page 18 Exemplos: Tiago sabe que o carro do pai está estacionado na garagem se, e só se, acredita que o carro do pai está estacionado na garagem; é verdade que o carro do pai está estacionado na garagem; tem razões para acreditar que o carro do pai está estacionado na garagem. Page 19 Outro exemplo: Tiago sabe que 8-5=3 se, e só se, Acredita que 8-5=3 ; É verdade que 8-5=3 ; Está justificado a acreditar que 85=3 . Page 20 Assim: Para que exista conhecimento têm de estar reunidas três condições: crença, verdade e justificação. Isoladamente as três condições são encaradas como necessárias, mas não suficientes. Em conjunto são suficientes e isso basta para que uma proposição seja um caso de conhecimento. Page 21 Vamos analisar… Quanto teremos de estar convencidos de que uma certa proposição é verdadeira para termos conhecimento? Page 22 CRENÇA: Não pode haver conhecimento sem crença. Mas a crença não é suficiente. Às vezes acreditamos em certas coisas sem ter conhecimento Assim, só dizemos que acredito em algo se penso que esse algo é verdadeiro e viceversa. Page 23 Vamos analisar… A Verdade levanta algum tipo de problema? Será que existem verdades absolutas? Como definir o que é a verdade? Page 24 Esta condição apresenta dois problemas sérios e de difícil solução: Não sabemos com segurança quando é satisfeita a verdade. Então como poderemos saber que a proposição é verdadeira? Não há uma maneira independente de determinar a verdade. Saber se a verdade é satisfeita dependerá sempre da justificação que supomos segura, mas que pode não ser tão segura assim. Saber em que consiste a natureza da própria verdade Page 25 VERDADE A verdade é uma condição necessária Mas não é uma condição suficiente Quando pensamos acerca do conhecimento da ciência, concluímos que muitas foram as vezes que os cientistas pensaram ter conhecimento, sem que, de facto, o tivessem. Num e noutro caso, é o nosso compromisso com a verdade que determina o que dizemos e pensamos. Page 26 Vamos analisar… A justificação também apresenta alguns problemas: Não sabemos o quanto terá de ser forte a justificação de uma proposição para que ela seja um caso de conhecimento. Podemos afirmar que: A justificação correcta é conclusiva. Ou Uma justificação razoavelmente forte, mas não conclusiva, é a justificação correcta. (é provável) Page 27 Justificação É uma condição necessária Não é uma condição suficiente Queremos mais do que crenças verdadeiras. Queremos ter confiança nas nossas crenças verdadeiras e para isso precisamos da justificação. Assim, ter crenças verdadeiras por sorte ou acaso não é conhecimento. A justificação é uma boa razão, ou seja, uma razão que tem força como justificação devido à informação de que dispõe. Page 28 Objecções à teoria CVJ Contra-exemplos de Gettier: Smith e Jones Jones e o Ford A observação nunca pode garantir a verdade de uma proposição, como de facto não garante nos exemplos apresentados pelo filósofo. Por mais fiáveis que sejam as circunstâncias, no limite resta sempre a possibilidade de tudo resultar de alucinações. Assim, Gettier concluiu que as três condições não são suficientes, apesar de necessárias. Page 29 Conhecimento a priori e a posteriori Quais são as fontes do nosso conhecimento? Formulamos diversos juízos e nem todos têm a mesma origem. “Sabemos que o todo é a maior do que as partes”, apenas pensamos nisso, através do pensamento, sem recorrer à experiência, a este tipo de conhecimento damos o nome de a priori. “Sabemos que a professora de Biologia tem um casaco castanho”, através da experiência, a este tipo de conhecimento damos o nome de a posteriori. Page 30 Conhecimento derivado e primitivo Um argumento a priori tem todas as premissas a priori. Um argumento a posteriori tem pelo menos uma das premissas a posteriori. Derivado é o conhecimento inferencial, ou seja, inferência é a passagem, através de regras válidas, do antecedente ao consequente de um argumento. Primitivo ou não inferencial é o conhecimento directo, através dos sentidos, não necessitamos de recorrer a um raciocínio. Ambos os conhecimentos podem ser a priori ou a posteriori. Page 31 FIM Page 32