NERIALBA RODRIGUES DELGADO DE FREITAS
EXPRESSÃO NÃO VERBAL DO CORPO EM ARTETERAPIA
Monografia
apresentada
à
Universidade
Potiguar/RN e ao Alquimy Art, de São Paulo
como parte dos requisitos para a obtenção do
título de Especialista em Arteterapia.
Orientador: Profª Cristina Oselia E. G.
Lisboa
Natal/RN
2006
3
F866e
Freitas, Nerialba Rodrigues Delgado de.
Expressão não verbal do corpo em arteterapia /
Nerialba Rodrigues Delgado de Freitas. – Natal, 2006.
48f.
Monografia
(Especialização
em
Arteterapia)
Universidade Potiguar. Pró-Reitoria de Pesquisa e PósGraduação.
1. Arteterapia – Monografia.
Monografia. 3. Corpo – Monografia.
RN/UNP/BCFP
2. Expressão –
I. Título.
CDU:37.015.3(043)
4
NERIALBA RODRIGUES DELGADO DE FREITAS
EXPRESSÃO NÃO VERBAL DO CORPO EM ARTETERAPIA
Monografia apresentada pela aluna
Nerialba Rodrigues Delgado de
Freitas ao curso de especialização
em
Arteterapia
recebendo
a
avaliação da Banca Examinadora
constituída pelos professores:
Aprovado em, ____/____/_____
Profª Drª Cristina Dias Allessandrini, Coordenadora da Especialização.
Profª Esp. Cristina Oselia E. G. Lisboa, Orientadora.
Profª Msc. Irene Arcuri, Leitor Crítico.
5
SUMÁRIO
- Introdução ....................................................................................................
09
- Como cheguei aqui........................................................................................
11
1. Expressão não verbal do corpo em Arteterapia.......................................... 14
2. Corpo........................................................................................................... 18
2.1. Corpo e mente sem fronteira.................................................................... 20
3. Técnica de meditação e relaxamento.......................................................... 22
3.1. Calatonia..................................................................................................
23
3.2. Oficina Criativa.........................................................................................
24
3.3. Elementos da Psicologia Analítica..........................................................
26
4. Relato de Experiência - Uma Trajetória em Oficinas Criativas..................
27
. Falas significativas...................................................................................
36
5. Considerações Finais ................................................................................
37
. As imagens falam por si...........................................................................
40
6. Referências................................................................................................
46
6
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus, razão maior do meu
existir, agradeço aos meus pais (in memória) que sempre me
incentivou a estudar, dizendo que esta era a única herança que
tinham para me deixar.
Agradeço em especial a Clodoaldo meu esposo que
sempre esteve ao meu lado, me apoiando nessa trajetória.
Meu
obrigado
aos
meus
filhos,
Camila
minha
primogênita, minha realização primeira (meu caminho) e a Lucas
meu companheiro de longas noites (a luz do meu caminho); vocês
que sem compreenderem o porquê de tanto estudo, o porquê da
minha ausência, souberam me amar e me aceitar.
Meu agradecimento a Instituição e ao grupo que
acolheram a proposta de estágio, fundamentando a prática.
A Luzia Sampaio amiga de tantas horas, de tantos
projetos, com você redescobri o gosto do estudar, o amor a
psicologia. Obrigada, Amiga.
A Lídia Heitor, Márcia Betânia, Soraya Deluzia, Rosy e
Luzia Sampaio, meu inseparável grupo de estudo.
A Cristina Oselia, minha supervisora, orientadora,
mestra e amiga, obrigada por tudo.
Enfim, agradeço a todos os mestres que souberam
compartilhar de forma magnífica seus conhecimentos.
7
RESUMO
EXPRESSÃO NÃO VERBAL DO CORPO EM ARTETERAPIA
Este trabalho é fruto das articulações realizadas entre as leituras de textos
científicos acerca do corpo, bem como, observações e experiências advindas
do estágio curricular; durante o período de março a outubro de 2005
realizamos 23 (vinte e três) encontros, em uma Instituição sem fins lucrativos,
com um grupo de 05 (cinco) mulheres cuidadoras da Pessoa com Deficiência.
Traremos nesta abordagem o Corpo como um todo, sem a dicotomia corpo e
mente por entender ser difícil (ou mesmo impossível), em Arteterapia
trabalharmos o corpo sem ativarmos a mente.
É através da mente que
oferecemos a este corpo condição necessária para resgatar a auto-estima. Os
trabalhos corporais e as técnicas expressivas adotadas serviram para
estimular e desbloquear o corpo, permitindo que ele se expresse livremente.
Esse método decodifica os processos armazenados no inconsciente trazendo
para o nível consciente.
O nosso corpo está repleto de linguagens
escondidas, reveladoras de fatos emocionais presentes e dissimulados.
Contudo, não é fácil "ler" a simbologia corporal. Na maioria das vezes, o corpo
transmite mensagens, e nem percebemos. É por isso que os métodos
alternativos estudam e abordam o simbolismo do corpo.
O estudo do
simbolismo do corpo já é feito há muito tempo. A hipótese de que o corpo
podia transmitir muito mais do que se julgava deixou de ser uma possibilidade
distante para ser aceita como mais do que provável. Muitos dos nossos
comportamentos e atitudes são compreendidos pela medicina alternativa
como fruto da constante ação de uma parte do corpo demonstrando uma
determinada realidade. É dentro deste prisma que pretendo nortear a
monografia, relacionando a expressão corporal, com o poder da mente em
responder aos estímulos através do processo terapêutico em Arteterapia.
Palavras-chave: Arteterapia – Corpo - Mente
8
ABSTRACT
NON-VERBAL BODY EXPRESSION IN ART THERAPY
This paper is an outcome of the articulations performed between the readings
of scientific articles about the body, as well as observations and experiments
supervened in the course of academic internship; during the period of March
to October in 2005, 23 meetings were held in a non-profit association, with a
group of five women responsible for taking care of physically impaired clients.
Here the body will be seen as a whole, without the mind-body dichotomy,
taking into consideration the difficulty (or even impossibility) in Art Therapy of
working the body without activating the mind. Through the mind that we will
offer this body the necessary conditions in order to raise the self-esteem. The
physical activities and expressive techniques adopted served to estimulate and
unblock the body, allowing it to express itself freely. This method decodes the
processes stored in the subconscious bringing them to the conscious level.
Our body is formed by plenty of hidden languages, revealing of current and
secretive emotional facts. However, it is not easy to “read” the corporal
symbology. Mostly, the body sends messages which we do not perceive. That
is the reason why alternative methodology study and approach the body
symbolism. Its study is being performed since a long time. The hypothesis
which considered the body transmitted much more than it was imagined turned
out to be not a slight possibility, but it was accepted as much more probable.
Many of our attitudes and behaviour are understood by alternative medicine as
a result of the constant action of part of the body, demonstrating a determined
reality. It is inside this prism which we intend to direct this work, relating body
expression to mental power in responding stimuli through theurapetical
procedures in Art Therapy.
Key words: Art Therapy – Body - Mind
9
INTRODUÇÃO
Dentre as muitas possibilidades de pesquisa, optei por falar do
Corpo, e de sua expressão não verbal; como é que este Corpo fala e como
essa expressão corporal pode contribuir em um processo arteterapêutico.
A memória corporal presente em nosso corpo transcende o
tempo e espaço, e pode trazer significado importante; as doenças
psicossomáticas seriam então as marcas deixadas no corpo, impedido o pleno
desenvolvimento do ser humano. Ao trabalharmos o corpo estamos nos
ligando diretamente a nossa memória mais arcaica, desde as primeiras
vivências no útero materno, na infância e na vida adulta. Cada vivência deixa
marca em nossa mente e no corpo. Um simples toque corporal ou um
relaxamento pode remeter a lembranças vividas no passado próximo ou
remoto. (Arcuri, 2004, p. 21).
Através dos trabalhos realizados nas Oficinas Criativas, foi
possível observar claramente a expressão inconsciente deste corpo, quando
ele está confiante, quando se encontra tenso, se consegue reagi bem aos
estímulos sugeridos e se permite um toque. Acontece do cliente, colocar em
sua fala “estou bem”, mas o corpo expressa que ele está tenso, que rejeita...
As técnicas expressivas coligadas ao trabalho corporal podem
possibilitar o conhecimento das marcas do corpo, como testemunha de uma
história individual, genética e coletiva. Nossa memória mais remota deixa
marcas no corpo.
Aqui veremos o corpo como um todo, sem a dicotomia corpo e
mente por entender ser difícil (ou mesmo impossível) trabalharmos o corpo em
Arteterapia sem estarmos trabalhando simultaneamente a mente. É através
10
da mente que iremos oferecer a este corpo condição necessária para resgatar
a auto-estima.
Segundo Jung, a psique é uma imagem e um imaginar. Todo
conhecimento direto e imediato que se faz em nós se dá através de imagens.
(Jung, 1989, p.67)
E é com a intenção de elaborar imagens e facilitar o
conhecimento que elaboro esta monografia, exemplificando algumas técnicas
utilizadas em um Ateliê Terapêutico, ressalto, porém, que cada profissional
tem sua maneira própria de trabalhar e que o cliente ou o grupo definirá qual a
melhor forma que este conduzirá o processo terapêutico.
Muitos são os recursos para trabalhar em arteterapia, a
utilização dependerá a principio do profissional: dança, dança circular,
modelagem em argila, cerâmica, bonsai, música, etc... No estágio,
desenvolvemos métodos, observando os passos das Oficinas Criativas,
idealizado pela Drª Cristina Allessandrini. Foi bastante significativo, observar o
grupo aos poucos tomando forma e de maneira indireta determinava o que
faríamos no encontro seguinte.
11
COMO CHEGUEI AQUI
Relembrando o musical Alice no País das Maravilhas, usado em
uma das sessões de estágio, inicio assim esta monografia: Onde estou?
Como estou? Como foi que cheguei aqui? Não podendo deixar de perguntar
em todo o processo de escrita, Quem é Você?
Minha trajetória se inicia em uma cidade chamada Almino
Afonso/RN, e desde pequenina fiz acontecer. Sendo eu a terceira filha de
quatro meninas de família humilde, impus meu lugar ao sol, com somente um
ano e meio. “Por ser a mais ”reclamona”, meu pai sempre me levava com ele
para caçar e em suas andanças.” Foi então que meu pai biológico falece e
quando seus familiares vão nos visitar eu escolho como pai um irmão dele,
“conhecidentemente” (se é que coincidência existe) não tinha filhos – começo
a chamá-lo de pai, dizendo que ele tinha voltado. E é assim que venho para
em Natal, adoto e sou adotada simultaneamente por este casal de tios, que
posteriormente me registram como filha. Acho que esta foi a primeira vez que
fiz acontecer em minha vida, escolhi meu destino, minha família e meu lugar
para viver.
O tempo passa e aquela menina, meiga de cabelos cor de milho,
aos poucos vai crescendo, aos poucos vai tomando conhecimento de sua
história, aos poucos entra em contato com sua família de origem. Mas como
acredito que cada um tem seu destino, ninguém esta aqui por acaso, penso
que encontrei meu percurso, minha trajetória.
Se ela estava traçada
anteriormente eu a modifiquei, se não estava eu a tracei. De forma que eu
busquei o meu caminho com apenas um ano e meio.
Ainda pequena (se bem que ainda sou), demonstrei minhas
habilidades manuais, aos 05 anos, já estava com linha e agulha de crochê na
mão (meu pai muito habilidoso, me ensinou a fazer trancinha de crochê,
mesmo sem nunca ter feito), ou um vidro de esmalte, cortava os cabelos das
12
bonecas, fazia roupas para elas, brincando de professora, ensinava as
amiguinhas às tarefas de casa... Passam-se os anos e as habilidades
aumentam, vem o gosto pelo desenho, pintura, mas nada para preencher meu
imenso vazio, uma inquietação...
Vem à adolescência a necessidade de se definir o que vou ser
profissionalmente, e mais uma vez a pergunta: O que fazer? O que quero ser
profissionalmente? Talvez por esta sempre envolvida com trabalhos
comunitários e querer fazer algo pelo próximo, decido fazer vestibular para
Serviço Social, mas nunca esquecendo do gosto pela arte, sempre inventado
coisas (...), termino o curso de Serviço Social, reingresso no curso de
Educação Artística, mas infelizmente não concluo.
Desde então descobri que gosto de usar recursos artísticos, tais
como: tintas, pincéis, papéis coloridos, EVA, colas, tesouras, cerâmica,
modelagem, etc... Mas, ser artesã nunca me completou, precisava de algo
mais.
Para mim “fazer arte” tinha seus benefícios pra lá de relaxante, tinha
um fundo terapêutico, mesmo sem que eu entendesse o processo, na
realidade nem sabia que existia esta possibilidade. Pensava que era algo que
acontecia somente comigo.
Hoje compreendo, que mesmo sem fazer a leitura dos meus
trabalhos com arte, eu estava em processo de iniciação terapêutica.
A Arteterapia para mim surgiu num momento de necessidade de
crescimento pessoal e principalmente profissional como Assistente Social,
havia recebido a incumbência de Coordenar um Programa voltado a Pessoa
com Deficiência, nesta nova missão, aumentou ainda mais a necessidade de
fazer algo diferente do que vinha fazendo (burocrático), acabar com a
dicotomia teoria e prática.
Foi realizando supervisão a uma Instituição que atende Pessoas
com Deficiências, que conheci um Atelier Terapêutico, onde a arteterapeuta
também era Assistente Social, procurei saber mais sobre esta Especialização.
13
Passados alguns meses, fui convidada a participar de uma
Capacitação oferecida pela mesma Instituição, e lá fui apresentada à a
referida profissional, oportunidade que me falou da Arteterapia e que estava
iniciando uma nova turma na Universidade Potiguar – UnP.
Ingressei no Curso de Especialização em Arteterapia e durante
todo o processo de formação em Arteterapia, muita transformação aconteceu,
muita coisa melhorou e ainda estou só engatinhando, mas sinto que
alcançarei vôos altos, o céu é o limite. Hoje posso afirmar: encontrei-me na
Arteterapia.
A Arteterapia representa para mim, muitas portas (ainda a serem
abertas) e diversas possibilidades, através das quais poderei proporcionar
trans-form-ação nos clientes e em mim mesma.
Vejo a Especialização em Arteterapia como um início de um
longo percurso profissional, no qual não terei mais volta, cada vez que pego
algo para estudar, aprofundar surgem novos caminhos a serem trilhados:
Psicologia, Pedagogia, Artes, Mitologia, Sociologia, Filosofia, Música,
Cromoterapia, etc... É preciso estar em constante estudo. Isso tudo me
fascina, é dinâmico, é contagiante.
14
1. EXPRESSÃO NÃO VERBAL DO CORPO EM ARTETERAPIA
O corpo humano é uma das maravilhas da criação Divina, a sua
estrutura, a função e interação dos seus órgãos, que se
desenvolvem em seu interior em perfeita comunhão corpo-mentealma... Têm fascinado a todos desde os tempos imemoriais. É o
mistério que a própria vida possui. (Prefácio do livro Seleções O
maravilhoso corpo humano, 2001).
Este trabalho aborda uma visão da Arteterapia tendo como foco
principal o Corpo e a Mente, como elemento facilitador em um processo
terapêutico. Ao propor escrever sobre este tema, iniciou-se um processo de
pesquisa e observação do simbolismo do Corpo e de como a Arteterapia pode
auxiliar neste processo de autoconhecimento e transformação do indivíduo.
Por outro lado, temos o Cérebro/Mente que controla que
monitora, que armazena as tensões, as informações recebidas no dia a dia e
quando não são conduzidas de forma satisfatória, estas vão se acumulando,
somatizado e de alguma forma estas informações, são impressas, tatuadas
em nosso corpo, seja através de uma simples dor de cabeça, seja na forma
de andar, na postura, seja através do nosso pisar ou mesmo através de
reações orgânicas, alergias, inchaço (retenção de líquido), gastrites, etc... É o
que chamamos de linguagem não verbal do corpo.
Os pensamentos – padrões que causam mais doenças no corpo são
todos aqueles resultantes das críticas, da raiva e do ressentimento.
Por exemplo: a crítica conservada por longo tempo conduzirá a
pessoa a uma doença como artrite. A raiva levará as doenças que
fervem, inflamam e queimam no corpo. Ressentimentos longamente
mantidos retêm alimentos apodrecidos, que finalmente geram
tumores e câncer. É bem mais fácil dissolver esses pensamentos –
padrões negativos da nossa consciência quando nosso estado é
sadio do que tentar eliminá-los quando estamos em pânico e sob a
ameaça de um bisturi de um cirurgião. (GASPARETTO, artigo da
Internet).
Aquilo que foi ocultado de forma consciente ou inconsciente se
manifesta através das doenças. O corpo é a expressão visível da consciência,
e cada parte do corpo humano, cada órgão correspondente a um determinado
conteúdo psíquico. Daí a importância do trabalho corporal em Arteterapia.
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Parafraseando Irene Arcuri “os meios de comunicação que o
corpo oferece podem ser um fidedigno método de investigação terapêutica.
Através do aspecto postural, gestual, com sua forma ou suas deformações,
tensões inconscientes, dores, faz do corpo um conjunto de fragmentações,
onde se torna necessário uma centralização. O corpo que não ”fala” aprisiona
tensões, que provocam deformações e fica com energia “estagnada”. Isto por
que este processo geralmente é inconsciente.” Sendo assim, é preciso
trabalhar o Corpo de forma consciente, utilizando técnicas corporais
adequadas e simultaneamente trabalhar a mente através de técnicas
expressivas em Oficinas de Arteterapia.
É possível observar através expressão corporal, dos relatos
escritos ou das expressões plásticas como se encontra a mente do cliente, ou
seja, aquilo que está lhe perturbando. Para Jung o inconsciente só pode ser
experimentado no corpo, daí a observação deste corpo ser vital importância
em um processo arteterapêutico.
Diversas são as formas de conceituar Arteterapia, uma delas
define como uma atividade terapêutica que utiliza as técnicas expressivas
como veículo facilitador de liberação dos conteúdos inconscientes. Através
das artes plásticas, música, dança, dramatização, poesia e outras
modalidades artísticas o individuo tem acesso aos aspectos antes
adormecidos. Dessa forma, pode-se interagir com faces de sua personalidade
ainda desconhecida, tornando-se mais seguro das suas potencialidades.
A Arteterapia tem sua origem na Antroposofia de Rudolf Steiner
segundo o qual o homem é considerado um ser espiritual constituído de alma
e corpo vivo. Em 1925/27, na Suíça, a Dra. Ita Wegmann, o Dr. Steiner e na
Alemanha, o Dr. Husseman prescreviam a arte como parte do tratamento
médico. Na década de 40, nos Estados Unidos, Margareth Naumburg
sistematiza a arteterapia dando impulso ao uso das artes no processo
terapêutico, com ênfase em trabalhos corporais, as técnicas expressivas, são
meios de estimular e desbloquear o corpo permitindo que ele se expresse
livremente.
Esse método decodifica os processos armazenados no
inconsciente trazendo para o nível consciente.
16
Na Arteterapia temos a arte como um processo expressivo
desprendido de questões de ordem estética, técnica ou acadêmica A
arteterapia conduz o caminho para reestruturação e reorganização mental do
cliente, sendo seu foco direcionado para os processos criativos de forma a
trabalhar suas questões e dificuldades pessoais.
A Arteterapia é um processo terapêutico que utiliza as diferentes
“linguagens”, tais como: plásticas, musical, corporal, dramática, poética...
Atuando na reabilitação e desenvolvimento pessoal e profissional do
indivíduo.
Através de técnicas expressivas, o individuo pode desenvolver a
capacidade de entrar em diálogo com seu corpo; assim a escultura, a pintura,
o relaxamento, etc., seriam meios que possibilitam o conhecimento das
marcas do corpo, como testemunha de uma história individual, genética e
coletiva, ou seja, por intermédio de uma linguagem simbólica, o corpo toma-se
um instrumento importante na aquisição de uma visão unificadora do
consciente e inconsciente.
A memória corporal presente em nosso corpo transcende o
tempo e espaço, e pode trazer significado importante; as doenças
psicossomáticas seriam então as marcas deixadas no corpo, impedido o pleno
desenvolvimento do ser humano. Ao trabalharmos o corpo estamos nos
ligando diretamente a nossa memória mais arcaica, desde as primeiras
vivências no útero materno, na infância e na vida adulta. Cada vivência deixa
marca em nossa mente e no corpo. Um simples toque corporal ou um
relaxamento pode remeter a lembranças vividas no passado próximo ou
remoto. (Arcuri, 2004, p, 21).
Ao propormos um trabalho de Oficinas Criativas em arteterapia,
devemos ter o cuidado de primeiramente desenvolver uma relação de
confiança e propiciar ao cliente um estado de tranqüilidade e relaxamento e
para isso, fazemos uma escolha dentre as várias técnicas de sensibilização.
Em seguida, no momento da livre expressão, o material escolhido.
17
Podemos constatar que o criativo está presente em nossa vida
desde os atos mais simples aos mais complexos, pois, a criatividade é um
processo interior que acontece sem cessar dentro de nós, no entanto o
distanciamento que criamos nos impede de percebermos sua manifestação.
A experiência a cada módulo nos impulsionou olhar com maior
profundidade para nós mesmos e nesse desenrolar (continuum), estamos
ousando tirar a venda dos nossos olhos, os tampões de nossos ouvidos e a
couraça de nossos sentidos e, desse modo, ao caminhar, tecer novos
caminhos, abrir espaços, rompendo as barreiras que nos separam de nós
mesmos, levantar a bandeira da coragem de superar, buscar uma consciência
maior das dimensões existenciais.
18
2. CORPO
O corpo é instrumento de relacionamento, tanto receptivo quanto
expressivo. Ao escutarmos nosso corpo, podemos dar formas às emoções,
mediantes a descoberta do simbolismo com auxílio de recursos artísticos
(Arcuri, 2004 p,21).
Você já teve uma dor de estômago ou uma diarréia após um
estresse? Fique tranqüilo isso ocorre porque os hormônios do estresse tornam
a liberação do suco gástrico e o esvaziamento do estômago mais lento. Esses
mesmos hormônios aceleram a peristalse do cólon fazendo com que o seu
conteúdo se mova com mais rapidez. O estresse crônico pode levar ainda a
níveis altos constantes de cortisol no sangue, o que causa um aumento do
apetite e conseqüente ganho de peso. Portanto, o estresse pode engordar.
No
nosso
corpo,
cada
parte
tem
sua
simbologia
e
correspondência. A cabeça está relacionada com o plano superior céu, as
emoções e em cada órgão (boca, nariz, orelhas, testa, olhos, encontraremos
um significado mais detalhado e específico). Os pés se refere à terra. Nossa
raiz, a porta de entrada da alegria em nosso corpo – de acordo com a
sabedoria africana a cabeça não é nada sem os pés.
Na parte superior do corpo, estão às coisas mais sutis e menos
terrenas, e na parte baixa, ou seja, na zona dos pés, localizam-se as áreas
materiais relacionadas com o ser humano. O lado esquerdo do corpo aloja-se
as coisas pessoais e sentimentais do homem à área emotiva, e no lado
direito, as situações racionais a campos profissionais.
Servindo as mãos para agarrar aquilo que se pretende e os
braços para alcançar aquilo que se quer, quando alguma coisa acontece com
as mãos este pode ser um sinal de falta de posse por parte da pessoa. O
mesmo acontece com as pernas e os pés, pois as pernas seguem por um
caminho, mas dependem dos passos que ditam as verdadeiras regras.
19
“Se ocorrer algo com as mãos ou os pés, pode ser uma evidência
de que a pessoa sofre escassez de posse e que não consegue
agarrar por inteiro as coisas que alcança.” (Othon Smith – 1999,
www.guiadobuscador.com.br)
Os trabalhos corporais, as técnicas expressivas, são meios de
estimular e desbloquear o corpo e permitir que ele se expresse livremente. O
método de transdução (transformação de energia) decodifica os processos
armazenados no inconsciente trazendo para o nível consciente. O trabalho
com o barro é uma das técnicas utilizada na busca de entendimento da psique
do corpo, ou seja, do desenvolvimento da função transcendente.
A saúde será possível se o corpo, pensamento e sentimento
estiverem em harmonia. Neste contexto, elementos da arte, através da
Arteterapia, possibilita a compreensão que a doença pode ter expressão no
corpo e na psique e pode ajudar nessa integração, na decodificação, ou seja,
na transdução corporal, pela ação da arte, com o simbolismo do corpo.
O inconsciente coletivo é o reservatório dos símbolos ricos de
significação e energia vital, herdados de nossos ancestrais, da mesma forma
que os elementos morfológicos do corpo humano. Daí a necessidade de um
trabalho em Arteterapia coligando Corpo e Mente.
20
2.1. CORPO E MENTE SEM FRONTEIRA
A mente (o cérebro, o sistema nervoso central) pode ser treinada
para alterar processos e respostas específicas do corpo. Não há
sistema no corpo que seja autônomo e invulnerável à influência
mental.
A mente, sob certas condições, pode solicitar
conscientemente ao corpo que realize uma mudança. O corpo
acatará a ordem. Nenhum conceito de mente que derive de estudos
com animais (...) pôde explicar a capacidade da mente para
influenciar diretamente o corpo. (Epstein, 1989, p.152 ).
O desenvolvimento do cérebro acontece desde o nascimento do
bebê. Aos oito anos, a criança já possui conectados 90% dos neurônios que
carregará ao longo da vida. Aos dezessete anos de idade, o cérebro humano
atinge os 100% do seu estágio de crescimento. No entanto, estima-se que
apenas 30% da capacidade intelectual das pessoas sejam inata, determinada
pela herança genética. Os outros 70% vêm do uso e do aprendizado. Isso
significa que, assim como existem seres humanos mais altos ou mais velozes,
existem pessoas com maior capacidade orgânica cerebral. É isso que faz a
diferença entre uma pessoa mais inteligente e outra menos. O cérebro tem
milhões e milhões de células conectadas, entre si, por neurônios – os
microscópicos filamentos nervosos que conduzem os sinais elétricos. Cada
neurônio pode ligar-se a outras 100.000 terminações como ele. O número de
combinações possíveis pode chegar quase ao infinito.
Para o psiquiatra Gerald Epstein através da mente, podemos
controlar o nosso corpo, através da mentalização, resolvendo inclusive alguns
distúrbios físicos. Seria a mente um instrumento capaz de realizar a cura?
Em alguns casos a mente pode levar o indivíduo à morte, há
pessoas que estão doentes há algum tempo sem que apresente nenhum
sintoma, mas ao receber o diagnóstico do médico sobre o seu estado de
saúde (câncer, por exemplo) este logo passa a viver como se estivesse pronto
para morrer e às vezes, morre mesmo. Mas o que será que o matou foi à
doença (que já vinha com ela há algum tempo) ou foi o medo da doença?
21
Porque será que para alguns a recuperação é rápida e total e para outros a
acontece exatamente o contrário?
O corpo carrega toda história de vida, toda carga emocional,
necessitando a mente estar desbloqueada, para não aprisionar as emoções e
estagnar as tensões. O trabalho corporal coligado a arteterapia, constitui um
excelente método de expressar os sentimentos conscientes ou inconscientes.
Deepak Chopra descreve que, “o desconforto do corpo se
manifesta como dor, entorpecimento, espasmos, inflexibilidade e trauma, e
tudo isso é como um nó que a consciência por si só é capaz de desfazer.
Através da prática e da dedicação, você pode curar qualquer desequilíbrio no
sistema corpo-mente através da consciência, uma vez que seja apreendida, a
técnica adequada de relaxamento e libertação” (1994. p, 121).
O sintoma é sempre a expressão de uma emoção. É a resposta
a uma estimulação. A emoção se exprime ou se reprime. Ela se traduz pela
contratação ou relaxamento muscular, e é responsável pelo comportamento
pessoal. A impossibilidade de expressar bloqueia a circulação energética.
22
3. TÉCNICA DE MEDITAÇÃO E RELAXAMENTO
De acordo com Arcuri (2004), as técnicas de relaxamento
possibilitam o emergir de fantasias, tornando o indivíduo espectador de suas
próprias vivências internas, desatando certas inibições, principalmente as
corticais, que se manifestam como críticas, ceticismo, racionalização
exagerada.
NA PRÁTICA - Escolha um ambiente silencioso e aconchegante,
apague as luzes, coloque uma música instrumental (se possível com barulho
de água), bem suave, acenda um incenso e deite-se confortavelmente no
chão (colchonete) com abdome voltado para cima, pernas e braços
estendidos e relaxado. Mantenha os olhos fechados durante a meditação,
procure não dormir. Não permita que nenhum barulho interfira neste
momento, se algum pensamento vier, deixe que vá embora naturalmente.
Ouça sua respiração – o inspirar e o expirar. Perceba como o ar entra e sai
naturalmente. Deixe seu corpo integra-se ao chão, sinta como se cada parte
do seu corpo derrete-se ao chão:
1. Começando pelos pés, sinta seus tornozelos, panturrilhas, coxas e
virilhas um a um se derreterem ao chão;
2. Sinta agora o quadril e as nádegas derreterem-se ao chão;
3. Sempre atento à respiração, deixe estender-se toda extensão da
coluna, começando pela lombar, a cervical, região das omoplatas,
ombros e pescoço;
4. Aos poucos vá tomando consciência de cada parte do corpo e
relaxando e mantenha-se neste estado.
5. Lentamente arraste pernas e braço e veja que seu corpo formou um X.
Continue relaxando;
6. Agora visualize um facho luz saindo de suas mãos e pernas, cruzando
acima do seu corpo e em seguida, forme um círculo energético.
23
Permanece neste círculo, recebendo os benefícios destas luzes e
energias;
7. Gradativamente vá convergindo estas linhas de energias para seu
umbigo como se fossem rios chegando ao mesmo lugar;
8. Concentre-se no seu umbigo ele é o centro de sua força e de sua
vitalidade novamente, inspire profundamente enchendo toda caixa
torácica e expandindo-a para o abdome até o umbigo;
9. Vire seu corpo de lado em posição fetal, recolhendo seus braços e
pernas – tocando com as mãos seu umbigo. Permaneça assim por
alguns minutos nessa posição (DEMORA UM POUCO);
10. Sinta a coluna ereta, apóie as mãos e os joelhos com as palmas das
mãos voltadas para cima.
Sinta seu corpo perpendicular a terra
novamente;
11. Abra os olhos e finalize sua meditação.
Essa meditação pode ser usada para iniciar uma Oficina Criativa
em Arteterapia.
3.1. CALATONIA
Um outro método de relaxamento bastante utilizado é a
Calatonia de Pethö Sandor. A expressão Calatonia do grego significa Khalaó
indica “relaxação” e também “alimentação”, “afastar-se do estado de ira, fúria,
violência”, “abrir uma porta”, “desatar as amarras de um odre”, “deixar ir”,
“perdoar aos pais”, “retirar os véus dos olhos”, etc. A calatonia acontece com
toques sutis, é importante explicar ao cliente como será o procedimento,
retirar pulseiras, anéis tanto do terapeuta quanto do paciente, como forma de
evitar desconforto ou estímulos desnecessários, além de folgar a roupa do
cliente.
Sandor considera, “ser útil que os pacientes tenham um caderno
para anotar as observações ocorridas durante o relaxamento” (1982, p. 96).
24
Com a continuidade das sessões de calatonia, pode incluir as
palmas das mãos, a face anterior do pescoço (especialmente em caso de
gagueira), mas é importante ressaltar aqui, que o pescoço é uma parte
delicada, e que só deverá ser tocada quando o terapeuta já tiver certa
intimidade e com a permissão do cliente.
Sandor diz que, quando houver impossibilidade de trabalhar a
calatonia, nos membros inferiores (amputação, micose, criança irrequieta,
etc.), o terapeuta, deverá usar os membros superiores (mãos), de modo
idêntico ao processo descrito anteriormente.
3.2. OFICINA CRIATIVA
Cristina Dias Allessandrini, desenvolveu o método de Oficina
Criativa, para o trabalho em psicopedagogia em atendimento individual ou
grupal, este método é composto etapas (descreverei abaixo), pelo qual o
cliente expressa criativamente uma imagem interna por meio de uma
expressão
(pintura,
colagem,
modelagem,
etc.),
que
possibilitará
posteriormente organizar suas respostas. Este método é bastante eficaz na
Arteterapia.
Allessandrini (2000) ressalta a importância da liberdade
facilitadora de ação do facilitador do processo para construir oficinas criativas
com objetivos específicos.
Etapas da Oficina Criativa:
1. Sensibilização – inicia-se com a sensibilização, a qual permite que o
cliente chegue, centre na sessão que se inicia que estabeleça uma
relação de descoberta, de bem estar e elaboração dos seus conteúdos
internos; no qual ele é convidado a tocar o “si mesmo” (INTRA). Esta
sensibilização pode se dar de várias maneiras tais como uma
caminhada de diversas formas, na qual introduz elemento reflexivo,
pode ser também um relaxamento, uma dança, ou uma forma de
sensibilização que esteja de acordo com a proposta elabora para a
25
sessão. “O sujeito estabelece uma relação diferenciada com o mundo”
(Allessandrini, 2002, p.41).
2. Expressão Livre - o cliente expressa a vivência vivida ou um
sentimento, através da linguagem não verbal (livre expressão), “o que
foi sentido, intuído, vivido inquietamente, provocando um pequeno
caos interno, pode corporificar-se em contornos por vezes pouco
delineados, mas densos e potencializadores de uma nova ação
construtiva e diferenciada (...) o sentimento eclode como imagem e
toma forma” (Allessandrini, 2002, p.43).
Para a expressão livre,
poderemos utilizar os mais diversificados recursos artísticos, tais
como: argila, pintura, desenho, colagem, etc...
3. Elaboração da Expressão – É quando o cliente “re-elabora”, ainda na
perspectiva artística a representação não verbal, da sua expressão.
Cada indivíduo trabalha simbolicamente os conteúdos que emergem
em sua mente, de forma criativa. Aos poucos se mantém o aspecto
INTRA, estabelece uma relação INTER com a qualidade do TRANS.
Segundo Allessandrini, o nível TRANS, de transoperacional, comporta
síntese entre transformações, chegando até a construção de
“estruturas”, a imagem é aprimorada. O indivíduo opera tematizando
um conteúdo e uma forma.
4. Transposição de Linguagem – É o momento mais direcionado e
estruturado do pensamento, o cliente expande seus pensamentos
muitas vezes através da escrita criativa (poesias, textos bem
elaborados).
5. Avaliação – É o momento de re-olhar todas as etapas decorridas
durante a sessão, propiciando ao cliente elaborar seus conteúdos
ainda não explicitados, ou mesmo re-avaliando a vivência cheia de
símbolos talvez ainda não desvendados para este.
“A distância
reflexiva se completa, a gestalt se faz, oferecendo ao indivíduo a
oportunidade de crescer dentro de um caminhar próprio e autêntico, no
26
qual o arriscar-se e romper o próprio limite pode ser vivido como
unidade em algo que eu chamaria de ”ser-sentir-criar-expressar-fazerrefletir-crescer” (Allessandrini, 2002, p.45).
3.3. ELEMENTOS DA PSICOLOGIA ANALITICA
Com base nos escritos de C. G. Jung, o relacionamento com os
opostos serve como alicerce para nossa formação psíquica. A nossa
consciência separa os opostos para poder conhecê-los, voltando então a
reuni-los numa nova totalidade, e nesse processo ela se expande e amplia. A
tabela abaixo foi elaborada, com o intuito de facilitar o processo de
entendimento.
ELEMENTO
TERRA
ÁGUA
FOGO
AR
FUNÇÃO
JUNGUIANA
RELAÇÃO /
SIMBOLOGIA
RECURSOS PARA
TRABALHAR
NA ARTETERAPIA
Expressões
Tridimensionais. Trabalhar
com modelagem, argila,
SENSAÇÃO
CORPO – Processo
jardinagem, colagem com
vital e regulador
sementes.
Elementos
naturais.
Pintura,
as
tintas
FEMININO - Remete a
SENTIMENTO
aguadas, trabalhar a
metarmofose.
fluidez.
CRIATIVIDADE
–
Poder
transformador
Trabalho utilizando velas,
do fogo; tomada de
INTUIÇÃO
aquecimentos corporais,
consciência,
dança.
dinamismo,
energia
psíquica e motivação.
Contar
histórias,
Criar imagens e atribuir
confecção de bonecos,
significado
a
PENSAMENTO
teatro,
tecelagem
experiências
–
(deixar criar imagens),
fantasias
escrita criativa.
(fonte de pesquisa: Patrícia Pinna Bernardo – A mitologia Criativa e o Olhar – Dando corpo e
voz aos diferentes aspectos do ser – do Livro Arteterapia de Corpo & Alma, 2004).
4. RELATO DE EXPERIÊNCIA
UMA TRAJETÓRIA EM OFICINAS CRIATIVAS
Durante os sete meses, correspondentes às 80h de estágio,
mantivemos um encontro semanal de 01h30min, com um grupo de cuidadoras
de pessoa com deficiência (mãe, esposa), passando durante esse processo 13
senhoras, porém devido a dificuldades de algumas, o grupo terminou com 05
participantes. Uma característica forte deste grupo é o fato de elas serem
cuidadoras de alguém, tendo toda sua atenção voltada para o outro, é como
se o outro fosse extensão do seu ser. Ao propormos um trabalho em
arteterapia com esse grupo, estamos propondo a elas uma oportunidade de
elas serem elas mesmas, de facilitar um encontro com o criativo e consigo
mesmo, promovendo uma transformação em sua vida e em sua convivência
familiar.
Com o intuito de fazer um trabalho de pesquisa, durante as
sessões demos ênfase ao corpo (meu objeto de estudo), onde tudo foi
registrado em relatórios, gravado e fotografado, com a devida autorização por
escrito de cada participante do grupo.
Trago para o presente trabalho a trajetória de uma das
participantes que teve seu processo de auto-estima bastante despertado logo
nas primeiras sessões.
OAS, 37 anos, comerciante, mãe de uma adolescente com
Deficiência Mental de 18 anos. Primeira vez que participa de Oficinas
Criativas. Chegou ao nosso grupo com andar pesado, olhar tristonho,
depressiva, curiosa em saber sobre Arteterapia, demonstrou compromisso
para participar nos encontros seguintes, relatou queixas conjugais, de
comunicação moderada, verbalizou em poucas palavras que necessitava de
um tempo para si mesma. Relatou que não teve estudo, sendo filha mais velha
precisava trabalhar e cuidar dos irmãos mais novos, tudo o que sabe escrever
28
aprendeu no mobral e escrever para ela é um conforto, costuma escrever tudo
o que sente.
Surpreende
na
quarta
sessão
quando
demonstra
posicionamento, segurança, determinação, questionamentos, sugestões e
reflexões a respeito de suas necessidades individuais. A partir desse
momento, seu corpo expressa uma sintonia total com sua verbalização, na
leveza e descontração, movimentos suaves e ritmados, ações reflexivas.
Sobressaiu-se devido a sua atitude de centramento e total envolvimento, numa
entrega sem reservas. É importante ressaltar as observações bastantes
pertinentes feitas por OAS com relação às expressões plásticas das colegas
do grupo.
Valoriza o trabalho com a respiração e o corpo, afirmando que
não sabia respirar, que não tinha conhecimento da importância da mesma
para relaxar, dominar os pensamentos, enfim, sentir o corpo diferente.
Nessa sessão trabalhamos o elemento Fogo. O Fogo é um
símbolo muito poderoso que representa a presença da luz e do sagrado e
também o espírito. Assim como o sol, pelos seus raios, o fogo simbolizado por
suas chamas, a ação fecundante, purificadora e iluminadora.
O Fogo corresponde à cor Vermelha, ao verão, ao coração, as
paixões, o amor e a cólera. No aspecto negativo o fogo obscurece e sufoca,
por causa da fumaça; queima, devora e destrói: o fogo das paixões e da
guerra. O fogo desvela a consciência que se esconde em todas as coisas do
mundo material, como a chama que se esconde na lenha (...).
Após a escuta pedimos para abrirem os olhos e escrevessem em
pedaços de papel (que se encontravam cortados a sua frente), palavras o que
mais a incomodava, o que estava de negativo, e também o que desejam de
positivo em sua vida. É importante, ressaltar aqui que colocamos em cima da
mesa algumas palavras positivas e negativas, tais como: amor, fé, amizade,
dor, união, tristeza, alegria, podendo elas escolher a vontade, se quisessem
29
algumas dessas palavras, porém todas preferiram escrever suas próprias
palavras. Após a escrita dos papeis (Positivos e Negativos), colocamos no
centro um recipiente com três velas (uma para cada), onde cada uma iria fazer
a queima simbólica daquilo que estava incomodando (palavras negativas),
após a queima colocamos as cinza na lixeira.
Em seguida entregamos um papel sufite, tinta guache e pincel, e
pedimos para que representasse, utilizando a tinta o que estava sentido
naquele momento. Registramos em gravador a fala, conforme descrição
abaixo:
Quando queimei os pontos negativos e entrou os positivos, senti
o sol brilhando diante de mim, radiante, abrindo uma luz dentro de mim, com
muitas cores vivas, representando o arco-íres, a cor da felicidade; O verde eu
gosto de usar que é esperança, o amarelo é o ouro, o vermelho que é a
paixão, o azul aquele clarinho do céu, que é gostoso de respirar, quando a
gente está triste e olha para o céu, à noite. Olhando as estrelas, parece que
agente está vendo São Jorge, aquela coisa bem bonita, aí quando eu comecei
a queimar as coisas negativas veio como positiva; Vi muitas cores lindas, uma
sensação muito agradável, de limpeza.
Agradeço a Deus por estar me sentindo muito feliz, felicidade que
antes eu não tinha e também agradeço a Deus pelas pessoas que colaboram
comigo para que eu sinta essa felicidade; eu queimei tudo que existia de ruim
em cima de mim, que estava incomodando minha vida, foi queimado e jogado
as cinzas no lixo, tirei muita energia negativa de cima de mim hoje. Na
caixinha coloco muita paz, amor e saúde e união (vê imagem anexo).
No 20º encontro ao som de uma música cigana foi proposto ao
grupo uma caminhada pela sala, de forma que deixasse o corpo solto,
relaxado,
que fossem conduzidas pelo som. E quando estavam bem
centradas e alongadas, pedimos para que sintam os pés, percebendo o pisar –
como eu piso? Primeiro com o calcanhar ou com as pontas dos dedos? Eu
30
piso com o pé todo? Como está minha respiração? Está cortada? Está
ofegante?
Como é essa respiração?
Vamos andar mais rápido... Vamos
caminhar por vários caminhos, fazer novos percursos, descobrir novos
trajetos. Observem o pisar... E a respiração mudou?
Agora andando
normalmente, mude de direção, olhe no olho do colega... Agora ande como se
carregássemos muito peso...
E o calor está intenso... Muito calor tem os
afazeres domésticos... E agora como está o caminhar, a respiração? Será que
um sorriso ajudaria? (...).
– Neste momento OAS fala: se não conseguir pegar o ônibus agora, pego o
próximo... Jogar o peso para bem longe e dizer, Jesus, vou resolver tudo no
momento certo, na hora certa.
Em seguida, sentadas em colchonetes ao som instrumental do
piano, oferecemos hidratantes para que elas sentissem o toque de suas mãos
em seus pés, que massageassem os pés ou outro local que seu corpo
pedisse. Neste momento algumas comentaram:
- Como é bom,
- Fazia tempo que não tinha tempo para isso... E em seguida se abraça.
Vemos aqui a importância de se perceber, de se sentir; estas
mulheres que vivem em função de uma outra pessoa, através da proposta
oferecida no Atelier Terapêutico passam por momento de aceitação e
transformação.
Após a sensibilização inicial, oferecemos papel canson A-3 e
tinta aquarela, explicamos a forma de usar a tinta aquarela, e deixamos que
cada uma use a cor e a forma que preferissem. Houve uma boa aceitação da
tinta, embora algumas tenham usado pouca água, falaram que a tinta sujava
pouco... OAS comenta:
-
Estou flutuando, aquele ar pesado vai saindo, voando. Que coisa boa, o
ar gostoso, perfumado do mar vai vindo, tão relaxante, as ondas,
flutuando... A respeito da sua expressão colocou:
31
-
Aqui é o rio verde, agente correndo no rio, muita água, aqui no nosso
círculo com essas palavras, essas flechas bem bonitas, é nossa
amizade, força, união; Aqui eu quis desenhar um pé de pau, mas em
vez disso desenhei o cérebro da gente, trabalhando, desenhando
naquela concentração, aqui é o coração com veias, bem cheinha, tudo
flutuando, muito bom, o coração bem aceso, aqui é a lua; Engraçado,
ainda saiu duas luas e dois sóis, a lua com os pássaros flutuando,
naquele espaço bem gostoso, ao ar livre, e aqui a estrela bem grande
que tava focando a gente, no círculo da gente, iluminando a gente,
aquela iluminação gostosa, aquela energia positiva, senti o foco perto
da gente, aquela coisa linda, porque o mundo que a gente vivi é
dividido, então aqui é o mar, é como os. Discípulos que queriam
atravessar o mar, mesmo aqui é a divisão, aqui no rio verde, o mar, e
aqui é uma parte, e aqui outra parte do mundo. Em seguida comenta
que quando chegou não sabia pintar, só queria escrever, escrever e
depois foi dizendo vou desenhar aqui... Quero fazer o símbolo pelo
desenho.
É impressionante observar a trajetória de OAS, a percepção que
ela tem dos seus trabalhos, ela tem uma leitura (da sua expressão) magnífica.
Quando ela diz “Quero fazer o símbolo pelo desenho”. Ela está apenas
confirmando para nós Arteterapeutas, que é bem mais fácil se expressar pelo
desenho do que pela fala ou escrita. É através desta expressão que ela deixa
liberar todo seu inconsciente.
Uma outra observação constante que ela faz, é que agora ela
anda de cabeça erguida, que seu corpo está mais esguio, mas elegante
(aprendeu isto na Arteterapia), e que antes, andava pesadona, cabeça baixa.
No encontro seguinte o grupo demonstrou estar preguiçoso; uma
chegou comentando que queria cama, outra já disse que estava com sono e a
outra comentou que tinha comido um pirão de peixe e estava cheia... Então,
fizemos um aquecimento de respiração (três vezes) e corpo, pedimos ao grupo
32
para ficar em pé, deixar o olhar lentamente percorrer a sala e verificar o que
existem, os objetos, as cores, as formas e observar e sentir o corpo - Com as
pernas juntas, paralelas, afaste o pé direito para o lado enquanto inspira
observar o que sente... Como o corpo reage... Com as mãos na barriga,
inspirar sentido o ar entrando, prenda o ar e empurre para baixo...
Para que todas “despertassem”, colocamos uma música cigana
(ritmo preferido do grupo) e de forma espontânea o grupo iniciou uma dança,
utilizamos uma toalha vermelha de crochê (que se encontrava no local) como
se fosse uma saia cigana, dando o movimento e logo o grupo gostou e foi
passando de mão em mão a saia rodada de tanto movimento e bailado.
Após a expressão plástica de cada uma, perguntamos como
tinha sido o trabalho com a respiração, sentir o corpo... Conseguimos gravar
as seguintes falas (transcrevo a fala de OAS na integra):
- Maravilhosamente bem, relaxou, distraí, eu senti como se estivesse na neve,
como na novela passa aquela boate, dançando, aquela coisa maravilhosa. No
momento da respiração eu senti tipo um menino saindo do ventre aquele ar
gostoso maneiro, o lado direito estava pesado mais o esquerdo estava
maneiro, eu senti justamente leve, voando parecia que estava em uma festa
dançando com o marido, hoje lembrei do marido, parecia que eu estava
dançando com ele, aqui no desenho, sou eu com o menino no ventre, aqui MA
com a saiona, (risos do grupo) então eu me lembrei do meu marido, parecia
que estava dançando numa festa bem boa, passeando em um carrão bem
grande, o sol, como a gente abriu dando bom dia ao sol, aqui é o sol bem
aceso, focando, com um olho bem acesso dentro da gente, e tinha um jardim
que tinha aquela água, um rio correndo, leve, bem azulzinho, bem alvinho, isso
aqui é o tambor batendo para gente dançar na festa, e aqui era eu dançando
soltando a blusa, que tinha um tecido caindo e eu soltando a blusa, toda solta,
isso aqui é um passarinho que é perto do rio da floresta, cantando e aqui é o
carro, ai ele me chamou para a gente sair e olha eu aqui descendo e entrando
no carro, ele dirigindo, pi, pi.... me chamando eu já vou meu velho, mas a festa
ta boa, vamos embora o dia já amanheceu mulher, vamos, mas a festa ta boa,
33
vamos dançar mais... e o coração fazendo tchiq, tchiq... Feliz da vida, na hora
que a gente prendeu o ar, senti como o menino no ventre aquela coisa
gostosa. E novamente ela repete. Aqui (e aponta para o centro do ventre do
desenho) é o menino no ventre, foi quando senti na hora que prendia
respiração, eu senti tipo assim um menino saindo do ventre, aquela coisa
gostosa.
Como foi desenhar dentro do círculo?
- Foi bom, parece que eu só sai um pouquinho aqui. Eu não desenhava...
Quando cheguei aqui, só gostava de escrever, agora depois dessa terapia, sai
tanto desenho que eu nem sei como está saindo o desenho, não sei como
estou fazendo, só sei que estou fazendo. – Houve uma intenção ou você
deixou o que queria sair? Sinceramente, o que queria sair o que quis entrar na
cabeça e quis sair saiu. Desenhei primeiro eu dançando, feliz da vida, depois
meu marido, depois a minha menina, MA (é paciente da Instituição) com uma
saia bem rodada, porque teve uma quadrilha aqui e ela veio com uma saia
bem linda, bem comprida, e ela adora me vê dançando, ela ri muito com as
minhas presepadas, ai me lembrei dela.
Essas duas flores são girassol... O
passarinho daqueles brancos que vivem na beira do rio, que tem as pernas
grandes, garça branca, o tambor - (do lado esquerdo, o coração e a criança
estão em transparência, o pássaro, o sol) – e o coração estava bem...
Batendo, eu coloquei verde, ai coloquei vermelho que é sangue pulsando.
Novamente trago aqui a observação quanto ao seu crescimento
interior, a leitura que ela faz das simbologias percebidas nas expressões. Pela
primeira vez ela trás o marido a sua representação e fala de forma carinhosa,
é importante lembrar que nesta sessão trabalhamos o Corpo principalmente
através da dança cigana, caliente e animada vale a pena também lembrar que
usamos um pano vermelho para compor nosso cenário, nossa vestimenta e
em sua fala ela retrata que - “coloquei vermelho que é sangue pulsando”.
O corpo aparece de forma caliente, sem vergonha da sua forma,
não fala mais do seu peso, expressa também que durante a sensibilização
34
inicial que o lado direito (racional) estava mais pesado e o esquerdo
(emocional, intuitivo).
No último encontro, foi pedido para que deitassem e deixassem
os pensamentos passarem, não fixassem em nenhum deles, apenas
relaxassem...
Aos poucos foi pedido para que pensassem naquilo que
desejavam para o futuro, quais os planos para daqui a diante... Atenção para
respiração, relaxamento do corpo. Através da arte vocês expressaram,
formaram, transformaram, reciclaram sentimentos que habitavam dentro de
vocês; Pensamentos, vozes que estavam trancadas e precisavam ser
colocadas para fora, então houve a transformação interior e exterior, na
expressão facial hoje, percebemos olhar brilhante, um rosto que realmente
expressa alegria, uma voz fluente e fala muito significativa, de como se deu
esse crescimento de vocês, a alegria de se encontrarem bem melhor do que
antes. Este é o momento de planejar alguns sonhos, nós temos sonhos que
trazemos ao longo da vida, de forma muito especial, pensem em algo que
queiram realizar tanto a nível pessoal, emocional e também material; imagine
como se fosse uma tela de cinema e vocês - esse poder que a mente tem de
concretizar, de material o sonho, depende muito dessa energia que investe
neste sonho - coloquem muita cor, brilho nesse sonho que querem realizar,
dêem movimento, coloque todo desejo. Somos corpo, mente e espírito, no
momento em que vocês inspiram, que param e se conectam com essa força
maior, com essa força divina que habita em cada uma de vocês.
- Ao final OAS relata: Hoje me senti assim, justamente quando se falou para
deixar a lua entrar, a luz, escolhesse a cor da luz, escolhi a cor vermelha por
incrível que pareça, mudei de verde para vermelho, quando entrei nessa casa,
estava com meus caminhos fechados estava cheia de problemas, muito triste,
não tava sabendo definir eu mesma, imagine o resto e hoje eu sinto as portas
da minha casa aberta, tudo claro, tudo colorido, aqui no centro da casa eu
estou, eu sou o centro da minha casa e o centro esta branco hoje sinto, por
que sinto paz, foi à melhora que consegui aqui, a resposta que tive aqui. Refiz
aqui nessa terapia, foi à paz, o caminho aberto, esse colorido todo que é
35
animação, a cabeça boa. Deixei aporta aberta e no centro em vez de botar rua
cajazeira, botei paz, Rosa, o dourado que é o ouro, o vermelho que e paixão e
o verde que é esperança e aqui na cabeceira, vermelho e verde e o rosa que
não sei por que botei hoje, botei, mas e um rosa claro, que transmite uma
coisa boa, também. Eu nunca que trabalhei em pintura, fiz um quadro muito
bonito, estou orgulhosa. Muito bonito.
36
FALAS SIGNIFICATIVAS REGISTRADAS DURANTES OS ENCONTROS
“Não sei, na hora que terminar eu volto”.
“... Eu já me eduquei muito, achava que grito, estupidez, a raiva resolvia e
depois que entrei aqui, mudei. Os problemas estão se acabando, estou me
reservando, (...) cada vez que venho aqui aprendo coisas, elimino coisas, é
muito significante o que vou aprendendo, é muito bom”.
“... Quando cheguei aqui era toda trancadinha, como agora estou me sentido
melhor então sai coisas que agente nem percebe que esta refletindo, (...) até
lá em casa eu mudei muito, as pessoas comentam, e eu digo que preciso
pensar primeiro em mim, mas não digo porque mudei, que aprendo aqui, pois
ninguém vai dar valor, vai criticar, então ela é boa para mim, tenho que
guardar para mim”.
“... Se fosse fazer uma capa para o livro hoje eu colocaria vitória. Eu já subi
vários degraus”.
“Estou vivendo outra vida, um espírito novo entrou em mim, tenho mais
humildade, entendo as pessoas, pois antes só eu era a certa e como posso
educar se sou a primeira mal educada? Se não sei me expressar, como vou
ensinar alguém a se expressar diante de mim? Isso já mudou muito minha
vida”.
“Eu sou o centro da minha casa e o centro esta branco hoje sinto, por que
sinto paz, foi a melhora que consegui aqui, a resposta que tive aqui. Refiz
aqui nessa terapia...”
37
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A vivência de cada módulo, a prática durante o estágio e a
pesquisa científica, proporcionou um olhar terapêutico e um desenrolar
continnum de observação dos efeitos (resultados) da Arteterapia sobre o
Corpo/Mente do cliente.
Neste estudo procurei vê o individuo como um todo (corpo e
mente) sem divisão, seguindo o pensamento do grande mestre Jung, quando
diz que: a distinção entre mente e corpo é uma dicotomia artificial, um ato de
discriminação baseado muito mais na peculiaridade da cognição intelectual do
que na natureza das coisas. De fato, é tão íntimo o relacionamento dos traços
psíquicos e corporais que podemos não somente estabelecer inferências
sobre a constituição da psique a partir da constituição do corpo como também
podemos inferir características corporais a partir das peculiaridades psíquicas.
Doutora Denise Ramos (psicóloga coordenadora da pósgraduação em psicologia clínica da PUC/SP), afirma que não se pode dividir o
homem em metades, uma cuidada pelo psicólogo e outra pelo médico, e
acrescenta ainda que esta dicotomia foi muito útil no passado para a medicina
dissecar e estudar corpos.
Partindo do princípio de estudar o indivíduo como um todo corpomente, e que de acordo com Jung o inconsciente só pode ser
experimentado no corpo, pesquisei publicações de especialistas sobre o
assunto.
Com um referencial teórico sobre o tripé CORPO X MENTE X
ARTETERAPIA, passei a estudar propostas de como a Arteterapia contribui
para a reestruturação e reorganização mental do cliente.
38
Na Arteterapia temos a arte como mediadora de um processo
expressivo desprendido de questões estéticas, técnicas ou acadêmicas, capaz
de dialogar com as mais diversas complexidades.
Ao convivermos com os Seres Humanos, percebemos que este
trás dentro de si um potencial a ser desenvolvido e sua realização é uma
necessidade, principalmente na medida em que precisa lidar com situações
conflituosas e angustiantes.
Através do trabalho realizado nas Oficinas Criativas e ao fazer
uso de seu potencial criativo, o cliente, canaliza sua energia no sentido de
vencer desafios e ao mesmo tempo, minimizar o distanciamento pessoal e
interpessoal, desenvolvendo novos jeitos de ser, viver e conviver. Promovendo
o fortalecimento da auto-estima e da capacidade relacional.
De acordo com o psiquiatra Gerald Epstein, a mente pode
controlar o corpo, através de mentalização, resolvendo inclusive alguns
distúrbios físicos. No entanto, é necessário que esta mente esteja
desbloqueada para não aprisionar as emoções e estagnar as tensões. O corpo
que não “fala” aprisiona tensões, provoca deformações.
O trabalho corporal coligado a Arteterapia, constitui um excelente
método para o cliente expressar os sentimentos, os conteúdo internos, sejam
eles conscientes ou inconscientes.
Desta forma, acredito que trabalhar o corpo/mente através da
Arteterapia possibilita ao indivíduo, o pleno desenvolvimento do potencial
criativo, a elevação da auto-estima, a melhora da sua saúde física e mental.
Assim como a ostra que necessita de uma lasca e um grão de
areia, para fabricar a pérola, necessitamos também de uma ruptura em nossa
estrutura para recebermos e concebermos algo novo e precioso, exercendo
assim, nosso potencial criativo. (Bertazzo, 1996, p.12).
39
A Arteterapia foi ruptura necessária ao caso prático (cliente
OAS), que apresento neste trabalho monográfico; de início se apresentava
forte como mãe, companheira, porém frágil como pessoa, não reconhecendo
seu valor, com a auto-estima totalmente abalada. O seu corpo não portava
nenhuma elegância, sempre andando cabisbaixo... No término do período de
estágio curricular (80h), já demonstrava ser outra pessoa, confiante em si,
determinada, já não reclamava do seu corpo e apresentava elegância no seu
modo de ser.
Passados quatro meses do término do estágio OAS, diz que
voltou a estudar, está matriculada em academia, fazendo musculação e cheia
de projetos para realizar.
Finalizo concluindo que consegui atingir o objetivo principal
proposto que era facilitar o contato e o desenvolvimento do potencial criativo
dos membros do grupo, desenvolver a motivação, promover o fortalecimento
da auto-estima e da capacidade relacional.
Porém é imprescindível salientar que este é um trabalho que
demanda pesquisa e aprofundamento, para que não seja tratado com
superficialidade, tenho a plena consciência que esta monografia, não pode ser
um trabalho solitário. Portanto, sugiro que outros alunos possam dar outras
contribuições relevantes ao tema ora apresentado.
40
AS IMAGENS FALAM POR SI
Quando chegou ao nosso grupo, olhar
triste, ombros caído....
No decorrer do processo terapêutico
demonstrou uma auto-estima contagiante,
andar confiante, decidida, alegre.
1º Encontro
14º Encontro
A CANTORA
15º Encontro
14º Encontro
A
15º Encontro
ANIMADORA
A LIDER
41
Crachá de Apresentação – 1º Encontro
42
Pintura de Mandala (utilizando giz de cera) – 4º Encontro
43
Oficina do Fogo – 6º Encontro
44
Oficina Fios e Formas (trabalhando o desconhecido) – 10º Encontro
45
15º Encontro
46
REFERÊNCIAS
ADAMS, Annete. Et al. – O maravilhoso corpo humano. Reader‟s Digest
Brasil. Rio de Janeiro. 2001.
ALLESSANDRINI, C.D. Tramas Criadoras: na construção do „ser si mesmo‟.
São Paulo: Casa do Psicólogo Editora Ltda, 1999.
______. Oficina Criativa e Psicopedagogia. 3ª Edição. São Paulo: Casa do
Psicólogo Editora Ltda. 2002.
______. Oficina e Análise Microgenética de um Projeto de Modelagem em
Argila. Tese de doutorado, Instituto de Psicologia da Universidade de São
Paulo, Deptº de Psicologia da Aprendizagem do Desenvolvimento e da
Personalidade, 277 p. sob orientação do Prof. Lino de Macedo, São Paulo,
2000.
ARCURI, I. (org.) Arteterapia de Corpo & Alma. São Paulo: Casa do
Psicólogo Editora Ltda. 2004.
______. Memória Corporal: o simbolismo do corpo na trajetória de vida.
Dissertação de Mestrado. São Paulo. 2002.
BAPTISTA, Ana Luisa. Revista de Arte Terapia Imagens da Transformação.
São Paulo. vol. 10, Pomar Ed., 2003.
BERTAZZO, I. Cidadão Corpo. São Paulo: Editora Summus. 1998.
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José Olympio Editora. 1989.
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UNIVERSIDADE POTIGUAR – UnP
ALQUIMY ART
PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM ARTETERAPIA
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARTETERAPIA
NERIALBA RODRIGUES DELGADO DE FREITAS
EXPRESSÃO NÃO VERBAL DO CORPO EM ARTETERAPIA
Natal/RN
2006
50
Este é um novo tempo
Um começo
Uma caminhada
Um momento de partir, sair em busca...
Este é o ano de uma era de sonhos
Que vão tomando a forma de uma realidade
Ansiada...
Este é o seu tempo de chegar – como esperança –
O seu tempo de crer na sua força
E na nossa profunda disponibilidade de acertar e contribuir
Para ajudá-lo a torna-se o
Melhor que possa vir a ser...
Este é o novo tempo
Que acumula lições de um passado inteiro
E a elas acrescentar uma enorme
Vontade de desbravar junto com “você”
Esse futuro radioso que começa
Aqui e agora.
Maria José Borges Lins e Silva
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Este estudo traz uma visão da Arteterapia tendo como