NERIALBA RODRIGUES DELGADO DE FREITAS EXPRESSÃO NÃO VERBAL DO CORPO EM ARTETERAPIA Monografia apresentada à Universidade Potiguar/RN e ao Alquimy Art, de São Paulo como parte dos requisitos para a obtenção do título de Especialista em Arteterapia. Orientador: Profª Cristina Oselia E. G. Lisboa Natal/RN 2006 3 F866e Freitas, Nerialba Rodrigues Delgado de. Expressão não verbal do corpo em arteterapia / Nerialba Rodrigues Delgado de Freitas. – Natal, 2006. 48f. Monografia (Especialização em Arteterapia) Universidade Potiguar. Pró-Reitoria de Pesquisa e PósGraduação. 1. Arteterapia – Monografia. Monografia. 3. Corpo – Monografia. RN/UNP/BCFP 2. Expressão – I. Título. CDU:37.015.3(043) 4 NERIALBA RODRIGUES DELGADO DE FREITAS EXPRESSÃO NÃO VERBAL DO CORPO EM ARTETERAPIA Monografia apresentada pela aluna Nerialba Rodrigues Delgado de Freitas ao curso de especialização em Arteterapia recebendo a avaliação da Banca Examinadora constituída pelos professores: Aprovado em, ____/____/_____ Profª Drª Cristina Dias Allessandrini, Coordenadora da Especialização. Profª Esp. Cristina Oselia E. G. Lisboa, Orientadora. Profª Msc. Irene Arcuri, Leitor Crítico. 5 SUMÁRIO - Introdução .................................................................................................... 09 - Como cheguei aqui........................................................................................ 11 1. Expressão não verbal do corpo em Arteterapia.......................................... 14 2. Corpo........................................................................................................... 18 2.1. Corpo e mente sem fronteira.................................................................... 20 3. Técnica de meditação e relaxamento.......................................................... 22 3.1. Calatonia.................................................................................................. 23 3.2. Oficina Criativa......................................................................................... 24 3.3. Elementos da Psicologia Analítica.......................................................... 26 4. Relato de Experiência - Uma Trajetória em Oficinas Criativas.................. 27 . Falas significativas................................................................................... 36 5. Considerações Finais ................................................................................ 37 . As imagens falam por si........................................................................... 40 6. Referências................................................................................................ 46 6 AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus, razão maior do meu existir, agradeço aos meus pais (in memória) que sempre me incentivou a estudar, dizendo que esta era a única herança que tinham para me deixar. Agradeço em especial a Clodoaldo meu esposo que sempre esteve ao meu lado, me apoiando nessa trajetória. Meu obrigado aos meus filhos, Camila minha primogênita, minha realização primeira (meu caminho) e a Lucas meu companheiro de longas noites (a luz do meu caminho); vocês que sem compreenderem o porquê de tanto estudo, o porquê da minha ausência, souberam me amar e me aceitar. Meu agradecimento a Instituição e ao grupo que acolheram a proposta de estágio, fundamentando a prática. A Luzia Sampaio amiga de tantas horas, de tantos projetos, com você redescobri o gosto do estudar, o amor a psicologia. Obrigada, Amiga. A Lídia Heitor, Márcia Betânia, Soraya Deluzia, Rosy e Luzia Sampaio, meu inseparável grupo de estudo. A Cristina Oselia, minha supervisora, orientadora, mestra e amiga, obrigada por tudo. Enfim, agradeço a todos os mestres que souberam compartilhar de forma magnífica seus conhecimentos. 7 RESUMO EXPRESSÃO NÃO VERBAL DO CORPO EM ARTETERAPIA Este trabalho é fruto das articulações realizadas entre as leituras de textos científicos acerca do corpo, bem como, observações e experiências advindas do estágio curricular; durante o período de março a outubro de 2005 realizamos 23 (vinte e três) encontros, em uma Instituição sem fins lucrativos, com um grupo de 05 (cinco) mulheres cuidadoras da Pessoa com Deficiência. Traremos nesta abordagem o Corpo como um todo, sem a dicotomia corpo e mente por entender ser difícil (ou mesmo impossível), em Arteterapia trabalharmos o corpo sem ativarmos a mente. É através da mente que oferecemos a este corpo condição necessária para resgatar a auto-estima. Os trabalhos corporais e as técnicas expressivas adotadas serviram para estimular e desbloquear o corpo, permitindo que ele se expresse livremente. Esse método decodifica os processos armazenados no inconsciente trazendo para o nível consciente. O nosso corpo está repleto de linguagens escondidas, reveladoras de fatos emocionais presentes e dissimulados. Contudo, não é fácil "ler" a simbologia corporal. Na maioria das vezes, o corpo transmite mensagens, e nem percebemos. É por isso que os métodos alternativos estudam e abordam o simbolismo do corpo. O estudo do simbolismo do corpo já é feito há muito tempo. A hipótese de que o corpo podia transmitir muito mais do que se julgava deixou de ser uma possibilidade distante para ser aceita como mais do que provável. Muitos dos nossos comportamentos e atitudes são compreendidos pela medicina alternativa como fruto da constante ação de uma parte do corpo demonstrando uma determinada realidade. É dentro deste prisma que pretendo nortear a monografia, relacionando a expressão corporal, com o poder da mente em responder aos estímulos através do processo terapêutico em Arteterapia. Palavras-chave: Arteterapia – Corpo - Mente 8 ABSTRACT NON-VERBAL BODY EXPRESSION IN ART THERAPY This paper is an outcome of the articulations performed between the readings of scientific articles about the body, as well as observations and experiments supervened in the course of academic internship; during the period of March to October in 2005, 23 meetings were held in a non-profit association, with a group of five women responsible for taking care of physically impaired clients. Here the body will be seen as a whole, without the mind-body dichotomy, taking into consideration the difficulty (or even impossibility) in Art Therapy of working the body without activating the mind. Through the mind that we will offer this body the necessary conditions in order to raise the self-esteem. The physical activities and expressive techniques adopted served to estimulate and unblock the body, allowing it to express itself freely. This method decodes the processes stored in the subconscious bringing them to the conscious level. Our body is formed by plenty of hidden languages, revealing of current and secretive emotional facts. However, it is not easy to “read” the corporal symbology. Mostly, the body sends messages which we do not perceive. That is the reason why alternative methodology study and approach the body symbolism. Its study is being performed since a long time. The hypothesis which considered the body transmitted much more than it was imagined turned out to be not a slight possibility, but it was accepted as much more probable. Many of our attitudes and behaviour are understood by alternative medicine as a result of the constant action of part of the body, demonstrating a determined reality. It is inside this prism which we intend to direct this work, relating body expression to mental power in responding stimuli through theurapetical procedures in Art Therapy. Key words: Art Therapy – Body - Mind 9 INTRODUÇÃO Dentre as muitas possibilidades de pesquisa, optei por falar do Corpo, e de sua expressão não verbal; como é que este Corpo fala e como essa expressão corporal pode contribuir em um processo arteterapêutico. A memória corporal presente em nosso corpo transcende o tempo e espaço, e pode trazer significado importante; as doenças psicossomáticas seriam então as marcas deixadas no corpo, impedido o pleno desenvolvimento do ser humano. Ao trabalharmos o corpo estamos nos ligando diretamente a nossa memória mais arcaica, desde as primeiras vivências no útero materno, na infância e na vida adulta. Cada vivência deixa marca em nossa mente e no corpo. Um simples toque corporal ou um relaxamento pode remeter a lembranças vividas no passado próximo ou remoto. (Arcuri, 2004, p. 21). Através dos trabalhos realizados nas Oficinas Criativas, foi possível observar claramente a expressão inconsciente deste corpo, quando ele está confiante, quando se encontra tenso, se consegue reagi bem aos estímulos sugeridos e se permite um toque. Acontece do cliente, colocar em sua fala “estou bem”, mas o corpo expressa que ele está tenso, que rejeita... As técnicas expressivas coligadas ao trabalho corporal podem possibilitar o conhecimento das marcas do corpo, como testemunha de uma história individual, genética e coletiva. Nossa memória mais remota deixa marcas no corpo. Aqui veremos o corpo como um todo, sem a dicotomia corpo e mente por entender ser difícil (ou mesmo impossível) trabalharmos o corpo em Arteterapia sem estarmos trabalhando simultaneamente a mente. É através 10 da mente que iremos oferecer a este corpo condição necessária para resgatar a auto-estima. Segundo Jung, a psique é uma imagem e um imaginar. Todo conhecimento direto e imediato que se faz em nós se dá através de imagens. (Jung, 1989, p.67) E é com a intenção de elaborar imagens e facilitar o conhecimento que elaboro esta monografia, exemplificando algumas técnicas utilizadas em um Ateliê Terapêutico, ressalto, porém, que cada profissional tem sua maneira própria de trabalhar e que o cliente ou o grupo definirá qual a melhor forma que este conduzirá o processo terapêutico. Muitos são os recursos para trabalhar em arteterapia, a utilização dependerá a principio do profissional: dança, dança circular, modelagem em argila, cerâmica, bonsai, música, etc... No estágio, desenvolvemos métodos, observando os passos das Oficinas Criativas, idealizado pela Drª Cristina Allessandrini. Foi bastante significativo, observar o grupo aos poucos tomando forma e de maneira indireta determinava o que faríamos no encontro seguinte. 11 COMO CHEGUEI AQUI Relembrando o musical Alice no País das Maravilhas, usado em uma das sessões de estágio, inicio assim esta monografia: Onde estou? Como estou? Como foi que cheguei aqui? Não podendo deixar de perguntar em todo o processo de escrita, Quem é Você? Minha trajetória se inicia em uma cidade chamada Almino Afonso/RN, e desde pequenina fiz acontecer. Sendo eu a terceira filha de quatro meninas de família humilde, impus meu lugar ao sol, com somente um ano e meio. “Por ser a mais ”reclamona”, meu pai sempre me levava com ele para caçar e em suas andanças.” Foi então que meu pai biológico falece e quando seus familiares vão nos visitar eu escolho como pai um irmão dele, “conhecidentemente” (se é que coincidência existe) não tinha filhos – começo a chamá-lo de pai, dizendo que ele tinha voltado. E é assim que venho para em Natal, adoto e sou adotada simultaneamente por este casal de tios, que posteriormente me registram como filha. Acho que esta foi a primeira vez que fiz acontecer em minha vida, escolhi meu destino, minha família e meu lugar para viver. O tempo passa e aquela menina, meiga de cabelos cor de milho, aos poucos vai crescendo, aos poucos vai tomando conhecimento de sua história, aos poucos entra em contato com sua família de origem. Mas como acredito que cada um tem seu destino, ninguém esta aqui por acaso, penso que encontrei meu percurso, minha trajetória. Se ela estava traçada anteriormente eu a modifiquei, se não estava eu a tracei. De forma que eu busquei o meu caminho com apenas um ano e meio. Ainda pequena (se bem que ainda sou), demonstrei minhas habilidades manuais, aos 05 anos, já estava com linha e agulha de crochê na mão (meu pai muito habilidoso, me ensinou a fazer trancinha de crochê, mesmo sem nunca ter feito), ou um vidro de esmalte, cortava os cabelos das 12 bonecas, fazia roupas para elas, brincando de professora, ensinava as amiguinhas às tarefas de casa... Passam-se os anos e as habilidades aumentam, vem o gosto pelo desenho, pintura, mas nada para preencher meu imenso vazio, uma inquietação... Vem à adolescência a necessidade de se definir o que vou ser profissionalmente, e mais uma vez a pergunta: O que fazer? O que quero ser profissionalmente? Talvez por esta sempre envolvida com trabalhos comunitários e querer fazer algo pelo próximo, decido fazer vestibular para Serviço Social, mas nunca esquecendo do gosto pela arte, sempre inventado coisas (...), termino o curso de Serviço Social, reingresso no curso de Educação Artística, mas infelizmente não concluo. Desde então descobri que gosto de usar recursos artísticos, tais como: tintas, pincéis, papéis coloridos, EVA, colas, tesouras, cerâmica, modelagem, etc... Mas, ser artesã nunca me completou, precisava de algo mais. Para mim “fazer arte” tinha seus benefícios pra lá de relaxante, tinha um fundo terapêutico, mesmo sem que eu entendesse o processo, na realidade nem sabia que existia esta possibilidade. Pensava que era algo que acontecia somente comigo. Hoje compreendo, que mesmo sem fazer a leitura dos meus trabalhos com arte, eu estava em processo de iniciação terapêutica. A Arteterapia para mim surgiu num momento de necessidade de crescimento pessoal e principalmente profissional como Assistente Social, havia recebido a incumbência de Coordenar um Programa voltado a Pessoa com Deficiência, nesta nova missão, aumentou ainda mais a necessidade de fazer algo diferente do que vinha fazendo (burocrático), acabar com a dicotomia teoria e prática. Foi realizando supervisão a uma Instituição que atende Pessoas com Deficiências, que conheci um Atelier Terapêutico, onde a arteterapeuta também era Assistente Social, procurei saber mais sobre esta Especialização. 13 Passados alguns meses, fui convidada a participar de uma Capacitação oferecida pela mesma Instituição, e lá fui apresentada à a referida profissional, oportunidade que me falou da Arteterapia e que estava iniciando uma nova turma na Universidade Potiguar – UnP. Ingressei no Curso de Especialização em Arteterapia e durante todo o processo de formação em Arteterapia, muita transformação aconteceu, muita coisa melhorou e ainda estou só engatinhando, mas sinto que alcançarei vôos altos, o céu é o limite. Hoje posso afirmar: encontrei-me na Arteterapia. A Arteterapia representa para mim, muitas portas (ainda a serem abertas) e diversas possibilidades, através das quais poderei proporcionar trans-form-ação nos clientes e em mim mesma. Vejo a Especialização em Arteterapia como um início de um longo percurso profissional, no qual não terei mais volta, cada vez que pego algo para estudar, aprofundar surgem novos caminhos a serem trilhados: Psicologia, Pedagogia, Artes, Mitologia, Sociologia, Filosofia, Música, Cromoterapia, etc... É preciso estar em constante estudo. Isso tudo me fascina, é dinâmico, é contagiante. 14 1. EXPRESSÃO NÃO VERBAL DO CORPO EM ARTETERAPIA O corpo humano é uma das maravilhas da criação Divina, a sua estrutura, a função e interação dos seus órgãos, que se desenvolvem em seu interior em perfeita comunhão corpo-mentealma... Têm fascinado a todos desde os tempos imemoriais. É o mistério que a própria vida possui. (Prefácio do livro Seleções O maravilhoso corpo humano, 2001). Este trabalho aborda uma visão da Arteterapia tendo como foco principal o Corpo e a Mente, como elemento facilitador em um processo terapêutico. Ao propor escrever sobre este tema, iniciou-se um processo de pesquisa e observação do simbolismo do Corpo e de como a Arteterapia pode auxiliar neste processo de autoconhecimento e transformação do indivíduo. Por outro lado, temos o Cérebro/Mente que controla que monitora, que armazena as tensões, as informações recebidas no dia a dia e quando não são conduzidas de forma satisfatória, estas vão se acumulando, somatizado e de alguma forma estas informações, são impressas, tatuadas em nosso corpo, seja através de uma simples dor de cabeça, seja na forma de andar, na postura, seja através do nosso pisar ou mesmo através de reações orgânicas, alergias, inchaço (retenção de líquido), gastrites, etc... É o que chamamos de linguagem não verbal do corpo. Os pensamentos – padrões que causam mais doenças no corpo são todos aqueles resultantes das críticas, da raiva e do ressentimento. Por exemplo: a crítica conservada por longo tempo conduzirá a pessoa a uma doença como artrite. A raiva levará as doenças que fervem, inflamam e queimam no corpo. Ressentimentos longamente mantidos retêm alimentos apodrecidos, que finalmente geram tumores e câncer. É bem mais fácil dissolver esses pensamentos – padrões negativos da nossa consciência quando nosso estado é sadio do que tentar eliminá-los quando estamos em pânico e sob a ameaça de um bisturi de um cirurgião. (GASPARETTO, artigo da Internet). Aquilo que foi ocultado de forma consciente ou inconsciente se manifesta através das doenças. O corpo é a expressão visível da consciência, e cada parte do corpo humano, cada órgão correspondente a um determinado conteúdo psíquico. Daí a importância do trabalho corporal em Arteterapia. 15 Parafraseando Irene Arcuri “os meios de comunicação que o corpo oferece podem ser um fidedigno método de investigação terapêutica. Através do aspecto postural, gestual, com sua forma ou suas deformações, tensões inconscientes, dores, faz do corpo um conjunto de fragmentações, onde se torna necessário uma centralização. O corpo que não ”fala” aprisiona tensões, que provocam deformações e fica com energia “estagnada”. Isto por que este processo geralmente é inconsciente.” Sendo assim, é preciso trabalhar o Corpo de forma consciente, utilizando técnicas corporais adequadas e simultaneamente trabalhar a mente através de técnicas expressivas em Oficinas de Arteterapia. É possível observar através expressão corporal, dos relatos escritos ou das expressões plásticas como se encontra a mente do cliente, ou seja, aquilo que está lhe perturbando. Para Jung o inconsciente só pode ser experimentado no corpo, daí a observação deste corpo ser vital importância em um processo arteterapêutico. Diversas são as formas de conceituar Arteterapia, uma delas define como uma atividade terapêutica que utiliza as técnicas expressivas como veículo facilitador de liberação dos conteúdos inconscientes. Através das artes plásticas, música, dança, dramatização, poesia e outras modalidades artísticas o individuo tem acesso aos aspectos antes adormecidos. Dessa forma, pode-se interagir com faces de sua personalidade ainda desconhecida, tornando-se mais seguro das suas potencialidades. A Arteterapia tem sua origem na Antroposofia de Rudolf Steiner segundo o qual o homem é considerado um ser espiritual constituído de alma e corpo vivo. Em 1925/27, na Suíça, a Dra. Ita Wegmann, o Dr. Steiner e na Alemanha, o Dr. Husseman prescreviam a arte como parte do tratamento médico. Na década de 40, nos Estados Unidos, Margareth Naumburg sistematiza a arteterapia dando impulso ao uso das artes no processo terapêutico, com ênfase em trabalhos corporais, as técnicas expressivas, são meios de estimular e desbloquear o corpo permitindo que ele se expresse livremente. Esse método decodifica os processos armazenados no inconsciente trazendo para o nível consciente. 16 Na Arteterapia temos a arte como um processo expressivo desprendido de questões de ordem estética, técnica ou acadêmica A arteterapia conduz o caminho para reestruturação e reorganização mental do cliente, sendo seu foco direcionado para os processos criativos de forma a trabalhar suas questões e dificuldades pessoais. A Arteterapia é um processo terapêutico que utiliza as diferentes “linguagens”, tais como: plásticas, musical, corporal, dramática, poética... Atuando na reabilitação e desenvolvimento pessoal e profissional do indivíduo. Através de técnicas expressivas, o individuo pode desenvolver a capacidade de entrar em diálogo com seu corpo; assim a escultura, a pintura, o relaxamento, etc., seriam meios que possibilitam o conhecimento das marcas do corpo, como testemunha de uma história individual, genética e coletiva, ou seja, por intermédio de uma linguagem simbólica, o corpo toma-se um instrumento importante na aquisição de uma visão unificadora do consciente e inconsciente. A memória corporal presente em nosso corpo transcende o tempo e espaço, e pode trazer significado importante; as doenças psicossomáticas seriam então as marcas deixadas no corpo, impedido o pleno desenvolvimento do ser humano. Ao trabalharmos o corpo estamos nos ligando diretamente a nossa memória mais arcaica, desde as primeiras vivências no útero materno, na infância e na vida adulta. Cada vivência deixa marca em nossa mente e no corpo. Um simples toque corporal ou um relaxamento pode remeter a lembranças vividas no passado próximo ou remoto. (Arcuri, 2004, p, 21). Ao propormos um trabalho de Oficinas Criativas em arteterapia, devemos ter o cuidado de primeiramente desenvolver uma relação de confiança e propiciar ao cliente um estado de tranqüilidade e relaxamento e para isso, fazemos uma escolha dentre as várias técnicas de sensibilização. Em seguida, no momento da livre expressão, o material escolhido. 17 Podemos constatar que o criativo está presente em nossa vida desde os atos mais simples aos mais complexos, pois, a criatividade é um processo interior que acontece sem cessar dentro de nós, no entanto o distanciamento que criamos nos impede de percebermos sua manifestação. A experiência a cada módulo nos impulsionou olhar com maior profundidade para nós mesmos e nesse desenrolar (continuum), estamos ousando tirar a venda dos nossos olhos, os tampões de nossos ouvidos e a couraça de nossos sentidos e, desse modo, ao caminhar, tecer novos caminhos, abrir espaços, rompendo as barreiras que nos separam de nós mesmos, levantar a bandeira da coragem de superar, buscar uma consciência maior das dimensões existenciais. 18 2. CORPO O corpo é instrumento de relacionamento, tanto receptivo quanto expressivo. Ao escutarmos nosso corpo, podemos dar formas às emoções, mediantes a descoberta do simbolismo com auxílio de recursos artísticos (Arcuri, 2004 p,21). Você já teve uma dor de estômago ou uma diarréia após um estresse? Fique tranqüilo isso ocorre porque os hormônios do estresse tornam a liberação do suco gástrico e o esvaziamento do estômago mais lento. Esses mesmos hormônios aceleram a peristalse do cólon fazendo com que o seu conteúdo se mova com mais rapidez. O estresse crônico pode levar ainda a níveis altos constantes de cortisol no sangue, o que causa um aumento do apetite e conseqüente ganho de peso. Portanto, o estresse pode engordar. No nosso corpo, cada parte tem sua simbologia e correspondência. A cabeça está relacionada com o plano superior céu, as emoções e em cada órgão (boca, nariz, orelhas, testa, olhos, encontraremos um significado mais detalhado e específico). Os pés se refere à terra. Nossa raiz, a porta de entrada da alegria em nosso corpo – de acordo com a sabedoria africana a cabeça não é nada sem os pés. Na parte superior do corpo, estão às coisas mais sutis e menos terrenas, e na parte baixa, ou seja, na zona dos pés, localizam-se as áreas materiais relacionadas com o ser humano. O lado esquerdo do corpo aloja-se as coisas pessoais e sentimentais do homem à área emotiva, e no lado direito, as situações racionais a campos profissionais. Servindo as mãos para agarrar aquilo que se pretende e os braços para alcançar aquilo que se quer, quando alguma coisa acontece com as mãos este pode ser um sinal de falta de posse por parte da pessoa. O mesmo acontece com as pernas e os pés, pois as pernas seguem por um caminho, mas dependem dos passos que ditam as verdadeiras regras. 19 “Se ocorrer algo com as mãos ou os pés, pode ser uma evidência de que a pessoa sofre escassez de posse e que não consegue agarrar por inteiro as coisas que alcança.” (Othon Smith – 1999, www.guiadobuscador.com.br) Os trabalhos corporais, as técnicas expressivas, são meios de estimular e desbloquear o corpo e permitir que ele se expresse livremente. O método de transdução (transformação de energia) decodifica os processos armazenados no inconsciente trazendo para o nível consciente. O trabalho com o barro é uma das técnicas utilizada na busca de entendimento da psique do corpo, ou seja, do desenvolvimento da função transcendente. A saúde será possível se o corpo, pensamento e sentimento estiverem em harmonia. Neste contexto, elementos da arte, através da Arteterapia, possibilita a compreensão que a doença pode ter expressão no corpo e na psique e pode ajudar nessa integração, na decodificação, ou seja, na transdução corporal, pela ação da arte, com o simbolismo do corpo. O inconsciente coletivo é o reservatório dos símbolos ricos de significação e energia vital, herdados de nossos ancestrais, da mesma forma que os elementos morfológicos do corpo humano. Daí a necessidade de um trabalho em Arteterapia coligando Corpo e Mente. 20 2.1. CORPO E MENTE SEM FRONTEIRA A mente (o cérebro, o sistema nervoso central) pode ser treinada para alterar processos e respostas específicas do corpo. Não há sistema no corpo que seja autônomo e invulnerável à influência mental. A mente, sob certas condições, pode solicitar conscientemente ao corpo que realize uma mudança. O corpo acatará a ordem. Nenhum conceito de mente que derive de estudos com animais (...) pôde explicar a capacidade da mente para influenciar diretamente o corpo. (Epstein, 1989, p.152 ). O desenvolvimento do cérebro acontece desde o nascimento do bebê. Aos oito anos, a criança já possui conectados 90% dos neurônios que carregará ao longo da vida. Aos dezessete anos de idade, o cérebro humano atinge os 100% do seu estágio de crescimento. No entanto, estima-se que apenas 30% da capacidade intelectual das pessoas sejam inata, determinada pela herança genética. Os outros 70% vêm do uso e do aprendizado. Isso significa que, assim como existem seres humanos mais altos ou mais velozes, existem pessoas com maior capacidade orgânica cerebral. É isso que faz a diferença entre uma pessoa mais inteligente e outra menos. O cérebro tem milhões e milhões de células conectadas, entre si, por neurônios – os microscópicos filamentos nervosos que conduzem os sinais elétricos. Cada neurônio pode ligar-se a outras 100.000 terminações como ele. O número de combinações possíveis pode chegar quase ao infinito. Para o psiquiatra Gerald Epstein através da mente, podemos controlar o nosso corpo, através da mentalização, resolvendo inclusive alguns distúrbios físicos. Seria a mente um instrumento capaz de realizar a cura? Em alguns casos a mente pode levar o indivíduo à morte, há pessoas que estão doentes há algum tempo sem que apresente nenhum sintoma, mas ao receber o diagnóstico do médico sobre o seu estado de saúde (câncer, por exemplo) este logo passa a viver como se estivesse pronto para morrer e às vezes, morre mesmo. Mas o que será que o matou foi à doença (que já vinha com ela há algum tempo) ou foi o medo da doença? 21 Porque será que para alguns a recuperação é rápida e total e para outros a acontece exatamente o contrário? O corpo carrega toda história de vida, toda carga emocional, necessitando a mente estar desbloqueada, para não aprisionar as emoções e estagnar as tensões. O trabalho corporal coligado a arteterapia, constitui um excelente método de expressar os sentimentos conscientes ou inconscientes. Deepak Chopra descreve que, “o desconforto do corpo se manifesta como dor, entorpecimento, espasmos, inflexibilidade e trauma, e tudo isso é como um nó que a consciência por si só é capaz de desfazer. Através da prática e da dedicação, você pode curar qualquer desequilíbrio no sistema corpo-mente através da consciência, uma vez que seja apreendida, a técnica adequada de relaxamento e libertação” (1994. p, 121). O sintoma é sempre a expressão de uma emoção. É a resposta a uma estimulação. A emoção se exprime ou se reprime. Ela se traduz pela contratação ou relaxamento muscular, e é responsável pelo comportamento pessoal. A impossibilidade de expressar bloqueia a circulação energética. 22 3. TÉCNICA DE MEDITAÇÃO E RELAXAMENTO De acordo com Arcuri (2004), as técnicas de relaxamento possibilitam o emergir de fantasias, tornando o indivíduo espectador de suas próprias vivências internas, desatando certas inibições, principalmente as corticais, que se manifestam como críticas, ceticismo, racionalização exagerada. NA PRÁTICA - Escolha um ambiente silencioso e aconchegante, apague as luzes, coloque uma música instrumental (se possível com barulho de água), bem suave, acenda um incenso e deite-se confortavelmente no chão (colchonete) com abdome voltado para cima, pernas e braços estendidos e relaxado. Mantenha os olhos fechados durante a meditação, procure não dormir. Não permita que nenhum barulho interfira neste momento, se algum pensamento vier, deixe que vá embora naturalmente. Ouça sua respiração – o inspirar e o expirar. Perceba como o ar entra e sai naturalmente. Deixe seu corpo integra-se ao chão, sinta como se cada parte do seu corpo derrete-se ao chão: 1. Começando pelos pés, sinta seus tornozelos, panturrilhas, coxas e virilhas um a um se derreterem ao chão; 2. Sinta agora o quadril e as nádegas derreterem-se ao chão; 3. Sempre atento à respiração, deixe estender-se toda extensão da coluna, começando pela lombar, a cervical, região das omoplatas, ombros e pescoço; 4. Aos poucos vá tomando consciência de cada parte do corpo e relaxando e mantenha-se neste estado. 5. Lentamente arraste pernas e braço e veja que seu corpo formou um X. Continue relaxando; 6. Agora visualize um facho luz saindo de suas mãos e pernas, cruzando acima do seu corpo e em seguida, forme um círculo energético. 23 Permanece neste círculo, recebendo os benefícios destas luzes e energias; 7. Gradativamente vá convergindo estas linhas de energias para seu umbigo como se fossem rios chegando ao mesmo lugar; 8. Concentre-se no seu umbigo ele é o centro de sua força e de sua vitalidade novamente, inspire profundamente enchendo toda caixa torácica e expandindo-a para o abdome até o umbigo; 9. Vire seu corpo de lado em posição fetal, recolhendo seus braços e pernas – tocando com as mãos seu umbigo. Permaneça assim por alguns minutos nessa posição (DEMORA UM POUCO); 10. Sinta a coluna ereta, apóie as mãos e os joelhos com as palmas das mãos voltadas para cima. Sinta seu corpo perpendicular a terra novamente; 11. Abra os olhos e finalize sua meditação. Essa meditação pode ser usada para iniciar uma Oficina Criativa em Arteterapia. 3.1. CALATONIA Um outro método de relaxamento bastante utilizado é a Calatonia de Pethö Sandor. A expressão Calatonia do grego significa Khalaó indica “relaxação” e também “alimentação”, “afastar-se do estado de ira, fúria, violência”, “abrir uma porta”, “desatar as amarras de um odre”, “deixar ir”, “perdoar aos pais”, “retirar os véus dos olhos”, etc. A calatonia acontece com toques sutis, é importante explicar ao cliente como será o procedimento, retirar pulseiras, anéis tanto do terapeuta quanto do paciente, como forma de evitar desconforto ou estímulos desnecessários, além de folgar a roupa do cliente. Sandor considera, “ser útil que os pacientes tenham um caderno para anotar as observações ocorridas durante o relaxamento” (1982, p. 96). 24 Com a continuidade das sessões de calatonia, pode incluir as palmas das mãos, a face anterior do pescoço (especialmente em caso de gagueira), mas é importante ressaltar aqui, que o pescoço é uma parte delicada, e que só deverá ser tocada quando o terapeuta já tiver certa intimidade e com a permissão do cliente. Sandor diz que, quando houver impossibilidade de trabalhar a calatonia, nos membros inferiores (amputação, micose, criança irrequieta, etc.), o terapeuta, deverá usar os membros superiores (mãos), de modo idêntico ao processo descrito anteriormente. 3.2. OFICINA CRIATIVA Cristina Dias Allessandrini, desenvolveu o método de Oficina Criativa, para o trabalho em psicopedagogia em atendimento individual ou grupal, este método é composto etapas (descreverei abaixo), pelo qual o cliente expressa criativamente uma imagem interna por meio de uma expressão (pintura, colagem, modelagem, etc.), que possibilitará posteriormente organizar suas respostas. Este método é bastante eficaz na Arteterapia. Allessandrini (2000) ressalta a importância da liberdade facilitadora de ação do facilitador do processo para construir oficinas criativas com objetivos específicos. Etapas da Oficina Criativa: 1. Sensibilização – inicia-se com a sensibilização, a qual permite que o cliente chegue, centre na sessão que se inicia que estabeleça uma relação de descoberta, de bem estar e elaboração dos seus conteúdos internos; no qual ele é convidado a tocar o “si mesmo” (INTRA). Esta sensibilização pode se dar de várias maneiras tais como uma caminhada de diversas formas, na qual introduz elemento reflexivo, pode ser também um relaxamento, uma dança, ou uma forma de sensibilização que esteja de acordo com a proposta elabora para a 25 sessão. “O sujeito estabelece uma relação diferenciada com o mundo” (Allessandrini, 2002, p.41). 2. Expressão Livre - o cliente expressa a vivência vivida ou um sentimento, através da linguagem não verbal (livre expressão), “o que foi sentido, intuído, vivido inquietamente, provocando um pequeno caos interno, pode corporificar-se em contornos por vezes pouco delineados, mas densos e potencializadores de uma nova ação construtiva e diferenciada (...) o sentimento eclode como imagem e toma forma” (Allessandrini, 2002, p.43). Para a expressão livre, poderemos utilizar os mais diversificados recursos artísticos, tais como: argila, pintura, desenho, colagem, etc... 3. Elaboração da Expressão – É quando o cliente “re-elabora”, ainda na perspectiva artística a representação não verbal, da sua expressão. Cada indivíduo trabalha simbolicamente os conteúdos que emergem em sua mente, de forma criativa. Aos poucos se mantém o aspecto INTRA, estabelece uma relação INTER com a qualidade do TRANS. Segundo Allessandrini, o nível TRANS, de transoperacional, comporta síntese entre transformações, chegando até a construção de “estruturas”, a imagem é aprimorada. O indivíduo opera tematizando um conteúdo e uma forma. 4. Transposição de Linguagem – É o momento mais direcionado e estruturado do pensamento, o cliente expande seus pensamentos muitas vezes através da escrita criativa (poesias, textos bem elaborados). 5. Avaliação – É o momento de re-olhar todas as etapas decorridas durante a sessão, propiciando ao cliente elaborar seus conteúdos ainda não explicitados, ou mesmo re-avaliando a vivência cheia de símbolos talvez ainda não desvendados para este. “A distância reflexiva se completa, a gestalt se faz, oferecendo ao indivíduo a oportunidade de crescer dentro de um caminhar próprio e autêntico, no 26 qual o arriscar-se e romper o próprio limite pode ser vivido como unidade em algo que eu chamaria de ”ser-sentir-criar-expressar-fazerrefletir-crescer” (Allessandrini, 2002, p.45). 3.3. ELEMENTOS DA PSICOLOGIA ANALITICA Com base nos escritos de C. G. Jung, o relacionamento com os opostos serve como alicerce para nossa formação psíquica. A nossa consciência separa os opostos para poder conhecê-los, voltando então a reuni-los numa nova totalidade, e nesse processo ela se expande e amplia. A tabela abaixo foi elaborada, com o intuito de facilitar o processo de entendimento. ELEMENTO TERRA ÁGUA FOGO AR FUNÇÃO JUNGUIANA RELAÇÃO / SIMBOLOGIA RECURSOS PARA TRABALHAR NA ARTETERAPIA Expressões Tridimensionais. Trabalhar com modelagem, argila, SENSAÇÃO CORPO – Processo jardinagem, colagem com vital e regulador sementes. Elementos naturais. Pintura, as tintas FEMININO - Remete a SENTIMENTO aguadas, trabalhar a metarmofose. fluidez. CRIATIVIDADE – Poder transformador Trabalho utilizando velas, do fogo; tomada de INTUIÇÃO aquecimentos corporais, consciência, dança. dinamismo, energia psíquica e motivação. Contar histórias, Criar imagens e atribuir confecção de bonecos, significado a PENSAMENTO teatro, tecelagem experiências – (deixar criar imagens), fantasias escrita criativa. (fonte de pesquisa: Patrícia Pinna Bernardo – A mitologia Criativa e o Olhar – Dando corpo e voz aos diferentes aspectos do ser – do Livro Arteterapia de Corpo & Alma, 2004). 4. RELATO DE EXPERIÊNCIA UMA TRAJETÓRIA EM OFICINAS CRIATIVAS Durante os sete meses, correspondentes às 80h de estágio, mantivemos um encontro semanal de 01h30min, com um grupo de cuidadoras de pessoa com deficiência (mãe, esposa), passando durante esse processo 13 senhoras, porém devido a dificuldades de algumas, o grupo terminou com 05 participantes. Uma característica forte deste grupo é o fato de elas serem cuidadoras de alguém, tendo toda sua atenção voltada para o outro, é como se o outro fosse extensão do seu ser. Ao propormos um trabalho em arteterapia com esse grupo, estamos propondo a elas uma oportunidade de elas serem elas mesmas, de facilitar um encontro com o criativo e consigo mesmo, promovendo uma transformação em sua vida e em sua convivência familiar. Com o intuito de fazer um trabalho de pesquisa, durante as sessões demos ênfase ao corpo (meu objeto de estudo), onde tudo foi registrado em relatórios, gravado e fotografado, com a devida autorização por escrito de cada participante do grupo. Trago para o presente trabalho a trajetória de uma das participantes que teve seu processo de auto-estima bastante despertado logo nas primeiras sessões. OAS, 37 anos, comerciante, mãe de uma adolescente com Deficiência Mental de 18 anos. Primeira vez que participa de Oficinas Criativas. Chegou ao nosso grupo com andar pesado, olhar tristonho, depressiva, curiosa em saber sobre Arteterapia, demonstrou compromisso para participar nos encontros seguintes, relatou queixas conjugais, de comunicação moderada, verbalizou em poucas palavras que necessitava de um tempo para si mesma. Relatou que não teve estudo, sendo filha mais velha precisava trabalhar e cuidar dos irmãos mais novos, tudo o que sabe escrever 28 aprendeu no mobral e escrever para ela é um conforto, costuma escrever tudo o que sente. Surpreende na quarta sessão quando demonstra posicionamento, segurança, determinação, questionamentos, sugestões e reflexões a respeito de suas necessidades individuais. A partir desse momento, seu corpo expressa uma sintonia total com sua verbalização, na leveza e descontração, movimentos suaves e ritmados, ações reflexivas. Sobressaiu-se devido a sua atitude de centramento e total envolvimento, numa entrega sem reservas. É importante ressaltar as observações bastantes pertinentes feitas por OAS com relação às expressões plásticas das colegas do grupo. Valoriza o trabalho com a respiração e o corpo, afirmando que não sabia respirar, que não tinha conhecimento da importância da mesma para relaxar, dominar os pensamentos, enfim, sentir o corpo diferente. Nessa sessão trabalhamos o elemento Fogo. O Fogo é um símbolo muito poderoso que representa a presença da luz e do sagrado e também o espírito. Assim como o sol, pelos seus raios, o fogo simbolizado por suas chamas, a ação fecundante, purificadora e iluminadora. O Fogo corresponde à cor Vermelha, ao verão, ao coração, as paixões, o amor e a cólera. No aspecto negativo o fogo obscurece e sufoca, por causa da fumaça; queima, devora e destrói: o fogo das paixões e da guerra. O fogo desvela a consciência que se esconde em todas as coisas do mundo material, como a chama que se esconde na lenha (...). Após a escuta pedimos para abrirem os olhos e escrevessem em pedaços de papel (que se encontravam cortados a sua frente), palavras o que mais a incomodava, o que estava de negativo, e também o que desejam de positivo em sua vida. É importante, ressaltar aqui que colocamos em cima da mesa algumas palavras positivas e negativas, tais como: amor, fé, amizade, dor, união, tristeza, alegria, podendo elas escolher a vontade, se quisessem 29 algumas dessas palavras, porém todas preferiram escrever suas próprias palavras. Após a escrita dos papeis (Positivos e Negativos), colocamos no centro um recipiente com três velas (uma para cada), onde cada uma iria fazer a queima simbólica daquilo que estava incomodando (palavras negativas), após a queima colocamos as cinza na lixeira. Em seguida entregamos um papel sufite, tinta guache e pincel, e pedimos para que representasse, utilizando a tinta o que estava sentido naquele momento. Registramos em gravador a fala, conforme descrição abaixo: Quando queimei os pontos negativos e entrou os positivos, senti o sol brilhando diante de mim, radiante, abrindo uma luz dentro de mim, com muitas cores vivas, representando o arco-íres, a cor da felicidade; O verde eu gosto de usar que é esperança, o amarelo é o ouro, o vermelho que é a paixão, o azul aquele clarinho do céu, que é gostoso de respirar, quando a gente está triste e olha para o céu, à noite. Olhando as estrelas, parece que agente está vendo São Jorge, aquela coisa bem bonita, aí quando eu comecei a queimar as coisas negativas veio como positiva; Vi muitas cores lindas, uma sensação muito agradável, de limpeza. Agradeço a Deus por estar me sentindo muito feliz, felicidade que antes eu não tinha e também agradeço a Deus pelas pessoas que colaboram comigo para que eu sinta essa felicidade; eu queimei tudo que existia de ruim em cima de mim, que estava incomodando minha vida, foi queimado e jogado as cinzas no lixo, tirei muita energia negativa de cima de mim hoje. Na caixinha coloco muita paz, amor e saúde e união (vê imagem anexo). No 20º encontro ao som de uma música cigana foi proposto ao grupo uma caminhada pela sala, de forma que deixasse o corpo solto, relaxado, que fossem conduzidas pelo som. E quando estavam bem centradas e alongadas, pedimos para que sintam os pés, percebendo o pisar – como eu piso? Primeiro com o calcanhar ou com as pontas dos dedos? Eu 30 piso com o pé todo? Como está minha respiração? Está cortada? Está ofegante? Como é essa respiração? Vamos andar mais rápido... Vamos caminhar por vários caminhos, fazer novos percursos, descobrir novos trajetos. Observem o pisar... E a respiração mudou? Agora andando normalmente, mude de direção, olhe no olho do colega... Agora ande como se carregássemos muito peso... E o calor está intenso... Muito calor tem os afazeres domésticos... E agora como está o caminhar, a respiração? Será que um sorriso ajudaria? (...). – Neste momento OAS fala: se não conseguir pegar o ônibus agora, pego o próximo... Jogar o peso para bem longe e dizer, Jesus, vou resolver tudo no momento certo, na hora certa. Em seguida, sentadas em colchonetes ao som instrumental do piano, oferecemos hidratantes para que elas sentissem o toque de suas mãos em seus pés, que massageassem os pés ou outro local que seu corpo pedisse. Neste momento algumas comentaram: - Como é bom, - Fazia tempo que não tinha tempo para isso... E em seguida se abraça. Vemos aqui a importância de se perceber, de se sentir; estas mulheres que vivem em função de uma outra pessoa, através da proposta oferecida no Atelier Terapêutico passam por momento de aceitação e transformação. Após a sensibilização inicial, oferecemos papel canson A-3 e tinta aquarela, explicamos a forma de usar a tinta aquarela, e deixamos que cada uma use a cor e a forma que preferissem. Houve uma boa aceitação da tinta, embora algumas tenham usado pouca água, falaram que a tinta sujava pouco... OAS comenta: - Estou flutuando, aquele ar pesado vai saindo, voando. Que coisa boa, o ar gostoso, perfumado do mar vai vindo, tão relaxante, as ondas, flutuando... A respeito da sua expressão colocou: 31 - Aqui é o rio verde, agente correndo no rio, muita água, aqui no nosso círculo com essas palavras, essas flechas bem bonitas, é nossa amizade, força, união; Aqui eu quis desenhar um pé de pau, mas em vez disso desenhei o cérebro da gente, trabalhando, desenhando naquela concentração, aqui é o coração com veias, bem cheinha, tudo flutuando, muito bom, o coração bem aceso, aqui é a lua; Engraçado, ainda saiu duas luas e dois sóis, a lua com os pássaros flutuando, naquele espaço bem gostoso, ao ar livre, e aqui a estrela bem grande que tava focando a gente, no círculo da gente, iluminando a gente, aquela iluminação gostosa, aquela energia positiva, senti o foco perto da gente, aquela coisa linda, porque o mundo que a gente vivi é dividido, então aqui é o mar, é como os. Discípulos que queriam atravessar o mar, mesmo aqui é a divisão, aqui no rio verde, o mar, e aqui é uma parte, e aqui outra parte do mundo. Em seguida comenta que quando chegou não sabia pintar, só queria escrever, escrever e depois foi dizendo vou desenhar aqui... Quero fazer o símbolo pelo desenho. É impressionante observar a trajetória de OAS, a percepção que ela tem dos seus trabalhos, ela tem uma leitura (da sua expressão) magnífica. Quando ela diz “Quero fazer o símbolo pelo desenho”. Ela está apenas confirmando para nós Arteterapeutas, que é bem mais fácil se expressar pelo desenho do que pela fala ou escrita. É através desta expressão que ela deixa liberar todo seu inconsciente. Uma outra observação constante que ela faz, é que agora ela anda de cabeça erguida, que seu corpo está mais esguio, mas elegante (aprendeu isto na Arteterapia), e que antes, andava pesadona, cabeça baixa. No encontro seguinte o grupo demonstrou estar preguiçoso; uma chegou comentando que queria cama, outra já disse que estava com sono e a outra comentou que tinha comido um pirão de peixe e estava cheia... Então, fizemos um aquecimento de respiração (três vezes) e corpo, pedimos ao grupo 32 para ficar em pé, deixar o olhar lentamente percorrer a sala e verificar o que existem, os objetos, as cores, as formas e observar e sentir o corpo - Com as pernas juntas, paralelas, afaste o pé direito para o lado enquanto inspira observar o que sente... Como o corpo reage... Com as mãos na barriga, inspirar sentido o ar entrando, prenda o ar e empurre para baixo... Para que todas “despertassem”, colocamos uma música cigana (ritmo preferido do grupo) e de forma espontânea o grupo iniciou uma dança, utilizamos uma toalha vermelha de crochê (que se encontrava no local) como se fosse uma saia cigana, dando o movimento e logo o grupo gostou e foi passando de mão em mão a saia rodada de tanto movimento e bailado. Após a expressão plástica de cada uma, perguntamos como tinha sido o trabalho com a respiração, sentir o corpo... Conseguimos gravar as seguintes falas (transcrevo a fala de OAS na integra): - Maravilhosamente bem, relaxou, distraí, eu senti como se estivesse na neve, como na novela passa aquela boate, dançando, aquela coisa maravilhosa. No momento da respiração eu senti tipo um menino saindo do ventre aquele ar gostoso maneiro, o lado direito estava pesado mais o esquerdo estava maneiro, eu senti justamente leve, voando parecia que estava em uma festa dançando com o marido, hoje lembrei do marido, parecia que eu estava dançando com ele, aqui no desenho, sou eu com o menino no ventre, aqui MA com a saiona, (risos do grupo) então eu me lembrei do meu marido, parecia que estava dançando numa festa bem boa, passeando em um carrão bem grande, o sol, como a gente abriu dando bom dia ao sol, aqui é o sol bem aceso, focando, com um olho bem acesso dentro da gente, e tinha um jardim que tinha aquela água, um rio correndo, leve, bem azulzinho, bem alvinho, isso aqui é o tambor batendo para gente dançar na festa, e aqui era eu dançando soltando a blusa, que tinha um tecido caindo e eu soltando a blusa, toda solta, isso aqui é um passarinho que é perto do rio da floresta, cantando e aqui é o carro, ai ele me chamou para a gente sair e olha eu aqui descendo e entrando no carro, ele dirigindo, pi, pi.... me chamando eu já vou meu velho, mas a festa ta boa, vamos embora o dia já amanheceu mulher, vamos, mas a festa ta boa, 33 vamos dançar mais... e o coração fazendo tchiq, tchiq... Feliz da vida, na hora que a gente prendeu o ar, senti como o menino no ventre aquela coisa gostosa. E novamente ela repete. Aqui (e aponta para o centro do ventre do desenho) é o menino no ventre, foi quando senti na hora que prendia respiração, eu senti tipo assim um menino saindo do ventre, aquela coisa gostosa. Como foi desenhar dentro do círculo? - Foi bom, parece que eu só sai um pouquinho aqui. Eu não desenhava... Quando cheguei aqui, só gostava de escrever, agora depois dessa terapia, sai tanto desenho que eu nem sei como está saindo o desenho, não sei como estou fazendo, só sei que estou fazendo. – Houve uma intenção ou você deixou o que queria sair? Sinceramente, o que queria sair o que quis entrar na cabeça e quis sair saiu. Desenhei primeiro eu dançando, feliz da vida, depois meu marido, depois a minha menina, MA (é paciente da Instituição) com uma saia bem rodada, porque teve uma quadrilha aqui e ela veio com uma saia bem linda, bem comprida, e ela adora me vê dançando, ela ri muito com as minhas presepadas, ai me lembrei dela. Essas duas flores são girassol... O passarinho daqueles brancos que vivem na beira do rio, que tem as pernas grandes, garça branca, o tambor - (do lado esquerdo, o coração e a criança estão em transparência, o pássaro, o sol) – e o coração estava bem... Batendo, eu coloquei verde, ai coloquei vermelho que é sangue pulsando. Novamente trago aqui a observação quanto ao seu crescimento interior, a leitura que ela faz das simbologias percebidas nas expressões. Pela primeira vez ela trás o marido a sua representação e fala de forma carinhosa, é importante lembrar que nesta sessão trabalhamos o Corpo principalmente através da dança cigana, caliente e animada vale a pena também lembrar que usamos um pano vermelho para compor nosso cenário, nossa vestimenta e em sua fala ela retrata que - “coloquei vermelho que é sangue pulsando”. O corpo aparece de forma caliente, sem vergonha da sua forma, não fala mais do seu peso, expressa também que durante a sensibilização 34 inicial que o lado direito (racional) estava mais pesado e o esquerdo (emocional, intuitivo). No último encontro, foi pedido para que deitassem e deixassem os pensamentos passarem, não fixassem em nenhum deles, apenas relaxassem... Aos poucos foi pedido para que pensassem naquilo que desejavam para o futuro, quais os planos para daqui a diante... Atenção para respiração, relaxamento do corpo. Através da arte vocês expressaram, formaram, transformaram, reciclaram sentimentos que habitavam dentro de vocês; Pensamentos, vozes que estavam trancadas e precisavam ser colocadas para fora, então houve a transformação interior e exterior, na expressão facial hoje, percebemos olhar brilhante, um rosto que realmente expressa alegria, uma voz fluente e fala muito significativa, de como se deu esse crescimento de vocês, a alegria de se encontrarem bem melhor do que antes. Este é o momento de planejar alguns sonhos, nós temos sonhos que trazemos ao longo da vida, de forma muito especial, pensem em algo que queiram realizar tanto a nível pessoal, emocional e também material; imagine como se fosse uma tela de cinema e vocês - esse poder que a mente tem de concretizar, de material o sonho, depende muito dessa energia que investe neste sonho - coloquem muita cor, brilho nesse sonho que querem realizar, dêem movimento, coloque todo desejo. Somos corpo, mente e espírito, no momento em que vocês inspiram, que param e se conectam com essa força maior, com essa força divina que habita em cada uma de vocês. - Ao final OAS relata: Hoje me senti assim, justamente quando se falou para deixar a lua entrar, a luz, escolhesse a cor da luz, escolhi a cor vermelha por incrível que pareça, mudei de verde para vermelho, quando entrei nessa casa, estava com meus caminhos fechados estava cheia de problemas, muito triste, não tava sabendo definir eu mesma, imagine o resto e hoje eu sinto as portas da minha casa aberta, tudo claro, tudo colorido, aqui no centro da casa eu estou, eu sou o centro da minha casa e o centro esta branco hoje sinto, por que sinto paz, foi à melhora que consegui aqui, a resposta que tive aqui. Refiz aqui nessa terapia, foi à paz, o caminho aberto, esse colorido todo que é 35 animação, a cabeça boa. Deixei aporta aberta e no centro em vez de botar rua cajazeira, botei paz, Rosa, o dourado que é o ouro, o vermelho que e paixão e o verde que é esperança e aqui na cabeceira, vermelho e verde e o rosa que não sei por que botei hoje, botei, mas e um rosa claro, que transmite uma coisa boa, também. Eu nunca que trabalhei em pintura, fiz um quadro muito bonito, estou orgulhosa. Muito bonito. 36 FALAS SIGNIFICATIVAS REGISTRADAS DURANTES OS ENCONTROS “Não sei, na hora que terminar eu volto”. “... Eu já me eduquei muito, achava que grito, estupidez, a raiva resolvia e depois que entrei aqui, mudei. Os problemas estão se acabando, estou me reservando, (...) cada vez que venho aqui aprendo coisas, elimino coisas, é muito significante o que vou aprendendo, é muito bom”. “... Quando cheguei aqui era toda trancadinha, como agora estou me sentido melhor então sai coisas que agente nem percebe que esta refletindo, (...) até lá em casa eu mudei muito, as pessoas comentam, e eu digo que preciso pensar primeiro em mim, mas não digo porque mudei, que aprendo aqui, pois ninguém vai dar valor, vai criticar, então ela é boa para mim, tenho que guardar para mim”. “... Se fosse fazer uma capa para o livro hoje eu colocaria vitória. Eu já subi vários degraus”. “Estou vivendo outra vida, um espírito novo entrou em mim, tenho mais humildade, entendo as pessoas, pois antes só eu era a certa e como posso educar se sou a primeira mal educada? Se não sei me expressar, como vou ensinar alguém a se expressar diante de mim? Isso já mudou muito minha vida”. “Eu sou o centro da minha casa e o centro esta branco hoje sinto, por que sinto paz, foi a melhora que consegui aqui, a resposta que tive aqui. Refiz aqui nessa terapia...” 37 CONSIDERAÇÕES FINAIS A vivência de cada módulo, a prática durante o estágio e a pesquisa científica, proporcionou um olhar terapêutico e um desenrolar continnum de observação dos efeitos (resultados) da Arteterapia sobre o Corpo/Mente do cliente. Neste estudo procurei vê o individuo como um todo (corpo e mente) sem divisão, seguindo o pensamento do grande mestre Jung, quando diz que: a distinção entre mente e corpo é uma dicotomia artificial, um ato de discriminação baseado muito mais na peculiaridade da cognição intelectual do que na natureza das coisas. De fato, é tão íntimo o relacionamento dos traços psíquicos e corporais que podemos não somente estabelecer inferências sobre a constituição da psique a partir da constituição do corpo como também podemos inferir características corporais a partir das peculiaridades psíquicas. Doutora Denise Ramos (psicóloga coordenadora da pósgraduação em psicologia clínica da PUC/SP), afirma que não se pode dividir o homem em metades, uma cuidada pelo psicólogo e outra pelo médico, e acrescenta ainda que esta dicotomia foi muito útil no passado para a medicina dissecar e estudar corpos. Partindo do princípio de estudar o indivíduo como um todo corpomente, e que de acordo com Jung o inconsciente só pode ser experimentado no corpo, pesquisei publicações de especialistas sobre o assunto. Com um referencial teórico sobre o tripé CORPO X MENTE X ARTETERAPIA, passei a estudar propostas de como a Arteterapia contribui para a reestruturação e reorganização mental do cliente. 38 Na Arteterapia temos a arte como mediadora de um processo expressivo desprendido de questões estéticas, técnicas ou acadêmicas, capaz de dialogar com as mais diversas complexidades. Ao convivermos com os Seres Humanos, percebemos que este trás dentro de si um potencial a ser desenvolvido e sua realização é uma necessidade, principalmente na medida em que precisa lidar com situações conflituosas e angustiantes. Através do trabalho realizado nas Oficinas Criativas e ao fazer uso de seu potencial criativo, o cliente, canaliza sua energia no sentido de vencer desafios e ao mesmo tempo, minimizar o distanciamento pessoal e interpessoal, desenvolvendo novos jeitos de ser, viver e conviver. Promovendo o fortalecimento da auto-estima e da capacidade relacional. De acordo com o psiquiatra Gerald Epstein, a mente pode controlar o corpo, através de mentalização, resolvendo inclusive alguns distúrbios físicos. No entanto, é necessário que esta mente esteja desbloqueada para não aprisionar as emoções e estagnar as tensões. O corpo que não “fala” aprisiona tensões, provoca deformações. O trabalho corporal coligado a Arteterapia, constitui um excelente método para o cliente expressar os sentimentos, os conteúdo internos, sejam eles conscientes ou inconscientes. Desta forma, acredito que trabalhar o corpo/mente através da Arteterapia possibilita ao indivíduo, o pleno desenvolvimento do potencial criativo, a elevação da auto-estima, a melhora da sua saúde física e mental. Assim como a ostra que necessita de uma lasca e um grão de areia, para fabricar a pérola, necessitamos também de uma ruptura em nossa estrutura para recebermos e concebermos algo novo e precioso, exercendo assim, nosso potencial criativo. (Bertazzo, 1996, p.12). 39 A Arteterapia foi ruptura necessária ao caso prático (cliente OAS), que apresento neste trabalho monográfico; de início se apresentava forte como mãe, companheira, porém frágil como pessoa, não reconhecendo seu valor, com a auto-estima totalmente abalada. O seu corpo não portava nenhuma elegância, sempre andando cabisbaixo... No término do período de estágio curricular (80h), já demonstrava ser outra pessoa, confiante em si, determinada, já não reclamava do seu corpo e apresentava elegância no seu modo de ser. Passados quatro meses do término do estágio OAS, diz que voltou a estudar, está matriculada em academia, fazendo musculação e cheia de projetos para realizar. Finalizo concluindo que consegui atingir o objetivo principal proposto que era facilitar o contato e o desenvolvimento do potencial criativo dos membros do grupo, desenvolver a motivação, promover o fortalecimento da auto-estima e da capacidade relacional. Porém é imprescindível salientar que este é um trabalho que demanda pesquisa e aprofundamento, para que não seja tratado com superficialidade, tenho a plena consciência que esta monografia, não pode ser um trabalho solitário. Portanto, sugiro que outros alunos possam dar outras contribuições relevantes ao tema ora apresentado. 40 AS IMAGENS FALAM POR SI Quando chegou ao nosso grupo, olhar triste, ombros caído.... No decorrer do processo terapêutico demonstrou uma auto-estima contagiante, andar confiante, decidida, alegre. 1º Encontro 14º Encontro A CANTORA 15º Encontro 14º Encontro A 15º Encontro ANIMADORA A LIDER 41 Crachá de Apresentação – 1º Encontro 42 Pintura de Mandala (utilizando giz de cera) – 4º Encontro 43 Oficina do Fogo – 6º Encontro 44 Oficina Fios e Formas (trabalhando o desconhecido) – 10º Encontro 45 15º Encontro 46 REFERÊNCIAS ADAMS, Annete. Et al. – O maravilhoso corpo humano. Reader‟s Digest Brasil. Rio de Janeiro. 2001. ALLESSANDRINI, C.D. Tramas Criadoras: na construção do „ser si mesmo‟. São Paulo: Casa do Psicólogo Editora Ltda, 1999. ______. Oficina Criativa e Psicopedagogia. 3ª Edição. São Paulo: Casa do Psicólogo Editora Ltda. 2002. ______. Oficina e Análise Microgenética de um Projeto de Modelagem em Argila. Tese de doutorado, Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, Deptº de Psicologia da Aprendizagem do Desenvolvimento e da Personalidade, 277 p. sob orientação do Prof. Lino de Macedo, São Paulo, 2000. ARCURI, I. (org.) Arteterapia de Corpo & Alma. São Paulo: Casa do Psicólogo Editora Ltda. 2004. ______. Memória Corporal: o simbolismo do corpo na trajetória de vida. Dissertação de Mestrado. São Paulo. 2002. BAPTISTA, Ana Luisa. Revista de Arte Terapia Imagens da Transformação. São Paulo. vol. 10, Pomar Ed., 2003. BERTAZZO, I. Cidadão Corpo. São Paulo: Editora Summus. 1998. CHEVALIER, Jean/Gheerbrant, A. “Dicionário de Símbolos”. Rio de Janeiro: José Olympio Editora. 1989. CHOPRA, D. A cura Quântica: o poder da mente e da consciência na busca da saúde integral, 39ª edição. São Paulo: Editora Best Seller. 1998. ______. Corpo Sem Idade, Mente Sem Fronteiras: a alternativa quântica para o envelhecimento. 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O corpo fala: a linguagem silenciosa da comunicação não verbal. 58ª edição. Petrópolis. Editora Vozes. 2004. 48 49 UNIVERSIDADE POTIGUAR – UnP ALQUIMY ART PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM ARTETERAPIA CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARTETERAPIA NERIALBA RODRIGUES DELGADO DE FREITAS EXPRESSÃO NÃO VERBAL DO CORPO EM ARTETERAPIA Natal/RN 2006 50 Este é um novo tempo Um começo Uma caminhada Um momento de partir, sair em busca... Este é o ano de uma era de sonhos Que vão tomando a forma de uma realidade Ansiada... Este é o seu tempo de chegar – como esperança – O seu tempo de crer na sua força E na nossa profunda disponibilidade de acertar e contribuir Para ajudá-lo a torna-se o Melhor que possa vir a ser... Este é o novo tempo Que acumula lições de um passado inteiro E a elas acrescentar uma enorme Vontade de desbravar junto com “você” Esse futuro radioso que começa Aqui e agora. Maria José Borges Lins e Silva