Faculdade Integração Zona Oeste – FIZO Alquimy Art Curso de Especialização em Arteterapia Pós-Graduação lato sensu ARTETERAPIA COM PORTADORES DE NECESSIDADES ESPECIAIS, UM NOVO CAMINHAR Margarete Gomes de Souza Santos Aracaju, SE 2009 1 MARGARETE GOMES DE SOUZA SANTOS ARTETERAPIA COM PORTADORES DE NECESSIDADES ESPECIAIS, UM NOVO CAMINHAR Monografia apresentada à FIZO – Faculdade Integração Zona Oeste, SP e ao Alguimy Art, SP, como parte dos requisitos para a obtenção do título de Especialista em Arteterapia. Orientadora: Profª Drª Cristina Dias Allessandrini Aracaju, SE 2009 2 SANTOS, Margarete Gomes de Souza Arteterapia com Portadores de Necessidades Especiais, Um Novo Caminhar / Margarete Gomes de Souza Santos – Aracaju; [s.n.], 2008. 54 p. Monografia (Especialização em Arteterapia) – FIZO, Faculdade Integração Zona Oeste. Alquimy Art, SP. 1. Arteterapia 2. Oficinas Criativas 3. Deficiência 3 FIZO – Faculdade Integração Zona Oeste Alquimy Art ARTETERAPIA COM PORTADORES DE NECESSIDADES ESPECIAIS, UM NOVO CAMINHAR Monografia apresentada pela aluna Margarete Gomes de Souza Santos ao Curso de Especialização em Arteterapia em 28 de novembro de 2008 e recebendo a avaliação da Banca Examinadora constituída pelos professores: __________________________________________________________ Profa. Dra. Cristina Dias Allessandrini, Orientadora e Coordenadora Especialização. __________________________________________________________ Profa. Cássia de Fátima Souza, Coordenadora Local e Supervisora. __________________________________________________________ Profa. Margaret Bateman Pela, Leitora Crítica. da 4 A todos que, de alguma forma, contribuíram para uma sociedade inclusiva, reestruturada para acolher todo espectro da diversidade humana, ou seja, pessoas com deficiência, pessoas sem deficiências e pessoas com outras características atípicas. 5 AGRADECIMENTOS A Deus Criador do Céu, da Terra, do Mar e tudo o que neles há. Deus de ontem, hoje e sempre; o Princípio e o Fim. Com o mesmo poder que formastes o homem com toda sua perfeita complexidade, também nos acompanhastes e auxiliastes em toda essa nossa jornada, a despeito do nosso reconhecimento. A Ti Senhor, nesse momento, seja dada a nossa mais pura gratidão; pela vitória alcançada e por nos conceder, mesmo com as nossas limitações, a graça de sermos instrumentos Teu a fim de como uso da arte libertar as qualidades do indivíduo na práxis da vida. Ao grupo atendido pela participação e envolvimento total no decorrer das oficinas. A APAE por confiar no projeto e nos oferecer todas as condições favoráveis para o perfeito transcorrer do processo. Aos mestres “A um homem nada se pode ensinar. Tudo que podemos fazer é ajudá-lo a encontrar as coisas dentro de si mesmo”. (Galileu Galilei) “Um discípulo nunca pode imitar os passos do seu guia. Porque cada um tem uma maneira de ver a vida, de conviver com as dificuldades e com as conquistas. Ensinar é mostrar que é possível. Aprender é tornar possível a si mesmo”. (Paulo Coelho) Poucas foram as oportunidades que tivemos para agradecer-lhes pela dedicação, paciência e carinho que vocês nos dispensaram, sempre compartilhando generosamente o seu conhecimento. Cada um ao seu modo (descontraído, formal, tímido, alegre, “rígido” ou “liberal”...) foi especial e imprescindível em nossa formação, não só como arteterapeutas, mas também como pessoas melhores. Neste momento de alegria, no qual celebramos o final de uma longa etapa, aproveitamos para prestar uma justa e sincera homenagem a vocês, que pela amizade ou pelo simples convívio, nos apontaram o caminho e contribuíram com o nosso crescimento interior (self). 6 “Diga-me, eu esquecerei. Mostre-me, eu me lembrarei. Mas envolva-me, e eu entenderei”. Confúcio 7 RESUMO No atual contexto histórico que perpassa a sociedade moderna, centrada na INCLUSÃO SOCIAL das pessoas com necessidades especiais; a arte aparece como instrumento de transformação, favorecendo o ajuste nas relações interpessoais destas pessoas com a sociedade globalizada. A Arteterapia como uma área interdisciplinar, permitiu um melhor ajustamento social, através de sua abordagem metodológica, denominada de Oficinas Criativas com a participação de um grupo de sete jovens portadores de necessidades especiais da APAE – ARACAJU/SE, durante o período de fevereiro a junho de 2008, visando uma melhoria na qualidade de vida e resgatando a auto-estima, permitindo-lhes um novo caminhar, em direção ao saudável. O referencial teórico construído pela pesquisa bibliográfica baseou-se em Allessandrini (1999, 2005), Arcuri (2006), Mantoan (1997), além dos Parâmetros Curriculares da Educação Especial – MEC. Este trabalho foi organizado em quatro capítulos, acrescidos da introdução e considerações finais e procuram mostrar como a Arteterapia pode redimensionar a vida dos portadores de necessidades especiais. Palavras-chave: Arteterapia – Oficinas Criativas – Deficiência – Inclusão – Auto-Estima. 8 ABSTRACT In the current historical context that modern society goes through, centered in the people's SOCIAL INCLUSION with special needs, arts appears as a tool for transformation, improving the interpersonal relationship between this public and the globalized society. Art Therapy as an interdisciplinary area allowed a better social adjustment, through an art therapeutic work framed by the methodology of the Creative Workshop carried out with a group of seven young patients of APAE – I in the city of Aracaju, in Sergipe. It aimed an improvement in the quality of life and the rescue of self-esteem, allowing these patients to walk along a new path towards health. The theoretical basis was drawn from bibliographical research mainly from Allessandrini (1999, 2005), Arcuri (2006), Mantoan (1997), besides the Parâmetros Curriculares of the Special Education - MEC. This work was organized in four chapters that demonstrate hoe Art Therapy enables a new dimension to the life of special needs individuals. Word-key: Arteterapia – Creative shops – Deficiency – Inclusion – Self-esteem. 9 LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1 – 1ª Oficina Criativa para adaptação e entrosamento dos participantes do projeto...................................................................... 45 Ilustração 2 – 2ª Oficina – Desenho das partes do corpo......................................... 45 Ilustração 3 – 3ª Oficina Criativa – Construção do boneco de massa de modelar........... 46 Ilustração 4 – 6ª Oficina Criativa – Construção do Crachá (Gravata)....................... 46 Ilustração 5 – 6ª Oficina Criativa – Construção do Crachá (Gravata)...................... 47 Ilustração 6 – 10ª Oficina Criativa para construção da coroa do rei......................... 47 Ilustração 7 – 10ª Oficina Criativa para pintura e decoração da coroa do rei........... 48 Ilustração 8 – 12ª Oficina Criativa – trabalho de móbile com argila......................... 48 Ilustração 9 – 14ª Oficina Criativa para confecção de placa de argila com as mãos.................................................................................................. 49 Ilustração 10 – 17ª Oficina Criativa Construção coreográfica (dança com elásticos).......................................................................................... 49 Ilustração 11 – 21ª Oficina Criativa para confecção do escudo-mandala................. 50 Ilustração 12 – 25ª Oficina Criativa para aplicação da máscara de atadura gessada............................................................................................ 50 Ilustração 13 – 26ª Oficina Criativa pintura da máscara do rei................................. 51 Ilustração 14 – 27ª Oficina Criativa decoração da placa com nome para instalação........................................................................................ 51 Ilustração 15 – 31ª Oficina Criativa para instalação................................................. 52 Ilustração 16 – 32ª Oficina Criativa apresentação da instalação ao público da instituição APAE............................................................................... 52 10 SUMÁRIO RESUMO..................................................................................................................... 7 ABSTRACT................................................................................................................. 8 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 11 2 TRAJETÓRIA PESSOAL E PROFISSIONAL DE ENCONTRO COM A ARTETERAPIA ...................................................................................................... 13 2.1 MINHA MUDANÇA ATRAVÉS DA ARTETERAPIA ......................................... 15 2.2 ARTETERAPIA O CAMINHO PARA O NOVO ................................................ 16 2.3 OFICINAS CRIATIVAS EM ATELIÊ TERAPÊUTICO ...................................... 18 3 A DEFICIÊNCIA: HISTÓRICO ............................................................................... 20 3.1 ESTUDO DAS LEIS À “INCLUSÃO” ................................................................ 24 3.2 SEXUALIDADE, EDUCAÇÃO E TRABALHO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA .....26 4 RELAÇÃO MÃE-FILHO DEFICIENTE DENTRO DOS PRESSUPOSTOS WINNICOTTIANOS ................................................................................................. 29 5 A TEORIA NA PRÁTICA – RELATO DE EXPERIÊNCIA DO ESTÁGIO CURRICULAR DE ARTETERAPIA COM PORTADORES DE NECESSIDADES ESPECIAIS ............................................................................................................ 34 5.1 COMO A ARTETERAPIA PODE REDIMENSIONAR A CONSCIÊNCIA CORPORAL .................................................................................................... 39 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 41 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 43 ANEXO A – ILUSTRAÇÕES DE ALGUNS MOMENTOS SIGNIFICATIVOS NAS OFICINAS CRIATIVAS – APAE - ARACAJU/SE ....................................................... 45 ANEXO B – RELATO DAS OFICINAS DESENVOLVIDAS NA APAE – ARACAJU/SE ....... 53 11 1 INTRODUÇÃO O trabalho de análise que ora se apresenta é fruto de construção de conhecimentos, decorrente da experiência do estágio curricular do curso de especialização em Arteterapia pela Faculdade Integração Zona Oeste – FIZO, em parceria com o ALQUIMY ART. Esta experiência profissional teve como objetivos principais entender: como a Arteterapia pode redimensionar a qualidade de vida do portador de necessidades especiais, contribuindo para a auto-estima desse público-alvo, como também sua verdadeira inclusão na sociedade com uma identidade total do seu verdadeiro self. Para a elaboração deste trabalho, a princípio, foi realizado um levantamento bibliográfico da literatura que abordasse a questão da ARTETERAPIA em suas diversas áreas de aplicação. Sabe-se que a Arteterapia integra os conhecimentos advindos da Psicologia, da Psiquiatria, da Filosofia, da Sociologia de diversas áreas do conhecimento fazendo interlocuções com as atividades artísticas, trabalhando com o potencial terapêutico, pedagógico e de crescimento pessoal contido em todas as formas de Arte, utilizando-se de técnicas expressivas e vivenciais como: desenho, pintura, modelagem, colagem, escultura de argila, máscaras de gesso, dramatização, danças e expressão corporal, relaxamento e visualização criativa, dentre outros, para contribuir e facilitar com o desenvolvimento do ser humano além de exaltar e libertar as qualidades do indivíduo, ajudando-o a sentir-se e agir consigo mesmo. Proporcionando o seu auto-reconhecimento e a totalidade de ser. O presente trabalho, para melhor atender os objetivos propostos está distribuído em quatro capítulos. O primeiro é a trajetória pessoal e profissional de 12 encontro com a Arteterapia, onde se procura mostrar os caminhos percorridos até chegar a Arteterapia com os desafios e alegrias construídos para uma mudança de paradigma. O segundo focaliza a DEFICIÊNCIA, segundo Winnicott, que impõe mudanças atitudinais para com os portadores de necessidades especiais e considerando o desenvolvimento sadio e alguns aspectos aplicáveis às pessoais com deficiência, permitindo a essas transcender as fronteiras das limitações tanto físicas como emocionais e a reivindicar uma identidade total. Enfatiza as leis que estimulam e fornecem a INCLUSÃO SOCIAL. O terceiro aborda a relação mãe-filho deficiente dentro dos pressupostos winnicottianos. Uma relação de dependência onde a mãe deve exercer sua maternagem de forma segura, sem sentimento de impotência e frustração. O quarto relata a experiência do estágio curricular, dando ênfase à prática da Arteterapia enquanto instrumento essencial na redimensão de uma verdadeira inclusão e uma melhor qualidade de vida do portador de necessidades especial. Aborda também a capacidade que a Arteterapia tem de redimensionar a consciência corporal, permitindo à pessoa com deficiência uma maior aceitação e utilização do corpo da forma como se apresenta. E por fim, apresentam-se as considerações finais do referido trabalho. 13 2 TRAJETÓRIA PESSOAL E PROFISSIONAL DE ENCONTRO COM A ARTETERAPIA Sou Margarete Gomes de Souza Santos, filha de Raimunda Melo Souza e Moisés Gomes e Souza (in memória), nascida em Cedro de São João – Sergipe, em 28 de Abril de 1966. Criança da zona rural. Tive uma infância marcada pela liberdade, pelo contato com a natureza e, sobretudo, embalada nas brincadeiras de roda e contos da vovó. Cursei o primário em escola pública da zona rural, o ginásio em rede particular de ensino e o segundo grau em curso normal (Pedagógico), onde já atuava como auxiliar de professor. Possuo uma formação acadêmica na área de Educação, com Licenciatura Plena em Pedagogia e especialização na Área de Educação Especial, onde atuo profissionalmente como professora de Sala de Recursos, dando atendimento em estimulação precoce as crianças portadoras de necessidades especiais, e também fazendo um suporte pedagógico com as crianças inclusas na rede regular de ensino que apresentam deficiências variadas: Síndrome de Down, Paralisia Cerebral, Autismo, Deficiência Intelectual, Deficiência Auditiva, etc. Refletindo sobre meu percurso neste campo de estudo percebi que faltava algo que me desse suporte teórico, uma compreensão sobre o desenvolvimento, aprendizagem e ajustamento das crianças com deficiência. Senti uma necessidade de buscar recursos na Psicologia, na Arte, na Filosofia, na Medicina e não sabia onde encontrar tudo isso de forma objetiva e vivencial. 14 Surgiu então o encanto pela Arteterapia como uma busca para respostas de muitos anseios e questionamentos que tinha a respeito de um trabalho que não fosse pedagógico, mais TERAPÊUTICO com as crianças especiais; um veículo que as fizessem caminhar em direção a um estado mais saudável e criativo; uma terapia não-verbal, baseada em uma relação triangular, constituída pelo arteterapeuta, a criança especial e a expressão visual A Arteterapia como um novo campo do conhecimento interdisciplinar, por natureza, pois faz uma interlocução entre várias áreas do conhecimento: a Psicologia, a Arte, a Filosofia, a Antropologia, etc. Certamente, não é uma proposta simples, visto que através da utilização de recursos artísticos em contextos terapêuticos age no processo de criação do ser humano, enriquecendo a qualidade de vida das pessoas, aumentando o poder criador de cada criatura, libertando a alma de suas necessidades e anseios. É o desafio que tenho pela frente -, sempre visando a um melhor atendimento de forma a contribuir para um ajustamento mais satisfatório e saudável a estas crianças que fazem parte da minha trajetória profissional. Como afirma a Allesandrini: Se trabalhamos nessa área e/ou somos uma família eleita para receber almas como essas, que têm um jeito especial de evoluir, nós também somos „especiais‟ e nossos valores internos transformam-se muito. (1999, p. 144). Agora sigo por um caminho novo, porém cheio de desafios e responsabilidades, lembrando que, Vocação é o processo de seguir na direção de alguma coisa. É a direção, mais que um objetivo, e acreditando que a vida se encontra sempre face a alguma fronteira, fazendo investidas no desconhecido. Seu caminho conduz cada vez mais fundo na verdade. Não podemos chamá-lo de ermo, inexplorado, pois quando o caminho aparece é como se sempre estivesse ali, esperando ser trilhado... assim as surpresas, assim a continuidade. (ATALLI, 1996, p. 103). 15 Por entre caminhos e descaminhos, tocamos a alegria de construir novos rumos, tramas que se delineiam... por vezes sensíveis e delicadas ou então claras e definidas, cada pessoa aprende, recebe e corporifica, traz para si o que acrescenta por que tem sentido, alimenta a alma e promove crescimento, [...]. (ALLESSANDRINI, 1999, p. 97). 2.1 MINHA MUDANÇA ATRAVÉS DA ARTETERAPIA Durante o curso de arteterapia percebi que houve mudanças significativas na minha vida. A cada módulo sentia que havia escolhido o caminho certo. Uma das primeiras mudanças que me ocorreu foi aprender a ouvir e calar. Antes era muito falante e tinha pouca curiosidade em ouvir as pessoas. Depois dos exercícios praticados durante os módulos, como também as oficinas criativas melhorei bastante, inclusive passei a viver melhor, com mudanças em relação a minha qualidade de vida familiar. Outros benefícios que a arteterapia me trouxe foram: senso maior de equilíbrio, consciência do meu corpo, capacidade de ouvir, paciência, mais facilidade de resolver problemas, maior compreensão das coisas, entre outros. Portanto, posso dizer que a arte terapia trouxe grandes benefícios na minha vida, mudando para melhor. Sinto que cresci como profissional, não me vejo mais como aquela professora de antes. Hoje percebo e compreendo melhor tanto os meus alunos como as pessoas com quem me relaciono. Dentre as vivências dos Workshops, destaco o “sentindo o movimento do silêncio do som” onde vivenciei uma experiência única, tive oportunidade de usufruir da linguagem sonora, corporal e plástica, com objetivo de desenvolver o conhecimento da linguagem musical e sua expressividade. 16 Ressalto também a Energética Corporal no desenvolvimento da consciência cujo objetivo foi refletir sobre a percepção do ser humano como multidimensional, possibilitar a ampliação da visão mecanicista para uma visão holística e aplicar esta visão ao trabalho do arteterapeuta. Como as técnicas expressivas coligadas ao trabalho corporal que nos proporcionou subsídios para compreensão da relação terapêutica em um contexto não verbal. Um trabalho de autoconhecimento e o domínio da técnica do toque terapêutico como uma identificação mais sutil e precisa de nossos limites pessoais o uso da CALATONIA. 2.2 ARTETERAPIA O CAMINHO PARA O NOVO A arteterapia surgiu como profissão em 1969, por meio da American Art Therapy Association, e se espalhou pelo mundo. Porém no Brasil desde 1925, Osório César começou a utilizar a Arteterapia no Juqueri e em seguida a psiquiatra Nise da Silveira, em 1946, com atendimento arteterapêuticos com pacientes esquizofrênicos. (ARCURI, 2006). Atualmente vários cursos de Arteterapia são distribuídos por todo o Brasil, e vêm crescendo devido ao grande número de pesquisas em Arteterapia no âmbito da universidade com um caráter científico, visto sua utilização como ciência nos atendimentos terapêuticos nas diversas áreas da psicologia, da filosofia e da Arte, etc. Apropriando-se da expressão artística ela promove mudanças significativas na vida do ser humano, que na atualidade parece está entorpecido pelos recursos 17 tecnológicos -, como dizem a era da Tecnologia. A corporeidade humana de certa forma está ameaçada pelos avanços tecnológicos. Surge a Arteterapia como um novo campo do conhecimento interdisciplinar, servindo de interligação entre várias áreas do conhecimento e estabelecendo parcerias e mediação para a criação de saberes. Oferecendo grandes contribuições no auto-conhecimento, nas relações interpessoais, cuidando da pessoa humana em sua totalidade e em sua essência mais profunda, integrando às áreas básicas do ser (neurológica, afetiva, cognitiva e emocional), como também as funções egóicas, a percepção, atenção e memória. (ARCURI, 2006). Arcuri (2006, p. 11) expressa essa importância da Arteterapia como: “o grande valor da Arteterapia reside em auxiliar o ser humano a lidar com relações de modo mais criativo com o mundo, ampliando a consciência sobre suas potencialidades e possibilidades de atuação no mundo em que vive”. Daí a responsabilidade do arteterapeuta em oferecer oportunidades para que alguma mudança ocorra, “facilitando a expressão do cliente através de meios visuais, a modalidade de representação preferida pelo cliente, resistência e metas estabelecidas pelo terapeuta e o cliente, determinam a modalidade a ser utilizada” (Lusebrink, 1990, p. 94). Ampliando e desdobrando o potencial do processo de criação do ser humano. Como acrescenta Philippini (2002) “a cada encontro arteterapêutico, o processo criativo é fortalecido e imagens, sensações e sentimentos se materializam tornando visível aquilo que estava difuso”. 18 2.3 OFICINAS CRIATIVAS EM ATELIÊ TERAPÊUTICO A metodologia utilizada são as Oficinas Criativas que segundo Allessandrini (1996, p. 41): Oficina Criativa é o trabalho, em psicopedagogia, de atendimento individual ou grupal, composto de certas etapas, no qual o sujeito expressa criativamente uma imagem interna por meio de uma experiência artística para, posteriormente, organizar o conhecimento intrínseco a esse fazer expressivo. O método de Oficina Criativa possui como diretriz uma seqüência básica estruturante de uma proposta a ser constituída de cinco etapas. Inicia-se com a sensibilização, onde o sujeito estabelece uma relação diferenciada de contato com o mundo, apoiando-se na sensibilidade e percepção de seu verdadeiro eu. A expressão livre possibilita a livre expressão de seu sentimento e pensamento, fazendo uso de técnicas, materiais artísticos como: a tinta, o gesso, a argila, desenho, sucata, etc. e todo o material capaz de expressar a imagem interna materializada, toma forma. Na elaboração da expressão, o indivíduo “reelabora”, ainda na perspectiva da arte e da representação não-verbal, o conteúdo emergente das etapas anteriores. Na transposição para linguagem verbal faz-se uso da linguagem oral e escrita e a imagem interna, surge a criação de mensagens ou textos. A última etapa é a avaliação, a retomada do processo, envolve o conjunto de informações que permitem identificar as etapas significativas, a percepção crítica do indivíduo na aquisição de novos conhecimentos. (ALLESSANDRINI, 1996). Segundo Allessandrini (1996, p. 16): As oficinas criativas são construídas na perspectiva da completude de uma proposta educacional. Cada ação é vivida profundamente, e seu encadeamento é direcionado de modo que a cada momento o indivíduo 19 possa dar continuidade ao processo de descoberta, expressão e elaboração de conteúdos pessoais e significativas. E continua Allessandrini (2004, p. 85): Quando nos utilizamos da metodologia das oficinas criativas nos diferentes contextos possíveis, criamos a oportunidade para que pessoas que vivenciam os processos trabalham internamente suas competências, desencadeadoras de um saber próprio e direcionado. As oficinas criativas acontecem no Ateliê Arteterapêutico, um espaço único que possibilita uma relação amistosa entre terapeuta e cliente. Pode-se pensar o Ateliê Arteterapêutico como um ambiente de acolhimento e confiança mútua, como já disse uma colega de Arteterapia. “um espaço alquimicamente transformador, no qual através da arte do indivíduo pode revelar-se a si mesmo”. Neste espaço é possível “ser mais do que somos”, ou seja, ser tudo aquilo que somos e não conhecemos. Neste Ateliê encontra-se uma grande variedade de materiais que possibilitam vários meios de expressão através de desenhos, pinturas, construção, modelagem, esculturas e criações variadas nos apropriando de materiais diversos como: papéis (seda, sulfite, canson, cartão, cartolina, papelão, crepom, etc.), tintas (guache, aquarela, acrílica, têmpera, anilina, nanquim, plástica, etc.), pigmentos, corantes, lápis de cor, grafite, giz de cera, giz pastel, cola (colorida, glitter, etc.), sucatas variadas (caixas, garrafas, tampinhas, etc.), elementos naturais (sementes, grãos, madeira, folhas, conchas, pedras, argila), isopor, tecidos, lã, entre outros. Pode-se observar o vasto leque de materiais e meios que o ateliê oferece, proporcionando uma infinidade de possibilidades onde o cliente e o arteterapeuta encontram caminhos para a expressão e elaboração de sentimentos. 20 3 A DEFICIÊNCIA: HISTÓRICO A questão da deficiência é hoje uma problemática muito debatida e estudada por profissionais e pesquisadores de diversas áreas do conhecimento: médicos, psicólogos, fisioterapeutas, educadores, etc. Vários trabalhos têm abordado como foco os diferentes tipos de deficiência e também as diversas formas de intervenção aplicáveis às pessoas com deficiência. Procura-se neste estudo evidenciar os recursos terapêuticos da “Arteterapia” como forma de entendimento da deficiência e o desenvolvimento sadio destas pessoas para um melhor ajustamento na sociedade. A idéia de uma sociedade inclusiva se fundamenta numa filosofia que reconhece e valoriza a diversidade como característica inerente à constituição de qualquer sociedade. Partindo desse princípio e tendo como horizonte cenário ético dos Direitos Humanos, sinaliza a necessidade de se garantir o acesso e a participação de todos, a todas as oportunidades, independentemente das peculiaridades de cada indivíduo e/ou grupo social. (MEC, 2006 p. 28. Série: Educação Inclusiva). A identidade pessoal e social é essencial para o desenvolvimento de todo indivíduo, enquanto ser humano e enquanto cidadão. A identidade pessoal é construída na trama das relações sociais que permeiam sua existência cotidiana. Estas relações entre os indivíduos devem se caracterizar por atitudes de respeito mútuo, representadas pela valorização de cada pessoa em sua singularidade, ou seja, nas características que as constituem. A Constituição Federal do Brasil assume o princípio da igualdade como pilar fundamental de uma sociedade democrática e justa, quando afirma no “caput” do artigo quinto “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros, residentes no país, a inviolabilidade 21 do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e a propriedade” (CF – Brasil, 1988). Para que a igualdade seja real, ela tem que ser relativa. Isto significa que as pessoas são diferentes, têm necessidades diversas e a lei lhes garante o atendimento às peculiaridades individuais, de forma que todos possam usufruir das oportunidades existentes. A família é o primeiro espaço social da criança, no qual ela constrói referencias e valores, já a comunidade é o espaço mais amplo, onde os valores se desenvolvem, e a escola é um dos principais espaços de convivência social do ser humano. Ela tem o papel primordial no desenvolvimento da cidadania e de direitos. A atenção educacional aos alunos com necessidades especiais associados ou não a deficiência tem se modificado ao longo de processos históricos de transformação social. A deficiência foi, inicialmente, considerada um fenômeno metafísico, determinado pela possessão demoníaca, ou pela escolha divina da pessoa para purgação dos pecados. Séculos da Inquisição Católica e posteriormente da rigidez moral da Reforma Protestante, contribuíram para que as pessoas com deficiência fossem tratadas como a personificação do mal. (ARANHA, 2006). Como os conhecimentos da medicina foram construídos na história da humanidade, a deficiência passou a ser vista como doença de natureza incurável. Estas foram as primeiras idéias que determinaram as primeiras práticas sociais formais de atenção à pessoa com deficiência, práticas de segregá-las em instituições, e tratamento médico, fora de convívio com as pessoas ditas normais. A esse conjunto de idéias e de práticas sociais denominou-se “Paradigma da Institucionalização” que durou aproximadamente oito séculos. (Ibidem). 22 No Brasil, a partir da década de sessenta começaram a ser implantados os serviços e reabilitação profissional, visando prepará-los para integração na vida da comunidade. Nos anos setenta, tomando por com base a Declaração Universal dos Direitos Humanos, passou a buscar um novo modelo no trato com as pessoas com deficiência, partindo do princípio da normalização afirmando que as pessoas diferentes podiam ser normalizadas, ou seja, capazes de viver em sociedade. Da década de oitenta em diante, o mundo sofre novas transformações, avanços tecnológicos na Medicina e novos conhecimentos na área de Educação. Começou, então, a idéia da necessidade de construção de espaços sociais inclusivos, ou seja, espaços organizados para atender ao conjunto de características e necessidades de todos os cidadãos, inclusive daqueles que apresentam necessidades, educacionais especiais. (ARANHA, 2006). Vários documentos que foram elaborados assegurando as pessoas com deficiência os direitos à liberdade, a uma vida digna, à educação fundamental, ao desenvolvimento pessoal e social e a livre participação na vida da comunidade. Destacam-se, a Declaração de Jomtien (1990), Declaração de Salamanca (1994), a Declaração da Guatemala (1999). Segundo a UNESCO:1 Pessoa deficiente é qualquer pessoa incapaz de assegurar, por si mesma, total ou parcialmente, as necessidades de uma vida individual ou social normal, em decorrência de uma deficiência congênita, ou não, em suas capacidades física ou mental. (apud SOUZA, 2005, p. 45). Devemos lembrar, portanto a classificação que o MEC faz a esses alunos portadores de deficiência (mental, visual, auditiva, física, múltipla) portadores de condutas típicas, portadores de altas habilidades (superdotados), além dos portadores de síndromes. A esse conjunto encontramos em Amiralian (1986, p. 97) 1 Declaração de Salamanca (1994). 23 uma definição que nos fez resumir toda essa classificação como “a deficiência é uma condição estruturante da pessoa, pois é a partir de seu conjunto orgânico e fisiológico, que ela vai se constituir e torna-se um individuo único e indissolúvel”. A esta condição são somados as vivências e o significado no ambiente que circunda permitindo a pessoa portadora de deficiência um desenvolvimento saudável, de maneira a sentir-se aceito e entendido e amado. Longe das antigas atitudes de eliminação, segregação, assistencialismo procura-se hoje a transformação das pessoas com deficiência em alguém o mais semelhante possível aos “normais”. Fundamentada nesta compreensão da deficiência a partir dos pressupostos de Winnicott que impõem mudanças atitudinais para com esse grupo, e faz referência ao desenvolvimento sadio, e alguns aspectos aplicáveis às pessoas com deficiência e deformidades físicas. O processo de Arteterapia com os jovens portadores de necessidades especiais está sendo um desafio inovador e transformador como a metamorfose da crisálida em borboleta. Trabalhando a criatividade, dando forma, cor, expressão aos sentimentos, libertando as qualidades destes jovens, aumentando sua auto-estima, dando novos significados às experiências vividas, frustradas ou as cicatrizes deixadas pelo tempo, a Arteterapia surge como um no caminhar. Como afirma Grof (2000) “Caminhar em direção à totalidade do próprio ser” -, permitindo as estes jovens transcender as fronteiras das limitações tanto físicas com emocionais a reivindicar uma identidade total”. 24 3.1 ESTUDO DAS LEIS À “INCLUSÃO” A partir da década de 90, a integração das pessoas portadoras de deficiência possa a dar lugar a Inclusão. Como afirma Jannuzi (2004, p. 187): A partir do início da década de 1990, principalmente após a declaração de Salamanca (1994), endossada pelo Brasil e por muitos outros governos, com grande repercussão no século que se inicia, inclusive no discurso oficial, que apoiou em consulta à comunidade [...], aponta-se a inclusão como um avanço em relação à integração, porquanto implica uma reestruturação do sistema comum de ensino. Neste contexto, quanto às questões educacionais, pode-se dizer que o percurso da educação das pessoas com deficiência segue os caminhos da prática da educação especial, passando pelos paradigmas de institucionalização e de serviços (ou integração) até chegar-se ao paradigma de suporte (ou inclusão). Na declaração de Salamanca (1994), encontram-se algumas recomendações: A integração de crianças e jovens com necessidades educativas especiais seriam mais eficaz se os seguintes serviços fossem especialmente considerados nos planejamentos educativos: a educação pré-escolar para melhorar a educabilidade de todas as crianças, a transição da escola para a vida economicamente ativa e a educação das meninas. (BRASIL, 1997, p. 41). Nela também, encontram-se recomendações mais específicas quanto à “preparação para a vida adulta”. A preparação para a vida adulta deve fazer parte da educação desde a infância, as atividades devem estar centradas no preparo para uma vida independente e ativa na sociedade. Afirma Brasil (1997, p. 42) que: Jovens com necessidades educativas especiais deverão ser ajudados a passar por uma correta transição da escola para a vida adulta. As escolas deverão ajudá-los a ser economicamente ativos dotá-los com as aptidões 25 necessárias para vida quotidiana, ensinando-lhes habilidades funcionais que atendem às demandas sociais e de comunicação e às expectativas da vida adulta. Isso exige técnicas apropriadas de capacitação experiências diretas em situações reais fora da escola. Os programas de estudos de alunos com necessidades educativas especiais em classes superiores deverão incluir programas específicos de transição, apoio para acesso ao ensino superior quando possível, e a subseqüente capacitação profissional para prepará-los para atuarem como membros independentes e ativos de suas comunidades, ao saírem da escola. Essas atividades deverão ser executadas com a ativa participação dos orientadores profissionais, dos sindicatos, das autoridades locais e dos diferentes serviços e organismos interessados. A inclusão de pessoas com deficiência nas escolas comuns da rede regular de ensino coloca novos e grandes desafios para o sistema educacional. Este, talvez, seja um dos temas que mais têm instigado não só os professores do ensino especial, mas também os professores das escolas comuns, os pais e a própria sociedade. Dentro e fora das escolas vem se verificando um acalorado processo de discussão acerca das modificações que devem ser implementadas na escola, processo que nem mesmo as três leis de diretrizes e bases haviam conseguido desencadear. Compreender a diferença não como algo fixo e incapacitante na pessoa, mas reconhecê-la como própria da condição humana é um desafio ainda muito complexo e um objetivo ainda muito distante da prática pedagógica diária dos professores. A grande maioria deles trabalha na base do falso pressuposto de que todos os alunos são iguais e que as turmas são 2 homogêneas. Atualmente o Ministério da Educação, vem desenvolvendo inúmeras ações, programas e projetos que beneficiam direta ou indiretamente as pessoas com deficiência. Dentre eles destaca-se: O Programa Educação Inclusiva: Direito à Diversidade; Apoio à Educação Infantil; Apoio à Educação Profissional, Apoio Técnico e Pedagógico aos Sistemas de Ensino; Projeto de Informática na Educação Especial – PROINESP; (Programa 2 Profª Mara Lúcia Sartoretto, em seminário realizado em Aracaju, 24 de nov./2008. (Curso de Educação Especial com ênfase na inclusão e na estimulação precoce). 26 de Apoio à Educação Especial) – PROESP; (Projeto Educar na Diversidade) e Programa Incluir. 3.2 SEXUALIDADE, EDUCAÇÃO E TRABALHO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA A sexualidade ainda é um tema “tabu” em nossa sociedade. Partimos, assim da compreensão de que a sexualidade é uma condição humana, um modo de ser, expressos através de comportamentos e atitudes que marcam, decisivamente, a qualidade de vida das pessoas, fato este que, muitas vezes, desvalorizamos ou ignoramos que sabemos. (BERNARDI, 1987; VASCONCELOS, 1995). Sexualidade é, portanto, essa necessidade de receber e expressar afeto e contato que todas as pessoas têm, independente se possuem deficiência ou não. Quanto à questão do portador de deficiência, existe na sociedade, por parte da família e também dos profissionais uma noção errônea de que a sexualidade das pessoas com deficiência é uma problemática, quando não patológica. “Existem duas crenças: que as pessoas portadoras de deficiências são assexuadas ou com impulsos sexuais exacerbados”. Na verdade a sexualidade independe da deficiência. Ter uma deficiência física, motora, visual, auditiva não significa necessariamente ser deficiente em seus desejos sexuais. Eles têm necessidades, podem ter experiências e emoções como outra pessoa qualquer. “Torna-se então mais urgente a orientação sexual, que, de modo ideal, deveria ser conduzida pela família e pela escola”. (MOREIRA, 1998). Segundo Silva e D‟Antino (1998), “Precisamos buscar alternativas de propostas pedagógicas, de atividades no âmbito familiar e no meio social, que 27 proporcionam ao adolescente com deficiência mental, vivências adequadas a sua idade cronológica”. (p. 42). Essas propostas educacionais devem priorizar atividades que visem a autonomia e a independência. A educação profissionalizante é uma boa alternativa. A educação profissional é um direito do aluno com necessidades educacionais especiais e visa à sua integração produtiva e cidadã na vida em sociedade. Deve efetivar-se nos cursos oferecidos pelas redes regulares de ensino públicas ou pela rede regular de ensino privada, por meio de adequações e apoios em relação aos programas de educação profissional e preparação para o trabalho, de forma que seja viabilizado o acesso das pessoas com necessidades educacionais especiais aos cursos de nível básico, técnico e tecnológico, bem como a transição para o mercado de trabalho. (BRASIL, 2001, p. 60). A preparação para o mercado de trabalho envolve um nível mínimo de competências que lhes possibilitem: 1. Capacidade de adaptação a um aprendizado ágil e contínuo; 2. Flexibilidade nas unidades de aprendizagem; 3. Domínio das novas tecnologias, incorporadas ao mundo do trabalho e ao conhecimento humano; 4. Acesso a processos revolucionários, como novos sistemas produtivos, qualidade total, e novas formas de gestão. (BRASIL, 2000, p. 16). Para Sassaki (2003, p. 117): 3 A competência envolve CONHECIMENTOS, HABILIDADES e ATITUDES . Os conhecimentos têm a ver com o saber. As habilidades se referem ao saber fazer, que por sua vez nos remete às habilidades básicas, habilidades específicas e habilidades de gestão. E as atitudes refletem o querer saber fazer. Nesse sentido, considerando a importância do trabalho para as pessoas com deficiência mental adultas, a preparação profissional, 3 Grifo do autor. 28 [...] deve voltar-se transversalmente, para as questões relacionadas com o trabalho, enquanto atividade de humanização, enquanto ação de cidadania, enquanto formador de identidade pessoal e social, enquanto elemento de contribuição e de participação social, enquanto promotor de autonomia, no máximo das possibilidades de cada um. (BRASIL, 2000, p. 39). O trabalho no mercado de trabalho é fundamental para o desenvolvimento da pessoa com deficiência. Dentre os aspectos principais envolvidos na questão do trabalho, vamos ressaltar sua importância: na auto-realização, na auto-estima, na independência econômica, na autonomia, no prazer, na sensação de aceitação e no „pertencimento‟. Quanto a este último, vale assinalar que muito da satisfação de qualquer empregado com seu trabalha consiste, exatamente, em fazê-lo „com‟ e „em torno de‟ pessoas com ele compatíveis. (AMARAL apud SILVA e D‟ANTINO, 1998, p. 45). Para finalizar, cabe destacar que a inserção das pessoas com deficiência no mercado de trabalho é ampla e abrangente e não se esgota na educação, mas também em uma preparação da empresa, da família e da sociedade. 29 4 RELAÇÃO MÃE-FILHO DEFICIENTE DENTRO DOS PRESSUPOSTOS WINNICOTTIANOS O interesse por este estudo surgiu da necessidade de compreender o desenvolvimento das pessoas com deficiência e descobrir os diferentes tipos de intervenção que são utilizados, visando a um melhor atendimento às suas necessidades, como forma de contribuir com a inclusão social. Buscou-se esta fundamentação nos pressupostos winnicottianos que surgiu como uma luz, uma fonte esclarecedora, capaz de acalmar as insatisfações, dúvidas e anseios para a realização de um trabalho terapêutico dentro de uma relação triangular: arte terapeuta - pessoa com deficiência-a arte. Segundo Winnicott o ser humano se constitui na interação com o ambiente, em sua origem há um organismo com potencial herdado e uma força vital para um contínuo vir a ser. O que existe é um conjunto anatômico e fisiológico, e a isto se acrescenta um potencial para o desenvolvimento de uma personalidade humana. Há uma tendência geral ao crescimento físico e ao desenvolvimento da parte psíquica da parceria psicossomática. (WINNICOTT, p.IX 1968, EP). Frente a essa dialética entre a condição orgânica da deficiência que vai determinar o comportamento ou se esses são determinados pelo ambiente, surgem inúmeros questionamentos e formas de intervenção para o atendimento as pessoas com deficiência. A concepção de Winnicott sobre o desenvolvimento do ser humano nos ajuda a entender melhor e compreender a condição de deficiência, quando se refere ao desenvolvimento sadio. “Minha tarefa é o estudo da natureza humana... A natureza humana é quase tudo o que possuímos” [1990 (1954) p. 21]; afirmando-nos 30 que para ele a condição humana é a essência do ser e o seu maior bem, a qual devemos dar toda atenção, cuidado e carinho que merece. São inúmeros os fatores que afetam o desenvolvimento do ser humano, a herança genética, a cultura em que nasceu, a estrutura da família, as dificuldades ambientais, etc. Mas para ele o fundamental é a interação com o outro ser humano. Esta afirmativa nos faz compreender as especificidades causadas por diferentes condições orgânicas, e ambientais que norteiam o desenvolvimento das pessoas com deficiência, e conseqüentemente a atitude que devemos ter para com elas. Aceitar a diversidade como condição inerente à natureza humana, como diz Amiralian, “A deficiência é uma condição constituinte e estruturante do ser humano que a possui; e, portanto, tem diferenças qualitativas daquelas com condição orgânica diferente”. (AMIRALIAN, 1986, p. 97). Uma pessoa com deficiência não pode ser considerado um “coitadinho”, como se fosse um fardo, um pesadelo, uma exclusão total da vida e da sociedade o fato de ter deficiência, uma condição orgânica diferente o que para ela é, portanto normal; é o que é, e deve ser aceita compreendida e amada desta maneira que ela é. É necessário promover a integração social ou desenvolvimento pessoal aos portadores desenvolvimento pessoal aos portadores de deficiência, desde que a diferenciação não limite em si mesmo o direito igualdade que elas possuem. A análise dos três conceitos básicos de Winnicott (1989 apud AMIRALIAN, 1986) sob a concepção do processo de desenvolvimento, a constituição do sujeito psíquico através da interação de um equipamento anátomo-fisiológico com o ambiente; a maneira de entender as relações objetais pela transformação dos objetos compartilhados, objetivamente percebidos, e o conceito de falso e verdadeiro "self"; nós leva a refletir as propostas de intervenção junto às pessoas 31 com deficiência e sobre a nova maneira de incluí-las na sociedade. Apesar dele não se dedicar especificamente às pessoas com deficiência. A partir de suas experiências com o bebê, pela “elaboração imaginativa” de suas sensações, relacionadas à capacidade materna de atender as necessidades do seu filho, cria a psique paralelamente às primeiras tarefas de integração, personalização e realização. Este processo ocorre com todas as crianças, com deficiência ou não, a qualidade das interações primárias mãe-bebê é o fator básico para um desenvolvimento sadio. (AMIRALIAN et al, 2000). Contudo, o bebê deficiente, na fase de dependência absoluta estas primeiras tarefas podem ser prejudicadas. Uma vez que a fragilidade da mãe junto com a dificuldade de compreender as necessidades de seu filho deficiente irão interferir na relação de seu papel. “Mãe devotada comum” constituindo-se dessa forma um desfio para ela desvelar as necessidades psicossomáticas de um filho com deficiência, sejam elas (neurológicas, motoras, auditiva e visual). Esta relação mãe-bebê certamente será de confusão, sentimentos de impotência diante do filho, resumindo uma negação de função materna. (Ibidem). Esses sentimentos e desencontros dificultam as funções maternas de “holding”, “handling” e apresentação do mundo, podendo causar falhas nas primeiras tarefas básicas. O apoio a estas mães de crianças com deficiência é fundamental e evitará muitos problemas e dificuldades que são encontradas nas pessoas com deficiência. A aceitação da deficiência no ambiente familiar, escolar e social favorecerá o desenvolvimento da criança deficiente na sua maneira de ser. Partindo para o estabelecimento das relações objetais, de como a criança transforma os fenômenos subjetivos em objetos compartilhados Winnicott afirma que 32 esses objetos derivam da elaboração imaginativa das primeiras experiências, das primeiras criações do bebê. “É a criação de um objeto que já está lá esperando para ser criado e não encontrado... Isto tem que ser aceito como um paradoxo, e não resolvido por um refraseado que por seu brilhantismo pareça eliminar o paradoxo”. (1983, p. 165). Essas experiências vividas trarão ao bebê um sentimento de onipotência, oferecido pelo meio ambiente, fundamental para a adaptação ao princípio da realidade, na relação posterior com os objetos objetivamente percebidos. Após o momento da fusão onde o sentimento mais importante é o da satisfação que lhe trará a ilusão de onipotência surgem frustrações gradativas que são elementos fundamentais para o estabelecimento das relações objetais. São estas folhas ambientais, na medida certa que possibilitam a criação do mundo externo. Já com as crianças com deficiência são bem maiores as dificuldades que de forma inconsciente e confusa as fazem voltar-se para o seu mundo interior, dificultando o caminho para a percepção do mundo objetivo. As próprias condições, que restringem seus movimentos, empobrecem suas experiências e em conseqüência seu mundo subjetivo. Por isso a grande importância da relação da mãe com o bebê, da forma que ela apresente o mundo a seu filho, da interação entre ambos é crucial para que ele vá criando o mundo externo. Afirma Amiralian (1997) que o aspecto mais importante de desenvolvimento das pessoas com deficiência é a necessidade de desenvolverem uma extensa organização de falso self para serem aceitos. Acredita que isso ocorre, principalmente por nossas atitudes que revelam um desejo de que elas sejam iguais a nós. Daí a responsabilidade de nós profissionais, como também da sociedade em 33 aceitar conviver com as pessoas que são diferentes, permitindo a expressão de seu verdadeiro self. Surge a Arteterapia em como um novo campo do conhecimento, fazendo uso da arte como ferramenta de trabalho dentro de um espaço favorável, acolhedor como forma de exaltar e libertar as qualidades do indivíduo na práxis da vida, permitindo-lhe usar seu poder criativo, desenvolver sua personalidade integral a descobrir o seu verdadeiro eu (self). 34 5 A TEORIA NA PRÁTICA – RELATO DE EXPERIÊNCIA DO ESTÁGIO CURRICULAR DE ARTETERAPIA COM PORTADORES DE NECESSIDADES ESPECIAIS A experiência vivencial de Arteterapia aconteceu na APAE – Aracaju (Associação de Pais e Amigos do Excepcional), no período de 15 de janeiro à 19 de junho de 2008, com um grupo de 7 jovens do sexo masculino com a faixa etária dentre 18 a 35 anos portadores de necessidades especiais, com uma diversidade de limitações (Síndrome de Down, Paralisia Cerebral, Deficiência Mental e Deficiência Auditiva). Foram realizados 34 encontros, perfazendo um total de 102 horas. Os objetivos propostos eram: Proporcionar dentro da instituição um espaço para novas experiências; Oferecer um momento de novas possibilidades de relacionamento entre os jovens que já se conheciam na instituição; Restaurar a auto-estima através das oficinas criativas; Fortalecer os vínculos entre os jovens atendidos e as respectivas famílias. A metodologia aplicada foram as Oficinas Criativas com suas respectivas etapas: sensibilização, expressão livre, elaboração da expressão, transposição para linguagem verbal e avaliação. Desenvolvidas com atividades de música, danças, teatro, cantigas de roda, desenho, pintura, colagem, contação de estórias. Vários foram os recursos materiais utilizados para a realização destas oficinas como: Aparelho de som, músicas, tapete, cola, tesoura, giz de cera, massa 35 de modelar, tecidos, elástico, argila, gesso, E.V.A., T.N.T., cola colorida, miçangas, entre outros que formam o Kit Art. Todas as oficinas foram preparadas tendo o corpo como o centro de toda ação. O título do projeto foi: “Meu corpo meu reino”. Procurou-se desenvolver atividades que despertassem para uma consciência corporal. Utilizando a ARTE como ferramenta para entender e aceitar seu próprio corpo; com suas limitações e características peculiares. Entender o corpo como um espaço sagrado, respeitando seu ritmo, aceitando suas deformações e acreditando na possibilidade de vivências transformadoras e prazerosas, que este corpo pode proporcionar. Esquecendo as marcas psicológicas deixadas pelo tempo na memória corporal, a Arte foi capaz de redimensionar e re-significar estes corpos tão especiais. Nos primeiros encontros deparou-se com corpos docilizados, institucionalizados, medicados, infantilizados e acomodados. Com o decorrer das oficinas e as várias etapas desenvolvidas para o despertar deste CORPO (o corpo em partes, o corpo em movimento, o corpo em contato com o outro corpo, o corpo no espaço, o corpo com os elementos cênicos e o corpo expandido para ser um corpo cênico), muitos foram os indicativos de mudanças e os resultados alcançados. Foram notáveis em alguns participantes: a diminuição da timidez, uma maior verbalização, maior agilidade nas produções, movimentos mais liberados, maior participação e envolvimento, melhoria na qualidade de vida física, diminuição da agressividade verbal, maior integração na instituição, maior aceitação do corpo enquanto adulto, diminuindo a infantilidade e um aumento da força de vontade para superar a deficiência física. 36 Para realizarmos este trabalho de Arteterapia com jovens especiais da APAE – Aracaju, fizemos uso de materiais diversos como: giz de cera, canetinha Hidrocor, cola colorida, tinta Guache, glitter, lantejoulas, tesouras, pincéis, T.N.T., E.V.A., cartolina, revistas, argila, etc.; como também a utilização de materiais recicláveis: lenços, botões, contas, miçangas, caixas de papelão, etc. Porém a nossa maior aliada foi a Expressão Corporal com a utilização do movimento, da dança, da representação que associada a música nos permitiu um entrosamento recíproco com estes jovens especiais. Desde as primeiras oficinas focamos o CORPO como nosso objeto de trabalho. A oficina do desenho das partes do corpo com giz de cera, foi uma representação simbólica de cada parte escolhida (pé, mão, boca, olho, etc.), foi aceita com certa timidez e a oficina seguinte foi a Construção do boneco de massa de modelar; onde percebemos que alguns jovens não conseguiam montar um boneco com as partes definidas de cabeça, tronco e membros; possuíam uma visão ainda fragmentada do corpo. Partimos para a Oficina das Danças Circulares com a utilização de cangas e músicas com ritmos variados, foi possível perceber corpos tímidos e presos, onde a música sugeria soltura e leveza espontânea. A oficina seguinte foi a Confecção do Crachá (gravata), buscando uma identificação pessoal, a alegria foi notável. A construção de uma gravata de E.V.A. com o próprio nome e o fato de poderem usá-la e apresentarem-se como adultos, deixou-os muito felizes e satisfeitos com suas criações. Saímos do individual e partimos para a Oficina da Construção do Desenho Coletivo (dando e aceitando) onde cada desenho não era de autoria própria, mas uma complementação coletiva de todos. Foi possível perceber uma maior integração e aceitação dos jovens já que freqüentavam a instituição há muito tempo e não 37 pareciam muito próximos. Continuando com a idéia do grupo no coletivo partimos para a construção de estórias a partir dos desenhos montados que formavam um grande painel. Nesta oficina surgiram muitas revelações e desabafos, recordações dos tempos de infância passagens dolorosas da vida como acidentes, doenças, etc., foi muito interessante esta oficina, porque depois dela a confiança destes jovens especiais por nós estagiárias de Arteterapia ficou notável. A oficina seguinte foi a Confecção da Coroa, onde trouxemos coroas prontas de papelão, para que eles pintassem, decorassem com materiais diversos que lhes oferecemos. Como já tínhamos percebido em oficinas anteriores, a riqueza dos materiais ofertados e disponíveis fascinava estes jovens rapidamente, pelo brilho variedade de cores, formas e diversidade, pois nunca tiveram contato com algo parecido. A alegria e o gosto por esta oficina foi grande, como também o desfile que eles espontaneamente fizeram pelo auditório (local onde realizavam-se a oficinas), todos com as coroas na cabeça gritando alegremente: “Eu sou Rei”. Continuando com a diversidade de materiais partimos para a argila que foi utilizada nas oficinas seguintes com boa aceitação e curiosidade. Após os primeiros contatos de adaptação com a argila na modelagem e preparo desta, oferecemos móbiles plásticos com formatos variados de animais e frutas para serem usados com a argila e após as formas já secas seriam pintadas com pincel e tinta. Em oficina posterior já mais íntimos com a argila foram construídas placas de argila com a forma das mãos e em seguida a pintura destas placas, que encantou-os bastante e queriam levá-las para casa, pois orgulhavam-se de suas produções. Por ser um público puramente masculino, a oficina seguinte foi a Construção do livro dos personagens masculinos que foram recortados de revistas 38 com uma observação que estes personagens estivessem em movimento. Percebemos que procuravam identificar-se com personagens famosos e conhecidos da mídia. Na oficina seguinte foi feita uma construção coreográfica com os movimentos apresentados pelos personagens escolhidos com a utilização da música que facilitou e embalou estes corpos tão especiais e com tantas limitações. Realizamos em seguida a Oficina do Escudo-Mandala que foi uma das construções mais bonitas, em termos de arte, pois os escudos eram mandalas circulares feitas com caixas de papelão e foram decoradas com E.V.A. (picado) em diversas cores e formas. Após a confecção dos escudos-mandalas a oficina seguinte foi a Construção Coreográfica da Dança do Escudo, onde estes jovens, já estavam mais espontâneos e soltos, e a dança fluiu livremente com muita graça e alegria. Muitas produções já haviam sido construídas: o Crachá-Gravata, a Coroa do Rei, o Escudo do Rei e a oficina seguinte foi ia construção da Capa do Rei, que foram feitas de T.N.T. vermelho em formato de mantas e a decoração foi feita por eles com colas coloridas, cola glitter, lantejoulas, etc., O entusiasmo já cada vez maior na confecção e decoração das produções solicitadas. Como de costume a oficina posterior foi a Construção Coreográfica da Dança da Capa do Rei. Dançar já era fácil e prazeroso, ninguém tinha mais vergonha e cada um queria mostrar suas habilidades corporais, mesmo com as limitações físicas, motoras que possuíam. Continuando com as oficinas, dentro de nossos objetivos partimos para outro material novo e que evocava muitas emoções: (A máscara de gesso). A Oficina da Máscara do Rei que foi confeccionada com ataduras e gesso causou muitas expectativas, porém já não havia medo pelo novo, apenas curiosidade e sede de descoberta. As máscaras foram moldadas em cada rosto destes jovens e depois decoradas e pintadas por eles, com muito gosto e criatividade. 39 As últimas oficinas foram de preparação para a INSTALAÇÃO onde todos mostraram suas produções artísticas devidamente caracterizados de REI pois o tema da instalação foi: MEU CORPO MEU REINO. Fazendo o uso da Coroa, do Escudo e da Capa do Rei, apresentaram-se aos demais colegas da instituição (APAE) com muito orgulho com uma nova consciência corporal fazendo reverências ao público e falando sempre: “Majestade”, “Majestade”. Foi possível atingir todos os objetivos propostos, além de ser uma experiência única e revolucionária na instituição, que deixou marcas profundas na vida de todos os envolvidos no projeto: participantes e responsáveis pela execução, comprovando cientificamente o poder curativo e transformador da ARTE. Como afirma Joseph Albers: A origem da arte: a diferença entre a realidade física e o efeito psíquico. O conteúdo da arte: a formulação visual de nossa reação “a vida”. A medida da arte: a relação entre esforço e efeito. A finalidade da arte: a revelação e a evocação de uma visão interior. (JOSEPH ALBERS, 1975). 5.1 COMO A ARTETERAPIA PODE REDIMENSIONAR A CONSCIÊNCIA CORPORAL Arcuri (2006) afirma que para algumas pessoas, desenvolver a percepção do corpo é algo fácil, natural, até prazeroso, enquanto para outras é algo difícil, que se torna possível muitas vezes apenas em função de uma experiência causada por algum transtorno físico. É como se a pessoa vivesse “fora do corpo”, ficando apenas no plano mental, levando-se em consideração que a relação entre o ser humano e seu corpo é um produto complexo, no qual entram fatores como hereditariedade, cultura, filosofia, religião, etc. 40 Diante dessa reflexão, a utilização dos recursos artísticos bem como as técnicas expressivas coligadas ao trabalho corporal aplicados na Arteterapia surgem como ferramentas mediadoras entre a alma e a consciência corporal. Aceitar o corpo, mesmo com uma deficiência, uma limitação ou deformidade é uma condição estruturante para o portador de necessidades especiais. Ao superar esse degrau da condição humana, e passar uma consciência real do seu verdadeiro ser, com a totalidade de sua alma e a aceitação do corpo como ele se apresenta, é para estes jovens portadores de necessidades especiais, a ruptura das barreiras do tempo e do espaço. Tomar consciência do mundo real pode muitas vezes parecer paradoxal. Einstein dizia que nos enganamos muito com a visão de realidade, pois até mesmo a concepção de tempo e de espaço é falsa, uma vez que a luz se propaga em linha curva e a massa dos corpos é um verdadeiro elástico. (ARCURI, 2006, p. 118). Neste contexto, analisa-se a importância e a grande responsabilidade do terapeuta em estar preparado para embarcar numa aventura desconhecida, em uma experiência carregada de afeto, de traumas, medos, sentimentos, emoções e marcas deixadas pelo tempo no corpo, como afirma a mesma autora: “As experiências vividas deixam sinais em nosso corpo que ficam em estado de latência, de forma que algo acontecido há muito tempo possa ser revivido como se houvesse acabado de acontecer”. (ARCURI, 2006, p. 15). 41 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS Tem-se consciência que a sociedade moderna, globalizada é exclusivamente alicerçada na produtividade atual, no lucro imediato e na utilidade da pessoa, cada ser humano é reduzido a uma mera função social e dentro desta conjuntura de funções quase não resta espaço para a Pessoa Portadora de Necessidades Especiais. É assim que esta pessoa se sente, um PESO social, frustra-se com a subtração de seu espaço existencial, experimenta uma profunda sensação de inutilidade, do seu valor como pessoa dentro da atual sociedade capitalista e TECNOLOGIZADA. A corporeidade humana já de certa forma ameaçada pelos avanços tecnológicos. Os corpos mesmo ditos “normas” procuram insistentemente a busca da perfeição, nas academias de musculação, nas clínicas de cirurgias plásticas procurando ajustar-se a um modelo formatado de acordo com os padrões estéticos do momento visualizado e valorizado pela mídia. Percebe-se, desse modo que os valores estéticos estão tão enraizados culturalmente no comportamento dos indivíduos que um ato de afeto e carinho, de respeito com os portadores de necessidades especiais provoca atitudes de hesitação e até reprovação. Dentro dessa dura realidade a pessoa portadora de necessidades especiais constitui um desafio à dita Inclusão que precisa romper e desmistificar os preconceitos e estigmas que a própria sociedade produz em torno dessa população tão especial e numerosa. 42 Surge a Arteterapia como um dos instrumentos mais importantes para redimensionar uma melhor qualidade de vida para o portador de necessidades especiais. Pois a ARTE possui a virtude de aliviar a espécie humana de seus anseios, libertando suas qualidades, facilitando o contato com o poder criador, resignificando a vida. Como assegura Allessandrini (1996, p. 28-29): A expressão artística pode proporcionar ao homem condições para que estabeleça uma relação de aprendizagem diferenciada com seu semelhante e com o mundo que o rodeia. [...] considero o estudo da arte parte indispensável ao aprendizado do homem. A capacidade de relacionar-se artisticamente com a vida não é privilégio de alguns indivíduos [...] mas de todos aqueles que podem relacionar com o mundo observando e aprendendo. 43 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALBERS, Josef. Interaction of color. Yale: University Press, 1975. Disponível em: <http://google>. Acesso em: 23/04/2009. ALLESSANDRINI, Cristina Dias. Análise microgenética da oficina criativa. Projeto de modelagem em argila. Coleção Arteterapia. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004. 360 p. ______. Oficina criativa e psicopedagogia. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1996. ______. Tramas criadoras na construção do „ser si mesmo‟. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1999. AMARAL, Lígia Assunção. 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In: O ambiente e os processos de maturação: Estudos sobre a teoria do desenvolvimento emocional. 45 ANEXO A ILUSTRAÇÕES DE ALGUNS MOMENTOS SIGNIFICATIVOS NAS OFICINAS CRIATIVAS – APAE - ARACAJU/SE Ilustração 1 – 1ª Oficina Criativa para adaptação e entrosamento dos participantes do projeto Ilustração 2 – 2ª Oficina – Desenho das partes do corpo 46 Ilustração 3 – 3ª Oficina Criativa – Construção do boneco de massa de modelar Ilustração 4 – 6ª Oficina Criativa – Construção do Crachá (Gravata) 47 Ilustração 5 – 6ª Oficina Criativa – Construção do Crachá (Gravata) Ilustração 6 – 10ª Oficina Criativa para construção da coroa do rei 48 Ilustração 7 – 10ª Oficina Criativa para pintura e decoração da coroa do rei Ilustração 8 – 12ª Oficina Criativa – trabalho de móbile com argila 49 Ilustração 9 – 14ª Oficina Criativa para confecção de placa de argila com as mãos Ilustração 10 – 17ª Oficina Criativa Construção coreográfica (dança com elásticos) 50 Ilustração 11 – 21ª Oficina Criativa para confecção do escudo-mandala Ilustração 12 – 25ª Oficina Criativa para aplicação da máscara de atadura gessada 51 Ilustração 13 – 26ª Oficina Criativa pintura da máscara do rei Ilustração 14 – 27ª Oficina Criativa decoração da placa com nome para instalação 52 Ilustração 15 – 31ª Oficina Criativa para instalação Ilustração 16 – 32ª Oficina Criativa apresentação da instalação ao público da instituição APAE 53 ANEXO B RELATO DAS OFICINAS DESENVOLVIDAS NA APAE – ARACAJU/SE Encontro 1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º 10º 11º 12º 13º 14º 15º 16º 17º 18º 19º 20º 21º 22º 23º 24º 25º 26º 27º 28º 29º 30º 31º 32º 33º 34º Dia/Mês 15/02 15/02 22/02 22/02 29/02 29/02 07/03 07/03 14/03 14/03 19/03 19/03 04/04 04/04 11/04 11/04 18/04 18/04 25/04 25/04 09/05 09/05 16/05 16/05 23/05 23/05 13/06 13/06 16/06 16/06 18/06 18/06 19/06 19/06 Oficinas Criativas Adaptação Desenho livre giz de cera Desenho das partes do corpo Construção do boneco de massinha Danças circulares Confecção do crachá (gravata) Testando ritmos Desenho coletivo – dando e aceitando Desenho coletivo – construção de estórios Confecção da coroa Adaptação com a argila Placa de argila com as mãos Construção do móbile de argila Placa de argila com as mãos Pintura das peças de argila Pintura das mãos de argila Construção coreográfica Recortando personagens masculinas e movimentos Construção coreográfica Construção do livro dos personagens masculinos e movimentos Confecção do escudo-mandala Construção coreográfica – a dança do escudo Confecção da capa do rei Construção coreográfica – a dança da capa As máscaras dos amigos do rei Pintura das máscaras Placa com nome para a instalação Construção da instalação Construção da instalação Panfletagem Instalação Instalação Fechamento Despedida