FLÁVIA DANIELA MENDES DE ARAUJO HIGA ARTETERAPIA NO CONTEXTO ESCOLAR: EXPLORANDO POSSIBILIDADES DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL SÃO PAULO MASTER SCHOOL UNIVERSIDADE SÃO MARCOS SÃO PAULO - 2010 FLÁVIA DANIELA MENDES DE ARAUJO HIGA ARTETERAPIA NO CONTEXTO ESCOLAR: EXPLORANDO POSSIBILIDADES DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL Monografia entregue ao curso de Especialização Lato Sensu em Arteterapia da São Paulo Master School, certificada pela Universidade São Marcos, como exigência parcial para a obtenção do título de Especialista em Arteterapia, sob a orientação da Professora Dra. Cristina Dias Allessandrini. SÃO PAULO MASTER SCHOOL UNIVERSIDADE SÃO MARCOS SÃO PAULO - 2010 Higa, Flávia Daniela Mendes de Araújo. Arterapia no contexto escolar - Explorando Possibilidades do Desenvolvimento Infantil / Flávia Daniela Mendes de Araújo. São Paulo. [s.n.], 2010. p. 45 Orientador: Profa. Dra. Cristina Dias Allessandrini. Monografia: Especialização Lato Sensu em Arteterapia. São Paulo Master school / Universidade São Marcos. 1. Arteterapia. 2. Psicopedagogia. 3. Educação. FLÁVIA DANIELA MENDES DE ARAUJO HIGA ARTETERAPIA NO CONTEXTO ESCOLAR: EXPLORANDO POSSIBILIDADES DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL Monografia apresentada a São Paulo Master School / Universidade São Marcos para obtenção do Título de Especialista em Arteterapia. Orientadora: Profa. Dra. Cristina Dias Allessandrini. Aprovado em: ___/ ___/ _____ Banca Examinadora __________________________________________________ Prof. Dra. Cristina Dias Allessandrini, Orientadora. _____________________________________________ Profa. Dra. Maíra Bonafé Sei, Leitora Crítica. São Paulo, 23 de janeiro de 2010. Há três métodos para ganhar sabedoria: primeiro, por reflexão, que é o mais nobre; segundo, por imitação, que é o mais fácil; e terceiro, por experiência, que é o mais amargo. (Confúcio) Dedico esta monografia a meus pais pelo exemplo de dedicação. Ao meu esposo, Carlos Higa, pelo apoio e companheirismo. E a minha filha Carolina por ser um presente especial em minha vida. AGRADECIMENTOS Primeiramente quero agradecer a Deus Nosso Senhor Jesus Cristo toda a honra e toda a gloria por seu amor e graça, me sustentando e guardando com sua destra fiel, nos momentos de dificuldade e me abençoando com recursos força e sabedoria em cada momento de minha vida e em especial nesta jornada. Ao encerrar esta dissertação, reflito sobre o caminho trilhado para sua realização e não posso deixar de agradecer aqueles que, direta ou diretamente, me ajudaram durante o processo de construção desta dissertação. A todos vocês meus agradecimentos e em especial o meu reconhecimento pelo papel significativo de cada um na realização deste trabalho. Ao meu esposo, a minha filha, pelo relacionamento amoroso, apoio e compreensão constante em todo esse processo de construção da monografia. A minha mãe pelo incentivo e aconselhamento nas horas difíceis. As minhas amigas que são sempre um canal de benção na minha vida, pelo apoio constante e imprescindível na realização deste trabalho. A minha orientadora Cristina Dias Alessandrini, pela sua sabedoria e por fazer parte do meu processo de desenvolvimento. 7 RESUMO Este estudo busca compreender a importância do uso da arte na escola, abordando a interrelação da psicopedagogia com a arteterapia e a educação escolar. Traz como conteúdo teórico uma delimitação da palavra arte, seu uso e significado dentro do processo terapêutico, e conceitua a arteterapia por meio de uma síntese histórica. Aborda também a psicopedagogia e suas implicações no meio escolar. Autores como Maria Célia Campos, Selma Ciornai, Antonio Carlos Santos, Angela Philipini, e outros formam a fundamentação teórica sobre a qual são discutidos aspectos do processo de aprendizagem, da psicopedagogia e da arte e arteterapia dentro do contexto escolar. Foi realizado um estágio supervisionado em que se trabalhou com crianças de escolas públicas numa cidade do interior do estado de São Paulo. Concluiu-se que a arte sob o enfoque da arteterapia, pode ser um recurso bastante importante para o aprendizado infantil na escola, auxiliando no desenvolvimento de competências, pois proporciona um novo contato do aluno com a aprendizagem. Também evidenciou-se a ajuda da arte na tarefa dos professores ao apresentar novas perspectivas para a compreensão de dificuldades de aprendizagem de seus alunos, oportunizando desenvolver um olhar diferenciado em relação ao processo ensino-aprendizagem, reconhecendo que o verdadeiro sentido de ensinar encontra seu cerne quando se busca enxergar cada ser como único e ao mesmo tempo total. Palavras-chave: Arteterapia. Psicopedagogia. Educação. 8 SUMÁRIO RESUMO 06 INTRODUÇÃO 08 CAPÍTULOI 12 1.1 Psicopedagogia 12 1.2 Arteterapia 16 CAPÍTULOII 20 2.1 Arteterapia com crianças 20 2.2 Recursos da Arteterapia 25 CAPÍTULOIII 36 3.1 Experiências em Arteterapia 36 CONSIDERAÇÕES FINAIS 42 REFERÊNCIAS 43 9 INTRODUÇÃO “O termo Arteterapia surgiu em 1945, no primeiro livro publicado por Adrian Hill, “Art vs Illness” (Arte versus Doença) um artista inglês, que esteve internado num sanatório para tratar tuberculose. Durante o longo período de evolução da sua doença e reabilitação, numa época em que os recursos para combatê-la eram escassos, ele passou o tempo a pintar. Os médicos que o assistiam puderam observar uma aceleração na sua recuperação e um estado geral de bem estar manifesto. Após o seu restabelecimento, eles convidaram-no a regressar para fazer pintura com os pacientes do sanatório. Desde esses acontecimentos a Arteterapia evoluiu significativamente, tanto do ponto de vista dos modelos que a caracterizam das formações existentes, como dos países em que é reconhecido. (HEMERY, 2003) O interesse despertado pela relação entre arte e terapia já vem de longe e são inúmeros os antecessores que se podem encontrar ao longo dos tempos. Tanto a psiquiatria do Séc. XIX como a psicanálise do Séc. XX ficaram fascinadas com a recolha de sinais e símbolos, independentemente de estes serem a manifestação de sintomas de quadros clínicos ou a representação - segundo uma grelha fundamentada na interpretação - de complexos descritos por Freud. Segundo Freud e outros psicanalistas da época a Arteterapia é proveniente de três correntes: 1. A teórica-prática, como expressão artística e material de diagnóstico, semiológico e de prognóstico. 2. A pragmática, considerando a arte como instrumento terapêutico, mesmo reduzindo-se à ocupação e distração do doente, 3. A estética, emergindo do Surrealismo e da Arte-Bruta, como descoberta quase etnográfica de criadores considerados "fora das normas". (HEMERY, 2003) A experiência artística pode intensificar qualquer experiência humana e incrementar a consciencialização do sensorial e a sensibilidade estética. 10 A Arteterapia facilita a consciência e pode ser importante para promover a riqueza interior, a vitalidade e a qualidade de vida. Imagens de transformação e mudança, representadas nas criações artísticas, dão expressão à função reparadora no recurso do processo terapêutico. O universo da arte é fonte de transformações, e o sujeito criador é aquele que dá forma ao informe. A vida tende a pulsar e várias possibilidades de compreensão da natureza das coisas e do ser humano fazem-se iminentes. A Arteterapia caracteriza-se por possibilitar que qualquer um entre em contato com seu próprio universo interno, com aqueles que estão a sua volta e com o mundo. A arte é, entre todas as atividades, a que agrega de modo mais eficiente os aspectos racionais e criativos do ser humano. Ao desenvolver uma atividade artística, o sujeito não só estará interferindo na realidade, como também estará estruturando-se de forma mais adequada, saudável e eficiente. Através das diversas manifestações artísticas, as pessoas podem se expressar de uma forma própria e singular e superar as mais diversas barreiras da comunicação. Utilizando-se de todas as expressões artísticas e com recursos simples e muito eficientes a arteterapia favorece o desenvolvimento, e à superação de limitações pessoais, buscando-se assim o aumento do repertório de habilidades, a melhor estruturação da personalidade, o aumento do horizonte de interesses, a composição de novos objetivos e a melhor habilidade em lidar com os seus próprios conflitos. (PORCHER,1992:13) Muitas instituições voltadas para a inclusão social utilizam a arte, como importante meio educacional. Onde outras metodologias falharam, a arte alcançou resultados significativos, principalmente ao atrair espontaneamente meninos e meninas para outras atividades educativas e sociais. “As muralhas estéticas definiam o território fechado de certa forma de ócio elegante. Mas esse lazer ocioso, essa utilização do tempo livre, não foi dado a todos por igual dentro da sociedade: constituíram-se em privilégio das classes sociais favorecidas, que foram também as classes sociais dominantes.” (PORCHER, 1982: 13) A educação escolar deve assumir, através do ensino e da aprendizagem do conhecimento acumulado pela humanidade, a responsabilidade de dar ao educando o instrumento para que ele exerça uma cidadania mais consciente, crítica e participante. Através de projeto educativo integrando todas as disciplinas é possível junto com o professor de artes trabalhar, de forma significativa com o objetivo de atrair a atenção dos alunos para desenvolver a aprendizagem, e recuperar sua autoimagem. Atividades simples tais 11 como a hora do conto, desenhos, interpretação oral e escrita, dramatização dos personagens, ou seja, através de arte terapia interativa. Neste texto, foi realizada uma pesquisa para estudar a Arteterapia no Contexto Escolar, explorando o desenvolvimento infantil. Como hipótese, temos que a arteterapia pode beneficiar no maior problema que encontra em sala de aula, o déficit em aprendizagem. Considerando que a diferença entre crianças é justamente a sua capacidade de enfrentar os problemas e as dificuldades que surgem, este trabalho se justifica, pois a arte pode ser considerada muito importante no aprendizado infantil, auxiliando na tarefa educativa. A arte é uma atividade milenar, é a expressão e o registro mais antigo dos diferentes potenciais humanos. Ao se expressar através da arte, o homem o faz por inteiro; seu corpo, sua percepção, sua emoção, sua intuição estão presentes e atuantes, deixando a sua marca, fazendo-se conhecer. A Arte reestrutura a concepção de saber, que não se restringe ao lógicomatemático, mas monopoliza todos os tipos de inteligência e possibilita a busca de diferentes maneiras de transmitir a mesma mensagem, aproveitando todas as possibilidades que o repertório de conhecimentos e emoções do aprendente/interlocutor traz. A Arterapia tem como principal objetivo atuar como um filtro que favorece o processo terapêutico, de forma que o indivíduo entre em contato com conteúdos internos e, muitas vezes inconscientes, normalmente barrados por algum motivo, assim expressando sentimentos e atitudes até então desconhecidos. Por meio da arteterapia reagata-se a capacidade criativa do homem, buscando a psique saudável e estimulando a autonomia e transformação interna para reestruturação do ser. Com a construção de um espaço criativo permite-se a expansão de novas possibilidades criativas, organizadoras e integradoras da psique. No âmbito da escola a arteterapia pode ser utilizada como elo de interação entre os vários campos do conhecimento, colaborando sobremaneira na construção da interdisciplinaridade, elaborando a comunicação entre as possibilidades e limites próprios da ciência e a expressiva liberdade de criação da arte; fazendo ligações entre anseios gerados pelo mundo atual com o mais remoto passado, enfim promovendo o desenvolvimento do potencial humano através de situações que favoreçam a leitura do mundo de maneira ampla, rica e profunda. Assim, o objetivo geral deste trabalho é mostrar a possibilidade da aplicação da arteterapia na sala de aula. 12 Como objetivo específico visa a analisar e investigar o comportamento infantil na sala de aula e o que a arteterapia podem auxiliar em aula – através de um estudo que possibilita o desenvolvimento da criança aprimorando sua auto-estima, ajudando-a a construir sua identidade. A metodologia utilizada para este trabalho foi a revisão bibliográfica e os encontros semanais de ateliê arteterapêutico, dos quais selecionou- fragmentos observados relevantes para apresentar aspectos que corroboram com a base teórica trabalhada nos capítulos No primeiro capítulo será apresentado um breve relato da psicopedagogia, e a arteterapia, o que é e seus benefícios. No segundo capítulo nota-se a arteterapia com crianças e os recursos arteterapêuticos que podem ser utilizados no tratamento. E no terceiro capítulo há um breve relato do estágio realizado, com os desenhos e observações e, finalmente as considerações finais. 13 CAPÍTULO I Neste capítulo será apresentado a psicopedagogia e psicoterapia, os seus conceitos históricos, as suas associações e seus benefícios para a sociedade. “A missão suprema do homem é saber o que se precisa para ser homem.” (Immanuel Kant) 1. Psicopedagogia Os primeiros Centros Psicopedagógicos foram fundados na Europa, em 1946, por J Boutonier e George Mauco, com direção médica e pedagógica. Estes Centros uniam conhecimentos da área de Psicologia, Psicanálise e Pedagogia, e tentavam readaptar crianças com comportamentos socialmente inadequados na escola ou no lar e atender crianças com dificuldades de aprendizagem apesar de serem inteligentes (MERY apud BOSSA, 2000: 39). Na literatura francesa – que, como vimos, influencia as idéias sobre psicopedagogia na Argentina (a qual, por sua vez, influencia a práxis brasileira) – encontra-se, entre outros, os trabalhos de Janine Mery, a psicopedagoga francesa que apresenta algumas considerações sobre o termo psicopedagogia e sobre a origem dessas idéias na Europa, e os trabalhos de George Mauco, fundador do primeiro centro médico psicopedagógico na França,..., onde se percebeu as primeiras tentativas de articulação entre Medicina, Psicologia, Psicanálise e Pedagogia, na solução dos problemas de comportamento e de aprendizagem (BOSSA, 2000: 37) A psicopedagogia nasceu da necessidade de uma melhor compreensão do processo de aprendizagem e se tornou uma área de estudo específica que busca conhecimento em outros campos e cria seu próprio objeto de estudo (BOSSA, 2000: 23). Ocupa-se do processo de aprendizagem humana: seus padrões de desenvolvimento e a influência do meio nesse processo. O campo de atuação da psicopedagogia em clínicas tem como objetivo diagnosticar e tratar os sintomas emergentes no processo de aprendizagem. O diagnóstico psicopedagógico busca investigar, pesquisar para averiguar quais são os obstáculos que estão levando o sujeito à situação de não aprender, ou aprender com 14 lentidão (dificuldade); esclarece uma queixa do próprio sujeito, da família ou da escola. (WEISS apud SCOZ, 1991: 94). A Psicopedagogia surgiu de uma demanda – o problema de aprendizagem colocando num território pouco explorado, situado além dos limites da Psicologia e da própria Pedagogia – e evoluiu devido a existência de recursos, para atender esta demanda, constituindo-se assim, numa prática. Como se preocupa com o problema de aprendizagem, deve ocupar-se inicialmente do processo de aprendizagem. Portanto vemos que a psicopedagogia estuda as características da aprendizagem humana: como se aprende, como esta aprendizagem varia evolutivamente e está condicionada por vários fatores, como se produzem as alterações na aprendizagem, como reconhecê-las, tratá-las e preveni-las. Este objeto de estudo, que é um sujeito a ser estudado por outro sujeito, adquire características específicas a depender do trabalho clínico ou preventivo. (ABREU, 2004) A distinção entre o trabalho psicopedagógico clínico e o preventivo é fundamental. O primeiro visa buscar os obstáculos e as causas para o problema de aprendizagem já instalado; e o segundo, estudar as condições evolutivas da aprendizagem apontando caminhos para um aprender mais eficiente. Vejamos a definição sobre os dois campos de atuação da psicopedagogia: O trabalho clínico dá-se na relação entre um sujeito com sua história pessoal e sua modalidade de aprendizagem, buscando compreender a mensagem de outro sujeito, implícita no não - aprender. Nesse processo, onde investigador e objeto-sujeito de estudo interagem constantemente, a própria alteração torna-se alvo de estudo da Psicopedagogia. (ABREU, 2004) “Isto significa que, nesta modalidade de trabalho, deve o profissional compreender o que o sujeito aprende como aprende e porque, além de perceber a dimensão da relação entre psicopedagogo e sujeito de forma a favorecer a aprendizagem” (BOSSA, 2000: 21). Todo o diagnóstico psicopedagógico é, em si, uma investigação, é uma pesquisa do que não vai bem com o sujeito em relação a uma conduta esperada. Será, portanto, o esclarecimento de uma queixa, do próprio sujeito, da família e, na maioria das vezes, da escola. No caso, trata-se do não aprender, do aprender com dificuldade ou lentamente, do não revelar o que aprendeu, do fugir de situações de possível aprendizagem (WEISS, 1992: 30). No enfoque preventivo “a instituição, enquanto espaço físico e psíquico da aprendizagem é objeto de estudo da Psicopedagogia, uma vez que são avaliados os processos 15 didático-metodológicos e a dinâmica institucional que interferem no processo de aprendizagem”. No exercício clínico, o psicopedagogo deve reconhecer seu processo de aprendizagem, seus limites, suas competências, principalmente a intrapessoal e a interpessoal, pois seu objeto de estudo é outro sujeito, sendo essencial o conhecimento e possibilidade de diferenciação do que é pertinente de cada um. “Essa inter-relação de sujeitos, em que uma procura conhecer o outro naquilo que o impede de aprender, implica uma temática muito complexa” (WEISS, 1992: 23). O psicopedagogo tem como função identificar a estrutura do sujeito, suas transformações no tempo, influências do seu meio e seu relacionamento com o aprender, exigindo que o psicopedagogo tenha conhecimento do processo de aprendizagem e todas as suas interrelações com outros fatores que podem influenciá-lo, das influências emocionais, sociais, pedagógicas e orgânicas. “Conhecer os fundamentos da Psicopedagogia implica refletir sobre suas origens teóricas e entender como estas áreas de conhecimento aproveitada e transformada num novo quadro teórico próprio, nascido de sementes em comum”. (ABREU, 2004) O campo de atuação da psicopedagogia é focado no estudo do processo de aprendizagem, diagnóstico e tratamento dos seus obstáculos, sendo o psicopedagogo responsável por detectar e tratar possíveis obstáculos no processo de aprendizagem; trabalhar o processo de aprendizagem em instituições de indivíduos ou grupos e realizar processos de orientação educacional, vocacional e ocupacional, tanto na forma individual ou em grupo. As áreas de estudo se traduzem na observação de diferentes dimensões no processo de aprendizagem: orgânico, cognitivo, emocional, social e pedagógico. “A interligação desses aspectos ajudará a construir uma visão gestáltica da pluricausalidade deste fenômeno, possibilitando uma abordagem global do sujeito em suas múltiplas facetas” (WEISS, 1992, p. 22). A dimensão emocional está ligada ao desenvolvimento afetivo e sua relação com a construção do conhecimento e a expressão deste através de uma produção gráfica ou escrita. “A psicanálise é a área que embasa esta dimensão, trata dos aspectos inconscientes envolvidos no ato de aprender, permitindo-nos levar em conta a face desejo do sujeito”. (ABREU, 2004:20). A dimensão social está relacionada à perspectiva da sociedade, onde estão inseridas a família, o grupo social e a instituição de ensino. “A Psicologia Social é a área responsável por este aspecto. Encarrega-se da constituição dos sujeitos, que responde às relações familiares, grupais e institucionais, em condições socioculturais e econômicas 16 específicas e que contextualizam toda a aprendizagem” (ABREU, 2004: 20). Um exemplo de sintoma do não aprender relacionado a este aspecto pode acontecer pelo fato do sujeito estar vivendo realidades em dois grupos de ideologia e prática com muitas diferenças. A dimensão cognitiva está relacionada ao desenvolvimento das estruturas cognoscitivas do sujeito aplicadas em diferentes situações. No domínio desta dimensão, devemos incluir a memória, a atenção, a percepção e outros fatores que usualmente são classificados como fatores intelectuais. A Epistemologia e a Psicologia Genética são as áreas de pano de fundo para este aspecto. Encarrega-se de analisar e descrever o processo construtivo do conhecimento pelo sujeito em interação com os outros objetos. (ABREU, 2004: 20). A dimensão pedagógica está relacionada ao conteúdo, metodologia, dinâmica de sala de aula, técnicas educacionais e avaliações aos qual o sujeito é submetido no seu processo de aprendizagem sistemática. A Pedagogia contribui com as diversas abordagens do processo ensino aprendizagem, analisando-o do ponto de vista de quem ensina. (ABREU, 2004: 20). A dimensão orgânica está relacionada à constituição biofisiológica do sujeito que aprende. A medicina e, em especial, algumas áreas específicas contribuem para o embasamento deste aspecto. Os fundamentos da Neurolingüística possibilitam a compreensão dos mecanismos cerebrais que subjazem ao aprimoramento das atividades mentais. Sujeitos com alteração nos órgãos sensoriais terão o processo de aprendizagem diferente de outros, pois precisam desenvolver outros recursos para captar material para processar as informações. (ABREU, 2004: 20). A Lingüística é a área que atravessa todas as dimensões. Apresenta a compreensão da linguagem como um dos meios que caracteriza o tipicamente humano e cultural: a língua enquanto código disponível a todos os membros de uma sociedade e a fala como fenômeno subjetivo, evolutivo e historiado de acesso à estrutura simbólica. Nenhuma dessas áreas surgiu para responder especificamente a questões da aprendizagem humana. No entanto, fornecem meios para refletirmos cientificamente e operarmos no campo psicopedagógico. 17 2 Arteterapia “Não se trata de interpretar uma mensagem ou de admirar sua configuração, mas de reconstruir o caminho da pesquisa que permitiu ao autor encontrar ao mesmo tempo, o que tinha a dizer e a maneira de dizê-lo...” (PAIN E JARREAU, 1996: 40). Vivemos num momento que podemos observar uma significativa mudança de valores, produto da transformação de costume e a tentativa de relação da sensibilidade com a razão, evoluindo para um novo tipo de cultura e conhecimento que busca a unidade. “As relações Sociais sofrem transformações. O ser humano lentamente vem buscando uma forma mais participativa de estar no mundo. É convidado a viver o novo, transcender seus limites, usar sua criatividade para estar e ser no mundo”. (American Art Therapy Association, 1993). A arte é o meio pelo qual o ser humano encontra para simbolizar sua experiência, expressar a sua emoção e sua alma. Em todas as épocas, a arte teve a sua função e serviu para diferentes propósitos, mas sempre revelou e destacou o homem no mundo. “A arte pode agir para facilitar e filtrar os processos de resgate da qualidade de vida e das formas mais humanas e sensíveis de viver, devido à sua função simbólica, que permite ao indivíduo, expressar e perceber os significados que confere aos sentimentos em sua relação com o mundo.” (ANDRADE, 1993: 20). A arte é a mais antiga forma de comunicação do ser humano e toda sua beleza está juntamente nesta sua capacidade de aproximar pessoas e atuar como instrumento de integração e mudanças pessoais e sociais. Ela permite ao homem expressar e, ao mesmo tempo, perceber os significados atribuídos à sua vida, na sua eterna busca de tênue equilíbrio com meio circundante. (ANDRADE, 1993: 03) Assim, os trabalhos artísticos podem ser explorados em várias atividades, pois a arte, além de socializar, permite ao homem, liberar sentimentos e emoções. (SILVEIRA, 1992) e de diferentes maneiras, através de materiais expressivos, trazendo o que a linguagem não pode conceituar. A arte é uma forma de conhecimento humano; através dela, homens e http://www.arttherapy.org/ - (American Art Therapy Association, 1993) 18 mulheres encontram sentido para a sua vida. A arte como terapia nos leva a nos conhecer, a expressar os sentimentos, a formar nossa consciência (OSTROWER, 1987). A arte é necessária ao homem, como uma forma de equilíbrio e de integração a seu ambiente “A Arte é o meio indispensável para a união do individuo como o todo, refletindo a infinita capacidade humana para a associação, para a circulação de experiências e idéias” (FORTUNA 2000: 16). A Arterapia é conceituada como um processo terapêutico decorrente da utilização de modalidades expressivas diversas, que servem à materialização de símbolos. Estas criações simbólicas expressam e representam níveis profundos e inconscientes da psique, configurando um documentário que permite o confronto, no nível da consciência, destas informações, propiciando “insights” e posterior transformação e expansão da estrutura psíquica. Outra forma de dizer poderá ser simplesmente terapia através da Arte. (PHILIPINI, 1994: 03) A arterapia é uma atividade de estimulação à execução de imagens pela expressão artística, buscando respostas nos alunos ara que possam se auto-abservar, promovendo reflexões sobre desenvolvimento pessoal, habilidades, interesses, preocupações e conflitos (PAIN & JARREAU, 1996). A prática da arterapia é baseada no conhecimento sobre o desenvolvimento humano e nas teorias psicológicas, que, aliadas no desenvolvimento histórico da arte, possibilitam, em diversos aspectos, modelos para acessos e tratamentos educacionais, terapêuticos, cognitivos, na resolução de problemas, na redução da ansiedade, na estimulação de uma auto-imagem positiva. (American Art Therapy Association, 1993). O processo terapêutico decorre da análise não só de uma, mas de uma série de produções artísticas do indivíduo, pois se analisadas isoladamente, não permitirão aprofundamento nas melhoras nem uma visão mais ampla da sua produção (FORTUNA, 2005). Estas são algumas das inúmeras trilhas de entrada neste universo. As primeiras experimentações plásticas devem oferecer facilidade operacional, para que não sejam agravadas as já naturais defesas e resistências apresentadas no início de qualquer processo terapêutico. As mais comuns em arteterapia são referidas, como: “Eu não tenho jeito para isso, não sei desenhar, nem pintar, etc.” Havendo, muitas vezes, o desejo e preocupação de apresentar um bom desempenho, pela fantasia de assim “agradar” o arteterapeuta, de quem se imagina ter a expectativa de bom desempenho estética de seus clientes. http://www.arttherapy.org/ - (American Art Therapy Association, 1993) 19 As atividades iniciais devem propiciar um clima de experimentação prazerosa e lúdica, sem exigir desempenhos complexos. Assim, uma boa possibilidade podem ser explorações com gravuras, pois já trazem símbolos bem configurados, onde a expressão se dá pela escolha e composição de grupamentos de imagens, o que apesar de ser tarefa simples, sempre fornecerá mapas muito adequados de aspectos psicodinâmicos, presentes naquele momento, na vida de cada pessoa que as organiza. Outras possibilidades interessantes são manchas, rabiscos, papéis rasgados, uma sutil permissão para a “não-forma” uma simbólica comunicação “você não precisa se preocupar em fazer bonito”... “do jeito que sair está bom”... O início do processo em desenho, por mais simples que possa aparecer, modifica a percepção de si, confirma valores internos e estéticos esquecidos ou deixados de lado porque não valorizados pelo meio social. É nesse processo de se reafirmar juntando partes, construindo, fazendo um produto estético realizado com seu sentimento, sua percepção, sua escolha, seu desejo, que acontece a possibilidade do exercício do “eu consigo”, do “eu posso”, do “eu sou alguém”. Um caminho de aceitação de si próprio com qualidades e fragilidades, fato que se apresenta como realidade a todos os seres humanos. (SAVIANI, 2005: 163) Nas experimentações e configurações simbólicas emergirão dados mais pregnantes, que para serem mais bem compreendidos deverão gradativamente ser amplificados pelas estratégias de transposição de modalidades expressivas. Estas providências permitem que um símbolo possa ser explorado e elaborado com múltiplos materiais e possibilidades plásticas. Um diversificado caminho expressivo que pode passar da configuração dos traços através do desenho, para a liberação e fluidez na composição de cores da pintura, ou criação de volume e organização espaciais na modelagem, e inúmeros outros formas de experimentação plástica. Toda a produção plástica é importante para a leitura do processo de cada paciente e bastante aproveitada pelo terapeuta. Diante das expressões plásticas, carregadas de sentimentos e percepções, é possível trabalhar na conscientização e transformação desse ser humano e na sua reinserção social. (SAVIANI, 2005: 163) Este processo arteterapêutico poderá então, ser complementado pelo rastreamento cultural dos símbolos produzidos, buscando-se registros culturais (mitológicos, religiosos, alquímicos ou em contos e cantos), mapeando estas inserções e compreendendo os significados coletivos para aquele símbolo pesquisado. A transposição de linguagens expressivas poderá seguir uma gradação que costuma variar do plano bidimensional ao plano tridimensional. Nessas transposições pode-se 20 também observar as modalidades expressivas mais e menos facilitadoras para cada indivíduo, o que será muito útil para o desenvolvimento do trabalho plástico. Deste modo um processo arteterapêutico constitui-se em delicada construção artesanal que resgata ativa e expande possibilidades criativas singulares. Nos trabalhos com grupos, em intervalos temporais curtos como em work-shop, por exemplo, é produtivo terapeuticamente poder utilizar como continentes simbólicos, temas ligados à exploração, expansão e transformação do processo criativo. O percurso deste universo é ativado a partir da reflexão sobre questões como: · Quem sou eu? · Do que eu necessito? · O que pretendo realizar? · O que devo transformar? · Qual o meu dom ou talento? Estas, ou questões similares, funcionam como recursos auxiliares na preparação e estruturação de um espaço criativo interno, uma tarefa essencial para permitir expressão e produção simbólica mais fluente. Na artetepia a interação com a pessoa com o material é um facilitador para o ato criativo, pois, à medida que nasce a imagem concreta, abre-se uma nova relação da pessoa consigo e com seu mundo mais intenso. O diálogo entre sujeito e objeto dáse na dialógica entre a obra e subjetividade de seu criador. (ROSSETTI, 2005:134) 21 CAPÍTULO II Neste capítulo será apresentado a arte e arteterapia com crianças e na educação. O brincar aprendendo. 2.1 A Arterapia com crianças “Não eduques as crianças nas várias disciplinas recorrendo à força, mas como se fosse um jogo, para que também possa observar melhor qual a disposição natural de cada um.” (PLATÃO) A infância é uma época de descobertas, aventuras e magia para as crianças. É nesta fase, durante a educação infantil, que elas terão seus primeiros contatos com as linguagens da arte, cabendo ao adulto valorizar os conhecimentos e a criatividade que elas trazem e compreender a importância existente no ato de elas explorarem, pesquisarem e criarem coisas novas. O que realmente importa a elas é o brincar, e temos que associar a brincadeira com o aprendizado, é esperar curiosamente pelo inesperado, estar envolvida com o lúdico e com a possibilidade de sonhar, pois assim, ela aprende se sentindo mais realizada e mais feliz. O brincar e o jogar são atos indispensáveis à saúde física, emocional e intelectual e sempre estiveram presentes em qualquer povo desde os mais remotos tempos. Através deles, as crianças desenvolvem a linguagem, o pensamento, a socialização, a iniciativa e a autoestima, preparando-se para ser um cidadão capaz de enfrentar desafios e participar na construção de um mundo melhor. O jogo, nas suas diversas formas, auxilia no processo ensino-aprendizagem, tanto no desenvolvimento psicomotor, isto é, no desenvolvimento da motricidade fina e ampla, bem como no desenvolvimento de habilidades do pensamento, como a imaginação, a interpretação, a tomada de decisão, a criatividade, o levantamento de hipóteses, a obtenção e organização de dados e a aplicação dos fatos e dos princípios a novas situações que, por sua vez, acontecem quando jogamos, quando obedecemos a regras, quando vivenciamos conflitos numa competição, etc. (CAMPOS, 2006). 22 Há um menino Há um moleque Morando sempre no meu coração Toda vez que o adulto balança Ele vem pra me dar a mão Há um passado no meu presente Um sol bem quente lá no meu quintal Toda vez que a bruxa me assombra O menino me dá a mão E me fala de coisas bonitas Que eu acredito Que não deixarão de existir Amizade, palavra, respeito Caráter, bondade alegria e amor Pois não posso Não devo Não quero Viver como toda essa gente Insiste em viver E não posso aceitar sossegado Qualquer sacanagem ser coisa normal. Bola de meia, bola de gude O solidário não quer solidão Toda vez que a tristeza me alcança O menino me dá a mão Há um menino Há um moleque Morando sempre no meu coração Toda vez que o adulto fraqueja Ele vem pra me dar a mão. (Milton Nascimento) 23 O poema de Nilton Nascimento retrata a importância de brincar e do jogar, que são atos indispensáveis à saúde física, emocional e intelectual e sempre estiveram presentes em qualquer povo desde os mais remotos tempos. Através deles, as crianças desenvolvem a linguagem, o pensamento, a socialização, a iniciativa e a auto-estima, preparando-se para ser um cidadão capaz de enfrentar desafios e participar na construção de um mundo melhor. O jogo, nas suas diversas formas, auxilia no processo ensino-aprendizagem, tanto no desenvolvimento psicomotor, isto é, no desenvolvimento da motricidade fina e ampla, bem como no desenvolvimento de habilidades do pensamento, como a imaginação, a interpretação, a tomada de decisão, a criatividade, o levantamento de hipóteses, a obtenção e organização de dados e a aplicação dos fatos e dos princípios a novas situações que, por sua vez, acontecem quando jogamos, quando obedecemos a regras, quando vivenciamos conflitos numa competição, etc. (CAMPOS, 2006: 30) A criança necessita brincar, jogar, criar e inventar para manter seu equilíbrio com o mundo. A importância da inserção e utilização dos brinquedos, jogos e brincadeiras na prática pedagógica é uma realidade que se impõe ao professor. Brinquedos não devem ser explorados somente para lazer, mas também como elementos bastante enriquecedores para promover a aprendizagem. Através dos jogos e brincadeiras, o educando encontra apoio para superar suas dificuldades de aprendizagem, melhorando o seu relacionamento com o mundo. Os professores precisam estar cientes de que a brincadeira é necessária e que traz enormes contribuições para o desenvolvimento da habilidade de aprender e pensar. (CAMPOS, 2006) Certos professores destacam a força do caráter pedagógico como função primordial do brinquedo. E o jogo, o brincar aparecem como métodos e estratégias de produzir ludicidade no ato de aprender. “A função do brincar na escola não tem sido atribuída de forma adequada, devido às exigências dos pais, da sociedade de que as crianças estejam sendo alfabetizadas o quanto antes, e que de certa forma gerou mudanças de objetivos das professoras nas metodologias das aulas” (ALVES, 2002: 04). A brincadeira é um espaço de socialização, de construção que desenvolve todos existidos da criança. O ato de brincar não é apenas para o desenvolvimento escolar da criança pedagogicamente, mas sim para que possa adquirir experiência de elaboração das vivencias da realidade na construção do ser. A brincadeira implica para a criança muito mais do que um simples ato de brincar, pois através da brincadeira ela está se comunicando com o mundo e também está se expressando (ALVES, 2002; 04). A escola como um espaço de encontros, deve propiciar a brincadeira como atividade fundamental da criança, para que ela possa aprender a fazer por si mesma, 24 descobrindo limites, compartilhando prazeres, vivendo sentimentos em toda a sua intensidade. Deve repensar sua rotina e planejamentos, ampliando o espaço do brincar com o resgate da memória da infância e das histórias de vida dos educadores, como as lembranças dos quintais mágicos e das ruas de seus tempos de criança. A brincadeira e a arte são formas de experimentação de experiências, de múltiplos movimentos e de sensações, que alicerçam a maneira do sujeito estar no mundo. Também viabilizam o contato com as emoções pessoais e do outro, vivenciando relações sociais, negociações e compartilhando histórias de vida. São momentos de ensinar o outro e de aprender com ele, socializando novidades, decisões e opções, portanto um espaço de identidade do sujeito-aprendiz. A presença da Arte na infância proporciona um descompasso entre a produção teórica existente e a prática pedagógica adotada por grande parte dos educadores, para os quais as atividades desenvolvidas nas aulas de arte são tidas como um passatempo, como um enfeite para as datas comemorativas, sem significação para a criança, por muitas vezes os adultos não considerarem que a criança tem competência para elaborar um produto adequado. É fundamental que o professor que atua na educação Infantil, compreenda como se dá o processo de criação nas crianças e suas fases de desenvolvimento criador, para que possa propiciar a oportunidade à criança de crescer por meio de suas experiências artística. Diante desta perspectiva, a arteterapia infantil é como uma linguagem que tem estrutura e características próprias que possibilita à criança, no processo de criação, reformular suas idéias e construir novos conhecimentos em situações onde a imaginação, a ação, a sensibilidade, a percepção, o pensamento e a cognição são reativados. Podem ser desenvolvido atividades teórico-práticas que visam trabalhar o desenvolvimento da imaginação criadora, da expressão, da sensibilidade e da capacidade estética das crianças, buscando uma maior conscientização por parte dos educadores acerca do processo de criação em arte na Educação Infantil (SALOMÉ, 2000: 1). A criança, num ser global mescla suas manifestações expressivas: canta ao desenhar, pinta o corpo ao representar, dança enquanto canta, desenha enquanto ouve histórias, representa enquanto fala. O desenho é para ela um campo imaginário e sonhador. Os educadores precisam estar atentos e considerar a individualidade de cada educando, levando-se em conta a fase de desenvolvimento do trabalho artístico de cada um. Afinal, a expressão gráfica da criança varia com a idade, o meio, os estímulos e as vivências próprias. 25 A arteterapia pode ser utilizada como elo entre os vários campos do conhecimento, colaborando sobremaneira na construção da interdisciplinaridade no âmbito da escola, elaborando a comunicação entre as possibilidades e limites próprios da ciência e a expressiva liberdade de criação da arte; fazendo ligações entre anseios gerados pelo mundo atual com o mais remoto passado, enfim promovendo o desenvolvimento do potencial humano através de situações que favoreçam a leitura do mundo de maneira ampla, rica e profunda. (PILLOTTO, 2007: 30) A educação em arte ganha crescente importância quando se pensa na formação necessária para uma adequada inserção social, cultural e profissional do jovem contemporâneo. Ela imprime sua marca ao demandar uma criança da aprendizagem criadora, propositora, reflexiva e inovador. Se hoje o aluno deve ser formado para enfrentar situações incertas e para resistir às imposições de velocidade e de fragmentação que caracterizam a contemporaneidade, a arte pode colaborar e muito.” (IAVELBERG, 2000: 02). Cunha afirma que "para que as crianças tenham possibilidades de desenvolveremse na área expressiva, é imprescindível que o adulto rompa com seus próprios estereótipos” (1999: 10). O educador (terapeuta) tem que fazer parte do processo de descoberta da criança, desprezando os estereótipos e abrindo a mente para novas idéias e novos materiais, não só entendendo, mas vivenciando as linguagens da arte com a criança. Sabendo também da importância de não somente contemplar a produção da criança, como a leitura desta produção e de outras imagens, reforçando a idéia de ampliar as possibilidades do que é apresentado à criança. Mas se os estereótipos são negativos, por que eles ainda são tão presentes em nosso cotidiano? A resposta está no fato de que a maioria das vezes os estereótipos são basicamente os mesmos, e de tão reproduzidos e utilizados, se tornam largamente difundidos e aceitos. Assim acontece na escola, onde se percebe que os estereótipos estão muito presentes, muitas vezes em formas de desenhos perfeitos que enfeitam as salas, aparecendo como pretexto de tornar o ambiente mais atraente e interessante para a criança (BRUNA PEREIRA ALVES, 2008: s/p).1 • Pensar em ações que possibilitem às crianças experiências com as linguagens da arte ajudará a desenvolver a imaginação, a percepção, a intuição, a emoção e a criação. 1 Disponível em: http://www.artenaescola.org.br . Acesso em: 10 dez. 2009. 26 "A imaginação nasce do interesse, do entusiasmo, da nossa capacidade de nos relacionar. Por isso as instituições educacionais precisam estar atentas ao currículo, propondo ações voltadas ao interesse das crianças." Assim, é importante utilizar o lúdico, o brinquedo e o jogo como elementos fundamentais no cotidiano das crianças, já que seu fazer criativo está sempre ligado às suas experiências de vida visando a novas perspectivas e novas aprendizagens. (PILLOTTO, 2007: 25) 2.2 Recursos da Arterapia A arteterapia utiliza vários recursos em seu tratamento, como expressivos durante o processo terapêutico. A seguir. relacionamos habilidades e atitudes a música, a dança, a pintura, a leitura “histórias”, o desenho, a expressão; enfim tudo que é relacionado à arte. Muitos são bastante utilizados em sala de aula e sendo considerados relevantes, citamos alguns destes recursos, que facilita no tratamento arteterapeutico, podendo ser tomados como critério para o processo de avaliação das crianças na arte clínica e principalmente como o trabalho de educadores e arte terapeutas. - A música “A Dona Aranha subiu pela parede veio à chuva forte e a derrubou. Já passou a chuva e o sol já vem surgindo e a Dona aranha continua a subir Ela é Persistente e muito Obediente “Sobe; sobe; sobe e sempre está Contente” (musica infantil brasileira) A música é vista por muitos como a primeira das artes, tanto no que se refere à história humana quanto à sua importância na vida de todos nós. Para as civilizações primitivas, os sons tinham significado, o qual também estava presente em seus primitivos instrumentos. Já para nós, ela é reconfortante e, muitas vezes, auxilia o nosso equilíbrio emocional (CORNETET, 2005: 11). Com as músicas a criança expressa sua alegria em seus movimentos, cria e imagina novos elementos em seu mundo, que pode ser explorado pelo arteterapeuta ou até mesmo educadores no ensino educacional. Também por meio da música podemos explorar outros temas como o teatro e dança. Portanto, as atividades com música são um meio de 27 expressão e de conhecimento acessível às crianças, inclusive àquelas que apresentam necessidades especiais, que por sinal são extremamente sensíveis. A linguagem musical é um dos canais que desenvolve a expressão, o autoconhecimento e o equilíbrio, sendo poderoso meio de interação social. (CORNETET, 2005: 13). Existe a necessidade de dar conta de que vivemos em um ambiente sonoro e rodeado de objetos também sonoros, inclusive nós mesmos! Tudo o que ouvimos é um objeto sonoro; é ótimo brincar com as crianças sobre o que elas estão ouvindo (CORNETET, 2005:11). “A música estimula o desenvolvimento psicomotor das crianças e adolescentes, e cria uma rede de participação entre terapeutas e cuidadores, possibilitando experiências de sucesso que enriquecem o ambiente de saúde”, declara Maria Eugênia musicoterapeuta da faculdade de Medicina UFMG. 2 Vamos dançar e cantar?... Por isso quando se inicia uma oficina psicopedagógica ou de arteterapia será apresentada música de acordo com o momento e a característica do grupo. A música é uma técnica de relaxamento, um processo destinado a facilitar e promover comunicação, relacionamento, aprendizado, mobilização, expressão, organização e outros objetivos terapêuticos relevantes, a fim de atender as necessidades físicas, emocinais, mentais, sociais e cognitivas. A música busca desenvolver potenciais e/ou restaurar funções da criança para que ela alcance uma melhor qualidade de vida, através de prevenção, reabilitação ou tratamento. (CORNETET, 2005:16). 2 Disponívem em: http://www.medicina.ufmg.br/noticias/?p=1510. Acesso em: 10 dez. 2009. 28 - A História O Coelhinho Joca Era uma vez quatro coelhinhos chamados: Bolinha, Mimoso, Algodãozinho e Joca. Eles moravam com sua mãezinha, embaixo de um grande pinheiro. Dona Coelha, precisando um dia sair para fazer compras, chamou-os e disse: - Escutem, queridos, mamãe vai sair. Se vocês quiserem, podem dar uma voltinha, mas, por favor, não entrem na horta do Sr. Tinoco. Seu pai teve um acidente lá e nunca mais voltou para casa. Tenham juízo, filhotes, eu não me demoro. Dona Coelha apanhou a sombrinha, a cesta de compra e foi à padaria. Comprou cinco bolinhos com passas e um pão de forma. Bolinha, Mimoso e Algodãozinho, que eram muito ajuizados, foram colher amoras. Joca, porém, que era muito desobediente, passou por debaixo da cerca e foi à horta do Sr. Tinoco. Lá chegando, comeu alfaces, cenouras e rabanetes, até não poder mais. Sentouse para descansar um pouco. Exatamente ali, perto do canteiro dos repolhos, estava o Sr. Tinoco. Assim que avistou o coelhinho, correu ao seu encalço, de ancinho na mão. Joca ficou muito assustado; corria para todos os lados e não conseguia acertar a saída. Perdeu um dos sapatos no meio dos repolhos, e o outro, perto das batatas. Cada vez ele corria mais. De repente, ficou preso, pelo botão do casaco, numa rede que protegia as uvas. Começou a chorar alto. Uns pardais muito bonzinhos, que voavam por ali, vieram consolá-lo. Entretanto, o Sr. Tinoco não tinha desistido de pegá-lo. Ali veio ter, com uma enorme peneira na mão, pretendendo com ela prender o pobre bichinho. Nesse instante, porém, Joca deu um arranco e conseguiu desprender-se. No entanto, ficou sem o casaco e caiu em cima da caixa de ferramentas. Levantou-se depressa, e escondeu-se dentro de uma lata grande que viu à sua frente. A lata estava cheia de água e Joca estava muito suado; por isso, começou a sentir arrepios de frio e pôs-se a espirrar. O Sr. Tinoco, que o havia perdido de vista, descobriu o seu esconderijo e correu para a lata. O coelhinho, porém, foi mais ligeiro; pulou fora da lata e ocultou-se atrás de uns vasos de plantas. O Sr. Tinoco já estava cansado de tanto correr à procura do coelhinho, de maneira que resolveu voltar para casa. Joca, quando percebeu que o seu perseguidor o deixara em paz, sentou-se para descansar. Estava quase sem respiração e tremia da cabeça aos pés. Além disso, não tinha a menor idéia de como sair dali. Enquanto pensava na situação, apareceu um rato que carregava, na boca, alimento para os seus filhinhos. Joca perguntou-lhe onde ficava a saída, mas ele não lhe respondeu, apenas sacudiu a cabeça. Então o coitadinho resolveu ir andando para ver se descobria alguma coisa. Atravessou o jardim e chegou a um tanque onde o Sr. Tinoco costumava encher as latas de água. Ali estava sentado um gatinho, apreciando os peixinhos dourados que havia no tanque. Joca, 29 a princípio, teve vontade de dirigir-lhe a palavra, mas pensou melhor e foi andando. Seu primo, o coelhinho Benjamim, sempre lhe contava histórias perigosas sobre gatos... Um pouco adiante encontrou uma carrocinha. Subiu nela e olhou à volta. Lá adiante estava o seu inimigo, o Sr. Tinoco, cuidando de um canteiro. Do lado oposto, ficava o portão. Que alívio! Muito de mansinho, sem fazer barulho, foi ele se arrastando, até que se viu, são e salvo, perto do pinheiro onde ficava sua casa. Estava tão cansado que se deitou ali mesmo e fechou os olhos. Dona Coelha estava preparando o jantar. Quando o viu ali fora, assim, abatido, ficou imaginando o que lhe teria acontecido. Ficou, porém, muito zangada quando viu que ele havia perdido os sapatos e o casaco. Levou-o, no colo, para a cama e notou que ele estava febril. À hora do jantar, Bolinha, Mimoso e Algodãozinho foram para a mesa, comeram bolinhos com morangos e tomaram leite quentinho. Joca ficou na cama e tomou chá de limão. No dia seguinte, ainda se sentia mal. “Estava tão arrependido, que prometeu à mamãe nunca mais desobedecer-lhe e ser tão comportado quanto seus outros irmãos.” Quando contamos uma história, nosso entusiasmo aparece não só na nossa voz e em nosso rosto, mas o corpo fala junto, pois nos movimentamos e fazemos gestos que dizem tanto quanto as palavras… Das inúmeras possibilidades que se abrem a quem está interessado no discurso poético para crianças, a mais animadora é a de que existe um manancial inesgotável de textos em circulação nas camadas sociais mais diversas, referendado pela passagem do tempo e portador de uma sabedoria ingênua, reveladora das preocupações básicas do homem. Trata-se da poesia infantil de origem popular, cuja autoria desapareceu da memória coletiva e que se transmite (ou se produz) nas classes sociais dominadas, e espelhando seus interesses postergados. (BORDINI, 1986: 28). Contar histórias é as mais antigas das artes; o povo assentava ao redor do fogo para esquentar, alegrar, conversar, contar casos. Pessoas que vinham de longe de suas Pátrias contavam e repetiam histórias para guardar suas tradições e sua língua. As histórias se incorporam à nossa cultura. Ganharam as nossas casas através da doce voz materna, das velhas babás, dos livros coloridos, para encantamento da criançada. E os pedagogos, sempre à procura de técnicas e processos adequados à educação das crianças, descobriram esta “mina de ouro” as histórias. Parte importante na vida da criança desde a mais tenra idade, a literatura constitui alimento precioso para sua alma. É conhecendo a criança e o mistério delicioso do seu mundo que podemos avaliar todo o valor da literatura em sua formação. A criança tem um mundo próprio, todo seu, povoado de sonhos e fantasias. * A história é contada visando: 30 • Deleitar a criança; • Infundir o amor à beleza; • Desenvolver sua imaginação; • Desenvolver o poder da observação; • Ampliar as experiências; • Desenvolver o gosto artístico; • Estabelecer uma ligação interna entre o mundo da fantasia e o da realidade. • No sentido da língua, particularmente, as histórias: ·- enriquecem a experiência; ·- desenvolvem a capacidade de dar seqüência lógica aos fatos; ·- dão o sentido da ordem; ·- esclarecem o pensamento; ·- educam a atenção; ·- desenvolve o gosto literário; ·- fixam e ampliam o vocabulário; ·- estimulam o interesse pela leitura; ·- desenvolvem a linguagem oral e escrita.3 A utilização da técnica de contação de história possibilita expressar através do corpo, e a atenção que nos é dada é de grande valor, pois pode se iniciar o atendimento ou as observações a partir deste contato. Ler histórias para crianças é poder sorrir, rir, gargalhar com as situações vividas pelas personagens, é suscitar o imaginário, é ter curiosidade respondida em relação a tantas perguntas, é encontrar idéias para solucionar questões. É uma possibilidade de descobrir o mundo imenso dos conflitos, dos impasses, das soluções que todos vivemos e atravessamos (MARSHALL, 2005: 43). Em roda de reflexões, podemos contar sobre nossas próprias histórias e quando se faz com o olhar de um arteterapeuta ele estará questionando sobre o que é importante e o que você pode fazer a partir de um contexto histórico familiar. 3 Disponível em: <http: //www.botucatu.org.com.br>. Acesso em: 31 E muitas vezes quando as pessoas ouvem os seus pais e avós “proseando” e está com um olhar de quem está sendo cuidado, se permite deixar “cair às fichas”. É através duma história que se podem descobrir outros lugares, outros tempos, outros jeitos de agir e de ser, outra ética, outra ótica... É ficar sabendo História, Geografia, Filosofia, Política, Sociologia, sem precisar saber o nome disso tudo e muito menos achar que tem cara de aula.... (ABRAMOVICH, 1995, p. 17). Um dos principais elementos a ser alcançado é o poder de imaginação que, ao tirar a criança do seu ambiente, permite ao espírito “trabalhar” a imaginação. Quando se conta uma história, dentro da sala de aula o enfoque é a aprendizagem, pode pedir para que a criança faça um desenho sobre a história contada, e a partir deste desenho conta-se uma nova história, agora sim contando a sua própria “vida”, este método pode ajudar a criança no aprendizado com a fala, a escrita e principalmente a leitura. E é possível analisar a narrativa, a descrição, a criatividade, a observação do seu mundo, entre outras possibilidades de conduta que o levará a analisar junto ao arteterapeuta o que se está contando, e quais serão as atitudes que farão a diferença em sua vida. As histórias são fontes maravilhosas de experiências. São meios preciosos de ampliar o horizonte da criança e aumentar sue conhecimento em relação ao mundo que a cerca. Mas é precioso saber usar as histórias para que dela as se alcance retirar tudo o que podem dar à educação. Um dos principais elementos a ser alcançado é o poder de imaginação que, tirando a criança do seu ambiente, lhe permite ao espírito “trabalhar” a imaginação. As histórias têm como valor específico o desenvolvimento das idéias, e cada vez que elas são contadas acrescentam às crianças novos conhecimentos. (ABRAMOVICH, 1995: 22) “O ouvir histórias pode estimular o desenhar, o musicar, o sair, o ficar, o pensar, o teatrar, o imaginar, o brincar, o ver o livro, o escrever, o querer ouvir de novo (a mesma história ou outra). Afinal, tudo pode nascer dum texto!” (ABRAMOVICH, 1995: 23) Para escolhermos uma boa história, é importante considerar que toda história deve ter personagens (reais, imaginários, “do bem”, “do mal”), cenário (um espaço, que pode ser cotidiano, como a rua onde moramos, ou muito especial, como o fundo do mar, ou um planeta desconhecido), um tempo qualquer, mesmo que não esteja definido, como o eterno “Era uma vez…”, ações encadeadas (as crianças precisam de um bom enredo, com muita ação) e um bom desfecho ou final, que pode ser modificado conforme os narradores ou os ouvintes quiserem. 32 - Desenhos O estudo do desenho infantil começou no final do século XIX e de acordo com Silva (2002) as descrições dos aspectos mais gerais e as descrições das mudanças ocorridas no processo deste estudo parecem coincidir em autores como Kellogg (1969), Lowenfeld (1977), Luquet (1981), Lurçat (1988), Goodnow (1979) e Merèdieu (1979). Na opinião desses autores, como em qualquer traço da personalidade, a representação gráfica tende a integrar-se na direção de uma gradual maturação psíquica. ... ainda segundo os autores citados, crianças a partir de seis anos já desenham de maneira que o adulto pode facilmente reconhecer determinados objetos nas produções gráficas infantis. Alguns aspectos dos desenhos como linha de base... o plano deitado... e a transparência... são mencionados de forma a constituir características universais do desenho infantil. (SILVA, 2002: 19). Para Valladares, O desenho como modalidade da arteterapia, objetiva a forma, a precisão, o desenvolvimento da atenção, da concentração, da coordenação viso-motora e espacial. Também concretiza alguns pensamentos e exercita a memória. O desenho está relacionado ao movimento e ao reconhecimento do objeto, tendo a função ordenadora. (2004: 25) As crianças não desenham aquilo que veem, mas sim o que sabem a respeito dos objetos. Então, pode-se afirmar que representam seus pensamentos, seus conhecimentos e/ou suas interpretações sobre uma dada situação vivida ou imaginada. “... a criança desenha para significar seu pensamento, sua imaginação, seu conhecimento, criando um modo simbólico de objetivação de seu pensamento”. (FERREIRA, 1998:104). Francisquetti (2005a; 2005b) explica que a leitura dos desenhos sinaliza as palavras que não podem ou não conseguem ser ditas pelas crianças. Sendo que as aferências de comunicação não-verbais se transformam em processo cognitivo, e são importantes de serem comparadas em diferentes momentos para perceber as mudanças externas, como também internas as crianças. 33 Desenho de W. 09 anos apresentado no processo terapêutico. O desenho de W. mostra um realce cores fortes e frias como o azul “o mar”, o marrom “na montanha e o verde “nas folhas”, ele fez um Sol bem grande, passando a impressão que tudo será iluminado”. Foi pedido os alunos desenharem o que queriam “o que viesse com sua imaginação”, W., apesar de ser uma criança com dificuldades de aprendizagem, troxe um desenho com formas definidas, demonstrando bom desenvolvimento. O objetivo não é a estética das produções, mas a recuperação da possibilidade de cada um criar livremente e sem limites, para que através dos símbolos que vão surgindo pouco a pouco, a pessoa possa mapear as suas limitações e ativar os seus núcleos de energia, fortalecendo todo o seu processo de individuação do si - mesmo, do Eu Sou. (ROTTENSTEI, 2000: 36) - A Avaliação no Desenho A avaliação das crianças (os alunos no contexto escolar) é realizada de maneira comparativa entre todos os componentes de uma turma. Atribuem-se notas ou conceitos, normalmente variando entre um valor muito baixo correspondente a vários erros e outro muito alto, o que significa uma maioria absoluta de acertos. 34 Neste caso, as crianças são comparadas entre si e valoradas pelo número de notas ou conceitos elevados. E por consequência, são atribuídos rótulos de bons ou de maus alunos dependendo da evolução escolar avaliativa que cada um consegue apresentar. Já o arterapeuta, através do desenho pode avaliar o desenvolvimento, o próprio crescimento e evolução da criança em um determinado processo. O desenho é um instrumento no trabalho arteterapêutico, pois o inconsciente revela-se através do simbolismo do desenho. As imagens provenientes do inconsciente coletivo são arquetípicas e se manifestam nos sonhos, nas fantasias, no mito e na religião. O desenho age de maneira compensatória ou complementar em relação ao estado da criança em seu momento na vida. [...] o símbolo possui uma influência curadora, esforçando-se por alcançar um equilíbrio e uma totalidade. (FURTH, 2004:41) O desenho pode ser considerado como a expressão do modo como a criança percebe o mundo, como o compreende, oportunizando também avaliar seu processo de maturação. Em contexto escolar, permite ver pontos que, aparentemente, o aluno não conseguiu, ainda, construir os conceitos necessários à sua compreensão. Existem várias maneiras de analisar e avaliar os desenhos infantis. Normalmente eles são usados para diagnóstico das condições psico-sociais das crianças, método utilizado tanto em consultórios quanto em várias escolas. O que interessa é perceber se o desenho realizado por uma criança é capaz de mostrar o caminho de sua evolução para a compreensão de conceitos físicos. “A avaliação tem diversos efeitos sobre a aprendizagem, entre eles o de prover informação ao professor e ao aluno sobre os progressos e os obstáculos que se encontram no processo de sua aprendizagem, como os possíveis erros que o aluno e o professor devem superar.” (SANTOS, 2004:988) As pessoas que fazem parte do universo da criança e de quem ela busca respeito e aprovação deve compreender o processo pelo qual ela passa e o que a arterapia e (educadores) estão fazendo nesse sentido valorizando, também, seus progressos na forma de expressão. Se esse progresso não for valorizado, a criança pode se retrair sentindo-se inferiorizada e incapaz. E ninguém é incapaz, todos temos capacidades e , quando somos valorizados naquilo que sabemos, desenvolvemos cada vez mais capacidades, pois nos sentimos autorizados a alçar vôos cada vez mais altos. A arte utiliza o desenho como forma de expressão onde se podem definir as dificuldades que a criança encontra dentro da sala de aula e também fora, em sem ambiente familiar e com os amigos. 35 - A Escrita A criança começa a demonstrar interesse por ler e escrever desde muito cedo. E esse interesse não acontece pura e simplesmente para realizar “tarefas” de adulto, mas sim para que ela comece a inserir-se em nossa cultura como ser que pensa e interage com o seu meio. É claro que o interesse da criança será maior ou menor de acordo com a sua interação com a escrita (OLIVEIRA, 2000: 57). M.N 10 anos, desenhou seu nome com barbantes e utilizou formas de coração e borboletas. 36 No caso da aprendizagem da língua oral, os adultos que rodeiam a criança manifestam entusiasmo quando ela faz suas primeiras tentativas para comunicar-se oralmente (...) Todos tentam compreender o que a criança disse supondo que quis dizer algo(...) Quando a criança faz suas primeiras tentativas para escrever, é desqualificada de imediato porque faz ‘garatujas’. (...) Ninguém tenta compreender o que a criança quis escrever, porque se supõe que não possa escrever nada até ter recebido a instrução formal pertinente. (FERREIRO: 1998:34). Atualmente, a maioria das crianças está em contato com a escrita desde cedo e nos mais diversos momentos. Seja qual for sua classe social, a escrita se faz presente nas necessidades de sua família: procurar um telefone na lista, fazer um bilhete, ler um livro ou tomar um ônibus. Considerando que a necessidade do ser humano em se comunicar, tanto oralmente quanto por escrito, vem desde o seu nascimento e que nossa cultura letrada lhe impõe a necessidade do uso da escrita, a escola deve estar preparada para responder a tal necessidade, procurando conhecer como esse processo começa a acontecer e o que fazer para proporcionar espaços para a descoberta, a troca de informações, a elaboração de hipóteses e a evolução desse processo. (OLIVEIRA, 2000:57) Portanto, o desafio para a escola, principalmente dos pequenos, é inovar o espaço dedicado à alfabetização, começando pelo conhecimento de como a criança aprende a ler e escrever, para depois pensar em currículos e atividades que respondam a essa necessidade. 37 CAPÍTULO III 3.1. Experiências em Arteterapia Realizou-se um trabalho arteterapêutico, dentro de um estágio supervisionado do curso de formação em Arteterapia. Este trabalho foi desenvolvido em uma escola pública, em uma cidade do interior do Estado de São Paulo, durante seis meses, em dias alternados da semana, no período matutino dentro da sala de aula com alunos 9 a 10 anos. Os professores ficavam presentes em sala de aula e todos os alunos participavam. Muitos dos alunos apresentavam dificuldades de aprendizagem incluindo déficit de atenção. Foram aplicados recursos expressivos como o desenho, a “contação de história” e a escrita. Numa primeira intervenção foi feita uma atividade em que se tirou fotos dos alunos e posteriormente essa foto foi colada em um fundo, onde cada aluno usava a sua imaginação: podiam desenhar, escrever, colar... A intenção era fazer um autorretrato, com o objetivo era mostrar para o aluno que sua beleza é diferente e exlusiva, enfatizando a autoestima. Quando se tira fotos, todos se preocupam sempre com a aparência, e por isso a arteterapeuta deve ter o cuidado de não trazer a questão da beleza, como motivo principal, deixando os alunos mais à vontade, chamando a atenção para outros aspectos que podem demonstar também a beleza como, por exemplo, um olhar ou um gesto. M.A tem 9 anos, e é uma criança com problemas em sala de aula pois não consegue seguir regras e apresenta uma personalidade agressiva, séria, brava e dizendo que já sabe tudo o que a professora irá ensinar, consequentemente, isto atrapalha na aprendizagem. Mas em relação ateliê arteterapêutico ele se mostra atento, responsável, disponível para as atividades quando é solicitado. Quando tirou a foto, M.A adotou uma postura séria, evidenciada pelos traços da sua sombracelhas, que estão levemente levantadas, os olhos um pouco fechados e a boca com um sorriso sério. Reconhecendo-se como forte/bonito, sério, não quis alterar sua imagem, só colorindo-a, deixando mais belo tudo ao seu redor. (figura 1) 38 Figura 1: Foto de M.A. com desenho seu ao fundo. Contudo chama a atenção o desenho que está feito no fundo de sua foto: o sol nos dois cantos da folha mostrando que tem um brilho dentro de si, o céu bem azul e limpo e uma grama verde. Podemos inferir que apesar de que sua aparência séria na foto, M.A. guarda em seu interior uma docilidade e uma alegria. São características que, se recuperadas, podem ajudá-lo a enfrentar seus problemas. Ao longo do trabalho em classe, percebe-se que ele é mesmo uma criança alegre e que tem anseio em aprender. No final do ateliê arteterapêutico M.A. percebeu que é possível se colocar como aprendente, e que se beneficiará se mudar sua postura em sala de aula, trazendo melhoras em sua aprendizagem e também em seu convívio social e familiar. Num segundo momento foi contada uma história. 39 “Maria vai com as Outras”. (Sílvia Orloff) Era uma vez uma ovelha chamada Maria. Aonde as outras ovelhas iam, Maria ia também. As ovelhas iam para baixa Maria ia também. As ovelhas iam para cima, Maria ia também. Um dia, todas as ovelhas foram para o Pólo Sul. Maria foi também. E atchim! Maria ia sempre com as outras. Depois todas as ovelhas foram para o deserto. Maria foi também. - Ai que lugar quente! As ovelhas tiveram insolação. Maria teve insolação também. Uf! Uf! Puf! Maria ia sempre com as outras. Um dia, todas as ovelhas resolveram comer salada de jiló. Maria detestava jiló. Mas, como todas as ovelhas comiam jiló, Maria comia também. Que horror! Foi quando de repente, Maria pensou: “Se eu não gosto de jiló, por que é que eu tenho que comer salada de jiló?” Maria pensou, suspirou, mas continuou fazendo o que as outras faziam. Até que as ovelhas resolveram pular do alto do Corcovado pra dentro da lagoa. Todas as ovelhas pularam. Pulava uma ovelha, não caía na lagoa, caía na pedra, quebrava o pé e chorava: mé! Pulava outra ovelha, não caía na lagoa, caía na pedra e chorava: mé! E assim quarenta duas ovelhas pularam, quebraram o pé, chorando mé, mé, mé! Chegou a vez de Maria pular. Ela deu uma requebrada, entrou num restaurante comeu uma feijoada. Agora, mé, Maria vai para onde caminha seu pé. P.A 10 anos, era uma aluna muita meiga e que prestava bastante atenção em sala de aula, apresentava poucos problemas de comportamento, a não ser uma extrema timidez; falava baixo e apresentava algumas dificuldades na dicção que a prejudicava no aprendizado. P.A. fez, em seu desenho, uma ovelha pensativa cheia de perguntas para si mesma e comendo jiló. Utilizou muito bem o espaço da folha usou cores fortes e os traços do desenho estão bem definidos, um sol sorridente. Na história, Maria não gostava de jiló e estava “engolindo” a salada de jiló. P.A. também, no desenho, se coloca como a ovelha, engolindo algo que não gosta, mas tem medo de expressar sua opinião devido a sua timidez. 40 Desenho apresentado em sala de aula, por P.A 10 anos, referente ao texto da ‘Maria vai com as outras’. Em outro ateliê arteterapêutico foi solicitado às crianças que procurassem em revistas, e fizessem o recorte de uma imagem, que lhes chamasse a atenção. W. 10 anos, é uma criança com problemas de aprendizagem, principalmente com a escrita. Contudo, demonstrou em seu trabalho, que através da imagem pôde entrar em conexão com a escrita, de uma nova maneira, pois isto aconteceu permeado pelo lúdico. Assim, conseguiu se expressar pela escrita, demonstrando uma vontade de aprender que ficava escondida devido a sua dificuldade. O lúdico agrega uma qualidade diferenciada ao aprender, pois brincar é uma atividade inerente à infância. 41 W. 9 anos, utilizou recortes, com figuras de crianças e ao lado escreveu um texto no qual é citado abaixo. “Prestar atenção no que está fazendo, sem pensar se vão sujar as mãos ou as roupas e integrar-se totalmente ao momento presente é uma qualidade infantil que nós crescidos deveriam recuperar a cada passo de nossa caminhada.” W. W. demonstra em sua frase a preocupação com a perfeição, à qual o adulto dá ênfase. Ele explica que deseja ser um adulto feliz, mas não perder a inocência e a dedicação de uma criança. Quando aplicamos a arteterapia em sala de aula, verificamos que ela facilita e proporciona que a criança interaja com o aprendizado. A criança gosta e sente a necessidade de aprender, mas o aprender brincando, com o lúdico permeando, torna-se mais fácil. Percebe-se então que a imagem foi utilizada como facilitadora, proporcionado a tomada de consciência de que sua real dificuldade está na escrita, e que pode melhorar a partir deste reconhecer-se. W. mostra que terá mais facilidade se o ensino for descontraído e prazeroso. 42 A arteterapia ajuda a todas as crianças, e principalmente aquelas com maiores dificuldades de aprendizagem, pois a arteterapeuta mostra uma outra forma de aprender que não a tradicional, tornando a aquisição de conhecimento uma tarefa significativa. 43 CONSIDERAÇÕES FINAIS A utilização de recursos artísticos para auxiliar o desenvolvimento de conteúdos escolares específicos vem-se expandindo cada vez mais, com o foco do trabalho pedagógico na aprendizagem do aluno. Os cursos de formação de professores procuram enfatizar atividades didáticas que privilegiem a ação do aluno e, nesse sentido, atividades artísticas são excelentes recursos, uma vez que a arte ocupa significativo espaço na formação humana. “É necessário estar continuamente fecundado a utopia, na tentativa de responder sempre com novo ânimo à pergunta: o que mais nos falta neste momento para a nossa humanização?” (SURIAN et al. 1996: 15). Neste sentido, é preciso saber interagir com o aluno e descobrir como ele aprende. O arteterapeuta pode auxiliar o aluno que se depara com dificuldades face ao que é pedido pela escola, em um trabalho que abarca os equilíbrios/desequilíbrios e resgata o desejo de aprender, ajudando a promover mudanças significativas nos alunos. Cada criança é uma, e uma vida é uma história. Para os professores, o relacionamento com seus alunos por meio do fazer artístico, trouxe-lhes uma nova visão em relação às habilidades que o aluno possui. Além de se ensinar somente a ler e a escrever passou-se a conhecer melhor o aluno e suas dificuldades, de modo que caminhos didáticos diferentes dos até então percorridos puderam ser vislumbrados, refletindo positivamente no aproveitamento do aluno. A mediação da arte dentro do processo pedagógico propiciou também uma aproximação mais harmônica da relação professor e aluno. 44 REFERÊNCIAS ABREU, S.: Construindo um Espaço: Ambiente Computacional para Aplicação no Processo de Avaliação Psico-Pedagógica. São Paulo: Atlas, 2004. ALVES, B. P. Arte na escola. Disponível em: <http://www.artenaescola.org.br>. Acesso em: 10 dez. 2009. ANDRADE, L.Q Terapias expressisvas uma pesquisa de referências teórico práticos. Instituto de psicologia, Universidade de São Paulo, 1993. ARSLAN, L; IAVELBERG, R. Ensino de arte. São Paulo: Thomson Learning, 2006. ARTETERAPIA título. Disponível em: <http://arteterapia.sites.uol.com.br/oqueearterapia.html>. Acesso em: 23 out. 2009. BORDINI, Maria da Glória. Poesia infantil. São Paulo: Atlas, 1986. BOSSA, Nadia A. A psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000. CAMPOS, Maria Célia Rabello Malta. A importância do jogo no processo de aprendizagem. Disponível em: http://www.psicopedagogia.com.br/entrevistas/entrevista.asp?entrID=39. Acesso em: 15 ago. 2009. CARVALHO, M. M. M. J. O que é arteterapia. Recursos artísticos em psicoterapia. São Paulo: Summus, 1995. CIORNAI, Selma. Percursos em Arteterapia. São Paulo: Summus 2005. CONTAÇÃO DE HISTÓRIA. Disponível em http://www.botucatu.sp.gov.br/. Acesso em: 15 out. 2009. 45 CUNHA, Susana Rangel Vieira da. Pintando, bordando, rasgando, desenhando e melecando na educação infantil. In: Cor, som e movimento: a expressão plástica, musical e dramática no cotidiano da criança. Porto Alegre: Mediação, 1999. FURTH, GREGG M. O mundo secreto dos desenhos: uma abordagem junguiana da cura pela arte. São Paulo: Paulus, 2004. FRANCISQUETTI, A. A. Arte-reabilitação com pacientes vítimas de dano cerebral (AVC). In: CIORNAI S, (org.). Percursos em arteterapia: arteterapia e educação, arteterapia e saúde. São Paulo: Summus; 2005 a. v. 64. HEMRERY, P. Disponível em: http://www.projetospedagogicosdinamicos.com/arte_terapia.htm>. Acesso em: 20 ago. 2009. O COELHO. Disponível em: <http://www.medicina.ufmg.br/>. Acesso em: 12 dez. 2009. OLIVEIRA, Sâmela Soraya Gomes de; DIAS, Maria da Graça B. B.; ROAZZI, Antonio. O lúdico e suas implicações nas estratégias de regulação das emoções em crianças hospitalizadas. Rio Grande do Norte, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, 2003. OSTETTO, Luciana Esmeralda. Entre a prosa e a poesia: fazeres, saberes e conhecimento na educação infantil. In: PILOTTO, Silva Sell Duarte (org.). Linguagens da arte na infância. Joinvile-SC: Univille, 2007. OSTROWER, F. A Sensibilidade do Intelecto. Rio de Janeiro: Campus, 1998. PILOTTO, Silvia Sell Duarte. As linguagens da arte no contexto da educação infantil. In: PILOTTO, Silva Sell Duarte (org.). Linguagens da arte na infância. Joinvile-SC: Univille, 2007. PHILIPPINI, A. Arteterapia, um Caminho in Revista Imagens da Transformação. Vol. I. Minas Gerais: Luz Azul, 1994. PAIN, S. & JARREAU, G. Teoria e Técnica da Arterapia Porto Alegre: Artes Médicas, 1996. SANCHES, V. A. & ESCRIBANCO, E. Medição de Autoconceito Bauru: Edusc. 1999. 46 SANTOS, Antonio Carlos dos. Jogos e atividades lúdicas na alfabetização. Rio de Janeiro: Sprint, 2004. NASCIMENTO, Mílton. Bola de Meia, Bola de Gude. Música. Disponível em: <http://letras.terra.com.br/milton-nascimento/102443/>. Acesso em: 23 out. 2009.