FLÁVIA DANIELA MENDES DE ARAUJO HIGA
ARTETERAPIA NO CONTEXTO ESCOLAR:
EXPLORANDO POSSIBILIDADES
DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL
SÃO PAULO MASTER SCHOOL
UNIVERSIDADE SÃO MARCOS
SÃO PAULO - 2010
FLÁVIA DANIELA MENDES DE ARAUJO HIGA
ARTETERAPIA NO CONTEXTO ESCOLAR:
EXPLORANDO POSSIBILIDADES
DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL
Monografia
entregue
ao
curso
de
Especialização Lato Sensu em Arteterapia da
São Paulo Master School, certificada pela
Universidade São Marcos, como exigência
parcial para a obtenção do título de
Especialista em Arteterapia, sob a orientação
da
Professora
Dra.
Cristina
Dias
Allessandrini.
SÃO PAULO MASTER SCHOOL
UNIVERSIDADE SÃO MARCOS
SÃO PAULO - 2010
Higa, Flávia Daniela Mendes de Araújo.
Arterapia no contexto escolar - Explorando Possibilidades do
Desenvolvimento Infantil / Flávia Daniela Mendes de Araújo. São
Paulo. [s.n.], 2010.
p. 45
Orientador: Profa. Dra. Cristina Dias Allessandrini.
Monografia: Especialização Lato Sensu em Arteterapia. São
Paulo Master school / Universidade São Marcos.
1. Arteterapia. 2. Psicopedagogia. 3. Educação.
FLÁVIA DANIELA MENDES DE ARAUJO HIGA
ARTETERAPIA NO CONTEXTO ESCOLAR:
EXPLORANDO POSSIBILIDADES DO DESENVOLVIMENTO
INFANTIL
Monografia apresentada a São Paulo Master School / Universidade São Marcos para obtenção
do Título de Especialista em Arteterapia.
Orientadora: Profa. Dra. Cristina Dias Allessandrini.
Aprovado em: ___/ ___/ _____
Banca Examinadora
__________________________________________________
Prof. Dra. Cristina Dias Allessandrini, Orientadora.
_____________________________________________
Profa. Dra. Maíra Bonafé Sei, Leitora Crítica.
São Paulo, 23 de janeiro de 2010.
Há três métodos para ganhar sabedoria:
primeiro, por reflexão, que é o mais nobre;
segundo, por imitação, que é o mais fácil; e
terceiro, por experiência, que é o mais
amargo. (Confúcio)
Dedico esta monografia a meus pais pelo
exemplo de dedicação.
Ao meu esposo, Carlos Higa, pelo apoio e
companheirismo.
E a minha filha Carolina por ser um presente
especial em minha vida.
AGRADECIMENTOS
Primeiramente quero agradecer a Deus Nosso Senhor Jesus Cristo toda a honra e
toda a gloria por seu amor e graça, me sustentando e guardando com sua destra fiel, nos
momentos de dificuldade e me abençoando com recursos força e sabedoria em cada momento
de minha vida e em especial nesta jornada.
Ao encerrar esta dissertação, reflito sobre o caminho trilhado para sua realização e
não posso deixar de agradecer aqueles que, direta ou diretamente, me ajudaram durante o
processo de construção desta dissertação. A todos vocês meus agradecimentos e em especial o
meu reconhecimento pelo papel significativo de cada um na realização deste trabalho.
Ao meu esposo, a minha filha, pelo relacionamento amoroso, apoio e compreensão
constante em todo esse processo de construção da monografia.
A minha mãe pelo incentivo e aconselhamento nas horas difíceis.
As minhas amigas que são sempre um canal de benção na minha vida, pelo apoio
constante e imprescindível na realização deste trabalho.
A minha orientadora Cristina Dias Alessandrini, pela sua sabedoria e por fazer parte
do meu processo de desenvolvimento.
7
RESUMO
Este estudo busca compreender a importância do uso da arte na escola, abordando a interrelação da psicopedagogia com a arteterapia e a educação escolar. Traz como conteúdo
teórico uma delimitação da palavra arte, seu uso e significado dentro do processo terapêutico,
e conceitua a arteterapia por meio de uma síntese histórica. Aborda também a psicopedagogia
e suas implicações no meio escolar. Autores como Maria Célia Campos, Selma Ciornai,
Antonio Carlos Santos, Angela Philipini, e outros formam a fundamentação teórica sobre a
qual são discutidos aspectos do processo de aprendizagem, da psicopedagogia e da arte e
arteterapia dentro do contexto escolar. Foi realizado um estágio supervisionado em que se
trabalhou com crianças de escolas públicas numa cidade do interior do estado de São Paulo.
Concluiu-se que a arte sob o enfoque da arteterapia, pode ser um recurso bastante importante
para o aprendizado infantil na escola, auxiliando no desenvolvimento de competências, pois
proporciona um novo contato do aluno com a aprendizagem. Também evidenciou-se a ajuda
da arte na tarefa dos professores ao apresentar novas perspectivas para a compreensão de
dificuldades de aprendizagem de seus alunos, oportunizando desenvolver um olhar
diferenciado em relação ao processo ensino-aprendizagem, reconhecendo que o verdadeiro
sentido de ensinar encontra seu cerne quando se busca enxergar cada ser como único e ao
mesmo tempo total.
Palavras-chave: Arteterapia. Psicopedagogia. Educação.
8
SUMÁRIO
RESUMO
06
INTRODUÇÃO
08
CAPÍTULOI
12
1.1 Psicopedagogia
12
1.2 Arteterapia
16
CAPÍTULOII
20
2.1 Arteterapia com crianças
20
2.2 Recursos da Arteterapia
25
CAPÍTULOIII
36
3.1 Experiências em Arteterapia
36
CONSIDERAÇÕES FINAIS
42
REFERÊNCIAS
43
9
INTRODUÇÃO
“O termo Arteterapia surgiu em 1945, no primeiro livro publicado por Adrian
Hill, “Art vs Illness” (Arte versus Doença) um artista inglês, que esteve internado num
sanatório para tratar tuberculose. Durante o longo período de evolução da sua doença e
reabilitação, numa época em que os recursos para combatê-la eram escassos, ele passou o
tempo a pintar. Os médicos que o assistiam puderam observar uma aceleração na sua
recuperação e um estado geral de bem estar manifesto. Após o seu restabelecimento, eles
convidaram-no a regressar para fazer pintura com os pacientes do sanatório. Desde esses
acontecimentos a Arteterapia evoluiu significativamente, tanto do ponto de vista dos modelos
que a caracterizam das formações existentes, como dos países em que é reconhecido.
(HEMERY, 2003)
O interesse despertado pela relação entre arte e terapia já vem de longe e são
inúmeros os antecessores que se podem encontrar ao longo dos tempos. Tanto a psiquiatria do
Séc. XIX como a psicanálise do Séc. XX ficaram fascinadas com a recolha de sinais e
símbolos, independentemente de estes serem a manifestação de sintomas de quadros clínicos
ou a representação - segundo uma grelha fundamentada na interpretação - de complexos
descritos por Freud.
Segundo Freud e outros psicanalistas da época a Arteterapia é proveniente de três
correntes:
1. A teórica-prática, como expressão artística e material de diagnóstico,
semiológico e de prognóstico.
2. A pragmática, considerando a arte como instrumento terapêutico, mesmo
reduzindo-se à ocupação e distração do doente,
3. A estética, emergindo do Surrealismo e da Arte-Bruta, como descoberta quase
etnográfica de criadores considerados "fora das normas". (HEMERY, 2003)
A experiência artística pode intensificar qualquer experiência humana e
incrementar a consciencialização do sensorial e a sensibilidade estética.
10
A Arteterapia facilita a consciência e pode ser importante para promover a riqueza
interior, a vitalidade e a qualidade de vida. Imagens de transformação e mudança,
representadas nas criações artísticas, dão expressão à função reparadora no recurso do
processo terapêutico.
O universo da arte é fonte de transformações, e o sujeito criador é aquele que dá
forma ao informe. A vida tende a pulsar e várias possibilidades de compreensão da natureza
das coisas e do ser humano fazem-se iminentes. A Arteterapia caracteriza-se por possibilitar
que qualquer um entre em contato com seu próprio universo interno, com aqueles que estão a
sua volta e com o mundo.
A arte é, entre todas as atividades, a que agrega de modo mais eficiente os
aspectos racionais e criativos do ser humano.
Ao desenvolver uma atividade artística, o sujeito não só estará interferindo na
realidade, como também estará estruturando-se de forma mais adequada, saudável e eficiente.
Através das diversas manifestações artísticas, as pessoas podem se expressar de
uma forma própria e singular e superar as mais diversas barreiras da comunicação.
Utilizando-se de todas as expressões artísticas e com recursos simples e muito
eficientes a arteterapia favorece o desenvolvimento, e à superação de limitações pessoais,
buscando-se assim o aumento do repertório de habilidades, a melhor estruturação da
personalidade, o aumento do horizonte de interesses, a composição de novos objetivos e a
melhor habilidade em lidar com os seus próprios conflitos. (PORCHER,1992:13)
Muitas instituições voltadas para a inclusão social utilizam a arte, como
importante meio educacional. Onde outras metodologias falharam, a arte alcançou resultados
significativos, principalmente ao atrair espontaneamente meninos e meninas para outras
atividades educativas e sociais.
“As muralhas estéticas definiam o território fechado de certa forma de ócio
elegante. Mas esse lazer ocioso, essa utilização do tempo livre, não foi dado a todos por igual
dentro da sociedade: constituíram-se em privilégio das classes sociais favorecidas, que foram
também as classes sociais dominantes.” (PORCHER, 1982: 13)
A educação escolar deve assumir, através do ensino e da aprendizagem do
conhecimento acumulado pela humanidade, a responsabilidade de dar ao educando o
instrumento para que ele exerça uma cidadania mais consciente, crítica e participante.
Através de projeto educativo integrando todas as disciplinas é possível junto com
o professor de artes trabalhar, de forma significativa com o objetivo de atrair a atenção dos
alunos para desenvolver a aprendizagem, e recuperar sua autoimagem. Atividades simples tais
11
como a hora do conto, desenhos, interpretação oral e escrita, dramatização dos personagens,
ou seja, através de arte terapia interativa.
Neste texto, foi realizada uma pesquisa para estudar a Arteterapia no Contexto
Escolar, explorando o desenvolvimento infantil. Como hipótese, temos que a arteterapia pode
beneficiar no maior problema que encontra em sala de aula, o déficit em aprendizagem.
Considerando que a diferença entre crianças é justamente a sua capacidade de
enfrentar os problemas e as dificuldades que surgem, este trabalho se justifica, pois a arte
pode ser considerada muito importante no aprendizado infantil, auxiliando na tarefa
educativa.
A arte é uma atividade milenar, é a expressão e o registro mais antigo dos
diferentes potenciais humanos. Ao se expressar através da arte, o homem o faz por inteiro; seu
corpo, sua percepção, sua emoção, sua intuição estão presentes e atuantes, deixando a sua
marca, fazendo-se conhecer.
A Arte reestrutura a concepção de saber, que não se restringe ao lógicomatemático, mas monopoliza todos os tipos de inteligência e possibilita a busca de diferentes
maneiras de transmitir a mesma mensagem, aproveitando todas as possibilidades que o
repertório de conhecimentos e emoções do aprendente/interlocutor traz.
A Arterapia tem como principal objetivo atuar como um filtro que favorece o
processo terapêutico, de forma que o indivíduo entre em contato com conteúdos internos e,
muitas vezes inconscientes, normalmente barrados por algum motivo, assim expressando
sentimentos e atitudes até então desconhecidos. Por meio da arteterapia reagata-se a
capacidade criativa do homem, buscando a psique saudável e estimulando a autonomia e
transformação interna para reestruturação do ser.
Com a construção de um espaço criativo permite-se a expansão de novas
possibilidades criativas, organizadoras e integradoras da psique.
No âmbito da escola a arteterapia pode ser utilizada como elo de interação entre
os vários campos do conhecimento, colaborando sobremaneira na construção da
interdisciplinaridade, elaborando a comunicação entre as possibilidades e limites próprios da
ciência e a expressiva liberdade de criação da arte; fazendo ligações entre anseios gerados
pelo mundo atual com o mais remoto passado, enfim promovendo o desenvolvimento do
potencial humano através de situações que favoreçam a leitura do mundo de maneira ampla,
rica e profunda.
Assim, o objetivo geral deste trabalho é mostrar a possibilidade da aplicação da
arteterapia na sala de aula.
12
Como objetivo específico visa a analisar e investigar o comportamento infantil na
sala de aula e o que a arteterapia podem auxiliar em aula – através de um estudo que
possibilita o desenvolvimento da criança aprimorando sua auto-estima, ajudando-a a construir
sua identidade.
A metodologia utilizada para este trabalho foi a revisão bibliográfica e os
encontros semanais de ateliê arteterapêutico, dos quais selecionou- fragmentos observados
relevantes para apresentar aspectos que corroboram com a base teórica trabalhada nos
capítulos
No primeiro capítulo será apresentado um breve relato da psicopedagogia, e a
arteterapia, o que é e seus benefícios.
No segundo capítulo nota-se a arteterapia com crianças e os recursos
arteterapêuticos que podem ser utilizados no tratamento.
E no terceiro capítulo há um breve relato do estágio realizado, com os desenhos e
observações e, finalmente as considerações finais.
13
CAPÍTULO I
Neste capítulo será apresentado a psicopedagogia e psicoterapia, os seus conceitos
históricos, as suas associações e seus benefícios para a sociedade.
“A missão suprema do homem é saber o que se precisa para ser homem.”
(Immanuel Kant)
1. Psicopedagogia
Os primeiros Centros Psicopedagógicos foram fundados na Europa, em 1946, por
J Boutonier e George Mauco, com direção médica e pedagógica. Estes Centros uniam
conhecimentos da área de Psicologia, Psicanálise e Pedagogia, e tentavam readaptar crianças
com comportamentos socialmente inadequados na escola ou no lar e atender crianças com
dificuldades de aprendizagem apesar de serem inteligentes (MERY apud BOSSA, 2000: 39).
Na literatura francesa – que, como vimos, influencia as idéias sobre psicopedagogia
na Argentina (a qual, por sua vez, influencia a práxis brasileira) – encontra-se, entre
outros, os trabalhos de Janine Mery, a psicopedagoga francesa que apresenta
algumas considerações sobre o termo psicopedagogia e sobre a origem dessas idéias
na Europa, e os trabalhos de George Mauco, fundador do primeiro centro médico
psicopedagógico na França,..., onde se percebeu as primeiras tentativas de
articulação entre Medicina, Psicologia, Psicanálise e Pedagogia, na solução dos
problemas de comportamento e de aprendizagem (BOSSA, 2000: 37)
A psicopedagogia nasceu da necessidade de uma melhor compreensão do
processo de aprendizagem e se tornou uma área de estudo específica que busca conhecimento
em outros campos e cria seu próprio objeto de estudo (BOSSA, 2000: 23). Ocupa-se do
processo de aprendizagem humana: seus padrões de desenvolvimento e a influência do meio
nesse processo.
O campo de atuação da psicopedagogia em clínicas tem como objetivo
diagnosticar e tratar os sintomas emergentes no processo de aprendizagem.
O diagnóstico psicopedagógico busca investigar, pesquisar para averiguar quais
são os obstáculos que estão levando o sujeito à situação de não aprender, ou aprender com
14
lentidão (dificuldade); esclarece uma queixa do próprio sujeito, da família ou da escola.
(WEISS apud SCOZ, 1991: 94).
A Psicopedagogia surgiu de uma demanda – o problema de aprendizagem colocando num território pouco explorado, situado além dos limites da Psicologia e da própria
Pedagogia – e evoluiu devido a existência de recursos, para atender esta demanda,
constituindo-se assim, numa prática. Como se preocupa com o problema de aprendizagem,
deve ocupar-se inicialmente do processo de aprendizagem. Portanto vemos que a
psicopedagogia estuda as características da aprendizagem humana: como se aprende, como
esta aprendizagem varia evolutivamente e está condicionada por vários fatores, como se
produzem as alterações na aprendizagem, como reconhecê-las, tratá-las e preveni-las. Este
objeto de estudo, que é um sujeito a ser estudado por outro sujeito, adquire características
específicas a depender do trabalho clínico ou preventivo. (ABREU, 2004)
A distinção entre o trabalho psicopedagógico clínico e o preventivo é
fundamental. O primeiro visa buscar os obstáculos e as causas para o problema de
aprendizagem já instalado; e o segundo, estudar as condições evolutivas da aprendizagem
apontando caminhos para um aprender mais eficiente.
Vejamos a definição sobre os dois campos de atuação da psicopedagogia:
O trabalho clínico dá-se na relação entre um sujeito com sua história pessoal e
sua modalidade de aprendizagem, buscando compreender a mensagem de outro sujeito,
implícita no não - aprender. Nesse processo, onde investigador e objeto-sujeito de estudo
interagem constantemente, a própria alteração torna-se alvo de estudo da Psicopedagogia.
(ABREU, 2004)
“Isto significa que, nesta modalidade de trabalho, deve o profissional
compreender o que o sujeito aprende como aprende e porque, além de perceber a dimensão da
relação entre psicopedagogo e sujeito de forma a favorecer a aprendizagem” (BOSSA, 2000:
21).
Todo o diagnóstico psicopedagógico é, em si, uma investigação, é uma pesquisa
do que não vai bem com o sujeito em relação a uma conduta esperada. Será, portanto, o
esclarecimento de uma queixa, do próprio sujeito, da família e, na maioria das vezes, da
escola. No caso, trata-se do não aprender, do aprender com dificuldade ou lentamente, do não
revelar o que aprendeu, do fugir de situações de possível aprendizagem (WEISS, 1992: 30).
No enfoque preventivo “a instituição, enquanto espaço físico e psíquico da
aprendizagem é objeto de estudo da Psicopedagogia, uma vez que são avaliados os processos
15
didático-metodológicos e a dinâmica institucional que interferem no processo de
aprendizagem”.
No exercício clínico, o psicopedagogo deve reconhecer seu processo de
aprendizagem, seus limites, suas competências, principalmente a intrapessoal e a interpessoal,
pois seu objeto de estudo é outro sujeito, sendo essencial o conhecimento e possibilidade de
diferenciação do que é pertinente de cada um. “Essa inter-relação de sujeitos, em que uma
procura conhecer o outro naquilo que o impede de aprender, implica uma temática muito
complexa” (WEISS, 1992: 23). O psicopedagogo tem como função identificar a estrutura do
sujeito, suas transformações no tempo, influências do seu meio e seu relacionamento com o
aprender, exigindo que o psicopedagogo tenha conhecimento do processo de aprendizagem e
todas as suas interrelações com outros fatores que podem influenciá-lo, das influências
emocionais, sociais, pedagógicas e orgânicas. “Conhecer os fundamentos da Psicopedagogia
implica refletir sobre suas origens teóricas e entender como estas áreas de conhecimento
aproveitada e transformada num novo quadro teórico próprio, nascido de sementes em
comum”. (ABREU, 2004)
O campo de atuação da psicopedagogia é focado no estudo do processo de
aprendizagem, diagnóstico e tratamento dos seus obstáculos, sendo o psicopedagogo
responsável por detectar e tratar possíveis obstáculos no processo de aprendizagem; trabalhar
o processo de aprendizagem em instituições de indivíduos ou grupos e realizar processos de
orientação educacional, vocacional e ocupacional, tanto na forma individual ou em grupo.
As áreas de estudo se traduzem na observação de diferentes dimensões no
processo de aprendizagem: orgânico, cognitivo, emocional, social e pedagógico. “A
interligação desses aspectos ajudará a construir uma visão gestáltica da pluricausalidade deste
fenômeno, possibilitando uma abordagem global do sujeito em suas múltiplas facetas”
(WEISS, 1992, p. 22).
A dimensão emocional está ligada ao desenvolvimento afetivo e sua relação com
a construção do conhecimento e a expressão deste através de uma produção gráfica ou escrita.
“A psicanálise é a área que embasa esta dimensão, trata dos aspectos inconscientes envolvidos
no ato de aprender, permitindo-nos levar em conta a face desejo do sujeito”. (ABREU,
2004:20).
A dimensão social está relacionada à perspectiva da sociedade, onde estão
inseridas a família, o grupo social e a instituição de ensino. “A Psicologia Social é a área
responsável por este aspecto. Encarrega-se da constituição dos sujeitos, que responde às
relações familiares, grupais e institucionais, em condições socioculturais e econômicas
16
específicas e que contextualizam toda a aprendizagem” (ABREU, 2004: 20). Um exemplo de
sintoma do não aprender relacionado a este aspecto pode acontecer pelo fato do sujeito estar
vivendo realidades em dois grupos de ideologia e prática com muitas diferenças.
A dimensão cognitiva está relacionada ao desenvolvimento das estruturas
cognoscitivas do sujeito aplicadas em diferentes situações. No domínio desta dimensão,
devemos incluir a memória, a atenção, a percepção e outros fatores que usualmente são
classificados como fatores intelectuais. A Epistemologia e a Psicologia Genética são as áreas
de pano de fundo para este aspecto. Encarrega-se de analisar e descrever o processo
construtivo do conhecimento pelo sujeito em interação com os outros objetos. (ABREU,
2004: 20).
A dimensão pedagógica está relacionada ao conteúdo, metodologia, dinâmica de
sala de aula, técnicas educacionais e avaliações aos qual o sujeito é submetido no seu
processo de aprendizagem sistemática. A Pedagogia contribui com as diversas abordagens do
processo ensino aprendizagem, analisando-o do ponto de vista de quem ensina. (ABREU,
2004: 20).
A dimensão orgânica está relacionada à constituição biofisiológica do sujeito que
aprende. A medicina e, em especial, algumas áreas específicas contribuem para o
embasamento deste aspecto. Os fundamentos da Neurolingüística possibilitam a compreensão
dos mecanismos cerebrais que subjazem ao aprimoramento das atividades mentais. Sujeitos
com alteração nos órgãos sensoriais terão o processo de aprendizagem diferente de outros,
pois precisam desenvolver outros recursos para captar material para processar as informações.
(ABREU, 2004: 20).
A Lingüística é a área que atravessa todas as dimensões. Apresenta a compreensão
da linguagem como um dos meios que caracteriza o tipicamente humano e cultural: a língua
enquanto código disponível a todos os membros de uma sociedade e a fala como fenômeno
subjetivo, evolutivo e historiado de acesso à estrutura simbólica.
Nenhuma dessas áreas surgiu para responder especificamente a questões da
aprendizagem humana. No entanto, fornecem meios para refletirmos cientificamente e
operarmos no campo psicopedagógico.
17
2 Arteterapia
“Não se trata de interpretar uma mensagem ou de admirar sua
configuração, mas de reconstruir o caminho da pesquisa que permitiu
ao autor encontrar ao mesmo tempo, o que tinha a dizer e a maneira
de dizê-lo...” (PAIN E JARREAU, 1996: 40).
Vivemos num momento que podemos observar uma significativa mudança de
valores, produto da transformação de costume e a tentativa de relação da sensibilidade com a
razão, evoluindo para um novo tipo de cultura e conhecimento que busca a unidade. “As
relações Sociais sofrem transformações. O ser humano lentamente vem buscando uma forma
mais participativa de estar no mundo. É convidado a viver o novo, transcender seus limites,
usar sua criatividade para estar e ser no mundo”. (American Art Therapy Association, 1993).
A arte é o meio pelo qual o ser humano encontra para simbolizar sua experiência,
expressar a sua emoção e sua alma. Em todas as épocas, a arte teve a sua função e serviu para
diferentes propósitos, mas sempre revelou e destacou o homem no mundo. “A arte pode agir
para facilitar e filtrar os processos de resgate da qualidade de vida e das formas mais humanas
e sensíveis de viver, devido à sua função simbólica, que permite ao indivíduo, expressar e
perceber os significados que confere aos sentimentos em sua relação com o mundo.”
(ANDRADE, 1993: 20).
A arte é a mais antiga forma de comunicação do ser humano e toda sua beleza está
juntamente nesta sua capacidade de aproximar pessoas e atuar como instrumento de
integração e mudanças pessoais e sociais.
Ela permite ao homem expressar e, ao mesmo tempo, perceber os significados
atribuídos à sua vida, na sua eterna busca de tênue equilíbrio com meio circundante.
(ANDRADE, 1993: 03)
Assim, os trabalhos artísticos podem ser explorados em várias atividades, pois a
arte, além de socializar, permite ao homem, liberar sentimentos e emoções. (SILVEIRA,
1992) e de diferentes maneiras, através de materiais expressivos, trazendo o que a linguagem
não pode conceituar. A arte é uma forma de conhecimento humano; através dela, homens e
http://www.arttherapy.org/ - (American Art Therapy Association, 1993)
18
mulheres encontram sentido para a sua vida. A arte como terapia nos leva a nos conhecer, a
expressar os sentimentos, a formar nossa consciência (OSTROWER, 1987).
A arte é necessária ao homem, como uma forma de equilíbrio e de integração a
seu ambiente “A Arte é o meio indispensável para a união do individuo como o todo,
refletindo a infinita capacidade humana para a associação, para a circulação de experiências e
idéias” (FORTUNA 2000: 16).
A Arterapia é conceituada como um processo terapêutico decorrente da utilização de
modalidades expressivas diversas, que servem à materialização de símbolos. Estas
criações simbólicas expressam e representam níveis profundos e inconscientes da
psique, configurando um documentário que permite o confronto, no nível da
consciência, destas informações, propiciando “insights” e posterior transformação e
expansão da estrutura psíquica. Outra forma de dizer poderá ser simplesmente
terapia através da Arte. (PHILIPINI, 1994: 03)
A arterapia é uma atividade de estimulação à execução de imagens pela expressão
artística, buscando respostas nos alunos ara que possam se auto-abservar, promovendo
reflexões sobre desenvolvimento pessoal, habilidades, interesses, preocupações e conflitos
(PAIN & JARREAU, 1996).
A prática da arterapia é baseada no conhecimento sobre o desenvolvimento
humano e nas teorias psicológicas, que, aliadas no desenvolvimento histórico da arte,
possibilitam, em diversos aspectos, modelos para acessos e tratamentos educacionais,
terapêuticos, cognitivos, na resolução de problemas, na redução da ansiedade, na estimulação
de uma auto-imagem positiva. (American Art Therapy Association, 1993).
O processo terapêutico decorre da análise não só de uma, mas de uma série de
produções artísticas do indivíduo, pois se analisadas isoladamente, não permitirão
aprofundamento nas melhoras nem uma visão mais ampla da sua produção (FORTUNA,
2005).
Estas são algumas das inúmeras trilhas de entrada neste universo.
As primeiras experimentações plásticas devem oferecer facilidade operacional,
para que não sejam agravadas as já naturais defesas e resistências apresentadas no início de
qualquer processo terapêutico. As mais comuns em arteterapia são referidas, como: “Eu não
tenho jeito para isso, não sei desenhar, nem pintar, etc.” Havendo, muitas vezes, o desejo e
preocupação de apresentar um bom desempenho, pela fantasia de assim “agradar” o
arteterapeuta, de quem se imagina ter a expectativa de bom desempenho estética de seus
clientes.
http://www.arttherapy.org/ - (American Art Therapy Association, 1993)
19
As atividades iniciais devem propiciar um clima de experimentação prazerosa e
lúdica, sem exigir desempenhos complexos. Assim, uma boa possibilidade podem ser
explorações com gravuras, pois já trazem símbolos bem configurados, onde a expressão se dá
pela escolha e composição de grupamentos de imagens, o que apesar de ser tarefa simples,
sempre fornecerá mapas muito adequados de aspectos psicodinâmicos, presentes naquele
momento, na vida de cada pessoa que as organiza. Outras possibilidades interessantes são
manchas, rabiscos, papéis rasgados, uma sutil permissão para a “não-forma” uma simbólica
comunicação “você não precisa se preocupar em fazer bonito”... “do jeito que sair está
bom”...
O início do processo em desenho, por mais simples que possa aparecer, modifica
a percepção de si, confirma valores internos e estéticos esquecidos ou deixados de lado
porque não valorizados pelo meio social. É nesse processo de se reafirmar juntando partes,
construindo, fazendo um produto estético realizado com seu sentimento, sua percepção, sua
escolha, seu desejo, que acontece a possibilidade do exercício do “eu consigo”, do “eu posso”,
do “eu sou alguém”. Um caminho de aceitação de si próprio com qualidades e fragilidades,
fato que se apresenta como realidade a todos os seres humanos. (SAVIANI, 2005: 163)
Nas experimentações e configurações simbólicas emergirão dados mais
pregnantes, que para serem mais bem compreendidos deverão gradativamente ser
amplificados pelas estratégias de transposição de modalidades expressivas. Estas providências
permitem que um símbolo possa ser explorado e elaborado com múltiplos materiais e
possibilidades plásticas. Um diversificado caminho expressivo que pode passar da
configuração dos traços através do desenho, para a liberação e fluidez na composição de cores
da pintura, ou criação de volume e organização espaciais na modelagem, e inúmeros outros
formas de experimentação plástica.
Toda a produção plástica é importante para a leitura do processo de cada paciente
e bastante aproveitada pelo terapeuta. Diante das expressões plásticas, carregadas de
sentimentos e percepções, é possível trabalhar na conscientização e transformação desse ser
humano e na sua reinserção social. (SAVIANI, 2005: 163)
Este processo arteterapêutico poderá então, ser complementado pelo rastreamento
cultural dos símbolos produzidos, buscando-se registros culturais (mitológicos, religiosos,
alquímicos ou em contos e cantos), mapeando estas inserções e compreendendo os
significados coletivos para aquele símbolo pesquisado.
A transposição de linguagens expressivas poderá seguir uma gradação que
costuma variar do plano bidimensional ao plano tridimensional. Nessas transposições pode-se
20
também observar as modalidades expressivas mais e menos facilitadoras para cada indivíduo,
o que será muito útil para o desenvolvimento do trabalho plástico. Deste modo um processo
arteterapêutico constitui-se em delicada construção artesanal que resgata ativa e expande
possibilidades criativas singulares.
Nos trabalhos com grupos, em intervalos temporais curtos como em work-shop,
por exemplo, é produtivo terapeuticamente poder utilizar como continentes simbólicos, temas
ligados à exploração, expansão e transformação do processo criativo. O percurso deste
universo é ativado a partir da reflexão sobre questões como:
· Quem sou eu?
· Do que eu necessito?
· O que pretendo realizar?
· O que devo transformar?
· Qual o meu dom ou talento?
Estas, ou questões similares, funcionam como recursos auxiliares na preparação e
estruturação de um espaço criativo interno, uma tarefa essencial para permitir expressão e
produção simbólica mais fluente.
Na artetepia a interação com a pessoa com o material é um facilitador para o ato
criativo, pois, à medida que nasce a imagem concreta, abre-se uma nova relação da
pessoa consigo e com seu mundo mais intenso. O diálogo entre sujeito e objeto dáse na dialógica entre a obra e subjetividade de seu criador. (ROSSETTI, 2005:134)
21
CAPÍTULO II
Neste capítulo será apresentado a arte e arteterapia com crianças e na educação. O
brincar aprendendo.
2.1 A Arterapia com crianças
“Não eduques as crianças nas várias disciplinas recorrendo à força,
mas como se fosse um jogo, para que também possa observar melhor
qual a disposição natural de cada um.”
(PLATÃO)
A infância é uma época de descobertas, aventuras e magia para as crianças. É
nesta fase, durante a educação infantil, que elas terão seus primeiros contatos com as
linguagens da arte, cabendo ao adulto valorizar os conhecimentos e a criatividade que elas
trazem e compreender a importância existente no ato de elas explorarem, pesquisarem e
criarem coisas novas. O que realmente importa a elas é o brincar, e temos que associar a
brincadeira com o aprendizado, é esperar curiosamente pelo inesperado, estar envolvida com
o lúdico e com a possibilidade de sonhar, pois assim, ela aprende se sentindo mais realizada e
mais feliz.
O brincar e o jogar são atos indispensáveis à saúde física, emocional e intelectual
e sempre estiveram presentes em qualquer povo desde os mais remotos tempos. Através deles,
as crianças desenvolvem a linguagem, o pensamento, a socialização, a iniciativa e a autoestima, preparando-se para ser um cidadão capaz de enfrentar desafios e participar na
construção de um mundo melhor. O jogo, nas suas diversas formas, auxilia no processo
ensino-aprendizagem, tanto no desenvolvimento psicomotor, isto é, no desenvolvimento da
motricidade fina e ampla, bem como no desenvolvimento de habilidades do pensamento,
como a imaginação, a interpretação, a tomada de decisão, a criatividade, o levantamento de
hipóteses, a obtenção e organização de dados e a aplicação dos fatos e dos princípios a novas
situações que, por sua vez, acontecem quando jogamos, quando obedecemos a regras, quando
vivenciamos conflitos numa competição, etc. (CAMPOS, 2006).
22
Há um menino
Há um moleque
Morando sempre no meu coração
Toda vez que o adulto balança
Ele vem pra me dar a mão
Há um passado no meu presente
Um sol bem quente lá no meu quintal
Toda vez que a bruxa me assombra
O menino me dá a mão
E me fala de coisas bonitas
Que eu acredito
Que não deixarão de existir
Amizade, palavra, respeito
Caráter, bondade alegria e amor
Pois não posso
Não devo
Não quero
Viver como toda essa gente
Insiste em viver
E não posso aceitar sossegado
Qualquer sacanagem ser coisa normal.
Bola de meia, bola de gude
O solidário não quer solidão
Toda vez que a tristeza me alcança
O menino me dá a mão
Há um menino
Há um moleque
Morando sempre no meu coração
Toda vez que o adulto fraqueja
Ele vem pra me dar a mão. (Milton Nascimento)
23
O poema de Nilton Nascimento retrata a importância de brincar e do jogar, que
são atos indispensáveis à saúde física, emocional e intelectual e sempre estiveram presentes
em qualquer povo desde os mais remotos tempos.
Através deles, as crianças desenvolvem a linguagem, o pensamento, a
socialização, a iniciativa e a auto-estima, preparando-se para ser um cidadão capaz de
enfrentar desafios e participar na construção de um mundo melhor.
O jogo, nas suas diversas formas, auxilia no processo ensino-aprendizagem, tanto no
desenvolvimento psicomotor, isto é, no desenvolvimento da motricidade fina e
ampla, bem como no desenvolvimento de habilidades do pensamento, como a
imaginação, a interpretação, a tomada de decisão, a criatividade, o levantamento de
hipóteses, a obtenção e organização de dados e a aplicação dos fatos e dos princípios
a novas situações que, por sua vez, acontecem quando jogamos, quando obedecemos
a regras, quando vivenciamos conflitos numa competição, etc. (CAMPOS, 2006: 30)
A criança necessita brincar, jogar, criar e inventar para manter seu equilíbrio com
o mundo. A importância da inserção e utilização dos brinquedos, jogos e brincadeiras na
prática pedagógica é uma realidade que se impõe ao professor. Brinquedos não devem ser
explorados somente para lazer, mas também como elementos bastante enriquecedores para
promover a aprendizagem. Através dos jogos e brincadeiras, o educando encontra apoio para
superar suas dificuldades de aprendizagem, melhorando o seu relacionamento com o mundo.
Os professores precisam estar cientes de que a brincadeira é necessária e que traz enormes
contribuições para o desenvolvimento da habilidade de aprender e pensar. (CAMPOS, 2006)
Certos professores destacam a força do caráter pedagógico como função
primordial do brinquedo. E o jogo, o brincar aparecem como métodos e estratégias de
produzir ludicidade no ato de aprender. “A função do brincar na escola não tem sido atribuída
de forma adequada, devido às exigências dos pais, da sociedade de que as crianças estejam
sendo alfabetizadas o quanto antes, e que de certa forma gerou mudanças de objetivos das
professoras nas metodologias das aulas” (ALVES, 2002: 04).
A brincadeira é um espaço de socialização, de construção que desenvolve todos
existidos da criança. O ato de brincar não é apenas para o desenvolvimento escolar da criança
pedagogicamente, mas sim para que possa adquirir experiência de elaboração das vivencias da
realidade na construção do ser. A brincadeira implica para a criança muito mais do que um
simples ato de brincar, pois através da brincadeira ela está se comunicando com o mundo e
também está se expressando (ALVES, 2002; 04).
A escola como um espaço de encontros, deve propiciar a brincadeira como
atividade fundamental da criança, para que ela possa aprender a fazer por si mesma,
24
descobrindo limites, compartilhando prazeres, vivendo sentimentos em toda a sua intensidade.
Deve repensar sua rotina e planejamentos, ampliando o espaço do brincar com o resgate da
memória da infância e das histórias de vida dos educadores, como as lembranças dos quintais
mágicos e das ruas de seus tempos de criança.
A brincadeira e a arte são formas de experimentação de experiências, de múltiplos
movimentos e de sensações, que alicerçam a maneira do sujeito estar no mundo. Também
viabilizam o contato com as emoções pessoais e do outro, vivenciando relações sociais,
negociações e compartilhando histórias de vida. São momentos de ensinar o outro e de
aprender com ele, socializando novidades, decisões e opções, portanto um espaço de
identidade do sujeito-aprendiz.
A presença da Arte na infância proporciona um descompasso entre a produção
teórica existente e a prática pedagógica adotada por grande parte dos educadores, para os
quais as atividades desenvolvidas nas aulas de arte são tidas como um passatempo, como um
enfeite para as datas comemorativas, sem significação para a criança, por muitas vezes os
adultos não considerarem que a criança tem competência para elaborar um produto adequado.
É fundamental que o professor que atua na educação Infantil, compreenda como se dá o
processo de criação nas crianças e suas fases de desenvolvimento criador, para que possa
propiciar a oportunidade à criança de crescer por meio de suas experiências artística. Diante
desta perspectiva, a arteterapia infantil é como uma linguagem que tem estrutura e
características próprias que possibilita à criança, no processo de criação, reformular suas
idéias e construir novos conhecimentos em situações onde a imaginação, a ação, a
sensibilidade, a percepção, o pensamento e a cognição são reativados.
Podem ser desenvolvido atividades teórico-práticas que visam trabalhar o
desenvolvimento da imaginação criadora, da expressão, da sensibilidade e da
capacidade estética das crianças, buscando uma maior conscientização por parte dos
educadores acerca do processo de criação em arte na Educação Infantil (SALOMÉ,
2000: 1).
A criança, num ser global mescla suas manifestações expressivas: canta ao
desenhar, pinta o corpo ao representar, dança enquanto canta, desenha enquanto ouve
histórias, representa enquanto fala.
O desenho é para ela um campo imaginário e sonhador. Os educadores precisam
estar atentos e considerar a individualidade de cada educando, levando-se em conta a fase de
desenvolvimento do trabalho artístico de cada um. Afinal, a expressão gráfica da criança varia
com a idade, o meio, os estímulos e as vivências próprias.
25
A arteterapia pode ser utilizada como elo entre os vários campos do
conhecimento, colaborando sobremaneira na construção da interdisciplinaridade no âmbito da
escola, elaborando a comunicação entre as possibilidades e limites próprios da ciência e a
expressiva liberdade de criação da arte; fazendo ligações entre anseios gerados pelo mundo
atual com o mais remoto passado, enfim promovendo o desenvolvimento do potencial
humano através de situações que favoreçam a leitura do mundo de maneira ampla, rica e
profunda. (PILLOTTO, 2007: 30)
A educação em arte ganha crescente importância quando se pensa na formação
necessária para uma adequada inserção social, cultural e profissional do jovem
contemporâneo. Ela imprime sua marca ao demandar uma criança da aprendizagem
criadora, propositora, reflexiva e inovador. Se hoje o aluno deve ser formado para
enfrentar situações incertas e para resistir às imposições de velocidade e de
fragmentação que caracterizam a contemporaneidade, a arte pode colaborar e
muito.” (IAVELBERG, 2000: 02).
Cunha afirma que "para que as crianças tenham possibilidades de desenvolveremse na área expressiva, é imprescindível que o adulto rompa com seus próprios estereótipos”
(1999: 10).
O educador (terapeuta) tem que fazer parte do processo de descoberta da criança,
desprezando os estereótipos e abrindo a mente para novas idéias e novos materiais, não só
entendendo, mas vivenciando as linguagens da arte com a criança. Sabendo também da
importância de não somente contemplar a produção da criança, como a leitura desta produção
e de outras imagens, reforçando a idéia de ampliar as possibilidades do que é apresentado à
criança.
Mas se os estereótipos são negativos, por que eles ainda são tão presentes em
nosso cotidiano? A resposta está no fato de que a maioria das vezes os estereótipos são
basicamente os mesmos, e de tão reproduzidos e utilizados, se tornam largamente difundidos
e aceitos. Assim acontece na escola, onde se percebe que os estereótipos estão muito
presentes, muitas vezes em formas de desenhos perfeitos que enfeitam as salas, aparecendo
como pretexto de tornar o ambiente mais atraente e interessante para a criança (BRUNA
PEREIRA ALVES, 2008: s/p).1 •
Pensar em ações que possibilitem às crianças experiências com as linguagens da
arte ajudará a desenvolver a imaginação, a percepção, a intuição, a emoção e a criação.
1
Disponível em: http://www.artenaescola.org.br . Acesso em: 10 dez. 2009.
26
"A imaginação nasce do interesse, do entusiasmo, da nossa capacidade de nos
relacionar. Por isso as instituições educacionais precisam estar atentas ao currículo, propondo
ações voltadas ao interesse das crianças." Assim, é importante utilizar o lúdico, o brinquedo e
o jogo como elementos fundamentais no cotidiano das crianças, já que seu fazer criativo está
sempre ligado às suas experiências de vida visando a novas perspectivas e novas
aprendizagens. (PILLOTTO, 2007: 25)
2.2 Recursos da Arterapia
A arteterapia utiliza vários recursos em seu tratamento, como expressivos durante o
processo terapêutico. A seguir. relacionamos habilidades e atitudes a música, a dança, a
pintura, a leitura “histórias”, o desenho, a expressão; enfim tudo que é relacionado à arte.
Muitos são bastante utilizados em sala de aula e sendo considerados relevantes, citamos
alguns destes recursos, que facilita no tratamento arteterapeutico, podendo ser tomados como
critério para o processo de avaliação das crianças na arte clínica e principalmente como o
trabalho de educadores e arte terapeutas.
- A música
“A Dona Aranha subiu pela parede veio à chuva forte e a derrubou.
Já passou a chuva e o sol já vem surgindo e a Dona aranha continua a subir
Ela é Persistente e muito Obediente
“Sobe; sobe; sobe e sempre está Contente” (musica infantil brasileira)
A música é vista por muitos como a primeira das artes, tanto no que se refere à
história humana quanto à sua importância na vida de todos nós. Para as civilizações
primitivas, os sons tinham significado, o qual também estava presente em seus primitivos
instrumentos. Já para nós, ela é reconfortante e, muitas vezes, auxilia o nosso equilíbrio
emocional (CORNETET, 2005: 11).
Com as músicas a criança expressa sua alegria em seus movimentos, cria e
imagina novos elementos em seu mundo, que pode ser explorado pelo arteterapeuta ou até
mesmo educadores no ensino educacional. Também por meio da música podemos explorar
outros temas como o teatro e dança. Portanto, as atividades com música são um meio de
27
expressão e de conhecimento acessível às crianças, inclusive àquelas que apresentam
necessidades especiais, que por sinal são extremamente sensíveis. A linguagem musical é um
dos canais que desenvolve a expressão, o autoconhecimento e o equilíbrio, sendo poderoso
meio de interação social. (CORNETET, 2005: 13).
Existe a necessidade de dar conta de que vivemos em um ambiente sonoro e
rodeado de objetos também sonoros, inclusive nós mesmos! Tudo o que ouvimos é um objeto
sonoro; é ótimo brincar com as crianças sobre o que elas estão ouvindo (CORNETET,
2005:11).
“A música estimula o desenvolvimento psicomotor das crianças e adolescentes, e
cria uma rede de participação entre terapeutas e cuidadores, possibilitando experiências de
sucesso que enriquecem o ambiente de saúde”, declara Maria Eugênia musicoterapeuta da
faculdade de Medicina UFMG. 2
Vamos dançar e cantar?...
Por isso quando se inicia uma oficina psicopedagógica ou de arteterapia será
apresentada música de acordo com o momento e a característica do grupo.
A música é uma técnica de relaxamento, um processo destinado a facilitar e
promover comunicação, relacionamento, aprendizado, mobilização, expressão, organização e
outros objetivos terapêuticos relevantes, a fim de atender as necessidades físicas, emocinais,
mentais, sociais e cognitivas. A música busca desenvolver potenciais e/ou restaurar funções
da criança para que ela
alcance uma melhor qualidade de vida, através de prevenção,
reabilitação ou tratamento. (CORNETET, 2005:16).
2
Disponívem em: http://www.medicina.ufmg.br/noticias/?p=1510. Acesso em: 10 dez. 2009.
28
- A História
O Coelhinho Joca
Era uma vez quatro coelhinhos chamados: Bolinha, Mimoso, Algodãozinho e Joca. Eles
moravam com sua mãezinha, embaixo de um grande pinheiro. Dona Coelha, precisando um dia sair
para fazer compras, chamou-os e disse:
- Escutem, queridos, mamãe vai sair. Se vocês quiserem, podem dar uma voltinha, mas,
por favor, não entrem na horta do Sr. Tinoco. Seu pai teve um acidente lá e nunca mais voltou para
casa. Tenham juízo, filhotes, eu não me demoro.
Dona Coelha apanhou a sombrinha, a cesta de compra e foi à padaria. Comprou cinco
bolinhos com passas e um pão de forma. Bolinha, Mimoso e Algodãozinho, que eram muito ajuizados,
foram colher amoras. Joca, porém, que era muito desobediente, passou por debaixo da cerca e foi à
horta do Sr. Tinoco. Lá chegando, comeu alfaces, cenouras e rabanetes, até não poder mais. Sentouse para descansar um pouco. Exatamente ali, perto do canteiro dos repolhos, estava o Sr. Tinoco.
Assim que avistou o coelhinho, correu ao seu encalço, de ancinho na mão.
Joca ficou muito assustado; corria para todos os lados e não conseguia acertar a saída.
Perdeu um dos sapatos no meio dos repolhos, e o outro, perto das batatas. Cada vez ele corria mais.
De repente, ficou preso, pelo botão do casaco, numa rede que protegia as uvas. Começou a chorar
alto. Uns pardais muito bonzinhos, que voavam por ali, vieram consolá-lo.
Entretanto, o Sr. Tinoco não tinha desistido de pegá-lo. Ali veio ter, com uma enorme
peneira na mão, pretendendo com ela prender o pobre bichinho. Nesse instante, porém, Joca deu um
arranco e conseguiu desprender-se. No entanto, ficou sem o casaco e caiu em cima da caixa de
ferramentas. Levantou-se depressa, e escondeu-se dentro de uma lata grande que viu à sua frente. A
lata estava cheia de água e Joca estava muito suado; por isso, começou a sentir arrepios de frio e
pôs-se a espirrar. O Sr. Tinoco, que o havia perdido de vista, descobriu o seu esconderijo e correu
para a lata. O coelhinho, porém, foi mais ligeiro; pulou fora da lata e ocultou-se atrás de uns vasos
de plantas.
O Sr. Tinoco já estava cansado de tanto correr à procura do coelhinho, de maneira que
resolveu voltar para casa. Joca, quando percebeu que o seu perseguidor o deixara em paz, sentou-se
para descansar. Estava quase sem respiração e tremia da cabeça aos pés. Além disso, não tinha a
menor idéia de como sair dali.
Enquanto pensava na situação, apareceu um rato que carregava, na boca, alimento para
os seus filhinhos. Joca perguntou-lhe onde ficava a saída, mas ele não lhe respondeu, apenas sacudiu
a cabeça. Então o coitadinho resolveu ir andando para ver se descobria alguma coisa.
Atravessou o jardim e chegou a um tanque onde o Sr. Tinoco costumava encher as latas
de água. Ali estava sentado um gatinho, apreciando os peixinhos dourados que havia no tanque. Joca,
29
a princípio, teve vontade de dirigir-lhe a palavra, mas pensou melhor e foi andando. Seu primo, o
coelhinho Benjamim, sempre lhe contava histórias perigosas sobre gatos...
Um pouco adiante encontrou uma carrocinha. Subiu nela e olhou à volta. Lá adiante
estava o seu inimigo, o Sr. Tinoco, cuidando de um canteiro. Do lado oposto, ficava o portão. Que
alívio! Muito de mansinho, sem fazer barulho, foi ele se arrastando, até que se viu, são e salvo, perto
do pinheiro onde ficava sua casa. Estava tão cansado que se deitou ali mesmo e fechou os olhos.
Dona Coelha estava preparando o jantar. Quando o viu ali fora, assim, abatido, ficou
imaginando o que lhe teria acontecido. Ficou, porém, muito zangada quando viu que ele havia
perdido os sapatos e o casaco. Levou-o, no colo, para a cama e notou que ele estava febril.
À hora do jantar, Bolinha, Mimoso e Algodãozinho foram para a mesa, comeram
bolinhos com morangos e tomaram leite quentinho. Joca ficou na cama e tomou chá de limão.
No dia seguinte, ainda se sentia mal. “Estava tão arrependido, que prometeu à mamãe
nunca mais desobedecer-lhe e ser tão comportado quanto seus outros irmãos.”
Quando contamos uma história, nosso entusiasmo aparece não só na nossa voz e
em nosso rosto, mas o corpo fala junto, pois nos movimentamos e fazemos gestos que dizem
tanto quanto as palavras…
Das inúmeras possibilidades que se abrem a quem está interessado no discurso
poético para crianças, a mais animadora é a de que existe um manancial inesgotável
de textos em circulação nas camadas sociais mais diversas, referendado pela
passagem do tempo e portador de uma sabedoria ingênua, reveladora das
preocupações básicas do homem. Trata-se da poesia infantil de origem popular, cuja
autoria desapareceu da memória coletiva e que se transmite (ou se produz) nas
classes sociais dominadas, e espelhando seus interesses postergados. (BORDINI,
1986: 28).
Contar histórias é as mais antigas das artes; o povo assentava ao redor do fogo
para esquentar, alegrar, conversar, contar casos. Pessoas que vinham de longe de suas Pátrias
contavam e repetiam histórias para guardar suas tradições e sua língua. As histórias se
incorporam à nossa cultura. Ganharam as nossas casas através da doce voz materna, das
velhas babás, dos livros coloridos, para encantamento da criançada. E os pedagogos, sempre à
procura de técnicas e processos adequados à educação das crianças, descobriram esta “mina
de ouro” as histórias. Parte importante na vida da criança desde a mais tenra idade, a literatura
constitui alimento precioso para sua alma. É conhecendo a criança e o mistério delicioso do
seu mundo que podemos avaliar todo o valor da literatura em sua formação. A criança tem um
mundo próprio, todo seu, povoado de sonhos e fantasias. *
A história é contada visando:
30
•
Deleitar a criança;
•
Infundir o amor à beleza;
•
Desenvolver sua imaginação;
•
Desenvolver o poder da observação;
•
Ampliar as experiências;
•
Desenvolver o gosto artístico;
•
Estabelecer uma ligação interna entre o mundo da fantasia e o da realidade.
•
No sentido da língua, particularmente, as histórias:
·- enriquecem a experiência;
·- desenvolvem a capacidade de dar seqüência lógica aos fatos;
·- dão o sentido da ordem;
·- esclarecem o pensamento;
·- educam a atenção;
·- desenvolve o gosto literário;
·- fixam e ampliam o vocabulário;
·- estimulam o interesse pela leitura;
·- desenvolvem a linguagem oral e escrita.3
A utilização da técnica de contação de história possibilita expressar através do
corpo, e a atenção que nos é dada é de grande valor, pois pode se iniciar o atendimento ou as
observações a partir deste contato.
Ler histórias para crianças é poder sorrir, rir, gargalhar com as situações vividas
pelas personagens, é suscitar o imaginário, é ter curiosidade respondida em relação a tantas
perguntas, é encontrar idéias para solucionar questões. É uma possibilidade de descobrir o
mundo imenso dos conflitos, dos impasses, das soluções que todos vivemos e atravessamos
(MARSHALL, 2005: 43).
Em roda de reflexões, podemos contar sobre nossas próprias histórias e quando se
faz com o olhar de um arteterapeuta ele estará questionando sobre o que é importante e o que
você pode fazer a partir de um contexto histórico familiar.
3
Disponível em: <http: //www.botucatu.org.com.br>. Acesso em:
31
E muitas vezes quando as pessoas ouvem os seus pais e avós “proseando” e está
com um olhar de quem está sendo cuidado, se permite deixar “cair às fichas”.
É através duma história que se podem descobrir outros lugares, outros tempos,
outros jeitos de agir e de ser, outra ética, outra ótica... É ficar sabendo História,
Geografia, Filosofia, Política, Sociologia, sem precisar saber o nome disso tudo e
muito menos achar que tem cara de aula.... (ABRAMOVICH, 1995, p. 17).
Um dos principais elementos a ser alcançado é o poder de imaginação que, ao tirar
a criança do seu ambiente, permite ao espírito “trabalhar” a imaginação.
Quando se conta uma história, dentro da sala de aula o enfoque é a aprendizagem,
pode pedir para que a criança faça um desenho sobre a história contada, e a partir deste
desenho conta-se uma nova história, agora sim contando a sua própria “vida”, este método
pode ajudar a criança no aprendizado com a fala, a escrita e principalmente a leitura.
E é possível analisar a narrativa, a descrição, a criatividade, a observação do seu
mundo, entre outras possibilidades de conduta que o levará a analisar junto ao arteterapeuta o
que se está contando, e quais serão as atitudes que farão a diferença em sua vida.
As histórias são fontes maravilhosas de experiências. São meios preciosos de
ampliar o horizonte da criança e aumentar sue conhecimento em relação ao mundo que a
cerca. Mas é precioso saber usar as histórias para que dela as se alcance retirar tudo o que
podem dar à educação. Um dos principais elementos a ser alcançado é o poder de imaginação
que, tirando a criança do seu ambiente, lhe permite ao espírito “trabalhar” a imaginação. As
histórias têm como valor específico o desenvolvimento das idéias, e cada vez que elas são
contadas acrescentam às crianças novos conhecimentos. (ABRAMOVICH, 1995: 22)
“O ouvir histórias pode estimular o desenhar, o musicar, o sair, o ficar, o pensar, o
teatrar, o imaginar, o brincar, o ver o livro, o escrever, o querer ouvir de novo (a mesma
história ou outra). Afinal, tudo pode nascer dum texto!” (ABRAMOVICH, 1995: 23)
Para escolhermos uma boa história, é importante considerar que toda história deve
ter personagens (reais, imaginários, “do bem”, “do mal”), cenário (um espaço, que pode ser
cotidiano, como a rua onde moramos, ou muito especial, como o fundo do mar, ou um planeta
desconhecido), um tempo qualquer, mesmo que não esteja definido, como o eterno “Era uma
vez…”, ações encadeadas (as crianças precisam de um bom enredo, com muita ação) e um
bom desfecho ou final, que pode ser modificado conforme os narradores ou os ouvintes
quiserem.
32
- Desenhos
O estudo do desenho infantil começou no final do século XIX e de acordo com
Silva (2002) as descrições dos aspectos mais gerais e as descrições das mudanças ocorridas no
processo deste estudo parecem coincidir em autores como Kellogg (1969), Lowenfeld (1977),
Luquet (1981), Lurçat (1988), Goodnow (1979) e Merèdieu (1979). Na opinião desses
autores, como em qualquer traço da personalidade, a representação gráfica tende a integrar-se
na direção de uma gradual maturação psíquica.
... ainda segundo os autores citados, crianças a partir de seis anos já desenham de
maneira que o adulto pode facilmente reconhecer determinados objetos nas
produções gráficas infantis. Alguns aspectos dos desenhos como linha de base... o
plano deitado... e a transparência... são mencionados de forma a constituir
características universais do desenho infantil. (SILVA, 2002: 19).
Para Valladares,
O desenho como modalidade da arteterapia, objetiva a forma, a precisão, o
desenvolvimento da atenção, da concentração, da coordenação viso-motora e
espacial. Também concretiza alguns pensamentos e exercita a memória. O desenho
está relacionado ao movimento e ao reconhecimento do objeto, tendo a função
ordenadora. (2004: 25)
As crianças não desenham aquilo que veem, mas sim o que sabem a respeito dos
objetos. Então, pode-se afirmar que representam seus pensamentos, seus conhecimentos e/ou
suas interpretações sobre uma dada situação vivida ou imaginada.
“... a criança desenha para significar seu pensamento, sua imaginação, seu
conhecimento, criando um modo simbólico de objetivação de seu pensamento”. (FERREIRA,
1998:104).
Francisquetti (2005a; 2005b) explica que a leitura dos desenhos sinaliza as
palavras que não podem ou não conseguem ser ditas pelas crianças. Sendo que as aferências
de comunicação não-verbais se transformam em processo cognitivo, e são importantes de
serem comparadas em diferentes momentos para perceber as mudanças externas, como
também internas as crianças.
33
Desenho de W. 09 anos apresentado no processo terapêutico.
O desenho de W. mostra um realce cores fortes e frias como o azul “o mar”, o marrom
“na montanha e o verde “nas folhas”, ele fez um Sol bem grande, passando a impressão que
tudo será iluminado”. Foi pedido os alunos desenharem o que queriam “o que viesse com sua
imaginação”, W., apesar de ser uma criança com dificuldades de aprendizagem, troxe um
desenho com formas definidas, demonstrando bom desenvolvimento.
O objetivo não é a estética das produções, mas a recuperação da possibilidade de
cada um criar livremente e sem limites, para que através dos símbolos que vão
surgindo pouco a pouco, a pessoa possa mapear as suas limitações e ativar os seus
núcleos de energia, fortalecendo todo o seu processo de individuação do si - mesmo,
do Eu Sou. (ROTTENSTEI, 2000: 36)
- A Avaliação no Desenho
A avaliação das crianças (os alunos no contexto escolar) é realizada de maneira
comparativa entre todos os componentes de uma turma. Atribuem-se notas ou conceitos,
normalmente variando entre um valor muito baixo correspondente a vários erros e outro muito
alto, o que significa uma maioria absoluta de acertos.
34
Neste caso, as crianças são comparadas entre si e valoradas pelo número de notas
ou conceitos elevados. E por consequência, são atribuídos rótulos de bons ou de maus alunos
dependendo da evolução escolar avaliativa que cada um consegue apresentar.
Já o arterapeuta, através do desenho pode avaliar o desenvolvimento, o próprio
crescimento e evolução da criança em um determinado processo. O desenho é um instrumento
no trabalho arteterapêutico, pois o inconsciente revela-se através do simbolismo do desenho.
As imagens provenientes do inconsciente coletivo são arquetípicas e se manifestam
nos sonhos, nas fantasias, no mito e na religião. O desenho age de maneira
compensatória ou complementar em relação ao estado da criança em seu momento
na vida. [...] o símbolo possui uma influência curadora, esforçando-se por alcançar
um equilíbrio e uma totalidade. (FURTH, 2004:41)
O desenho pode ser considerado como a expressão do modo como a criança
percebe o mundo, como o compreende, oportunizando também avaliar seu processo de
maturação. Em contexto escolar, permite ver pontos que, aparentemente, o aluno não
conseguiu, ainda, construir os conceitos necessários à sua compreensão.
Existem várias maneiras de analisar e avaliar os desenhos infantis. Normalmente
eles são usados para diagnóstico das condições psico-sociais das crianças, método utilizado
tanto em consultórios quanto em várias escolas.
O que interessa é perceber se o desenho realizado por uma criança é capaz de
mostrar o caminho de sua evolução para a compreensão de conceitos físicos.
“A avaliação tem diversos efeitos sobre a aprendizagem, entre eles o de prover
informação ao professor e ao aluno sobre os progressos e os obstáculos que se encontram no
processo de sua aprendizagem, como os possíveis erros que o aluno e o professor devem
superar.” (SANTOS, 2004:988)
As pessoas que fazem parte do universo da criança e de quem ela busca respeito e
aprovação deve compreender o processo pelo qual ela passa e o que a arterapia e (educadores)
estão fazendo nesse sentido valorizando, também, seus progressos na forma de expressão.
Se esse progresso não for valorizado, a criança pode se retrair sentindo-se
inferiorizada e incapaz.
E ninguém é incapaz, todos temos capacidades e , quando somos valorizados
naquilo que sabemos, desenvolvemos cada vez mais capacidades, pois nos sentimos
autorizados a alçar vôos cada vez mais altos.
A arte utiliza o desenho como forma de expressão onde se podem definir as
dificuldades que a criança encontra dentro da sala de aula e também fora, em sem ambiente
familiar e com os amigos.
35
- A Escrita
A criança começa a demonstrar interesse por ler e escrever desde muito cedo. E
esse interesse não acontece pura e simplesmente para realizar “tarefas” de adulto, mas sim
para que ela comece a inserir-se em nossa cultura como ser que pensa e interage com o seu
meio. É claro que o interesse da criança será maior ou menor de acordo com a sua interação
com a escrita (OLIVEIRA, 2000: 57).
M.N 10 anos, desenhou seu nome com barbantes e utilizou formas de coração e borboletas.
36
No caso da aprendizagem da língua oral, os adultos que rodeiam a criança
manifestam entusiasmo quando ela faz suas primeiras tentativas para comunicar-se
oralmente (...) Todos tentam compreender o que a criança disse supondo que quis
dizer algo(...) Quando a criança faz suas primeiras tentativas para escrever, é
desqualificada de imediato porque faz ‘garatujas’. (...) Ninguém tenta compreender
o que a criança quis escrever, porque se supõe que não possa escrever nada até ter
recebido a instrução formal pertinente. (FERREIRO: 1998:34).
Atualmente, a maioria das crianças está em contato com a escrita desde cedo e nos
mais diversos momentos. Seja qual for sua classe social, a escrita se faz presente nas
necessidades de sua família: procurar um telefone na lista, fazer um bilhete, ler um livro ou
tomar um ônibus.
Considerando que a necessidade do ser humano em se comunicar, tanto oralmente
quanto por escrito, vem desde o seu nascimento e que nossa cultura letrada lhe
impõe a necessidade do uso da escrita, a escola deve estar preparada para responder
a tal necessidade, procurando conhecer como esse processo começa a acontecer e o
que fazer para proporcionar espaços para a descoberta, a troca de informações, a
elaboração de hipóteses e a evolução desse processo. (OLIVEIRA, 2000:57)
Portanto, o desafio para a escola, principalmente dos pequenos, é inovar o espaço
dedicado à alfabetização, começando pelo conhecimento de como a criança aprende a ler e
escrever, para depois pensar em currículos e atividades que respondam a essa necessidade.
37
CAPÍTULO III
3.1. Experiências em Arteterapia
Realizou-se um trabalho arteterapêutico, dentro de um estágio supervisionado do
curso de formação em Arteterapia. Este trabalho foi desenvolvido em uma escola pública, em
uma cidade do interior do Estado de São Paulo, durante seis meses, em dias alternados da
semana, no período matutino dentro da sala de aula com alunos 9 a 10 anos.
Os professores ficavam presentes em sala de aula e todos os alunos participavam.
Muitos dos alunos apresentavam dificuldades de aprendizagem incluindo déficit de atenção.
Foram aplicados recursos expressivos como o desenho, a “contação de história” e a escrita.
Numa primeira intervenção foi feita uma atividade em que se tirou fotos dos
alunos e posteriormente essa foto foi colada em um fundo, onde cada aluno usava a sua
imaginação: podiam desenhar, escrever, colar... A intenção era fazer um autorretrato, com o
objetivo era mostrar para o aluno que sua beleza é diferente e exlusiva, enfatizando a
autoestima.
Quando se tira fotos, todos se preocupam sempre com a aparência, e por isso a
arteterapeuta deve ter o cuidado de não trazer a questão da beleza, como motivo principal,
deixando os alunos mais à vontade, chamando a atenção para outros aspectos que podem
demonstar também a beleza como, por exemplo, um olhar ou um gesto.
M.A tem 9 anos, e é uma criança com problemas em sala de aula pois não
consegue seguir regras e apresenta uma personalidade agressiva, séria, brava e dizendo que já
sabe tudo o que a professora irá ensinar, consequentemente, isto atrapalha na aprendizagem.
Mas em relação ateliê arteterapêutico ele se mostra atento, responsável, disponível
para as atividades quando é solicitado.
Quando tirou a foto, M.A adotou uma postura séria, evidenciada pelos traços da
sua sombracelhas, que estão levemente levantadas, os olhos um pouco fechados e a boca com
um sorriso sério. Reconhecendo-se como forte/bonito, sério, não quis alterar sua imagem, só
colorindo-a, deixando mais belo tudo ao seu redor. (figura 1)
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Figura 1: Foto de M.A. com desenho seu ao fundo.
Contudo chama a atenção o desenho que está feito no fundo de sua foto: o sol nos
dois cantos da folha mostrando que tem um brilho dentro de si, o céu bem azul e limpo e uma
grama verde. Podemos inferir que apesar de que sua aparência séria na foto, M.A. guarda em
seu interior uma docilidade e uma alegria. São características que, se recuperadas, podem
ajudá-lo a enfrentar seus problemas. Ao longo do trabalho em classe, percebe-se que ele é
mesmo uma criança alegre e que tem anseio em aprender.
No final do ateliê arteterapêutico M.A. percebeu que é possível se colocar como
aprendente, e que se beneficiará se mudar sua postura em sala de aula, trazendo melhoras em
sua aprendizagem e também em seu convívio social e familiar.
Num segundo momento foi contada uma história.
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“Maria vai com as Outras”. (Sílvia Orloff)
Era uma vez uma ovelha chamada Maria. Aonde as outras ovelhas iam, Maria ia
também. As ovelhas iam para baixa Maria ia também. As ovelhas iam para cima, Maria ia
também. Um dia, todas as ovelhas foram para o Pólo Sul. Maria foi também. E atchim!
Maria ia sempre com as outras.
Depois todas as ovelhas foram para o deserto. Maria foi também.
- Ai que lugar quente! As ovelhas tiveram insolação. Maria teve insolação
também. Uf! Uf! Puf!
Maria ia sempre com as outras.
Um dia, todas as ovelhas resolveram comer salada de jiló.
Maria detestava jiló. Mas, como todas as ovelhas comiam jiló, Maria comia
também. Que horror!
Foi quando de repente, Maria pensou:
“Se eu não gosto de jiló, por que é que eu tenho que comer salada de jiló?”
Maria pensou, suspirou, mas continuou fazendo o que as outras faziam.
Até que as ovelhas resolveram pular do alto do Corcovado pra dentro da lagoa.
Todas as ovelhas pularam.
Pulava uma ovelha, não caía na lagoa, caía na pedra, quebrava o pé e chorava:
mé! Pulava outra ovelha, não caía na lagoa, caía na pedra e chorava: mé!
E assim quarenta duas ovelhas pularam, quebraram o pé, chorando mé, mé, mé!
Chegou a vez de Maria pular. Ela deu uma requebrada, entrou num restaurante comeu uma
feijoada.
Agora, mé, Maria vai para onde caminha seu pé.
P.A 10 anos, era uma aluna muita meiga e que prestava bastante atenção em sala
de aula, apresentava poucos problemas de comportamento, a não ser uma extrema timidez;
falava baixo e apresentava algumas dificuldades na dicção que a prejudicava no aprendizado.
P.A. fez, em seu desenho, uma ovelha pensativa cheia de perguntas para si mesma
e comendo jiló. Utilizou muito bem o espaço da folha usou cores fortes e os traços do desenho
estão bem definidos, um sol sorridente.
Na história, Maria não gostava de jiló e estava “engolindo” a salada de jiló. P.A.
também, no desenho, se coloca como a ovelha, engolindo algo que não gosta, mas tem medo
de expressar sua opinião devido a sua timidez.
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Desenho apresentado em sala de aula, por P.A 10 anos, referente ao texto da ‘Maria vai com as outras’.
Em outro ateliê arteterapêutico foi solicitado às crianças que procurassem em
revistas, e fizessem o recorte de uma imagem, que lhes chamasse a atenção.
W. 10 anos, é uma criança com problemas de aprendizagem, principalmente com
a escrita. Contudo, demonstrou em seu trabalho, que através da imagem pôde entrar em
conexão com a escrita, de uma nova maneira, pois isto aconteceu permeado pelo lúdico.
Assim, conseguiu se expressar pela escrita, demonstrando uma vontade de aprender que
ficava escondida devido a sua dificuldade. O lúdico agrega uma qualidade diferenciada ao
aprender, pois brincar é uma atividade inerente à infância.
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W. 9 anos, utilizou recortes, com figuras de crianças e ao lado escreveu um texto no qual é citado abaixo.
“Prestar atenção no que está fazendo, sem pensar se vão sujar as mãos ou as
roupas e integrar-se totalmente ao momento presente é uma qualidade infantil que nós
crescidos deveriam recuperar a cada passo de nossa caminhada.” W.
W. demonstra em sua frase a preocupação com a perfeição, à qual o adulto dá
ênfase. Ele explica que deseja ser um adulto feliz, mas não perder a inocência e a dedicação
de uma criança.
Quando aplicamos a arteterapia em sala de aula, verificamos que ela facilita e
proporciona que a criança interaja com o aprendizado. A criança gosta e sente a necessidade
de aprender, mas o aprender brincando, com o lúdico permeando, torna-se mais fácil.
Percebe-se então que a imagem foi utilizada como facilitadora, proporcionado a
tomada de consciência de que sua real dificuldade está na escrita, e que pode melhorar a partir
deste reconhecer-se. W. mostra que terá mais facilidade se o ensino for descontraído e
prazeroso.
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A arteterapia ajuda a todas as crianças, e principalmente aquelas com maiores
dificuldades de aprendizagem, pois a arteterapeuta mostra uma outra forma de aprender que
não a tradicional, tornando a aquisição de conhecimento uma tarefa significativa.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
A utilização de recursos artísticos para auxiliar o desenvolvimento de conteúdos
escolares específicos vem-se expandindo cada vez mais, com o foco do trabalho pedagógico
na aprendizagem do aluno. Os cursos de formação de professores procuram enfatizar
atividades didáticas que privilegiem a ação do aluno e, nesse sentido, atividades artísticas são
excelentes recursos, uma vez que a arte ocupa significativo espaço na formação humana.
“É necessário estar continuamente fecundado a utopia, na tentativa de responder
sempre com novo ânimo à pergunta: o que mais nos falta neste momento para a nossa
humanização?” (SURIAN et al. 1996: 15).
Neste sentido, é preciso saber interagir com o aluno e descobrir como ele aprende.
O arteterapeuta pode auxiliar o aluno que se depara com dificuldades face ao que é pedido
pela escola, em um trabalho que abarca os equilíbrios/desequilíbrios e resgata o desejo de
aprender, ajudando a promover mudanças significativas nos alunos. Cada criança é uma, e
uma vida é uma história.
Para os professores, o relacionamento com seus alunos por meio do fazer artístico,
trouxe-lhes uma nova visão em relação às habilidades que o aluno possui. Além de se ensinar
somente a ler e a escrever passou-se a conhecer melhor o aluno e suas dificuldades, de modo
que caminhos didáticos diferentes dos até então percorridos puderam ser vislumbrados,
refletindo positivamente no aproveitamento do aluno. A mediação da arte dentro do processo
pedagógico propiciou também uma aproximação mais harmônica da relação professor e
aluno.
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