CAP 20 – As teorias socialistas e o marxismo O movimento anarquista surgiu como uma reação crítica aos resultados práticos da revolução capitalista burguesa (ao individualismo, à exploração dos trabalhadores, às precárias condições de vida da maioria da população na periferia dos centros urbanos). Em contraste com essa situação, o capitalismo foi capaz de promover a riqueza das nações, o progresso industrial e o luxo consumista das classes abastadas. O capitalismo se mostrou muito eficiente para produzir riquezas, mas totalmente incompetente para distribuir essas riquezas. Os ideais do liberalismo: igualdade, fraternidade e liberdade não passaram de falsas promessas. O que se viu foi o aumento das desigualdades, da discriminação e da exploração. Para os liberais a riqueza era fruto do trabalho individual, e assim, as desigualdades sociais não poderiam ser consideradas injustas. O progresso nas grandes cidades contrastava com a crescente degradação das condições de vida dos operários. Assim como os anarquistas, no século XIX, um grupo começou a desenvolver ideias contrárias à ordem social capitalista. Esses pensadores ficaram conhecidos como socialistas. O socialismo surgiu do inconformismo com as condições sociais geradas pelo capitalismo. Os socialistas idealizaram uma sociedade mais humana e mais fraterna em que todos tivessem as mesmas condições de vida e pudessem desfrutar igualmente dos bens produzidos. Esses pensadores foram considerados utópicos, porque imaginaram cidades tão perfeitas e tão irreais que não poderiam existir em lugar algum. Também não foram capazes de demonstrar como suas ideias poderiam, concretamente, virar realidade. Contrapondo-se a essas ideias ingênuas, Karl Marx e Friedrich Engels formularam aquilo que eles viriam a chamar de socialismo científico. Para Marx deveria haver uma transformação efetiva da realidade. Essa transformação só seria efetiva com o estabelecimento de bases científicas de entendimento dos mecanismos estruturais do sistema capitalista. Uma revolução social não seria possível somente com ideias humanitárias e boas intenções, mas sim com a organização dos trabalhadores e com a consequente tomada do poder e o desmantelamento das instituições capitalistas, sobretudo com a abolição da propriedade privada. Em 1848, com o Manifesto Comunista, Marx conclamou os trabalhadores do mundo todo para formarem uma só organização com o propósito de destruir o Estado Capitalista. Embora considerem que o Estado deva ser abolido, os marxistas defendiam que antes seria necessário estabelecer o Estado proletário (Ditadura do Proletariado). As riquezas seriam distribuídas de forma equânime. Não havendo acúmulo de riquezas nem propriedade privada, desapareceriam assim as desigualdades e as injustiças sociais. A concepção marxista de Estado Para Marx, todas as formas de poder são a manifestação de um único poder que é o poder econômico. Para ele, o poder político e o poder ideológico do Estado existem apenas para garantir a dominação social dos poderosos. Rousseau afirmava que as desigualdades sociais surgiram com a posse privada da terra. A partir daquele momento, nascia a propriedade privada e a distinção entre proprietários e não-proprietários. Para Marx, essa constatação não é suficiente para explicar a origem da desigualdade entre os homens. O que diferencia socialmente os homens é o fato de que os que têm mais só têm mais porque exploram o trabalho dos outros. Para Marx, a diferença está na riqueza gerada pela exploração e apropriação do que é produzido pelo trabalho alheio. Para Marx, a riqueza não é fruto do esforço, do empenho, da habilidade, ou do talento individual das pessoas, como pensavam os liberais. A riqueza nasceu da exploração da força de trabalho alheia. As desigualdades sociais não surgiram simplesmente da posse da terra, mas da divisão social do trabalho, isto é, do fato de que aqueles que não tinham terras se viram obrigados a trabalhar para os que tinham terras. O que diferencia os homens na sociedade é que os que não possuem meios materiais de produção têm de trabalhar para os que são donos desses meios de produção. Os conflitos que existem entre os homens não são conflitos entre indivíduos, mas conflito entre grupos, ou seja, entre classes antagônicas. Segundo Marx, na sociedade capitalista existem duas classes sociais: a burguesia, formada pelos patrões e o proletariado, formada pelos empregados. Para Marx, nas sociedades primitivas, todos se beneficiavam igualmente do que era produzido por todos. Esses povos não produziam mais que o necessário para sua sobrevivência. Com a divisão social do trabalho, surgiram as primeiras classes sociais e a desigualdade entre os homens. As riquezas produzidas pelos trabalhadores, que são maioria, são apropriadas pelos patrões, que são minoria. Os que mais trabalham são os que menos ganham. A única forma de manter e garantir o domínio dos que exploram e conter a revolta dos explorados é através da força e da alienação. O Estado, para Marx, é um instrumento por meio do qual os mais ricos oprimem os mais pobres. Na verdade o Estado existe mesmo é para garantir os privilégios dos ricos e poderosos. Segundo Marx, o que deu origem ao Estado, portanto, não foi um contrato, ou nada parecido com um acordo ou um pacto voluntário, mas a imposição do poder dos mais ricos. Somente através da luta de classes, as desigualdades poderiam ser destruídas. Somente através da organização dos trabalhadores e com a tomada do poder por parte deles, poderia ser possível a instauração de uma sociedade justa, fraterna, sem antagonismos e sem desigualdades sociais.