A ARQUEOLOGIA DO SABER
1969
MICHEL FOUCAULT
ANÁLISE DO SABER COMO ARQUIVO



1 – Um arquivo é um conjunto de acontecimentos dispersos
e descontínuos, que tem história e é raro, singular,
materialidade de práticas discursivas, articuladas às
práticas institucionais, aos lugares institucionais, às
posições de sujeito, ao aparecimento histórico dos objetos
em suas condições de possibilidade.
2 – Um arquivo é formado por uma multiplicidade de
acontecimentos, heterogêneos, linhas de força que se
entrecruzam e constituem um conjunto de práticas vizinhas
e que se articulam em coexistência e imanência, a
descrever e mapear.
3 – Efetuar a crítica do documento, elaborá-lo, trabalhá-lo,
estabelecer as séries, recortá-lo, interrogar a sua
transformação em monumento.
ANÁLISE DO SABER COMO ARQUIVO



4 – Estabelecer as periodizações, distinguir os níveis
análise e descrever os procedimentos de produção
documento monumento, como uma montagem, recheada
séries entrecruzadas, de enunciados dispersos, com pontos
ruptura.
de
do
de
de
5 – Relacionado à história nova e suas preocupações com a
história acontecimento e descontínua, história problema, que
se inquieta com as defasagens, com os jogos de correlação
criados.
6 – Escolha de um corpus documental, especificação do método
de análise, delimitação de conjuntos e dos subconjuntos do
material estudado, definição dos níveis de análise e dos
elementos pertinentes, construção de um conjunto de
problemas e questões metodológicas.
ANÁLISE DO SABER COMO ARQUIVO
•
6 – Sair da análise de semelhança e do campo de identidades,
portanto, história descontínua, ou seja, sem função fundadora
de sujeito. Não há unidade de um sujeito da consciência
contínua, linear e a ser restaurada.
•
7 – Interrogar o homem como ser antropológico e o humanismo
correlato a este ente produzido, em prol da análise de
dispersão e de descontinuidade.
•
8 – Crítica à origem e à teleologia.
•
9 – Fazer uma história sem totalidades, sem continuidades.
•
10 – Tatear labirintos onde se aventurar e se livrar das
identidades. Escrever sem rostos.
AS REGULARIDADES DISCURSIVAS
•
1 – Crítica à continuidade e à tradição de origens. Não reduzir
as diferenças às raízes e origens contínuas, pelo contrário,
fazer aparecer a divergência, as lutas, as disparidades, os
cortes, as rupturas, as raridades.
•
2 – Não trabalhar na procura do gênio, nem com a noção de
obra e influência, não relacionar os discursos a uma unidade e
nem a uma biografia especial ou modelo exemplar, não
descobrir o princípio de coerência nem a semelhança de uma
explicação unitária; mas desalojar essas formas, uma análise
de acontecimentos dispersos.
•
3 – Analisar conjuntos de enunciados, ao invés do livro e da
obra. Há feixe de relações, mas não unidade e identidade. Há
um campo complexo de discursos e não um autor e sim um
entrecruzamento de discursos em posições de sujeito que falam
por uma multiplicidade de enunciados anônimos.
AS REGULARIDADES DISCURSIVAS
•
4 – Renunciar às origens secretas e as homogeneidades, as
cronologias lineares de continuidade.
•
5 – Não há oculto, nem escondido e sim dispersão concreta de
acontecimentos em irrupção, definir temporalidades dispersas,
descrever as condições de possibilidade, sair da evidência, na
análise de conjuntos de discursos falados e/ou escritos.
•
6 - Não é análise de representação, nem língua e nem sentido,
nem significado e significante.
•
7 – Não remeter todos os enunciados a uma síntese que os
unifique, todavia, pensar um espaço colateral que os articula
arbitrariamente. Descrever o espaço de coexistência e escolher
um campo empírico.
AS FORMAÇÕES DISCURSIVAS
•
•
•
•
•
•
1 - Descrever enunciados, suas datas (temporalidades
descontínuas) e espaços correlatos, mas não idênticos.
2 - Traçar a ordem do discurso. Estudar o sistema de
repartição dos objetos. Os enunciados não se relacionam
apenas a um objeto, o que implica na dispersão, os objetos são
modificados.
3 – Não há identidade entre os objetos e nem continuidade
entre eles ou de um deles, portanto, não têm essência e sim
possibilidades estratégicas.
4 - Estudar a emergência dos conceitos, o jogo de seus
aparecimentos, sem evolucionismos.
5 - Descrever as transformações, os desvios, as rupturas,
táticas diversas que constituem temas e famílias de
enunciados dispersos.
6 – Uma formação discursiva tem modalidades enunciativas,
escolhas temáticas, objetos e conceitos. As regras de formação
são condições de aparecimento, de manutenção, de
desaparecimento, de modificação e de coexistência.
A FORMAÇÃO DOS OBJETOS
•
•
•
•
1 – Fazer a história da emergência do objeto, as condições de
possibilidade
de
seu
aparecimento,
o
ponto
do
entrecruzamento de forças múltiplas em que emerge e não há
responsáveis por este aparecimento e sim, lugares
institucionais, posições de sujeitos em deslocamento, nenhum
responsável pelo aparecimento do objeto como um sujeito ou
um autor.
2 – Quais foram as regras deste aparecimento? Quais foram
suas instâncias de delimitação e suas grades de especificação?
Quais são seus limiares e descontinuidades, suas lacunas,
sistemas
de
classificação,
relações
estabelecidas
arbitrariamente?
3 – Agrupamos, reagrupamos, separamos, distinguimos,
selecionamos, juntamos, derivamos, opomos ... Por exemplo,
que relações foram constituídas entre o interrogatório judicial
e o questionário médico?
4 – Quais são as condições históricas de aparecimento deste
objeto de discurso? Ou seja, que feixe complexo de relações o
produz e difunde?
A FORMAÇÃO DOS OBJETOS




5 – Que relações foram estabelecidas entre processos
econômicos, instituições, processos sociais, subjetividades,
normas técnicas, tipos de classificação e modos de
caracterização? O que define um objeto como um campo de
exterioridade e não em uma interioridade.
6- Fazer aparecer as especificidades das relações discursivas.
7 – Pensar o próprio discurso como uma prática definida por
regras.
8 – Desfazer os laços entre as palavras e as coisas, ficar no
próprio nível da materialidade da prática em suas regras, com
as condições históricas, econômicas, sociais, institucionais,
subjetivas e raras, descontínuas de aparecimento dos objetos.
A FORMAÇÃO DAS MODALIDADES
ENUNCIATIVAS




1 – Descrever os lugares institucionais de onde fala
(assessor do UNICEF).
2- Descrever o status de quem fala (exemplo: médico,
psicólogo).
3 – Descrever as posições de sujeito (violento, sensível,
pacífico, estressada, cansada, pró-ativa, doente, saudável
...).
4 – As práticas não são expressão de uma identidade e nem
concepções/representações de um sujeito do conhecimento.
A FORMAÇÃO DOS CONCEITOS



1- Descrição das séries enunciativas, em suas disposições,
correlações de enunciados, campo em que aparecem e em
que circulam, como são utilizadas, formas de coexistência.
2- Descrição dos modos de crítica, dos comentários, dos
julgamentos, apropriações, discussões, repartições, técnicas
de escrita, procedimentos de intervenção.
3 - As regras no próprio discurso e não fora dele, para não
fazer história das mentalidades.
A FORMAÇÃO DAS ESTRATÉGIAS

1 - Descrever o campo de práticas não discursivas. Quem
ganhou o direito de falar, a autoridade para tal, quem
decide e como decide?

2- Quais são os regimes de apropriação do discurso?

3 – Quais são as maneiras de recomendar e de prescrever?

4- quais são as instituições, equipamentos sociais, técnicas,
grupos sociais, relações entre discursos estabelecidas, sem
determinações econômicas e linguísticas, sem origem e sem
fins teleológicos ...
DEFINIR O ENUNCIADO



1- Crítica ao sujeito unitária, à obra e ao autor, à
influência, ao sujeito psicológico falante.
2- Sistema de emergência dos objetos, aparecimento da
distribuição dos modos enunciativos, desenvolvimento das
escolhas estratégicas, posicionamento e dispersão dos
conceitos.
3 – O enunciado é a unidade elementar do discurso. Não
precisa de uma estrutura proposicional, não é um ato
performático, nem deriva de uma semântica ou de uma
frase. Língua diferente de enunciado. O enunciado é uma
função enunciativa.
A FUNÇÃO ENUNCIATIVA
•
1 – Do que fala? Seu tema.
•
2 - Qual é seu espaço de correlação?
•
3 – A qual referencial está ligado?
•
4 – A que objetos está ligado?
•
5 – Qual é seu campo de emergência?
•
6 – Possibilidades de aparecimento e campo de delimitação?
•
7 – Que suportes tem: Lugares e datas?
•
8 - Tem uma espessura material.
•
9- Pode ser o mesmo publicado em um papel ou em um livro.
•
10 – É colocada em campos de utilização, em redes, circula,
serve, se esquiva, é dócil ou rebelde a interesses, é apropriado
e rivalizado, se integra em operações e em estratégias.
A DESCRIÇÃO DOS ENUNCIADOS





1 – Princípio de dispersão e de repartição que se apoia em
um mesma formação discursiva.
2- O discurso é um conjunto de enunciados.
3- A análise dos enunciados é histórica com a preocupação
de marcar as lacunas, as exclusões, os limites, as
modalidades, o referencial, sem dedução linear.
4 – Procedo por círculos concêntricos, analisando a
materialidade,
recebidos,
empregados,
reutilizados,
difundidos, apropriados.
5- Uma formação discursiva está ligada a uma formação de
objetos, de conceitos, de posição subjetiva e de escolhas
estratégicas.
RARIDADE, EXTERIORIDADE E
ACÚMULO




1- A análise enunciativa tem um efeito de raridade, um
princípio de rarefação. Analisar os enunciados em sua
superfície, nenhuma interioridade e sim, descontinuidade.
2- Analisar os enunciados sem remetê-los a um cogito, pois
não importa quem fala, mas a posição de onde fala.
3 – Trata-se de uma crítica à noção de memória
antropológica, de homem como essência de uma
interioridade, de uma totalidade, de um sujeito histórico
linear, contínuo, original, fundado em uma identidade.
4- Os documentos são conservados graças a um número de
suportes técnicos materiais variados, efeitos de práticas
sociais, econômicas, políticas, culturais, sem determinismos
causais, sem uma aurora a retornar.
O APRIORI HISTÓRICO E O ARQUIVO




1- A positividade de um discurso que tem uma história, que
não é uma cultura guardada ou uma identidade.
2- O arquivo não tem o peso da tradição.
3 – A arqueologia descreve o arquivo como práticas
especificadas no elemento do arquivo.
4- A diferença é a dispersão que somos e que fazemos.
ARQUEOLOGIA, HISTÓRIA E CAMPO
INSTITUCIONAL




1- A arqueologia não trata os documentos como signos de
outra coisa, nem analisa os pensamentos, mas os próprios
discursos como práticas que obedecem à regras.
2 – A arqueologia não deve ser ordenada pela obra. Ela não
é uma psicologia, uma sociologia e uma antropologia. Ela
não visa o sujeito autor e sua obra e sim ao discurso-objeto.
3um conjunto de práticas, de decisões políticas,
encadeamentos econômicos, oscilações demográficas,
técnicas de assistência, níveis de desemprego, necessidades
de mão de obra, de uma multiplicidade de práticas não
discursivas.
4- Não trabalhar com a noção de expressão e de reflexo.
Multiplica as diferenças, trabalha com os saberes, articula
séries discursivas em sua regularidade, não se preocupa
com a verdade e o erro, com a falsidade ideologia.
DITOS E ESCRITOS II






1- Meu objeto não é a linguagem e sim o arquivo como uma
existência acumulada de discursos.
2 - Importante distinguir os níveis de análise e as
periodizações que lhe convém.
3 – O arquivo como jogo de regras e de relações do
aparecimento de objetos e não como documentos
acumulados e conservados por uma civilização.
4 - Nos livrar das categorias antropológicas do sujeito
autor e de sua obra.
5 – Não analisar os saberes como conhecimentos e ciência e
sim como racionalidades em jogo.
6 – Operar no pensamento problemático, livre do sujeito e
da continuidade da consciência.
DITOS E ESCRITOS II





7 – Tomar o discurso como prática que obedece a regras por
meio de uma análise histórica das descontinuidades, séries
descentradas, deslocadas, pensamento por diferenças
intensivas e não por identidade e semelhanças.
8 – Assinalar as singularidades dos acontecimentos. Fazer
aparecer diferentes estratos de acontecimentos. Uma
história serial sem busca de causas e sentidos.
9 – Ou seja, a história como um emaranhado de séries
sobrepostas, descontinuidades entrecruzadas.
10 – A história é uma multiplicidade de tempos e não uma
duração.
11 – Abandonar a metáfora biológica da vida para sair da
noção de evolução e de organismo em desenvolvimento
linear.
A ORDEM DO DISCURSO



1 – 1970 – AULA INAUGURAL NO COLLÈGE DE
FRANCE, EM 02 DE DEZEMBRO.
2 - O discurso é uma instituição sem começos solenes. Tem
e é materialidade, fruto de lutas, de perigos, de tensões, de
disputas.
3 – É selecionado, controlado, regrado, ligado a ferimentos,
vitórias e derrotas, direito autorizado de ser usado e falado.
O discurso não traduz nada, é aquilo pelo que se luta, está
ligado a uma rede de saberes e de instituições nas quais
circula, é difundido e repartido, celebrado ou criticado,
recortado e apropriado.
A ORDEM DO DISCURSO



4 – Há uma vontade de verdade, na sociedade atual,
sustentada por práticas, instituições, editoras, bibliotecas,
livros, laboratórios, sociedades, laboratórios, sistemas de
educação, de repartição e de distribuição.
5 – Ligado a práticas morais, a preceitos, receitas,
recomendações, a sistemas de controle.
6 – O comentário é destes procedimentos, que forja uma
repetição, um desnivelamento. Ora, ao invés de afirmar o
comentário, apontar o acaso, a raridade, a dispersão dos
acontecimentos.
A ORDEM DO DISCURSO




7 – Criticar o princípio do autor, trabalhar com a análise da
rarefação do discurso. Interrogar a unidade, a biografia, a
identidade.
8 – Problematizar as disciplinas, com suas proposições
verdadeiras e falsas. Sair da polícia discursiva, do controle
discursivo da disciplina e de seu sistema de coerção.
9 – Questionar as sociedades dos discursos, os exercícios de
memória e rituais de verdade formulados por eles. Colocar
em xeque os segredos de divulgação, as doutrinas, no
campo do controle de heresias e de ortodoxias.
10 – Trabalhar com a descontinuidade, coma inversão
(raridade),
com
a
especificidade,
exterioridade,
acontecimentos dispersos, com o acaso e a materialidade.
Download

a arqueologia do saber 1969 michel foucault