Junho de 2013
Carta do Gestor
Em junho, os mercados financeiros internacionais reagiram fortemente aos desdobramentos em torno da política de
estímulos que tem sido implementada pelo FED (Federal Reserve, o banco central americano).
A entrevista dada pelo presidente do FED em maio, indicando que a direção dos estímulos estava mais para uma
retirada gradual do que para um aumento, começou a trazer impactos mais fortes nos ativos ao redor do mundo.
Embora indicadores antecedentes da economia americana estivessem dando sinais contrários no início do mês
(indicadores relacionados a manufaturas no menor nível em 4 anos e indicadores relativos a confiança do
consumidor nas máximas de 6 anos), vimos o início de um movimento síncrono de retirada de recursos de renda
fixa ao redor do mundo, além de uma forte correção na curva de juros americana. Com esses movimentos, tivemos
2 efeitos principais: uma forte desvalorização cambial e um aumento da curva de juros nos países emergentes
(além de outros efeitos, dependendo do país). Na Europa, presenciamos um aumento da curva de juros dos países
periféricos. Nos EUA, ficou ainda mais explícito o aumento da taxa real de juros (fruto do aumento da curva de juros
sem um respectivo aumento das expectativas de inflação), que é pró-valorização do dólar.
Na reunião de junho, o presidente do FED foi bastante claro: “se os próximos dados econômicos forem amplamente
consistentes com a nossa previsão, o comitê prevê que seria apropriado moderar o ritmo mensal de compras no
final deste ano; e se os dados subseqüentes permanecerem amplamente alinhados com nossas expectativas atuais
da economia, nós continuaríamos a redução do ritmo de compras a passos definidos ao longo do primeiro semestre
do próximo ano, encerrando as compras ao redor do meio do ano”.
Ou seja, o FED tornou público os prazos e, de certa forma, a velocidade para a retirada dos estímulos através de
compras de ativos, embora ele tenha deixado claro que pode retardar o movimento se as condições econômicas
piorarem. Por que elas poderiam piorar? Fruto do aumento de juros real (impacto no mercado imobiliário, por
exemplo) e conseqüente valorização do dólar (impacto via exportações).
Interessante notar que, como a curva de juros americana é base para precificação da maioria dos ativos de risco, o
dinheiro ao redor do mundo começa a ficar mais caro.
E o que aconteceu após essa reunião? Um resgate massivo em fundos de renda fixa, mostrando que, embora não
tenha se falado de aumento de juros, a redução dos estímulos está sendo considerada como o início de uma
jornada até o aumento. Entretanto, no final do mês, o PIB americano do 1º trimestre foi revisado para baixo,
mostrando que a recuperação ainda não está a todo vapor.
Na China, o principal impacto desse movimento de saída de recursos da renda fixa foi sentido no mercado
interbancário local. O PBoC (The People´s Bank of China, o banco central chinês), que vinha enxugando a liquidez
no mercado, rapidamente inverteu a mão (dando liquidez ao mercado).
Dada essa falta de liquidez, o governo não conseguiu vender títulos no nível que queria pela 1ª vez em 2 anos,
assim como algumas entidades do governo também não conseguiram ou deixaram de trazer ofertas ao mercado.
Interessante que, em vez de prover liquidez de forma sistemática, como uma redução de compulsório faria, o PBoC
tomou a decisão de injetar liquidez somente em players importantes e que estivessem passando por problemas
pontuais de liquidez.
Mas por quê essa decisão? O PBoC aproveitou esse movimento de saída de recursos do sistema interbancário
para enfraquecer o sistema de financiamento paralelo, conhecido por shadow banking. Ao final do mês, as
condições de crédito voltaram a se normalizar.
No Japão, continuou a desconfiança com relação à sustentabilidade do programa de estímulos realizado pelo BoJ
(Bank of Japan, o banco central japonês). Observamos muita volatilidade durante o mês por conta da espera de
mais estímulos concretos, que acabou não ocorrendo. E com o movimento americano acima descrito, as vendas
de ativos de renda fixa estrangeiros no Japão permaneceram durante todo o mês levando a expressiva valorização
do yen.
Já na Europa, por conta da recuperação que a economia vem apresentando, confirmada pelos indicadores
antecedentes de junho, o ECB (European Central Bank, o banco central europeu) tem passado a mensagem que,
medidas não convencionais, como o financiamento direto para pequenas e médias empresas, não são iminentes,
mas sim propostas de mais médio e longo prazo. Fortalecer o balanço dos bancos de cada país é o foco atual.
Além disso, o ECB relatou que a política monetária dá sinais de que voltou a ter capacidade de manobra, algo
perdido desde meados de 2012, cujo retorno é de extrema importância.
Em contrapartida ao movimento do FED, o presidente do ECB reiterou o atual status acomodatício da política
monetária. Entretanto, o BIS (Bank of International Settlements, conhecido como o banco central dos bancos
centrais) pediu para que os bancos centrais reavaliassem seus respectivos programas de estímulo, uma vez que os
mesmos estão gerando diversos desequilíbrios.
Continua em pauta a discussão sobre a possibilidade de o ECB supervisionar os bancos da região, porém ficou
determinado que isso não ocorrerá antes do final de 2014. Também ficou decidido que o ESM (European Stability
Mechanism), um dos mecanismos criados para ajudar na liquidez da zona do euro, poderá fazer injeções de capital
diretamente nos bancos, desde que sigam regras pré-estipuladas.
No Brasil, tanto o câmbio quanto a curva de juros sofreram forte impacto das decisões do FED. Enquanto isso, o
BCB (Banco Central do Brasil) reverteu algumas das medidas criadas na época em que o real se apreciava, fruto
do excesso de liquidez mundial (a conhecida guerra cambial). Também ofertou volume considerável de swaps
cambiais.
No caso da curva de juros, parte do movimento recrudesceu. Já no caso do dólar não, devido à nossa condição no
balanço de pagamentos (ver carta mensal passada).
Em termos de crescimento, para uma economia que já vinha dando sinais de desaceleração na margem conforme
temos comentado sobre os indicadores antecedentes, esses 2 movimentos são bastante prejudiciais. O caso do
câmbio é mais impactante por conta da inflação, inclusive com grandes chances de atrapalhar a tão esperada
desinflação de alimentos no IPCA.
Em suma, o movimento externo tem ditado os preços dos ativos, trazendo à tona dificuldades e desequilíbrios de
diversos países, como é o nosso caso. Para o Brasil, aumento de juros, desvalorização cambial e uma postura
fiscal mais ortodoxa são ingredientes adicionais à desaceleração do crescimento econômico. A magnitude desse
movimento e seus impactos sobre emprego e conseqüente efeitos políticos são os pontos que merecem maior
atenção dos investidores.
Atenciosamente,
Equipe Duna Asset Management
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