ID: 51307827 13-12-2013 Tiragem: 15000 Pág: 33 País: Portugal Cores: Cor Period.: Semanal Área: 20,29 x 16,29 cm² Âmbito: Economia, Negócios e. Corte: 1 de 1 DIOGO SERRAS LOPES Diretor de Investimentos, Banco Best 2014: o ano do regresso à normalidade 2013 está prestes a terminar e, embora nunca se possa assumir nada como certo nos mercados financeiros, este parece confirmar-se como um bom ano para os ativos de maior risco, principalmente para as ações. Atualmente os principais índices norteamericanos registam valorizações superiores a 20% desde o início do ano, com destaque para o Nasdaq 100, que sobe à data de 10 de dezembro mais de 34%. Os principais mercados europeus registam ganhos que, sendo mais modestos, não deixam, ainda assim, de ser bastante consideráveis. O Eurostoxx50 sobe um pouco mais de 12%, sendo o alemão DAX 30 a registar a melhor performance: 20.1% desde 31 de dezembro de 2012. É de notar que as performances dos mercados de países desenvolvidos não têm correspondência com os principais mercados emergentes. De facto, dos famosos BRIC – Brasil, Rússia, Índia e China, apenas a Índia apresenta uma valorização desde o início do ano. Tanto Brasil como Rússia estão do lado dos piores mercados deste ano, o primeiro a braços com uma performance de matérias-primas que não acompanhou os mercados acionistas globais e uma economia que teima em desiludir em termos de crescimento económico e o segundo muito afetado, como sempre, pela evolução do preço do petróleo e derivados, a que está especialmente exposto. 2013 fica assim marcado por duas claras divergências de performance, que não tinham sido visíveis nos dois anos anteriores: a que referimos anteriormente (mercados desenvolvidos versus mercados emergentes) e também uma performance muito superior nos mercados acionistas face aos mercados de obrigações governamentais. Claro que por detrás destes movimentos está o receio relativamente à política monetária norteamericana, ou melhor, relativamente à mudança que tem vindo a ser antecipada desde maio deste ano. Na sequência da crise financeira global de 2008, a Reserva Federal dos EUA (Fed) optou por medidas não convencionais de política monetária, para além da usual fixação da taxa de juro de referência. Em programas sucessivos de quantitative easing (estamos atualmente no 3º), a Fed decidiu intervir diretamente no mercado através da compra de obrigações governamentais – e, mais tarde, de obrigações hipotecárias – sem um mecanismo de esterilização da liquidez. Esta ação tem dois efeitos essenciais. Em primeiro lugar, confere liquidez ao mercado, dado que troca títulos por dinheiro emitido pelo banco central. E em segundo lugar tende a baixar as taxas de juro, particularmente nos prazos mais longos que usualmente são comprados, ao aumentar de forma significativa a procura por estes títulos. O objetivo é criar um ciclo virtuoso na economia, através do estímulo ao investimento por as taxas de juro serem mais baixas e, simultaneamente, inflacionar o preço dos ativos nos diversos mercados financeiros, dado que não só a avaliação destes depende da taxa de juro de referência, como também existe um excesso de liquidez que tem de ser aplicado em algum lado. Esta subida dos mercados contribui ainda para o chamado efeito riqueza, que se explica por uma maior propensão ao consumo dos agentes económicos, derivada da sensação de o património financeiro destes registar um crescimento. O quantitative easing, sendo uma medida excecional, não é suposto durar para sempre. Em teoria, tem, aliás, riscos de gerar tensões inflacionistas, dado que a massa monetária está a ser aumentada sem um aumento da economia real que o justifique. É assim apenas lógico que a FED esteja a considerar a forma de saída deste tipo de atuação, sendo que essa saída ocorrerá quando o banco central norteamericano se sinta suficientemente confortável com o desempenho da economia dos EUA para acreditar que esta já não precisa deste estímulo. O tema do processo de saída do atual programa de quantitative easing tem vindo a ser amplamente discutido e, como tal, deverá estar pelo menos parcialmente antecipado pelos mercados. Ainda assim, mais que não seja em termos de fluxos de liquidez, é um tema que certamente dominará tanto o final deste ano, como o início de 2014. O regresso à normalidade, em termos de política monetária é, assim, tão bem-vindo como temido.