Universidade Federal do Rio de Janeiro Faculdade de Medicina Departamento de Medicina/Saúde Mental Disciplina de Saúde Mental - MCM 481 TRANSTORNOS MENTAIS ORGÂNICOS Prof. Esther Gonzaga Spiler O envelhecimento normal Lentificação psicomotora e diminuição dos reflexos motores Diminuição da velocidade de processamento de informações Pode haver dificuldade de codificar novas informações (compreensão e aprendizado) Hipomnesia que não afeta significativamente a funcionalidade Dificuldade de lidar com mudanças na rotina diária Demências Deterioração cognitiva global na ausência de diminuição do nível de consciência Comprometimento da memória recente e remota, pensamento abstrato, funções corticais superiores e capacidade de julgamento Decorrente de lesão ou disfunção cerebral Interfere na funcionalidade global Diagnóstico clínico Demências Primárias: a principal manifestação clínica é a síndrome demencial Secundárias: distúrbios tóxico-metabólicos secundários a doenças sistêmicas (desnutrição, cerebrovasculares, cardíacas, hepáticas, renais, endócrinas, infecciosas, hidrocefalia, tumores, TCE) ou à ação de drogas sobre o SNC (cannabis?, benzodiazepínicos?, anticolinérgicos, hipnóticos, antipsicóticos, antiepiléticos, álcool, metais pesados...) Demências Primárias Doença de Alzheimer Doença de Pick (frontotemporal) Doença dos corpúsculos de Lewy Sinais motores em Demências Primárias Doença de Parkinson: bradicinesia, rigidez, tremor, instabilidade postural e alterações de marcha Paralisia Supranuclear Progressiva: alteração da motricidade ocular extrínseca Doença de Huntington: movimentos coréicos Ataxias espinocerebelares: síndrome cerebelar Investigação diagnóstica •Mini Exame do estado Mental (Mini-Mental) •Testagem neuropsicológica •RNM de crânio / TC / SPECT / PET •ECG e EEG Exames laboratoriais: Vitamina B12 e folato Hemograma completo Pesquisa de substâncias Uréia e creatinina Na, K, Ca, P Eletroforese de proteínas VHS Enzimas hepáticas Sorologia Sífilis e HIV TSH e T4 livre LCR (Sífilis e AIDS) Glicemia jejum EAS Teste do Relógio Doença de Alzheimer Descrita por Alois Alzheimer em 1907 Principal causa de demência (50% dos casos) Mais prevalente no sexo feminino, portadores de Síndrome de Down e pessoas com histórico familiar (genética) Doença degenerativa que compromete o córtex cerebral (atrofia, alargamento dos sulcos fissuras e dilatação ventricular) e áreas subcorticais Após os 65 anos, a prevalência dobra a cada 5 anos Doença de Alzheimer Etiopatogenia envolve o sistema colinérgico Histopatologia: presença de agrupamentos neurofibrilares no citoplasma dos neurônios (com deposição da proteína “tau” que causa morte neuronal), placas senis (depósitos extracelulares de neurônios em degeneração), neurites, processo glial e acúmulo de proteína beta-amilóide (rica em sílica e alumínio) nas placas senis e vasos sanguíneos Depressão pode abrir o quadro demencial Doença de Alzheimer Estágio inicial: insidioso e progressivo Deterioração da memória, dificuldade de concentração, fadiga, alteração da personalidade, dificuldade de encontrar palavras para se expressar Dissimulação dos déficits cognitivos Doença de Alzheimer Estágio moderado: dificuldades nas atividades de rotina, desorientação temporoespacial, sintomas neurológicos focais (disartria, crises convulsivas, ...), afasia, ecolalia, vocabulário pobre e pensamento concreto Apraxia, agnosia, acalculia, agrafia Alteração do comportamento, apatia, agitação, agressividade, puerilidade, labilidade afetiva, irritabilidade e até psicose Doença de Alzheimer Estágio avançado: todas as funções intelectuais ficam muito comprometidas Não identifica os familiares A personalidade é devastada Discurso incompreensível Ataxia de marcha, paresia e hipertonia muscular graves, com incontinência urinária e fecal Maior risco de Delirium Doença de Alzheimer Tratamento: Exercícios físicos Orientação familiar e apoio psicossocial Terapia Ocupacional (memória, adaptação funcional,...) Terapia Cognitivo-comportamental Farmacoterapia (inibidores da acetilcolinesterase): Donepezila (5-10mg/dia) Galantamina (8-12mg 2x/dia) Rivastigmina (3-6mg 2x/dia) Demência dos corpúsculos de Lewy 20% dos casos, maior risco em homens Inclusões citoplasmáticas eosinofílicas positivas para a proteína alfa-sinucleína (também presente na D. de Parkinson) nas áreas neocorticais e límbicas e no tronco encefálico Degeneração da substância negra estriatal Início entre 50-80 anos (principalmente aos 75 anos), podendo não afetar memória nesse estágio Afeta a aquisição e consolidação de informações (Alzheimer prejuízo na recuperação) Demência dos corpúsculos de Lewy Déficits importantes na função executiva, fluência verbal e nos testes visuoespaciais (relógio, desenho) Déficits cognitivos oscilantes com episódios de delirium, alucinações visuais e sintomas extrapiramidais (rigidez muscular, lentificação psicomotora,...) que aparecem menos de 1 ano antes da demência Podem ocorrer síncopes, quedas repetitivas Risco aumentado para Sd. Neuroléptica Maligna Curso oscilante, rápido e progressivo Demência dos corpúsculos de Lewy Tratamento: Inibidores da acetilcolinesterase Antipsicóticos de segunda geração para tratar a psicose Doença de Pick (demência fronto-temporal) Atrofia da região fronto-temporal Início insidioso entre 50-60 anos com alterações comportamentais e de personalidade precoces: Desinibição, perda da autocrítica e do senso ético-moral, transgressões sexuais e das normas de conduta social, negligência com a higiene Afeto superficial, pueril ou jocoso, apatia e hipopragmatismo Empobrecimento do vocabulário, afasia nominal Evolui com hipomnesia Final: deterioração intelectual e da personalidade Demência Vascular 20% dos casos de demência Maior incidência em homens Causada por doença arteriosclerótica em vasos de médio e grande calibres (principalmente carótida) Fatores de risco: >60 anos, DM, HAS, tabagismo, IAM, colagenoses, vasculites, fibrilação atrial, febre reumática, dislipidemia,... Início abrupto e evolução gradativa Estado mental pode oscilar e pode ocorrer delirium Tratamento da doença de base e vasodilatadores cerebrais Delirium Rebaixamento do nível de consciência e da atenção acompanhados de déficit cognitivo que não pode ser explicado por demência preexistente Início abrupto O quadro clínico flutua durante o dia A causa básica SEMPRE é uma doença orgânica Sinal de mau prognóstico Hiperativo Hipoativo Misto Delirium 11-25% em pacientes idosos 29-31% em idosos internados em hospitais Causas: Vulnerabilidade: demência (22-89%), desnutrição, idosos, múltiplas comorbidades, uso de subst psicoat. Precipitantes: infecções, uso de cateter vesical, polifarmácia (BZD, opióides, anti-histamínicos, dihidropiridinas, anticolinérgicos), dor, hipertermia, alt. glicemia, desidratação, trauma, SNC, drogas ilícitas, abstinência, função hepát/renal/tireóide, IAM, ICC, O2, CO2, choque, cirurgia, encef. Wernicke (ataxia, oftalmoplegia e confusão mental)