Gerardo Maria de Araújo Filho Médico Psiquiatra Mestre, Doutor e Pós-Doutor em Neurociências pela UNIFESP Professor Afiliado do Departamento de Psiquiatria - UNIFESP Professor do Departamento de Psiquiatria e Psicologia Médica - FAMERP Envelhecimento populacional: tendência mundial Composto por vários fatores: ◦ Aumento da expectativa de vida (melhora das condições de vida) ◦ Diminuição da taxa de fecundidade Século XIX: ◦ Expectativa de vida: 40 anos ◦ % jovens: 45% ◦ % idosos: 3% Século XXI (2020): ◦ Expectativa de vida: 73 anos ◦ % jovens: 20% ◦ % idosos: 10% 2050: 18% (38 milhões de pessoas) Transição epidemiológica ◦ Modificação dos padrões de morbidade e mortalidade da população de uma região ◦ Depende da melhora das condições sócio-econômicas e do aumento da longevidade ◦ Doenças infecto-parasitárias: 45% dos óbitos (1930) para 5% (2000) ◦ Doenças crônicas (aparelho circulatório e neoplasias): 40% dos óbitos (2000) Brasil: ◦ Plena transição epidemiológica ◦ Áreas com melhores condições sócio-econômicas: doenças crônicas ◦ Áreas com piores condições sócio-econômicas : doenças infecto-parasitárias Idosos: população de risco (saúde) Mais: ◦ Doenças crônicas (HAS, DM, Ico, Neoplasias) – “transição epidemiológica” ◦ Dependência para atividades cotidianas (tomar banho, vestir-se, alimentar-se) ◦ Instabilidade óssea e muscular ◦ Quedas Menos: ◦ Acuidade visual ◦ Mobilidade ◦ Resistência física Área de crescente interesse Permanecem pouco estudados Compreendem vários transtornos, de graus variados de intensidade Estão entre as condições mais comumente associadas ao envelhecimento Prevalência geral de 25 a 30% para o aparecimento de um transtorno neuropsiquiátrico a partir dos 60 anos Freqüência aumenta com a idade (acima dos 80 anos: 60%) Tipos: ◦ Sintomas reativos ao próprio processo de envelhecimento ◦ Transtornos Psiquiátricos (primários) ◦ Sintomas/Transtornos psiquiátricos secundários a uma condição médica ◦ Sintomas/Transtornos psiquiátricos induzidos por substâncias ◦ Sintomas/Transtornos psiquiátricos secundários a um quadro demencial Gerardo Maria de Araújo Filho Mestre e Doutor em Neurociências pela UNIFESP Professor Afiliado do Departamento de Psiquiatria da UNIFESP Definição: ◦ Perda de memória ◦ Perda de pelo menos mais uma função cognitiva superior: Orientação temporal e espacial Atenção Raciocínio lógico Funções executivas (capacidade de se organizar para realizar tarefas) o Capacidade de leitura e cálculo o Pensamento abstrato o Habilidades visuoespaciais o o o o ◦ Importante impacto funcional na vida do paciente Uma das principais consequências do envelhecimento da população Área tem recebido atenção crescente nas últimas décadas, sendo tema de crescentes estudos e pesquisas Deve ser diferenciada do declínio cognitivo (perda de memória normal para a idade) Área de atuação multidisciplinar ◦ ◦ ◦ ◦ ◦ ◦ Médicos (geriatra, neurologista, psiquiatra) Enfermagem Psicólogos Terapeutas Ocupacionais Nutricionistas Assistentes sociais Prevalência de cerca de 7% entre os idosos > 65 anos (Herrera Jr et al., 2002) Prevalência DOBRA a cada 5 anos Pode ser classificada de várias formas ◦ Reversíveis (vitamina B12, hipotireoidismo) ou irreversíveis (D. Alzheimer) ◦ De início precoce (< 65 anos) ou tardio ( >75 anos) ◦ Degenerativas (D. Alzheimer) ou não-degenerativas (D. vascular) Principais tipos: ◦ ◦ ◦ ◦ Doença de Alzheimer (60%) Demência Vascular (15%) Demência Mista (15%) Outras (10%): D. Parkinson, DFT, D. corpúsculos de Lewy, Def. vitamina B12, hipotireoidismo, neurolues. Alois Alzheimer (1907): Descrição pela primeira vez de um caso de uma mulher de 51 anos que evoluiu com demência progressiva em quatro anos e meio Realizado exame neuropatológico, sendo descritas as lesões encontradas Posteriormente essa condição foi descrita em outros pacientes, até ser denominada de demência do tipo Alzheimer, em homenagem a quem primeiramente a descreveu Causa mais comum de demência degenerativa Incidência aumenta com a maior longevidade da população (dobra a cada 5 anos) EUA: Prevalência de 10 a 15% entre os idosos com mais de 65 anos Prevalência de 20% a 30% entre os idosos com mais de 80 anos Responsável por 50 a 60% de todos os casos de demência Grande custo para a sociedade (em 2030, um custo de aproximadamente 15 bilhões de dólares para o tratamento é estimado) Caracteriza-se pela evolução lenta e progressiva de déficits cognitivos múltiplos Maioria dos casos está associada a com destruição de tecido cerebral Condição considerada rara até 1975, quando houve um importante aumento de trabalhos na literatura a seu respeito Embora os problemas de memória dominem os primeiros estágios da doença, ela afeta também a cognição, o humor e o comportamento. Pacientes tornam-se incapazes de realizar atividades diárias normais Provável componente genético (40% dos pacientes têm história familiar Possível desequilíbrio entre dano e reparo neuronal Neuropatologia – achados microscópicos: placas senis, emaranhados neurofibrilares e grande perda neuronal Papel da proteína precussora do amilóide (cromossomo 21) ainda em pesquisa Ajuda da engenharia genética na busca da causa para a doença Grande perda de neurotransmissores acetilcolina e noradrenalina: sintomas cognitivos Critérios diagnósticos do DSM-IV para demência do tipo Alzheimer: A. Tanto (1) quanto (2): ◦ (1) Comprometimento da memória ◦ (2) Uma ou mais das seguintes perturbações cognitivas: o (a) afasia (perturbação da linguagem) o (b) apraxia (capacidade prejudicada de executar atividades motoras, apesar de um funcionamento motor intacto) o (c) agnosia (incapacidade de reconhecer ou identificar objetos, apesar de um funcionamento sensorial intacto) o (d) perturbação no funcionamento executivo (planejamento, organização, seqüenciamento, abstração) B. Os déficits cognitivos causam comprometimento significativo do funcionamento social ou ocupacional e representam um declínio significativo em relação a um nível anteriormente superior de funcionamento C. O curso caracteriza-se por um início gradual e um declínio cognitivo contínuo D. Os déficits cognitivos não têm uma melhor explicação em: (1) Outras condições neurológicas como doença cerebrovascular, doença de Parkinson, doença de Huntington, hematoma subdural, hidrocefalia de pressão normal, tumor cerebral, (2) outras doenças clínicas como hipotireoidismo, deficiências vitamínicas, neurossífilis, infecção com HIV ou condições induzidas por substâncias E. Os déficits não ocorrem exclusivamente durante o curso de um delirium F. A perturbação não é mais bem explicada pela presença de um outro transtorno do Eixo I (p. ex., Transtorno Depressivo Maior, Esquizofrenia) Codificar se: (1) com presença de perturbação do comportamento (2) com ausência de perturbação do comportamento Especificar se: (1) início precoce: < 65 anos de idade (2) início tardio: > 65 anos de idade Manifestações comportamentais: ◦ ◦ ◦ ◦ ◦ ◦ ◦ ◦ Acessos de raiva Gritos Delírios Alucinações (visuais) Agitação psicomotora Insônia Alterações na personalidade Depressão e apatia Prevalência de sintomas comportamentais é bastante variável, porém: ◦ Aumenta com o avançar da doença ◦ Estágios terminais: até 90% apresentam pelo menos um sintoma comportamental Uma rigorosa atenção deve ser concedida a outras doenças que também causam déficit cognitivo no idoso Várias condições clínicas e neurológicas devem ser ponderadas e excluídas Outras causas de demência devem ser afastadas Necessidade de exames laboratoriais e de neuroimagem ◦ Exames laboratoriais o Hemograma completo o Coagulograma o Glicemia de jejum o Testes de função tireoidiana o Dosagens vitamínicas (principalmente vitamina B-12) o Eletrólitos o Função Renal (uréia, creatinina) o Função Hepática (transaminases, albumina) o LCR ◦ Exames de imagem Tomografia Computadorizada de Crânio Ressonância Nuclear Magnética de Crânio SPECT de crânio (se há suspeita de demência fronto-temporal) Pelo menos um exame de imagem é necessário (afastar principalmente tumores cerebrais e hematomas) ◦ Testagem psicológica Importante ferramenta no diagnóstico de demência Há instrumentos de screening e outros mais sofisticados Screening: Mini-mental, teste do relógio, testes de fluência verbal, escalas de depressão (p. ex., GDS) e de atividades de vida diária (avaliar dependência de um cuidador) Outros (mais sofisticados): ADAS-COG, Behave-AD, CERAD Doenças neurológicas Doença cerebrovascular Doença de Parkinson Doença de Huntington Hematoma subdural Hidrocefalia de pressão normal ◦ Tumor cerebral ◦ Outros tipos de demência: vascular, fronto-temporal, D. de Pick, D. de Lewy. ◦ ◦ ◦ ◦ ◦ Outras doenças clínicas ◦ Hipotireoidismo ◦ Deficiências vitamínicas (principalmente vitamina B-12) ◦ Neurossífilis ◦ Infecção com HIV ◦ Delirium devido a causas orgânicas ◦ Condições induzidas por substâncias ◦ Depressão (pseudodemência) Deterioração prolongada e progressiva na função mental caracteriza o curso clínico da doença Duração da doença entre 5 e 20 anos, com uma média de 15 anos Casos de início precoce progridem mais rapidamente Aparecimento cada vez maior de sintomas comportamentais com a progressão da doença Morte ocorre geralmente por uma doença co-mórbida (p.ex., pneumonia) O tratamento da Doença de Alzheimer inclui: ◦ Medidas farmacológicas o Anticolinesterásicos o Medicações para as alterações do comportamento o Medidas não-farmacológicas o Terapias de apoio o Terapia Ocupacional o Manejo do ambiente o Orientação e acompanhamento dos familiares e cuidadores o Medidas farmacológicas: o Anticolinesterásicos: o o o o o Inibem a enzima acetilcolinesterase Aumentam a quantidade de acetilcolina no sistema nervoso central Retardam a progressão dos sintomas da doença Utilizados nos quadros leves a moderados Quadros mais avançados não respondem às medicações o Têm ação também sobre os sintomas comportamentais da doença o Exercem basicamente o mesmo tipo de ação, com eficácia e perfil de efeitos colaterais semelhante: o o o o Donepezil Rivastigmina Galantamina Memantina Medicações para o controle dos sintomas comportamentais: ◦ Sintomas comportamentais são muito comuns na doença ◦ Várias opções terapêuticas ◦ Utilização varia na dependência do tipo de alteração comportamental encontrada em cada paciente e do perfil de efeitos colaterais ◦ Mais utilizados: antidepressivos, antipsicóticos e estabilizadores do humor ◦ Antidepressivos: Úteis quando há sintomas depressivos ou para induzir sono (Trazodona 50100 mg ao dia) ◦ Mais utilizados: o Sertralina (50-150 mg/dia) o Citalopram (10- 40 mg/dia) o Escitalopram (5-10 mg/dia) o Venlafaxina (75- 150 mg/dia) o Mirtazapina (15- 30 mg/dia) ◦ Antipsicóticos: Quando há delírios e/ou alucinações e/ou desorganização do comportamento. Podem ser utilizados também nos casos de insônia e delirium ◦ Em pacientes demenciados, preferir os atípicos, em doses mais baixas (risco de impregnação) ◦ Mais utilizados: o Quetiapina (25-150 mg/dia) o Olanzapina (2,5- 10 mg/dia) o Risperidona (1-4 mg/dia) o Aripiprazol (15- 30 mg/dia) ◦ Estabilizadores do humor: Quando há desorganização do comportamento, agressividade, perambulação. Podem ser utilizados também nos casos de insônia ◦ Em pacientes demenciados, preferir doses mais baixas (maior risco de impregnação) ◦ Mais utilizados: o Divalproato de sódio (250-1000 mg/dia) o Lamotrigina (25- 100 mg/dia) o Carbamazepina (200-600 mg/dia) o Oxcarbazepina (300-900 mg/dia) Tratamento não-farmacológico: ◦ Constitui-se de muita importância para os pacientes, familiares e cuidadores ◦ Estágios finais da doença: principais medidas ◦ Consiste em uma série de medidas que visam melhorar a qualidade de vida dos pacientes, familiares e cuidadores: ◦ Terapias de apoio ◦ Terapia ocupacional (quando possível) ◦ Medidas de controle do ambiente o Organização do ambiente (pacientes são muito sensíveis às mudanças ambientais) o Oferecer referenciais o Iluminação o Retirada de tapetes (quedas) o Controle da dor o Cuidados com higienização , hidratação e alimentação o Redução dos riscos de acidentes e de escaras Doença progressiva, com aparecimento de quadros comportamentais muito desgastantes para a família (necessidade de institucionalização) Importância da orientação dos familiares e cuidadores Ênfase no desenvolvimento saudável (alimentação, exercícios físicos, treinamento cognitivo) Pesquisas futuras: prevenção e tratamento.