ANÁLISE DE LIVROS DIDÁTICOS I. NATUREZA DA FONTE Livro didático do gr. didaktikós der. do v. gr. didáskó 'ensinar, instruir‘ ( Houaiss) Conjunto de relações: Sujeitos: que ensina/ que aprende Métodos e conteúdos: o que ensinar/ como ensinar Espaços sociais: o “locus” do ensino/ instituições RELAÇÕES PÓLÍTICAS, SOCIAIS E CULTURAIS SOCIEDADE/ TEMPO PRESENTE Livro didático : produção cultural contemporânea. Está sujeito à padrões e regras disciplinadoras da sociedade e do saber. Estas regras ( disciplina social e intelectual) constituem elementos fundamentais na análise: Qual a concepção que se tem sobre o professor e sobre o aluno? ( o que se espera de ambos) b) O que significa ensinar? E o que é importante ensinar? Como ensinar? ( o que se espera do conhecimento) c) O que é a escola? Qual o significado da escola na sociedade contemporânea? ( o que se espera da escola) a) O sujeito na expressão: “o que se espera de...” é variado: Órgãos oficiais: MEC, Secretarias de Educação, etc. Isto é, o que o Estado espera do professor, do aluno, do conhecimento e da escola? Políticas públicas de educação, documentos oficiais dão conta de responder à esta questão? Não. Estes documentos demandam também análise. Produtores culturais: Editoras, imprensa falada e escrita, etc. A análise das políticas editoriais, das perspectivas dos produtores culturais, etc, constituem um termômetro indicativo das espectativas de determinados agentes sociais acerca do papel de professores, de alunos, do conhecimento e da escola. A escola e seu entorno: pais, alunos e professores, administradores escolares, tem também suas expectativas quanto às questões apontadas, sobre si e sobre os outros. Assim: o livro didático, é, em sua natureza, bem mais que um simples “facilitador”, ou “instrumento” de ensino. Ele é produto/produtor/reprodutor(?) de um conjunto de relações de poder que configuram a sociedade do presente. Neste sentido, é um “locus” de conflito de interesses distintos. II. PERIODIZAÇÃO Problema aparentemente de fácil resposta, a idéia da periodização estabelecida pelo autor/ contida no livro demanda também análise que implica na compreensão de determinado constructo social. Nosso caso específico: o que é moderno? O que é contemporâneo? Quando nasceram estas idéias? Qual era o seu conteúdo? Estes mudaram? Permanecem? Quando mudaram e por que? O livro reproduz? Não reproduz? Questiona? Inova? Exemplo: A partir do texto “ A construção do pensamento histórico em sala de aula no ensino fundamental tomamos conhecimento de que o desenvolvimento tecnológico é um elemento importante para definir a relação passado presente. “Revolução Industrial – Revolução Francesa” O próprio termo implica nesta concepção de progresso. Atualmente incorporado pela industria da propaganda: “faça uma revolução na sua vida, compre a lavalouças X” Esta idéia associa-se à outra: liberdade individual. Isto é a tecnologia proporciona liberdade, que é um conceito fundamentalmente político, que remete à “Revolução Francesa”. Assim, as relações entre tecnologia e política compõem um aspecto fundamental do que é moderno e contemporâneo. Normalmente, isto é visto pelo prisma do progresso. O termo progresso tem inúmeros significados, mas, por assim dizer, em termos gerais é visto como MELHORIA, APERFEIÇOAMENTO: as vantagens da indústria sobre o artesanato, da luz elétrica sobre a vela, do automóvel sobre a carroça. Este modo de pensar, condiciona, por assim dizer a definição da modernidade/contemporaneidade: Revolução Industrial / Revolução Francesa. O problema está nas dissociações promovidas pelos livros didáticos, isto é, já se viu algum livro didático abordando o “Nazifascimo” como modernidade? Todos aqueles princípios da modernidade como a assepsia, a limpeza, a higienização, isto é, princípios da moderna medicina, como já demonstrou Foucault, engendraram determinadas disciplinas sociais, determinados gostos e hábitos. São estes princípios médicos, assim como os princípios da história metódica ( a história nacional – nacionalismos), como os do direito ( soberania), que estão na base do “Nazifascismo”. Daí temos: III. HIERARQUIA DE IDÉIAS A hierarquia de idéias, representa de modo imediato aquilo que o autor/autores desejam transmitir enquanto conteúdo a ser apreendido. Assim, o fundamental é verificar, não apenas uma suposta contradição entre o enunciado das intenções com o texto, mas sim, AS RELAÇÕES entre ENUNCIADO – TEXTO – SOCIEDADE E.g. Aqui se configuram os problemas do estabelecimento de relações Texto principal ( conteúdo/ o que se espera) Texto secundário ( conteúdo/ o que se espera) Imagens ( conteúdo; o que se espera) Atividades (Reforço/Reafirmação conteúdo/ação que se espera) do IV. CONJUNTURA HISTÓRICA QUE SE PRODUZIU O DOCUMENTO Análise das condições sócio-históricas da produção do livro Análise das condições historiográficas da produção do livro V. UNIVESO IDEOLÓGICO Público a que se destina: alunos – ensino médio/ ensino fundamental – escola pública/escola privada Leitura do real que propõe. BIBLIOGRAFIA JANOTTI, Maria de L. M. A falsa dialética: Justiniano José da Rocha. Revista Brasileira de História. São Paulo 2 (3), março, 1982, p. 3-17. FURET, François. O nascimento da história. In A oficina da história. Lisboa: Gradiva, s/d, p. 109-135. GRAFTON, Anthony. As origens trágicas da erudição. Campinas: Papirus, 1998. MOMIGILIANO, Arnaldo. As raízes clássicas da historiografia moderna. Bauru: EDUSC, 2004.