POLÍTICAS PÚBLICAS Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental Prof. Marcelo Gonçalves Conteúdo Programático Conceito de Política Pública. relação entre Política e Política Pública. Tipos de políticas públicas: distributivas, regulatórias e redistributivas. Análise de Políticas Públicas. Modelos de tomada de decisão em política pública: incremental, racional e suas variantes. As perspectivas do neo-institucionalismo na análise das estratégias e dos resultados das políticas públicas. O papel da Burocracia no processo de formulação e implementação de políticas públicas. Políticas Públicas e suas fases: formação da agenda; formulação; implementação; monitoramento e avaliação. Controle Social – transparência e participação social. Novos arranjos de políticas públicas. Federalismo e descentralização. Políticas Públicas no Brasil. Abordagem Tradicional • Conceito tradicional: ligado à idéia de burocracia maquinária = influência de Weber. • Burocracia: conjunto de pessoas organizadas de maneira hierárquica que realiza um trabalho rotineiro de natureza eminentemente rotineira, repetitiva e que, portanto, tem sua pauta de trabalho fortemente fixada e normatizada. • Segundo weber, as vantagens da ordem burocrática são: 1. Precisão; 2. Falta de ambigüidade 3. Unidade (que subentende coerência) 4. Subordinação; 5. Continuidade. Abordagem Tradicional • Haveria clara distinção entre o núcleo decisório (formulação) e o operacional (implementação) • Essa leitura pressupõe que: 1. O tomador de decisão dispõe de informações completas do que ocorre dentro e fora da organização; 2. O contexto em que os atores políticos operam é relativamente estável, de modo que não se torna necessária nenhuma formulação durante o processo de implementação. • Burocracia tradicional é pouco adaptável aos novos compromissos do Estado democrático. Mais apta a questões técnico-regulatórias que para a prestação de serviços demandados pela população; Controle X Discricionariedade • Necessita fortes controles externo e interno. • O debate sobre o controle suscita questionamentos sobre a discricionariedade, que pode significar: 1. Personalismo e arbitrariedades; 2. Liberdade de movimento do agente estatal; 3. Mudanças marginais feitas pelos órgãos descentralizados com relação às ordens emanadas dos órgãos centrais; Burocracia e controle • O fato inevitável é que toda delegação implica algum grau de discricionariedade. Além disso, quanto maior e mais complexa a organização (e o Estado deve ser uma das organizações mais complexas que o homem já criou) mais aberta à discricionariedade. • É preciso considerar que a discricionariedade pode ter duas dimensões ou significados, um negativo e outro positivo: 1. Capacidade de juízo (+) âmbito de mobilidade do agente estatal. Representa um espaço no qual pode exercer a criatividade; 2. Violação de normas (-): quando o agente público transcende suas obrigações infringindo normas que regulamentam o dever ser de seu comportamento. Controles da burocracia • Engloba: 1. Conformidade da atuação administrativa com as regras pré-estabelecidas (leitura clássica); 2. A adequação entre os objetivos previstos e os procedimentos adotados; 3. Capacidade de prestar contas (accountability) Dimensões do controle: • Top-down: tradicional • Bottom-up: principalmente fluxo de informação • De dentro para fora (da administração): controle dos serviços ou produtos oferecidos; • De fora para dentro: pressões dos grupos sociais Burocracia no processo de políticas públicas • Fatores que contribuem para tornar a burocracia um ator político relevante: 1. O processo de racionalização da sociedade moderna; 2. O avanço tecnológico; 3. O crescente papel do Estado em diversas esferas sociais; 4. A aguda crise de credibilidade da classe política 5. No caso do Brasil, ainda é necessário apontar a experiência recente do "autoritarismo burocrático" que tem significativas implicações para a convivência entre administração e política Algumas características fundamentais da burocracia como ator político Os agentes burocráticos: 1. Não são neutros, mas têm interesses próprios, que tentam maximizar; 2. São atores capazes de mobilizar recursos políticos; 3. Têm capacidade para desenvolver concepções próprias sobre as políticas governamentais e sobre o seu próprio papel no jogo político, independentemente de considerações de natureza estritamente técnica; 4. São capazes de competir com os políticos não apenas visando a decisões favoráveis às suas propostas quanto a policies específicas, mas até mesmo pelo controle do processo político. Burocracia no processo de políticas públicas Os recursos da Burocracia no processo de políticas públicas • Controle sobre informações e sua capacidade profissional (informação e expertise); • Sua posição permanente no processo; • Sua rede de contatos formais e informais; • Capacidade de articular-se com grupos fora do governo. Fatores que reduzem o poder da burocracia: • O poder da mídia; • A quantidade de cargos de confianças; • A influência dos líderes políticos. Burocracia como ato político • Pode se falar em seis pré-requisitos para que um grupo seja capaz de prover governo: a capacidade 1. de formular intenções políticas; 2. de ajustar suas intenções a procedimentos governamentais já estabelecidos (viabilidade); 3. de competir pelo preenchimento de cargos governamentais; 4. de ocupar posições centrais no governo; 5. a disponibilidade de qualificações para comando ou gerenciamento das atividades governamentais;e 6. a capacidade de controlar a implementação das decisões públicas. “O exame das condições para a formação de um governo indica que a burocracia é capaz de atuar no cenário político de forma autônoma e direta, dispensando o concurso dos políticos, seja para formular demandas, para definir preferências, para manejar recursos de poder ou para mobilizar o apoio de diferentes atores em sustentação às suas iniciativas. Além disso, a burocracia é capaz de controlar a implementação das decisões e de conquistar legitimidade por vários meios, entre os quais se destaca o argumento da competência técnica, da eficácia e da eficiência” (Rua e Aguiar). Padrões de Relacionamento: Políticos e Burocratas 1. Modelo Formal-Legal: o papel do burocrata se reduz à obediência às ordens do líder político. 2. Modelo Paroquial (integração e à coalescência): decorre da possibilidade de integração de valores por meio dos processos de socialização e do recrutamento dos membros da classe política (guarda afinidades com a teoria das elites). Os burocratas de status mais elevado e os políticos envolvidos em atividades executivas são vistos como portadores de valores e objetivos afins ou similares (* manutenção do governo e o bom funcionamento da máquina executiva). Existe possibilidade de troca de papéis. Supõe a integração horizontal entre políticos e burocratas e a oposição do governo à sociedade. Padrões de Relacionamento: Políticos e Burocratas 1. Modelo Funcional: integração e a coalescência ocorre ao longo de linhas funcionais: políticos, burocratas e representantes de grupos e/ou categorias econômicas organizadas compartilhariam vínculos baseados em interesses setoriais. Sugere a integração vertical e envolve contatos mais íntimos entre políticos e burocratas, por um lado, e determinados segmentos sociais, por outro, mobilizados em torno de questões e interesses específicos. 2. Modelo Adversário (contrário aos dois anteriores): políticos e burocratas competem pelo poder e pelo controle sobre as decisões. A disputa pode envolver diversas manobras. A primeira delas é a oposição passiva, que freqüentemente se origina da inércia e da resistência à inovação por parte da burocracia. Outra forma é mais ativa e intencional e resulta de variados motivos, sendo o mais freqüente a divergência quanto ao conteúdo de decisões específicas. Outra fonte de conflitos é a luta das organizações pela sobrevivência. Mas os políticos ainda são os atores centrais do processo de policy making. Padrões de Relacionamento: Políticos e Burocratas 1. Modelo do Estado Administrativo: o processo decisório governamental é definitivamente dominado pela burocracia. Uma vez que os quadros legislativos não dispõem de número suficiente para administrar a carga de trabalho exigida pelo governo moderno e os políticos amadores não possuem a capacidade necessária, parte importante das tarefas é transferida para a burocracia permanente. Por outro lado, mesmo quando os políticos decidem, suas decisões são controladas pela burocracia, que domina as informações técnicas essenciais à decisão e máquina do governo. A burocracia ocupa o papel mais preeminente, ficando os políticos, tanto parlamentares como membros do executivo, reduzidos ao papel de "participantes no processo de registro da decisão". Burocracia e Formulação • Maior relevância da burocracia no processo de formulação esta na sua capacidade de apresentar alternativas. Além disso, antes da tomada de decisão, a burocracia analisa as diversas alternativas e suas possíveis conseqüências, sempre alegando cientificidade e imparcialidade (objetividade). Papel da Burocracia na Implementação • É o momento em que o alcance da burocracia sobre as política públicas se torna mais claro. • Alguns pontos fundamentais: • 1. Formulação na implementação • 2. Ilegalidade útil Formulação na implementação • Como há uma tendência de os formuladores (políticos) tomarem decisões que definem as políticas de forma muito genérica, ambígua ou até contraditória, é natural que uma boa parte da decisão repouse no domínio da burocracia. • A ambigüidade dos atores políticos muitas vezes é resultado do próprio jogo político no qual estão inseridos. Acordos vagos e genéricos, às vezes, é o que a conjuntura política permite fazer. • Ressalta a margem de discricionariedade do burocrata. Pode ser um aspecto positivo ou negativo. • Os problemas relacionados a esse primeiro desafio são usualmente os seguintes: 1. Déficit de execução: quando não se aplicam as normas ou não são alcançados complemente os objetivos propostos; 2. Deslocamento de objetivos: quando, no curso da execução, transforma-se de fato o objetivo a ser seguido; 3. Seletividades involuntárias: quando se direciona a aplicação de um programa abrangente a um grupo ou coletividade específico; Ilegalidade útil • Situação em que existem tantos normativos para o comportamento do burocrata que ele pode escolher ad hoc qual é o mais interessante para a situação que enfrenta, suprimindo as normas que acha menos interessante; • A utilidade refere-se a sua possível utilidade do ponto de vista do clientes do serviço oferecidos ou do bom andamento da máquina burocrática; Burocracia e Implementação • Assim, torna-se evidente que para o sucesso da política é fundamental ter-se em conta a disposição dos atores implementadores. O formulador deve obter o apoio desse grupo para evitar a guerra pós-legislativa. • Não se deve imaginar o processo de implementação como sendo afeto apenas a políticos e burocratas. O clássico conceito de triângulos de ferro (políticos, burocratas e grupos de interesses) também não é adequado. A noção que melhor responde à realidade atual é a de rede. Ou seja, a política pública envolve um conjunto complexo de atores, variável e de ligações variadas e de diferentes matrizes. Não se deve menosprezar esse fato no momento de elaborar as políticas (p.ex. existem atores com poder de veto que não participam do processo político-decisório, mas que podem aparecer no momento da implementação vetando as decisões tomadas anteriormente). Burocracia e Implementação Como as burocracias enfrentam as dificuldades e desafios do processo de implementação de políticas públicas: 1. Geram certas pautas de atuação que tendem a limitar a demanda, maximizar a utilização dos recursos disponíveis e obter resposta positiva da clientela dos serviços para reforçar sua própria existência; 2. Tendem a modificar seu trabalho de tal maneira que se ajustem os objetivos do programa aos recursos disponíveis, reduzindo tais objetivos ou simplesmente modelando-os às condições existentes; 3. Modificam sua própria definição do que deveria ser o serviço a ser prestado, para assim acomodar as distâncias existentes entre os objetivos e resultados e encontrar um eco positivo de seu trabalho entre a clientela do serviço. Conclusão: uma aproximação • Burocracia é complexa, o que dificulta regulamentações específicas, mas não impede necessárias regulamentações gerais. • A burocracia deve possuir uma dimensão humana; • Necessário um equilíbrio entre controle e flexibilidade.