Trabalho de
Literatura
Poesia Africana
de Língua
Portuguesa
Introdução
A poesia africana, a partir de 1930, apresentou características que a tornaram
importante veículo de divulgação da consciência negra, em virtude do movimento que
revolucionou a África e os países que tinham como elementos formadores homens de origem
africana. Trata-se do Movimento da Negritude. Esse movimento surgiu em 1935 tendo como
líderes Aimé Cèsaire, Damas e Leopold Senghor. Cèsaire foi o que usou o termo pela primeira
vez e teve uma participação fundamental nas mudanças que ocorreriam.
Sow, em Introdução à cultura africana (1977), disse que o movimento “definia,
exaltava e valorizava os dados específicos da identidade dos povos negros, a braços com as
violências socioculturais da escravatura e do colonialismo”.
Assinalando o caráter de combate do movimento, o historiador afirma que a
negritude exerceu o papel de mobilizador para que os negros ganhassem confiança em suas
próprias forças e partissem, naquele primeiro momento, no resgate de sua cultura.
Na verdade, o que acontecia então era um projeto de renascimento dos povos
negros e o movimento da negritude foi a principal arma utilizada. Isto porque o movimento
devolveu aos negros colonizados a consciência de si mesmos e deu coragem àqueles que
sofriam os efeitos cruéis da colonização para enfrentar os colonizadores. Temos um retorno às
origens, aos valores negros da civilização; daí a necessidade de lutar contra os invasores.
Com isso, vê-se espalhar por toda a África a busca de suas identidades. Em
consequência dessa procura, há um reavivamento da cultura africana, que o colonizador tanto
tentou extinguir.
Esse efervescer cultural atingiu – como não poderia deixar de ser – as nações
africanas de língua portuguesa: Angola, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Cabo Verde e
Guiné Bissau. A literatura desses países, a poesia em particular, partiu para mostrar o que os
seus intelectuais faziam em termos de cultura e qual o vínculo dos escritos com o ser negro, o
ser africano.
História de Angola
Angola era povoada pelo menos desde o século V a.C., embora existam achados arqueológicos
de ocupações muito anteriores.
Os portugueses, sob o comando de Diogo Cão, no reinado de D. João II, chegam ao Zaire em
1484. É a partir daqui que se iniciará a conquista pelos portugueses desta região da África, incluindo Angola.
O primeiro passo foi estabelecer uma aliança com o reino do Congo, que dominava toda a região. A sul deste
reino existiam dois outros, o de Ndongo e o de Matamba, os quais não tardam a fundir-se, para dar origem ao
reino de Angola.
Explorando as rivalidades e conflitos entre estes reinos, na segunda metade do século XVI, os
portugueses instalam-se na região de Angola. O primeiro governador de Angola, Paulo Novais, procura
delimitar este vasto território e explorar os seus recursos naturais, em particular os escravos. A penetração
para o interior é muito limitada. Em 1576 fundam São Paulo de Luanda, a atual cidade de Luanda. Angola
transforma-se rapidamente no principal mercado abastecedor de escravos das plantações da cana do açúcar
do Brasil.
Durante a ocupação filipina de Portugal (1580-1640), os holandeses procuram desapossar os
portugueses desta região, ocupando grande parte do litoral (Benguela, Santo António do Zaire,as barras do
Bengo e do Cuanza). Em 1648 os portugueses expulsam os holandeses, para contentamento dos colonos do
Brasil.
Até finais do século XVIII, Angola funciona como um reservatório de escravos para as
plantações e minas do Brasil. A ocupação dos portugueses confinam-se às fortalezas da costa.
O colonização efetiva do interior só se inicia no século XIX, após a Independência do Brasil
(1822) e o fim do tráfico de escravos(1836-42), mas não da escravatura. Esta ocupação trata-se de uma
resposta às pretensões de outras potências europeias, como a Inglaterra, a Alemanha e a França que
reclamavam, na altura, o seu quinhão na África. Diversos tratados são firmados, estabelecendo os territórios
que a cada uma cabem, de acordo com o seu poder e habilidade negocial.
Uma boa parte destes colonos são presos deportados de Portugal, como o célebre José do
Telhado. Paralelamente são feitas diversas viagens com objetivos políticos, científicos e escrvagistas para o
interior do território angolano, tais como: José Rodrigues Graça (1843-1848)-Malanje e Bié; José BrochadoHumbo, Mulando, Cuanhama; Silva Porto-Bié. Devido à ausência de vias de comunicação terrestres, as
campanhas de ocupação do interior são feitas através dos cursos fluviais: Bacia do Cuango (1862), Bacia do
Cuanza (1895,1905,1908); Bacia do Cubango (1886-1889, 1902,1906); Bacia do Cunene (1906-1907); Bacia
do Alto Zambeze (1895-1896); Entre Zeusa e Dande (1872-1907), etc.
As fronteiras de Angola só são definidas em finais do século XIX, sendo a sua extensão
muitíssimo maior do que o território dos Ambundos, a cuja língua o território de Angola anda associado.
História de Moçambique
A história de Moçambique encontra-se documentada pelo menos a partir do século X,
quando um estudioso viajante árabe, Al-Masudi, descreveu uma importante atividade comercial entre as
nações da região do Golfo Pérsico e os "Zanj" da "Bilad as Sofala", que incluía grande parte da costa
norte e centro do atual Moçambique.
No entanto, vários achados arqueológicos permitem caracterizar a pré-história do país
(antes da escrita). Provavelmente o evento mais importante desse período tenha sido a fixação nesta
região dos povos bantus que, não só eram agricultores, mas também introduziram a metalurgia do ferro,
entre os séculos I e IV.
Entre os séculos X e XIX existiram no território vários estados bantus, o
mais conhecido foi o império dos Mwenemutapas (ou Monomotapa).
A penetração portuguesa em Moçambique, iniciada no início do século XVI, só em 1885 —
com a partilha de África pelas potências europeias durante a Conferência de Berlim — se transformou
numa ocupação militar, com a submissão total dos estados ali existentes, levando, no início do século
XX, a uma verdadeira administração colonial.
Depois de uma guerra de libertação que durou cerca de dez anos, Moçambique tornou-se
independente a 25 de Junho de 1975, na sequência da Revolução dos Cravos. Em seguida, o governo
português assinou os Acordos de Lusaka. Após a independência, com a denominação de República
Popular de Moçambique, foi instituído no país um regime socialista de partido único, cuja base de
sustentação económica se viria a degradar progressivamente até à abertura feita nos anos de 19861987, quando foram assinados acordos com o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional. A
abertura do regime foi ditada pela crise económica em que o país se encontrava e pela guerra civil que o
país atravessou entre 1976 e 1992.
Na sequência do Acordo Geral de Paz, o país assumiu o pluripartidarismo, tendo tido as
primeiras eleições com a participação de vários partidos em 1994.
Para além de membro da ONU, da União Africana, da CPLP e da Commonwealth,
Moçambique é igualmente membro fundador da Comunidade para o Desenvolvimento da África
Austral e, desde 1996, da Organização da Conferência Islâmica.
Mia Couto
António Emílio Leite Couto é um escritor moçambicano também conhecido como
Mia Couro. O autor, nascido em Beira em 1955, diz que, por ter nascido em Moçambique,
país de terras baixas localizada à beira do Oceano Índico, não tem uma terra-mãe, mas
uma água-mãe. Ele abandonou o curso de Medicina para se dedicar ao jornalismo. Foi
diretor da Agência de Informação de Moçambique e, mais tarde, fez o curso de Biologia,
carreira que segue até hoje.
No início da década de 80 participou, com poemas seus, de algumas antologias.
Em 1983, publicou Raiz de Orvalho, seu primeiro livro de poesias. Em 1999, Mia Couto
recebeu o Prêmio Vergílio Ferreira, pelo conjunto da sua obra. Suas principais publicações:
Raiz de Orvalho, Vozes Anoitecidas, Cada Homem é uma Raça, Cronicando, Terra
Sonâmbula, Estórias Abensonhadas, A Varanda do Frangipani, Contos do nascer da terra,
Mar me quer, Vinte e Zinco, O Último Vôo do Flamingo, O Gato e o Escuro, Na Berma de
Nenhuma Estrada e Outros Contos, Um Rio Chamado Tempo, Uma Casa Chamada Terra,
Contos do Nascer da Terra, O país do queixa andar, O fio das missangas, A Chuva
Pasmada, O Outro Pé da Sereia.
Raiz de Orvalho
Sou agora menos eu
e os sonhos
que sonhara ter
em outros leitos despertaram
Quem me dera acontecer
essa morte
de que não se morre
e para um outro fruto
me tentar seiva ascendendo
porque perdi a audácia
do meu próprio destino
soltei ânsia
do meu próprio delírio
e agora sinto
tudo o que os outros sentem
sofro do que eles não sofrem
anoiteço na sua lonjura
e vivendo na vida
que deles desertou
ofereço o mar
que em mim se abre
à viagem mil vezes adiada
De quando em quando
me perco
na procura a raiz do orvalho
e se de mim me desencontro
foi porque de todos os homens
se tornaram todas as coisas
como se todas elas fossem
o eco as mãos
a casa dos gestos
como se todas as coisas
me olhassem
com os olhos de todos os homens
Assim me debruço
na janela do poema
escolho a minha própria neblina
e permito-me ouvir
o leve respirar dos objectos
sepultados em silêncio
e eu invento o que escrevo
escrevendo para me inventar
e tudo me adormece
porque tudo desperta
a secreta voz da infância
Análise do poema
O poema “Raiz de Orvalho” dá título ao livro de Mia
Couto que foi publicado pela primeira vez em 1983.
No poema “Raiz De Orvalho”, Mia Couto comove
com a beleza das imagens, da música doce e profunda dos
vocábulos, da palavra justa que só ele encontrou e que
tantas vezes quisemos ser nós a dizer, das cores profundas
e intensas das emoções.
Esta é uma poesia singular, de alegria, de
desespero e de amor, de solidariedade e humildade, de
qualidade rara, porque sentida e escrita e lida à flor da pele.
Uma experiência enriquecedora para quem a partilha. Um
privilégio para quem nela se fundir.
Agostinho Neto
No dia 17 de Setembro de 1922 nasceu Agostinho Neto,
médico angolano formado na Universidade de Lisboa que, em 1975, se
tornou o primeiro presidente da Angola até 1979. Agostinho Neto fez
parte da geração de estudantes africanos que viriam a desempenhar
um papel decisivo na independência de seus respectivos países
naquela que ficou conhecida como Guerra Colonial Portuguesa.
Foi preso pela PIDE e deportado para o Tarrafal, sendo-lhe
fixada residência em Portugal, de onde fugiu para o exílio. Aí assumiu a
direção do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), do
qual já era presidente honorário desde 1962.
Sua obras são consideradas revolucionárias e engajadas,
apresentando as imagens poéticas das vivências do homem angolano.
Mas elas não fala só do passado e do presente, mas também da busca,
da preparação do futuro.
Suas principais obras são Quatro Poemas, Poemas, Sagrada
Esperança e a obra póstuma A Renúncia Impossível (1982).
Havemos De Voltar
Às casas, às nossas lavras
às praias,
aos nossos campos
havemos de voltar
ÀS nossas terras vermelhas do café
brancas de algodão
verdes dos milharais
havemos de voltar
Às nossas minas de diamantes
ouro, cobre, de petróleo
havemos de voltar
Aos nossos rios, nossos lagos
às montanhas, às florestas
havemos de voltar
À frescura da mulemba
às nossas tradições
aos ritmos e às fogueiras
havemos de voltar
À marimba e ao quissange
ao nosso carnaval
havemos de voltar
À bela pátria angolana nossa terra,
nossa mãe havemos de voltar
Havemos de voltar
À Angola libertada
Angola independente
Análise do poema
Em “Havemos de Voltar,” o eu lírico de
Agostinho Neto diz que, para haver a total libertação
do colonizado, é necessário voltar as origens, aos
costumes e tradições. Toda a cultura africana é
necessária ser retomada e apagar a assimilação, a
cultura do outro, feita pelo colonizador. É a busca
dos rituais, da oralidade, da dança, da própria
identidade como pátria e nação. É importante a
recusa do que lembra o colonizador, o opressor, o
ditador de regras.
José Craveirinha
Nasceu em Lourenço Marques (atual Maputo, Moçambique).
Autodidata, desempenhou diversas atividades tais como
funcionário da Imprensa Nacional, jornalista, futebolista, tendo também
colaborado em diversas publicações periódicas, nomeadamente O Brado
Africano, Itinerário, Notícias, Mensagem, Notícias do Bloqueio e Caliban.
Foi preso pela PIDE, mantendo-se na prisão durante 5 anos.
Posteriormente, após a independência de Moçambique, foi membro da
Frelimo e presidiu à Associação Africana.
Recebeu o Prêmio Alexandre Dáskalos, o Prêmio Nacional, em
Itália, o Prêmio Lótus, da Associação Afro-Asiática de Escritores e o
Prêmio Camões, em 1991. É um dos mais reconhecidos poetas da língua
portuguesa e um dos maiores escritores africanos.
Obras: Xibugo, 1964; Cântico a um Dio de Catrane, 1966;
Karingana Ua Karingana, 1974; Cela 1, 1980 e Maria, 1988
UM HOMEM NUNCA CHORA
Acreditava naquela história
do homem que nunca chora.
Eu julgava-me um homem.
Na adolescência
meus filmes de aventuras
punham-me muito longe de ser cobarde
na arrogante criancice do herói de ferro.
Agora tremo.
E agora choro.
Como um homem treme.
Como chora um homem!
Análise do poema
Nos três primeiros versos, o eu lírico fala
sobre a inocência de ser uma criança, que acredita
em heróis e tem uma visão destorcida do que é ser
um homem e não sabe sobre sentimentos
humanos.
Nos versos "Na adolescência/ meus filmes de
aventura/ punham-me muito longe de ser cobarde/
na arrogante criancice do herói de ferro", o eu lírico
retrata o adolescente no começo do entendimento
da vida, do ser, o que começa a questionar já
maduro.
Imagens
 Bandeira
da Angola.
 Bandeira
de Moçambique.
 Foto
de Mia Couto.
 Foto
de Agostinho Neto.
 Foto
de José Craveirinha.
Grupo
1
– Caio Igor
 2 – Gustavo Gomes
 3 – Pedro Bellotti
 4 – Pedro Melo
 5 – Victor Quiossa
 Turma:
301
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