O SÓCIO-INTERACIONISMO DE VYGOTSKY João Batista Freire www.decorpointeiro.com.br Obras extensas como as de Piaget e Vygotsky precisam ser resumidas, traduzidas, passadas para as pessoas em conta-gotas. Alguns acadêmicos vão comentá-las em linguagem hermética, para poucos, de forma que chegarão ao entendimento de um público muito pequeno. Outros, como eu, preferem divulgá-las para mais pessoas, de preferência, para professores que poderão transformá -las em práticas pedagógicas. O russo Vygotsky, contemporâneo de Piaget, não escreveu muito. Morreu precocemente, mas suas idéias eram revolucionárias para o mundo da psicologia infantil e da escola. Seus discípulos ampliaram seus escritos e divulgaram sua obra pelo mundo. Hoje ela exerce papel fundamental nas mudanças realizadas na pedagogia. Interessa-nos particularmente a idéia de Vygotsky, segundo a qual, a aprendizagem era fator de desenvolvimento. Para o psicólogo russo, escola é lugar de ensinar pessoas. Tudo aquilo que já se sabe, não é matéria escolar. E mais: ao se propôr algo novo para ser aprendido, o desenvolvimento da criança é favorecido. Ou seja, para Vygotsky, o desenvolvimento segue atrás da aprendizagem. Não se deve esperar pelo desenvolvimento para ensinar. Isso cria perspectivas muito positivas para o ensino. Valoriza a atuação do professor. Vygotsky afirma ainda que uma criança, se puder aprender com auxílio de outras pessoas, terá um ritmo de desenvolvimento mais acelerado que outra criança que tiver que fazê-lo sozinha. De onde podemos deduzir que, se a criança vive e viverá sempre em sociedade, por qual motivo ela teria que aprender qualquer coisa sozinha? Será que não é mais real, dada nossa realidade social, aprender sempre com ajuda? Não descarto possibilidades de atitudes solitárias, que sempre as teremos, mas, de modo geral, não é necessário aprender em solidão. Aprender com ajuda dos outros teria, pelo menos, dois grandes benefícios: um desenvolvimento mais acelerado e uma aprendizagem de vida em sociedade. Os maiores problemas atuais da humanidade são complexos e coletivos. Posso citar, entre eles, a falta de água potável, a pandemia de AIDS na África, a fome em todo o mundo mais pobre e a concentração de renda. Idéias solitárias, soluções individualistas, inteligência setorizada, poderiam solucioná-los? Ou teríamos que desenvolver um outro tipo de inteligência, coletiva, emocional, complexa? É alguma coisa desse tipo que Vygotsky já antecipava nas décadas de 20 e 30 do Século XX. Daí esse autor russo ser, hoje, mais atual que nunca, mais atual mesmo que quando vivia.