483 Título: Letramento e alfabetização: Psicogênese ou Sociogênese, quais os caminhos da apropriação da escrita? V Mostra de Pesquisa da PósGraduação Apresentador: Flávia da Silva Castro, Nome do Orientador: Maria Helena Menna Barreto Abrahão. Programa de Pós-Graduação em Educação da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, PUCRS. Resumo O presente trabalho é fruto da pesquisa de Mestrado que venho realizado acerca de como a criança se apropria da língua escrita se num viés Psicogenético ou Sociogenético. Para tanto tenho como tema de pesquisa a leitura e a escrita nas classes de alfabetização, o problema de pesquisa consiste em saber se a criança se apropria da língua escrita numa perspectiva psicogenética e/ou sociogenética? O Objetivo Geral: Investigar quais caminhos metacognitivos que a criança utiliza para se apropriar da língua escrita e propor alternativas pedagógicas na fase inicial da aprendizagem da língua escrita. Os objetivos específicos: analisar e sistematizar os processos de aquisição da escrita conforme as teorias psicogenéticas e sociogenéticas; compreender como ocorre o processo de aquisição da escrita pela criança na fase inicial de alfabetização escolar; propor sugestões de trabalho pedagógico direcionais ao processo de ensino e aprendizagem inicial da língua escrita. Os autores que servem de base para a pesquisa são FERREIRO (1990); SOARES (2001) e Vygotsky (2006). A relevância deste projeto se dá pela necessidade de se fazer uma análise reflexiva do que se convencionou na década de 80, que seja o processo de aquisição do código escrito, a partir das pesquisas de Emília Ferreiro. A pesquisadora elaborou, com base em um amplo estudo, uma teoria a respeito de como a criança se relaciona com o sistema de escrita, a qual teve repercussão no entendimento de como deve ocorrer a prática pedagógica de alfabetização. Ferreiro descobriu que as crianças estruturam hipóteses a respeito do modo como se organiza o sistema de escrita. Esse processo, foi intitulado por ela como os períodos da Psicogênese da língua escrita, partindo da premissa de que é necessário e obrigatório que todas as crianças em sociedades distanciadas tanto geograficamente, quanto 484 socioeconomicamente e culturalmente, passem pelos mesmos estágios hipotéticos sobre como se constitui o código escrito. Partimos dessa premissa da hipótese Psicogenética, não com a pretensão em um curto espaço de tempo, de desconstruir uma pesquisa elaborada com um grupo muito maior de pesquisadores, de financiadores e mesmo de pesquisados que a nossa. Mas, tem se a pretensão de entrar no discurso acadêmico, para analisar os princípios dessa teoria e da teoria do letramento, SOARES (2000, 2003), na perspectiva de se estabelecer um contraponto entre ambas. Entendo que linguagem é um fenômeno social, estruturada de forma ativa e grupal do ponto de vista cultural e social. Logo, é interessante se pensar na possibilidade de que as hipóteses não sejam universais, até porque na própria pesquisa de Ferreiro (1996) um pequeno grupo não atendeu às hipóteses esperadas, seguindo segundo ela, por outros caminhos. Caminhos estes que não foram analisados em sua pesquisa por este não ser seu foco. Justifica-se ainda, a relevância desta pesquisa, do ponto de vista de se possibilitar alternativas pedagógicas aos professores alfabetizadores, que às vezes, engessam sua prática na busca de melhor alfabetizar, propondo a partir da indução que os alunos entrem e “enquadrem-se” nos níveis Psicogenéticos esperados, porém isso nem sempre ocorre. O que torna o professor incapaz de enfrentar o grande e repetido desafio do fracasso escolar na aprendizagem inicial da língua escrita em nossas escolas. Introdução Como professora e pesquisadora, tenho observado que a partir as pesquisas de Emília Ferreiro na década de 80, se criou o mito da alfabetização Psicogenética. Todos os alunos precisam ser testados, a leitura e a escrita deverá ser proposta levando-se em conta os níveis de leitura e escrita em que a criança se encontra, procedendo assim, a alfabetização será um sucesso. Mas, e o que fazer quando o aluno pula etapas, não apresenta claramente um desenvolvimento segundo esses níveis? É esse campo que me interessa a pesquisa. Segundo Vygotsky, o contexto não é igual para todos, logo o aprendizado não pode ser determinista. Na perspectiva dialética Vygotskyana, o desenvolvimento humano parte do social para o individual, por intermédio das pessoas mais experientes (no caso o professor), que será um mediador entre o código escrito e o aprendiz, logo a aquisição do código escrito, se dará por uma mediação sóciocultural, que não é igual para todos, pois as bagagens culturais são singulares e diferenciadas segundo o universo em que a criança esteja inserida desde seu nascimento. 485 Partindo de tais princípios e não desconsiderando o progresso que se teve no espaço escolar a partir da pesquisa de Ferreiro, que auxiliou os professores alfabetizadores a modificar o foco no ensino, para o aprendizado e também a buscar alternativas pedagógicas que privilegiassem o saber prévio do aluno. Eu busco, realizar uma pesquisa, num contexto específico de alfabetização inicial, seguindo os passos da pesquisa Psicogenética, para verificar se essa universalidade se confirma ou se os fatores sociogenéticos, que consideram que o aluno aprende de modo singular são mais evidentes nessa etapa da educação escolar. Caso isso se confirme, há que se pensar alternativas pedagógicas diferenciadas, a fim de que se possa melhor auxiliar a criança na aquisição do código escrito. Metodologia A metodologia empregada é a qualitativa, de natureza exploratória. Os procedimentos de pesquisa são os seguintes: foi realizada uma testagem com cinco palavras e uma frase de um mesmo campo semântico (na modalidade de ditado), semelhante aos que eram aplicados na pesquisa de Emília Ferreiro, para os alunos a serem pesquisados, objetivando verificar o nível de conhecimento que possuíam acerca do código escrito. Uma vez por semana, o grupo de alunos pesquisados é separado da turma para que se possa fazer um ditado com outras palavras, porém no mesmo nível da proposta inicial, para se possa acompanhar como a criança chegou à escola e as modificações que forem ocorrendo ao longo do processo de aprendizagem da língua escrita. Este ditado é realizado sem intervenção, apenas há o incentivo para que a criança escreva como pensa que é, mesmo que ela diga que não sabe escrever determinada palavra. Também foi feita uma entrevista com a professora para saber como trabalhava, como percebia que ocorria o processo de construção do código escrito por parte da criança. E uma entrevista com as crianças para conhecê-las e ao mesmo tempo verificar as hipóteses que possuem acerca da leitura e da escrita. Resultados parciais Os processos psicogenéticos são evidentes na aquisição da escrita infantil; Os estudos do Letramento representam um referencial importante para elucidação dos processos de alfabetização; não necessariamente as crianças seguem as sucessivas etapas dos níveis Psicogenéticos. 486 Referências BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Ensino Fundamental de nove anos: Orientações Gerais; Lei nº 11.274, de 6 de fevereiro de 2006. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/ensfund/noveanorienger.pdf>. Acesso em: 23 nov. 2009. CAGLIARI, Luiz Carlos. Alfabetizando sem o Bá-bé-bi-bó-bú. São Paulo: Scipione, 1998. FE R REI R O, E mi lia &T E B E R O SK Y, An a. A p s ico g ê ne se da l í ng ua e sc rit a . P o r to Al e gr e: Ar te s Méd ica s, 1 9 9 0 FERREIRO, Emília. Reflexões Sobre Alfabetização. 24.ed. São Paulo: Cortez, 1985. FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes Necessários à prática educativa. 15.ed. São Paulo: Paz e Terra, 2000. 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