UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO “A VEZ DO MESTRE” “A construção da leitura / escrita, numa prática sócio-interacionista, nos três primeiros anos de escolaridade” Autora: Maria de Fatima Campos Fangueiro Orientador: Professor Antonio Fernando Vieira Ney Niterói - RJ Agosto/2002 UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO “A VEZ DO MESTRE” “A construção da leitura / escrita, numa prática sócio-interacionista, nos três primeiros anos de escolaridade” Autora: Maria de Fatima Campos Fangueiro Trabalho monográfico apresentado como requisito parcial para a obtenção do Grau de Especialista em Psicopedagogia Niterói - RJ Agosto/2002 Agradecimentos Agradeço a Deus, por permitir e me orientar durante toda a construção deste trabalho e às pessoas maravilhosas que Ele colocou a me auxiliar e incentivar. Dedicatória Dedico ao meu querido irmão José, meu grande animador, nas veredas que percorri, durante a realização do curso de PósGraduação. Epígrafe “ O desenvolvimento das crianças e adolescentes deve ser olhado de maneira prospectiva, isto é, com referência ao que está para acontecer na trajetória de cada um. (...), deve-se procurar os “brotos”, as “flores” ou “ramos” do desenvolvimento e seus rumos, em vez de somente seus frutos.” Vygotsky Sumário Resumo.......................................................................................................................6 Introdução...................................................................................................................7 Capítulo 1: Importantes considerações.......................................................................9 Capítulo 2: Alfabetização e motricidade....................................................................12 Capítulo 3: Leitura / escrita e os métodos de alfabetização: algumas breves evidências.14 Capítulo 4: Visão atual do processo de alfabetização.............................................17 Capítulo 5: O erro construtivo na avaliação escolar................................................20 Capítulo 6: Aspectos importantes sobre a teoria de Vygotsky................................22 Conclusão................................................................................................................24 Bibliografia Recomendada.......................................................................................29 Anexos.....................................................................................................................33 Resumo O presente trabalho trata da análise das etapas e dos principais obstáculos a serem vencidos, para que a criança, em seus três primeiros anos de escolaridade, desenvolva a sua leitura / escrita. Serão ressaltadas as opiniões de grandes autores desta área, procurando apresentar suas idéias principais. Introdução No desenvolvimento deste trabalho, apresentaremos os resultados de uma pesquisa feita sobre os principais obstáculos a serem vencidos, dentro do processo de alfabetização, na construção da leitura / escrita. Trata-se de um documento que vem como auxílio àqueles profissionais que labutam no trabalhoso ofício da aprendizagem do ler e escrever, na sua etapa inicial. Ao longo da minha atuação como Supervisor Educacional de séries iniciais do ensino fundamental, tendo participado de muitos cursos, treinamentos, seminários e, também, realizado muitas leituras com observações e acompanhamento de alunos, na faixa etária de cinco a nove anos, o que me deu subsídios valiosos, na feitura desta pesquisa. O objetivo geral deste escrito é elucidar as causas ou fatores que interferem na produção textual e leitura, no início do primeiro grau de ensino. Os objetivos específicos desta pesquisa são aqueles que irão enumerar e esclarecer alguns fatores que favorecem / não favorecem o início do processo de aquisição do binômio leitura / escrita. Sabemos que a alfabetização é um momento nobre, na trajetória educacional de toda pessoa. Dois conceitos principais devem ser compreendidos: o código alfabético e a linguagem. Compreender o código alfabético significa compreender a técnica, através da qual damos representação escrita às unidades da nossa língua. Entender o que é a linguagem significa ter consciência do “intercâmbio” entre o pensamento e a fala, que nos possibilita expressar o que contém a nossa mente. O processo de aquisição da leitura / escrita necessita fazer explodir essas duas sementes de consciência. Necessário é alcançar um ponto sábio de harmonia entre esses dois objetivos, que quase se misturam: entender a tecnologia da escrita e a própria linguagem, nas suas unidades, nos seus mecanismos e nos usos que fazemos dela. A vitória maior é o alcance desse difícil equilíbrio. Capítulo 1: Importantes considerações Para compreender o processo de aprendizagem da linguagem escrita, é necessário examinar o que a comunicação escrita tem de específico. Diferentemente da fala, que se define no tempo, no diálogo, na adaptação recíproca dos interlocutores e suas reações, a escrita é dada inteiramente, de uma só vez, e cada elemento só tem sentido em relação a um conjunto que pré-existe e que se organizou prevendo um modelo de funcionamento do leitor. A comunicação escrita tenta dar conta de uma totalidade e de um sistema. Estas reflexões iniciais se baseiam em Foucambert (1993). Os resultados de três estudos realizados no Brasil (Carraher e Rego, 1981; 1984 e Bezerra, 1982) sugerem que a consciência dos sons que compõem a fala desempenha um papel importante na aprendizagem da ortografia do Português. No entanto, é razoável supor que o nível de maturidade da criança influencie tanto o desenvolvimento da consciência fonológica, como o progresso na aprendizagem da leitura. Quando Luria se propôs a realizar, a partir da proposta de Vigotsky, o estudo da construção e desenvolvimento da escrita, sua convicção teórica era de que a história da escrita entre as crianças bem pequenas, pré-escolares, começa muito antes de elas poderem escrever suas palavras e frases. Segundo Bajard (1992), nas classes de alfabetização que trabalham com o construtivismo, o texto está presente durante todo o tempo e é o centro da aprendizagem. Desde a Pré-Escola, as crianças são levadas à produção da escrita. Desde cedo, as crianças escrevem seus nomes e palavras que lhes são familiares. Vivem em meio à escrita. O autor afirma que a expressão escrita da criança é alimentada pelas histórias contadas, com freqüência, pelos professores. O texto produzido pela criança é aceito em sua forma gráfica não sistematizada. Segundo o autor, a produção de texto é um dos meios de expressão, como são a fala, o gesto, o canto, o desenho. Num sistema educacional que privilegia a inculcação, em detrimento da necessidade de expressão, é importante que um movimento pedagógico valorize as produções da criança, pois a criação é uma das dimensões da aprendizagem. Ainda de acordo com o autor, a escola, atualmente, não pode ter mais um papel separado da sociedade. Deve assegurar à criança, não só o conhecimento do ler-escrever, mas também a familiaridade e o gesto. Antes de freqüentar a escola, a criança é confrontada com a língua escrita e com a leitura. Por que essa relação seria interrompida, com a entrada na escola elementar? Se a criança é levada a escrever sem, paralelamente, entrar em contato com textos, é privada de situações nas quais poderia realizar interpretações espontâneas e descobrir o funcionamento da escrita, a partir da identificação dos índices gráficos pertencentes à língua escrita, tais como os que dizem respeito à linearidade do texto, ao recorte em palavras, aos significantes lexicais, às marcas do plural, ao emprego das maiúsculas, à disposição do título e dos parágrafos, à articulação entre texto e imagem, aos índices ortográficos etc., como afirma o autor. Diz Bajard que é preciso abrir todos os caminhos de acesso à escrita, através de situações diversificadas de produção, interpretação, escuta e dicção de textos. Mas, para poder apresentá-las com segurança, é necessário que o professor saiba identificá-las. Para construir seu saber, a criança poderá, então, tomar seu próprio caminho. A escola é o espaço de iniciação à cultura escrita, que ocorre nos primeiros anos de vida, para que o indivíduo esteja pronto a principiar a cultura letrada(Garcia, 1990). Segundo Ferreiro (1993), a criança sabe sobre a escrita antes de saber ler e escrever. Dois fatores incidem no letramento da criança pré-escolar: exposição a objetos que contenham algo escrito e maior ou menor presença da criança, em situações de produção de escrita. Sendo assim, é de grande importância o papel da escola, como propiciadora do desenvolvimento da percepção dos propósitos da escrita, junto às crianças cuja família e/ou comunidade imediata não lhes propiciam uma valorização da escrita. Sabendo que a língua escrita se constitui em objeto cultural e não escolar, pode-se concluir que a apropriação da modalidade escrita da linguagem verbal é uma aprendizagem altamente complexa não estando, por isso, restrita ao espaço escolar: inicia-se antes da entrada na escola e extrapola a escola. Torna-se relevante acrescentar que crianças que aprendem a falar em contato com pessoas letradas têm a fala contaminada pela linguagem escrita. Essa afirmação é possível a partir de Kato (1988) que, estudando a relação língua oral / língua escrita, propõe que a escrita interfira na fala, quando aquela literaliza esta, isto é, a fala de quem lê e escreve é perpassada por características da língua escrita. Capítulo 2: Alfabetização e motricidade Toda criança, ao ingressar na escola, dispõe não apenas da fala, mas de um arsenal de comportamento motores que, independentemente da sua dimensão funcional e prática, representa também uma face da própria linguagem. Isso porque o corpo, tal como as palavras, transmite formas de ser e de pensar, modos de fazer presente no mundo e de interagir com os demais. Até na idade adulta, a gestualidade, a mímica e a expressão corporal substituem parte da linguagem, sob a forma de reações nem sempre verbalizadas ou que ocorrem paralelamente às palavras, reforçando-as, complementando-as, enriquecendo-as e até contradizendo as suas mensagens. Não se passa do mundo concreto à representação mental, senão por intermédio da ação corporal. Se o corpo, na sua compreensão mais ampla, é linguagem, é vivência simbólica, é manifestação de si e meio de intercâmbio social, não há como excluí-lo num momento (alfabetização) em que os construtivistas priorizam a necessidade de expressão das idéias. No que diz respeito à alfabetização, entendemos que os benefícios conquistados pela educação de corpo inteiro interferem, positivamente, nesse processo, incluídas aí as dimensões figurativa (caligrafia, posição das letras e disposição do traçado no papel) e construtiva da escrita (compreensão de seu significado e funcionamento). Sem desmerecer o valor da escrita, cumpre situá-la num rol mais amplo das manifestações expressivas do homem. Assim como para a fala e para a gestualidade, a sua construção depende do tripé fundamental de qualquer esfera do desenvolvimento humano: motricidade, conhecimento e afetividade. A relação entre a educação de corpo inteiro e a conquista da escrita não se explica pelo propósito específico de habilitar a mão que desenha as letras, mas sim pelo amplo esforço de promover, em cada um, a expressão das idéias que, entre tantas possibilidades de manifestação, podem ser também escritas. Capítulo 3: Leitura / escrita e os métodos de Alfabetização: algumas breves evidências Hoje, ao percorrermos a cidade, encontramos uma riqueza de produção textual, por todos os cantos. O contrário do que acontece em muitas salas de aula da Classe de Alfabetização à 4ª série, que têm suas paredes quase sempre vazias. Na Classe de Alfabetização, na maioria das vezes, a criança tem contato com textos, mas os produzirá, somente, quando tiver domínio da combinação grafema-fonema. A par dessa situação, existem poucas bibliotecas nas escolas. As poucas que estão à disposição possuem, sobretudo, livros didáticos. Define-se a escola como o lugar da aprendizagem da leitura; a sociedade é o lugar da sua utilização. Freqüentemente, é a cartilha o único livro existente na 1ª série, que não possui rigor lingüístico, tem a seqüência imposta pelo mundo adulto e apresenta grande pobreza textual. A escrita existe há milhares de anos. Nascida da necessidade de transcrição do oral, dela se libertou e tornouse uma outra representação da língua. Mantendo uma parcela de sua vinculação inicial com o oral, ao mesmo tempo conquistou sua autonomia, em relação a este. Variações na consciência de fonemas, observadas no início da alfabetização, podem ser menos importantes para a aprendizagem da leitura e da escrita, quando o método de alfabetização for o método silábico. Ao contrário das crianças aprendendo a ler pelo método fonético, as crianças sendo alfabetizadas pelo método silábico são, de uma maneira geral, bemsucedidas na aprendizagem da leitura e da escrita, independentemente do nível de consciência fonológica, aferido no início da alfabetização. À primeira vista, a hipótese de que os métodos silábicos possam ser mais eficazes do que os métodos fonéticos, no que diz respeito ao desenvolvimento da consciência de fonemas, pode parecer absurda. Em princípio, pelo menos, os métodos fonéticos deveriam conduzir mais rapidamente ao desenvolvimento da consciência de fonemas do que os métodos silábicos, uma vez que aqueles métodos buscam, desde o início, ensinar a correspondência entre as letras e os fonemas. Uma análise do fonema e da sílaba, no entanto, sugere que, exatamente o oposto pode ocorrer. A dificuldade apresentada por crianças e adultos analfabetos em tarefas de segmentação de fonemas resulta, em grande parte, do fato de muitos fonemas não poderem ser pronunciados, isoladamente. Pelo contrário, a maioria dos fonemas existe em uma relação de sobreposição com os fonemas vizinhos. Os resultados de observações são consistentes com a hipótese de que os métodos silábicos são mais eficazes do que os métodos fonéticos, no que se refere ao desenvolvimento da consciência fonêmica. Essa última consideração sugere que os métodos silábicos podem ser mais apropriados para a alfabetização de crianças em risco de apresentarem dificuldades na aprendizagem da leitura e da escrita, do que os métodos fonéticos. Os métodos silábicos podem favorecer a aprendizagem da leitura e da escrita por crianças em risco de apresentarem dificuldades na aprendizagem da leitura, ainda por uma outra razão. Supõe-se que uma estratégia de leitura baseada no uso exclusivo de regras de correspondência grafema-fonemas implique em uma maior sobrecarga de trabalho para a memória de curto prazo, do que uma estratégia baseada na sílaba. O uso de uma estratégia baseada na letra pode ser, particularmente, penoso para crianças com dificuldades de aprendizagem da leitura. Pesquisas realizadas sugerem que estas crianças apresentam déficits acentuados na memória verbal de curto prazo. Capítulo 4: Visão atual do processo de alfabetização Parecem bastante revolucionárias as novas propostas de alfabetização, nascidas a partir dos trabalhos de Ferreiro, segundo as quais a construção da escrita pela criança não se atrela nem ao domínio de habilidades motoras nem à posse de um código gráfico; mas é, antes, o resultado de um processo de representação simbólica. No entanto, essas idéias “revolucionárias” norteavam, já na década de 20, toda uma pesquisa de Luria sobre o desenvolvimento da escrita entre crianças préescolares. Quando Luria (1988) se propôs a realizar, a partir de proposta de Vygotsky, o estudo da escrita, sua convicção teórica era de que a história da escrita entre as crianças bem pequenas, pré-escolares, começa muito antes de elas poderem escrever suas primeiras palavras e frases. A esse propósito, afirmava Vygotsky, com extrema propriedade: “Ensina-se as crianças a desenhar letras e construir palavras com elas, mas não se ensina a linguagem escrita.(...) A única forma de nos aproximarmos de uma solução correta para a psicologia da escrita é através da compreensão de toda a história do desenvolvimento dos signos na criança.” (Vygotsky, 1984,p.119-20) Luria não trabalha com a criança no momento em que esta começa a aprender. A ele interessa, basicamente, “escavar a pré-história da escrita”, já que, a seu ver, essa história “começa muito antes da primeira vez em que o professor coloca um lápis na mão de uma criança e lhe mostra como formar letras” (Luria, 1988, p.143). O trabalho de Emilia Ferreiro parte dessa mesma preocupação inicial. Segundo Luria, a condição fundamental para que uma criança seja capaz de “tomar nota” de alguma noção ou frase reside no fato de que ela já tem uma espécie de “hipótese particular” em termos de “se lembrar” de algo. Para que isso ocorra, é preciso que as crianças já consigam estabelecer uma “relação diferenciada” com as coisas que lhe interessam. Luria procura, então, através de um demorado trabalho com crianças (consideradas individualmente) “traçar o desenvolvimento dos primeiros sinais” que já indiquem o aparecimento de uma relação funcional, mesmo que primitiva, entre as linhas e rabiscos das crianças com um objeto qualquer de referência. Ele procura descobrir em que momento tais linhas e garatujas são utilizadas pela criança, com o objetivo de expressar alguma relação, de produzir algum significado. Divergência entre os dois: se, para o primeiro, a pré-história da escrita tem suas origens no momento em que a criança consegue relacionar rabiscos e marcas gráficas diversas com um determinado referencial, para Emilia Ferreiro a própria imitação do ato de escrever já corresponderia a um primeiro nível de construção real da escrita. Para Ferreiro, em um primeiro nível, “escrever é reproduzir os traços típicos da escrita que a criança identifica como a forma básica da escrita” (Ferreiro e Teberoski, 1984, p.183); para Luria, no entanto, somente se pode considerar que existe escrita, quando, além da reprodução de traços, surge uma possível (“hipótese primária”) idéia, por parte da criança, de escrita como sendo um processo que serve para “lembrar”, para anotar algo. Para Luria, o conjunto de puras garatujas é o que se pode denominar “préhistória da escrita”. A esse primeiro estágio proposto por Luria, teríamos o correspondente “nível 1 da escrita”, apontado por Ferreiro. Luria e Ferreiro, separados um do outro pelo espaço de meio século, pesquisaram um mesmo tema e, dentro das especificidades que lhes são inerentes, percorreram itinerários muito parecidos ou paralelos. Quando da publicação de seu estudo, ferreiro, com certeza, não tinha tido contato ainda com o trabalho de Luria que, de certo modo, é gêmeo do seu. E, se alguns poucos critérios divergentes os diferenciam, aproximam-se muito, um do outro, pela forte presença de semelhanças e paralelismos verificados nos roteiros de suas realizações. Capítulo 5: O erro construtivo na avaliação escolar A construção da escrita contribui não só para a elaboração do pensamento simbólico, o estabelecimento de generalizações, o uso da memória e do raciocínio, o emprego de análises e sínteses como, também, Para uma forma de conhecer o mundo, de se posicionar frente ao mesmo, de formar opiniões sobre o ambiente circundante. Informações, desenvolvimento cognitivo e aquisição de valores se dão a um só tempo, ainda que, para efeitos didáticos, um objetivo possa preponderar sobre os demais. Muitos dos professores que dizem seguir uma abordagem piagetiana em suas salas de aula desconhecem, de fato, a concepção de aprendizagem da teoria psicogenética. Como conseqüência, observa-se uma interação professor – aluno que, se segue algum padrão, este é tão somente uma caricatura grosseira da proposta behaviorista: repetição interminável de determinados conteúdos, sem que se tenha claro a associação a ser obtida; reforços dados aleatoriamente, sem se encontrarem condicionados a comportamentos desejáveis; planejamento da situação de ensino e aprendizagem em termos de objetivos finais e intermediários, sem que estes, de fato, norteiem a conduta do professor e assim por diante. Situação paradoxal: professores que se acreditam “piagetianos”, conhecendo apenas superficialmente a proposta de Piaget; que seguem, em suas atividades rotineiras, parte da análise experimental do comportamento, sem jamais terem sido introduzidos seriamente á abordagem de Skinner. Na visão de Piaget, aprender, em resumo, não consiste em incorporar informações já constituídas e, sim, em redescobri-las e reinventá-las através da própria atividade do sujeito (Castorina, 1995). Na avaliação do aproveitamento escolar, é tarefa docente a de discernir entre os erros construtivos – isto é, aqueles que evidenciam progressos na atividade mental – e aqueles que não o são – isto é, aqueles que não sinalizam avanços na forma da criança pensar. Se a criança erra, três alternativas se colocam: 1) A criança possui a estrutura de pensamento necessária á solução da tarefa, mas selecionou procedimentos inadequados para tal. 2) A criança errou porque a estrutura de pensamento que possui não é suficiente para solucionar a tarefa. 3) A criança errou porque não possui a estrutura de pensamento necessária à solução da tarefa, de onde decorre uma impossibilidade de compreender o que lhe é solicitado. É tarefa do professor fazer com que o erro, gradativamente, se torne um observável pela criança, que esta tome consciência do mesmo. É preciso reenquadrar o papel do erro dentro da escola: se este deixar de significar derrota, não há porque puni-lo, temê-lo ou evitá-lo. Ao contrário, deve ser encarado como resultado de uma postura de experimentação, onde a criança levanta hipóteses, planeja uma estratégia de ação e a põe à prova. Capítulo 6: Aspectos importantes sobre a teoria de VYgotsky Vygotsky contrapôs, claramente, sua perspectiva sobre as relações entre a aprendizagem e o desenvolvimento àquela apoiada por Piaget. Segundo este, os processos de desenvolvimento são independentes da aprendizagem, no sentido de que esta não influi sobre o curso do primeiro. Os processos de desenvolvimento são condição primeira para a realização de um aprendizado ,mas não são alterados por ele. Ao contrário, para Vygotsky, ambos os processos estão, intimamente, inter-relacionados, porque a aquisição de qualquer habilidade infantil envolve a instrução originária dos adultos, antes ou durante a prática escolar. A própria noção de “aprendizagem” significa processo de ensino-aprendizagem, justamente para incluir quem aprende, quem ensina e a relação social entre eles, de modo coerente com a perspectiva sócio-histórica (Oliveira, 1990). Assim, a aprendizagem consiste na internalização progressiva dos instrumentos mediadores e é uma aplicação do princípio antes mencionado: todo processo psicológico superior vai do âmbito externo para o interno, das interações sociais para as ações internas, psicológicas. Conclui-se, claramente, dos textos de Vygotsky que, sua atenção aos processos de aprendizagem deve-se ao fato de os mesmos obrigarem ao processo de mediação e potencializá-lo, de forma que o desenvolvimento cultural da criança equivale à sua aquisição dos sistemas sociais de mediação. Para dar conta, particularmente, dos aprendizados escolares e sua ligação com o desenvolvimento, Vygotsky produz a hipótese da “zona de desenvolvimento proximal”, que evidencia o caráter orientador da aprendizagem, com relação ao desenvolvimento cognitivo. Isto é, a afirmação da distância entre o nível de desenvolvimento real da criança, tal e como pode ser determinado, a partir da resolução independe de problemas, sob a direção de um adulto ou em colaboração com um colega mais capaz. É um espaço dinâmico, no qual aquilo que uma criança só puder fazer com ajuda de outro, no futuro poderá fazer sozinha. Desse modo, o desenvolvimento do indivíduo e a posterior consolidação das funções psicológicas estão precedidos pela aprendizagem. Nesta, a intervenção de professores ou outros adultos contribui para orientar o desenvolvimento rumo à apropriação dos instrumentos de mediação cultural. Conclusão Na abordagem tradicional do processo de alfabetização, dá-se uma ênfase especial à discriminação (percepção) visual e auditiva. Aos poucos, foi-se percebendo e concluindo que quem governa a visão e a audição é o cérebro. Na medida em que o indivíduo vivencia situações que o levem a pensar e a entrar em contato com a escrita e a leitura, desenvolverá, com mais desembaraço, o seu processo de aquisição do ler/escrever. Citamos, para isso, Barbosa, J.J.: “O processo de aprendizagem é composto, antes de tudo, de momentos de experiência ou familiarização, intercalados por momentos de sistematização, voltados para a observação, comparação, dedução, etc.” (1994 – p.128) A preocupação com a linguagem ultrapassa os muros escolares e se torna forte e marcante, desde os antigos. É o que nos demonstra a História da Civilização. O sujeito apropria-se de sua linguagem enquanto interage com o seu meio. Esta aquisição não é apenas sua, mas de seu grupo social: acontece na sua família, na sua rua, com seus amigos e, até mesmo, através do rádio e da televisão. Segundo Piaget, o objetivo da educação não é de ensinar verdades acabadas aos alunos, mas sim que ele seja o construtor de seu conhecimento, independente do tempo que vá dispender para tal. Um processo permanente de prática e reflexão permite ao educando apropriar-se de um sistema de representações que lhe permite ler e escrever. Descobrindo a relação grafema-fonema, a pessoa tem acesso ao mundo escrito, com todas as possibilidades de avançar nos seus conhecimentos, criar novos significados. As produções espontâneas das crianças nos processos de construção da leitura e escrita demonstram a clara intenção de comunicar seus sentimentos: o que pensam, o que sentem, seus sonhos, frustrações e angústias. Seus escritos são tentativas espontâneas e permanentes de resolver problemas de compreensão da língua escrita. Percebem a escrita como uso social, em situações de permanente intercâmbio e interação. Segundo Kamii e Devries (1983), o conhecimento caracteriza-se por uma ação interior, originada na interação do sujeito com o meio. Afirmativa esta que se funda na concepção epistemológica de Jean Piaget. Vemos, assim, que as concepções empiristas-associacionistas são superadas pelas concepções construtivistas-interacionistas. A produção de textos é um ponto de partida que sempre dará ao professor a possibilidade de desenvolver os conteúdos de que se ocupam os seus objetivos e de propiciar às relações professor / aluno x ensino/ aprendizagem, um enriquecimento mútuo e pleno. A escola deve organizar-se, pedagogicamente, proporcionando condições para que os alunos oriundos das classes populares, tenham acesso ao conhecimento e instrumentalizá-los, de modo que possam superar suas dificuldades, e tenham chances de melhorar seu padrão de vida. O professor, enquanto classe, ainda se identifica como o controlador da aprendizagem e é desatualizado por natureza. O ideal é termos, cada vez mais, profissionais da educação investindo e acreditando na bagagem vivencial que a criança traz para dentro da sala de aula e tentar explorá-la e valorizá-la como ponto-chave para o seu fazer pedagógico. Os adultos têm dificultado o processo de aquisição da língua escrita, criando julgamentos como “fácil” e “difícil”, o que veio a podar e, até mesmo, marcar, negativamente, o desenvolvimento da aprendizagem de muitas crianças. A pedagogia pesquisou, criou e defendeu, durante anos, uma metodologia para o ensino da leitura/escrita, seguindo determinados passos, para chegar ao seu objetivo final. Quanto à aquisição da língua oral, nunca houve a preocupação em sistematizá-la, de alguma forma. A criança aprende a falar, ouvindo as pessoas interagirem, sem nenhuma seqüência de “passos”. Na aquisição da língua oral, permitimos que a criança se engane, até que um dia possa pronunciar as palavras com correção. No momento da construção da língua escrita, o professor fica ansioso pelo acerto e, muitas vezes, não tem paciência para acompanhar o fluir de etapas/níveis pelos quais o aluno precisa passar. Para que alguém alfabetize, é essencial que tenha contato com a língua oral. Daí, a importância de ter sempre, em sala de aula, material escrito, para que as crianças tomem contato, permanentemente, com ele. O enfoque construtivista para interpretar o desenvolvimento dos conhecimentos é uma tentativa de superar o dualismo entre sujeito e o objeto de conhecimento. “O sujeito aparece construindo seu mundo de significados, ao transformar sua relação com o real, penetrando cada vez mais profundamente neste último e em sua própria maneira de pensar. Dessa forma, quando ocorre cada progresso que aproxima o sujeito do conhecimento do objeto, este último recua. Os modelos sucessivos do sujeito permanecem na categoria de aproximações que não podem atingir este limite, constituído pelo objeto em suas propriedades ainda desconhecidas.” (Castorina, 1995-p.17) Compreender algo não significa incorporá-lo; mas, sim, descobrir e inventá-lo, outra vez, através da própria ação do sujeito. A aprendizagem organizada converte-se em desenvolvimento mental e coloca, em funcionamento, uma série de processos evolutivos que nunca poderiam ocorrer à margem do aprendizado. As interações do sujeito com as situações do mundo social e natural é que irão surtir efeitos no ensino, atreladas com o saber que se pretende ensinar. Segundo Piaget e Vygotsky, tanto as relações interpessoais quanto as intrapessoais são muito importantes. “A escrita seria uma forma de ferramenta externa, que se estende à potencialidade do seu humano, para fora de seu corpo.” (Oliveira, 1990 – p.62) Para Vygotsky, a aprendizagem de algo tão complexo como a escrita deverá acontecer, principalmente, através da intervenção pedagógica efetiva. A criança não poderá desenvolver-se sozinha, apesar de estar inserida em uma sociedade letrada. Não existe maturação espontânea. Vemos a questão específica da história da escrita no trabalho de Luria. Segundo ele, o desenvolvimento das habilidades culturais de contagem e escrita envolve uma série de estágios, nos quais uma técnica é continuamente descartada em favor de outra. Cada estágio subseqüente suplanta o anterior; só após ter passado pelos estágios em que inventa seus próprios expedientes e aprendido os sistemas culturais que evoluíram ao longo dos séculos, ela – a criança – chega ao estágio de desenvolvimento característico do homem avançado, civilizado. Na visão de Luria e Vygotsky, a criança começa, através de “rabiscos”, a imitar a escrita do adulto. Luria denomina “marcas topográficas” o que a criança esboça, numa segunda fase. São registros gráficos distribuídos pelo papel, que são associados ao conteúdo do registro. Na etapa seguinte, produz uma escrita referente ao conteúdo da fala que deseja registrar. Depois dessa fase, lança mão de representações pictográficas, como forma de escrita. A etapa posterior é aquela em que a criança entra em contato com os mecanismos da escrita simbólica, culturalmente elaborada. Inicia-se, assim, o processo, propriamente dito, de aquisição do sistema da escrita. É necessário levar em conta, além da natureza doprocesso cognitivo da criança, o saber que se tenciona comunicar e a influência exercida pelo professor, para que se efetive a comunicação desse saber, a fim de cumprir a função social atribuída a ele e que o responsabiliza pelo aprendizado dos seus alunos. Fundamental, no entanto, é reconhecer como essencial, na análise didática, o conjunto das interações entre o aluno, o professor e o saber. Grande é a importância da elaboração cooperativa da construção do conhecimento na escola e, não há dúvida de que, Piaget dava uma ênfase muito especial aos fatores sociais que influenciam o desenvolvimento. Apesar de ressaltarmos a ênfase do papel dos fatores sociais no desenvolvimento, não podemos esquecer a importância da assimilação de conteúdos, por parte do educando. Uma das formas de fazer com que a construção do conhecimento seja favorecida em classe, é promover em constante rodízio nos grupos de alunos, tomando o cuidado de não manter, sempre, as mesmas crianças agrupadas, durante muito tempo. O enriquecimento, assim, será bem maior. É importante ressaltar que, desde a Pré-escola, todos podem produzir e interpretar escritas, cada qual em seu nível, bastando, para isso, que a criança tenha garantido o seu acesso ao mundo da leitura/escrita, nos mais variados contextos. A alfabetização não é um estado em si, mas um processo que não se esgota ao término de um ano letivo. Como afirma Luria, a criança começa muito antes da primeira vez em que o professor coloca um lápis em sua mão e lhe mostra como formar letras. Bibliografia Recomendada ALVAREZ, A.e DEL RÍO, P. 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