Apresentação da Disciplina 2004 Objectivo & Opções Estratégicas Objectivo: uma leitura autónoma do cap. VI de K. Schaffner “Discovery and Explanation in Biology and Medicine” University of Chicago Press, 1993. 1 Opções Estratégicas • Opção Estratégica I: a técnica de problem-reduction: • Equalização de “conhecimento” com “conhecimento científico” em “Filosofia do Conhecimento”. • I.1 .Logo, Filosofia do Conhecimento Científico. Abreviadamente, Filosofia da Ciência. • Qual é o sentido de “científico”? 2 Opção Estratégica - I • A definição de um conceito pela sua classe de contraste não é sempre possível. • A classe de contraste de “científico” é constituída por termos como “religioso”, “artístico”, “mágico”... • Neste caso a classe de contraste é insuficiente para definir o conceito. Os termos da classe de contraste são tão carentes de definição como o conceito que se procura definir. 3 Opção Estratégica - I • I.2 Em que condições é que existe conhecimento científico (reliable) fiável? • Em particular: • i) - Quem estabelece os critérios que asseguram que uma teoria (p. ex. biológica) é fiável? • ii) - Que conteúdo devem ter esses critérios? • iii) - O que é testado quando se testa uma teoria científica? 4 Opção Estratégica - II • Opção estratégica II – Rejeição do ponto de vista historicista. • Duas posições teóricas disputam a capacidade de responder à questão “o que é conhecimento fiável?” • i) - O Historicismo e ii) - A Análise Conceptual. • Historicismo: a posição teórica que começou a estar em voga no séc. XIX segundo a qual a solução de um problema se encontra: • i) - na documentação da sua história e • ii) - na interpretação das tentativas já existentes da sua solução. 5 Opção Estratégica - II • Em Análise Conceptual um problema é visto como um agregado de conceitos e a sua solução encontra-se na descoberta das relações lógicas entre eles. • As duas relações lógicas fundamentais são a dedução e a indução. • Na dedução formulam-se leis gerais as quais conduzem à verdade de casos particulares; na indução a verdade de casos particulares conduz à formulação de leis gerais. • [ Mais detalhes adiante sobre a legitimidade da transição do caso particular para a lei geral. ] 6 BIBLIOGRAFIA • • • • • As duas classes de Bibliografia: Bibliografia Primária: 1. K. Schaffner, Discovery and Explanation in Biology and Medicine. [ Ver em especial o Cap. VI. ] Contém um tratamento pós-graduado dos temas principais de filosofia da ciência com impacto na biologia e na medicina. 2. Philosophy of Science, Contemporary Readings, ed. Alex Rosenberg. 7 Bibliografia - cont. • Contém textos clássicos sobre os quatro temas fundamentais que definiram o perfil da filosofia da ciência como disciplina autónoma: • Tema I: As relações entre a ciência e a filosofia. • Tema II: A teoria da explicação científica. • Tema III: O significado da evolução de conceitos na formulação de teorias científicas. • Tema IV: A verificação de uma teoria científica. 8 Bibliografia - cont. • Bibliografia Secundária: • 1. Rosenberg, Alex - Philosophy of Science, a Contemporary Introduction, London, 2000. • Contém o melhor tratamento dos temas básicos da disciplina a um nível graduado. • 2. Okasha, Samir - A Very Short Introduction to the Philosophy of Science, Oxford University Press, 2002. • Cobre a mesma área; é menos denso e mais fácil de ler do que Rosenberg (2000). 9 Como ler... • A meta é isolar a estrutura da teoria de modo a poder desenhar um diagrama sugestivo da teoria. Exemplo: a teia de Quine, com um centro e uma periferia, é uma imagem da ciência na sua totalidade. • A estrutura da teoria deve ser expressa por uma tese principal e algumas teses subordinadas. • Estas teses subordinadas podem estar em 2 posições: • i) - ou preparam para a tese principal ou • ii) - alargam a tese principal depois desta ter sido enunciada e mostram assim as consequências que se seguem da tese principal. 10 Avaliar uma teoria filosófica • Só se pode proceder à avaliação de uma teoria filosófica depois de se ter identificado o argumento que é proposto para a demonstrar. • O argumento é constituído: • Pela(s) premissa(s) • Pela inferência da(s) premissa(s) para a conclusão. • A Forma geral do argumento pode ser representada no seguinte quadro: Premissa 1 Premissa 2 .... _____________ Conclusão 11 Avaliar uma teoria • Uma teoria filosófica só deve ser aceite quando passa 3 testes: • T1: As premissas são verdadeiras. • T2: A inferência das premissas para a conclusão é válida, i.e., conforme às regras de inferência. • T3: A conclusão é verdadeira. • Assim uma teoria filosófica pode ser rejeitada por 3 razões: • Se uma das premissas não é verdadeira, caso em que viola T1. • Se a inferência das premissas para a conclusão não é válida, caso em que viola T2. • Se a conclusão é infirmada por um contra-exemplo, caso em que viola T3. 12 Exemplo 1 • Um exemplo (muito simplificado) de uma teoria filosófica do célebre matemático e filósofo René Descartes: “Eu penso, logo eu existo”. • Aqui a premissa é expressa por “eu penso”. • A inferência é de “eu penso” para “eu existo”. • A conclusão é expressa por “logo eu existo”. 13 Avaliação de Teorias • Esta teoria não é vulnerável nem na premissa nem na conclusão. • Mas é vulnerável na inferência. Não existe uma regra de inferência lógica que permita a transição de “eu penso” para “eu existo”. • A regra de lógica existente só permite a inferência de “eu penso” para “existe pelo menos um ser que pensa”. 14 Exemplo 2 • Serve agora de exemplo a teoria filosófica tradicional sobre a existência de um Ser como Primeira Causa. • Simplificando a teoria tem a seguinte estrutura: “Se para qualquer acontecimento A existe uma causa C que lhe dá origem, então existe uma causa C que é a origem de qualquer acontecimento A”. • Aqui a premissa é “para qualquer acontecimento A existe uma causa C que lhe dá origem”. 15 Exemplo 2 - cont. • A inferência é de “Para qualquer acontecimento A existe uma causa C que lhe dá origem” para “existe uma causa C que é a origem de qualquer acontecimento A”. • Onde é que a teoria é vulnerável? • Não é vulnerável nas premissas, se se aceitar o princípio da causalidade. • Mas é vulnerável na inferência usada para obter a conclusão. • O argumento apoia-se na equivalência entre “para todo o A existe um C tal que...” e “existe um C tal que para todo o A...” 16 Exemplo 2 - cont. • Esta inferência fere a regra da Lógica segundo a qual a quantificação dupla de quantificadores diferentes não comuta. • [ Quantificadores são as expressões “para todo...” e “existe...” ]. • Para se ver que a regra é adequada basta repetir a inferência num exemplo numérico simples: Premissa: • “Para qualquer número inteiro X existe um número inteiro Y tal que Y é maior do que X”. • Desta premissa não se pode concluir • “Existe um número inteiro Y que é maior do que qualquer número inteiro X”. 17 Student’s guide I. http://www.philosophypages.com/sy.htm II. Glossário (Rosenberg) 18 Como ler filosofia da ciência • I. Requisitos de Tempo: • Uma teoria filosófica não é acessível em todo o seu âmbito numa primeira leitura. Studiorum mater repetitio, a fonte do saber é a repetição. • II. Requisitos de Atitude: • Não se pode ler passivamente, como se lê uma história, mas activamente, pronto a descobrir ambiguidades e fazer perguntas. • O teste de ler com sucesso passa quem é capaz de captar não apenas os factos , mas acima de tudo a estrutura da teoria exposta e representá-la gráfica ou verbalmente. 19