A INTERFERÊNCIA DAS RELAÇÕES INTERPESSOAIS NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM DE ALUNOS DO ENSINO SUPERIOR Área: DEMAIS ÁREAS DAS CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS Categoria: PESQUISA Josiane Peres Gonçalves Doutora em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUCRS. Professora do Curso de Especialização em Docência no Ensino Superior da UNIPAN. Rua Francisco Bartinik, 1947, BL C1, AP 32, Cascavel – PR. [email protected] Alfonso Felizari Leite Bacharel em Administração com ênfase em Marketing, Especialista em Docência no Ensino Superior pela UNIPAN. Comerciante do ramo alimentício. Marcos Pavinato Bacharel em Administração, Especialista em Docência no Ensino Superior pela UNIPAN. Comerciante do ramo moveleiro. Thaís Zanette Leite Especialista em Docência no Ensino Superior pela UNIPAN. Comerciante do ramo alimentício. Resumo Este artigo tem por objetivo identificar qual a percepção de docentes e discentes do ensino superior sobre a interferência que as relações interpessoais ocorridas em sala de aula exercem sobre a aprendizagem escolar. Para o desenvolvimento da pesquisa, além de diversos autores que abordam a temática, inerente ás relações interpessoais, foi realizada uma coleta de dados com 25 professores 83 alunos dos últimos anos dos cursos de Pedagogia, Psicologia, Engenharia de Produção e Ciências Contábeis de uma faculdade particular de Cascavel - PR. O instrumento utilizado foi um questionário com nove questões fechadas e uma aberta sobre assuntos como: relacionamento, desempenho nas matérias escolares e conflitos entre os professores e alunos. Os resultados indicaram que quando havia conflitos na relação professor e aluno, os alunos demonstravam insatisfação em relação à disciplina, dificultando o processo de aprendizagem. Estas informações também foram confirmadas pelos professores. Concluise que relações interpessoais saudáveis não somente favorecem o desenvolvimento escolar e uma boa convivência em sala de aula, como são indispensáveis para alcançar o objetivo proposto, ou seja, o desenvolvimento do aluno e a melhora qualitativa no processo de ensino e aprendizagem. Palavras-chave: Relações interpessoais. Aprendizagem escolar. Ensino superior. 2 A INTERFERÊNCIA DAS RELAÇÕES INTERPESSOAIS NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM DE ALUNOS DO ENSINO SUPERIOR Área: Demais áreas das Ciências Sociais Aplicadas Categoria: PESQUISA Resumo Este artigo tem por objetivo identificar qual a percepção de docentes e discentes do ensino superior sobre a interferência que as relações interpessoais ocorridas em sala de aula exercem sobre a aprendizagem escolar. Para o desenvolvimento da pesquisa, além de diversos autores que abordam a temática, inerente ás relações interpessoais, foi realizada uma coleta de dados com 25 professores 83 alunos dos últimos anos dos cursos de Pedagogia, Psicologia, Engenharia de Produção e Ciências Contábeis de uma faculdade particular de Cascavel - PR. O instrumento utilizado foi um questionário com nove questões fechadas e uma aberta sobre assuntos como: relacionamento, desempenho nas matérias escolares e conflitos entre os professores e alunos. Os resultados indicaram que quando havia conflitos na relação professor e aluno, os alunos demonstravam insatisfação em relação à disciplina, dificultando o processo de aprendizagem. Estas informações também foram confirmadas pelos professores. Concluise que relações interpessoais saudáveis não somente favorecem o desenvolvimento escolar e uma boa convivência em sala de aula, como são indispensáveis para alcançar o objetivo proposto, ou seja, o desenvolvimento do aluno e a melhora qualitativa no processo de ensino e aprendizagem. Palavras-chave: Relações interpessoais. Aprendizagem escolar. Ensino superior. 1. Introdução No contexto escolar, muitos aspectos, interferem no processo de aprendizagem, sendo um dos que pode ser considerado muito importante, diz respeito às relações estabelecidas em sala de aula, especialmente no que se refere a relação professor-aluno. Sabe-se que no ambiente escolar existe uma grande diversidade de alunos que juntamente com o professor, forma um grupo de pessoas com cultura diferenciada, e ao mesmo tempo em que contribui com a formação de todos os envolvidos, pode interferir no relacionamento que ocorre no espaço escolar. Normalmente se acredita que se as relações interpessoais existentes na escola forem saudáveis, elas podem contribuir com a melhor aprendizagem dos alunos. Mas até que ponto trata-se de uma verdade? Será que professores e alunos concordam com esta suposição? São estas e outras indagações que esta pesquisa, que tem por objetivo identificar a percepção de docentes e discentes do ensino superior sobre a interferência que as relações interpessoais ocorridas em sala de aula exercem sobre a aprendizagem escolar, busca responder. 3 Para atender ao objetivo proposto, foi realizada uma pesquisa bibliográfica sobre autores que abordam a temática referente às relações interpessoais, e sua relação com a sala de aula, e também uma pesquisa de campos com professores e alunos de diversos cursos de graduação da faculdade particular de Cascavel – PR. 2. Relações Interpessoais e Processo de Ensino Ao trabalhar a relação professor-aluno busca-se compreender as relações interpessoais e o vínculo que nelas se estabelece através do conceito proposto por Antunes (2003, p. 09): “Relações interpessoais é o conjunto de procedimentos que, facilitando a comunicação e as linguagens, estabelece laços sólidos nas relações humanas.” A originalidade de cada indivíduo dificulta a comunicação interpessoal e com ela todo esquema de relações humanas, que envolve o segredo do conviver. Esta particularidade humana está presente em qualquer família, em um escritório, na escolha de companheiros, nos partidos políticos e, naturalmente, na sala dos professores e em toda sala de aula. O estudo e a prática das relações interpessoais buscam analisar os fatores condicionantes das relações humanas e, face aos mesmos, sugerir procedimentos que amenizem a particularidade de cada um e dinamizem a solidariedade entre todos os que buscam conviver em harmonia. Para Gonçalves (2006), somos seres incompletos que dependemos dos outros, cujas vivências resultam em trocas. Estas trocas são necessárias para não só aprendermos do outro enquanto diferente de nós, como, simultaneamente confirmamos nossa singularidade. Guareschi (2002) também acredita que o ser humano é incompleto fundamentando-se na concepção de ser humano como relação, ou seja, não é possível ser alguém sem a presença de outra pessoa. Não se pode ser professor sem a presença do aluno e este último não existiria sem a presença do primeiro. Para o autor, o ser humano se torna mais pessoa através das relações que estabelece com os outros. As relações interpessoais, no contexto escolar, tiveram conotações diferenciadas conforme a proposta educativa predominante. De acordo com Antunes (2003), quando a concepção de escola pressupunha que sua única razão de existir era a de transmitir informações segundo planos sistemáticos e garantir às novas gerações o domínio da herança cultural acumulada, o papel do professor restringia-se especificamente à exposição dos conteúdos. Nesse contexto, era possível pensar que alunos e professores habitassem mundos diferentes que se cruzava com objetivos claramente distintos; alguns para dizer, outros para ouvir. A escola ao assumir, entretanto, um papel educativo e, assim, transformar o ser humano, capacitando-o para a vida, as relações interpessoais passaram a ganhar uma dimensão imprescindível, ampliando assim as exigências inerentes à função docente. Segundo Pimenta (2002), na sociedade brasileira contemporânea, novas exigências são acrescentadas ao trabalho dos professores. Com o colapso das velhas certezas morais, cobrase deles que cumpram funções de família e de outras instâncias sociais; que respondam à necessidade de afeto dos alunos; que resolvam os problemas da violência, da droga e da indisciplina; que preparem melhor seu aluno para a vida em sociedade. É claro que não se pode esperar que o professor resolva sozinho toda esta problemática, mas tal realidade indica que é importante valorizar as relações interpessoais, visto que, conforme Moraes (1994), a relação professor-aluno pode proporcionar um encontro existencial do qual ninguém sai ileso. No convívio de sala de aula, todos são influenciados pelas relações que se estabelecem uns com os outros. 4 Se as relações interpessoais são tão importantes no âmbito escolar e para a vida do ser humano, pode-se questionar: quando devemos trabalhar relações interpessoais no contexto didático-pedagógico? De acordo com Antunes (2003), não é fácil definir essa questão, pois as relações que envolvem alunos e professores, professores e professores, professores e pais e ainda muitos outros atores do universo escolar, são marcadas pelo imprevisível e, como assim são, nem sempre é possível antecipar o uso de uma ação ou estratégia que atue como sensibilizadora das relações interpessoais. Mas, mesmo considerando a importância dessas reflexões e dessas ações que envolvem as relações interpessoais para uso eventual em circunstâncias imprevisíveis, é essencial que o profissional encarregado de fazê-las mostre-se preparado e com sensibilidade para perceber o oportunismo do momento e tenha domínio das estratégias de execução. Têmse assim, conforme Antunes (2003), fazendo parte do nosso cotidiano três elementos que exigem resposta: é preciso fazer alguma coisa pelas relações interpessoais; é preciso estar preparado para esse fazer; e, é preciso aproveitar o momento certo para fazê-lo. Antunes (2003) ainda questiona: Além desse uso eventual ditado pelas circunstâncias do momento, não seria o caso de transformar o acidental em permanente? De incorporar à rotina do currículo um projeto de relações interpessoais, mesmo que com outros títulos e rótulos? O autor menciona que, ainda que não seja necessário abdicar de usos eventuais em circunstâncias específicas, é possível buscar alternativas. Através de projetos, por exemplo, é possível propiciar ao aluno atividades programadas e, portanto, iluminadas por objetivos claros, recursos materiais e humanos previamente organizados, temas estruturados segundo os anseios da instituição e das famílias, estratégias definidas através de uma programação dinâmica e progressiva e sistemas de avaliação consistentes. Desnecessário dizer que o emprego sistemático de um verdadeiro projeto de relações interpessoais não exclui a eventualidade de trabalhar essas relações em uma ou em outra circunstância. O fato de sentirmos solidariedade no combate a fome não impede que também se busque combater o nosso frio. Ou o fato de trabalhar um determinado conteúdo na escola não impossibilita o trabalho voltado ao desenvolvimento das relações interpessoais inerentes aos sujeitos que fazem parte do processo educativo. 3. Metodologia Para melhor compreender como se estabelecem as relações entre professores e alunos no ensino superior e se as relações interpessoais interferem no processo de aprendizagem do estudante universitário, foi realizada uma pesquisa exploratória de abordagem qualitativa e quantitativa, com 25 professores de ambos os sexos, pertencentes ao quadro de professores de uma faculdade particular de Cascavel, e com 83 alunos dos cursos de Pedagogia, Psicologia, Engenharia de Produção e Ciências Contábeis da mesma instituição, sendo que todos cursavam os últimos períodos do curso de graduação. Como instrumento para a coleta de dados foi utilizado um questionário com 09 questões fechadas e uma aberta, tanto para professores quanto para os alunos. O assunto das questões era idêntico, porém adequado aos docentes e discentes. Decidiu-se por realizar a referida pesquisa após contatos com professores e alunos, onde foram citadas várias reclamações, de ambas as partes, sobre comportamento em sala de aula e a dificuldade ocasionada por este fator, no bom desempenho da classe. A pesquisa levou a uma melhor compreensão da situação e possibilitou uma ótima discussão sobre o assunto entre a realidade das salas de aula e a literatura existente. Para análise dos dados foi realizada a tabulação das questões fechadas e leitura da questão aberta, obtendo-se assim um panorama geral do assunto. 5 4. Resultados e Discussão Considerando que a pesquisa foi realizada com professores e alunos, para a organização dos dados, optou-se por analisar primeiramente as respostas dos alunos, em seguida as dos professores para, finalmente, fazer uma reflexão sobre as respostas apresentadas por ambos os grupos pesquisados. No que se refere a opinião emitida pelos alunos sobre o relacionamento com os seus professores, a grande maioria (76%) considera positivo o tipo de relação estabelecido em sala de aula, sendo que a resposta foi à mesma para as duas próximas questões que dizem respeito ao desempenho em relação às notas e também ao aprendizado no transcorrer do curso. É interessante ressaltar que nas disciplinas em que os alunos encontram maior facilidade para aprender, 99% dos entrevistados responderam que o seu relacionamento com os docentes é considerado bom. Ou seja, os dados indicam que quando a relação professoraluno é saudável, o processo de ensino e aprendizagem torna-se mais eficaz, talvez porque o que ocorre na sala de aula vai além do que está previsto no planejamento de ensino. Nesse sentido, Gusdorf (apud HAYDT, 2002, p. 206) destaca que: A situação pedagógica é uma situação de encontro existencial e de coexistência entre duas personalidades. É um diálogo venturoso, um colóquio singular entre dois seres que se expõem e se revela um ao outro. Mestre é aquele que surge num dado momento, e, numa certa situação como testemunha de uma verdade, representante de um ideal ou revelador de um saber. Questionados a seguir sobre o relacionamento com os professores nas matérias com maior dificuldade de aprendizado, 21% responderam que é regular e 1% considera que é ruim. Nota-se que a influência negativa no aprendizado, quando o relacionamento é difícil, conforme evidenciado no gráfico 1: GRÁFICO 1 – Relação dos alunos com os professores nas matérias que têm dificuldades. otim o 17% bom 61% regular 21% ruim 1% Fonte: Dados extraídos dos questionários. Assim como as relações interpessoais positivas contribuem com o processo de ensino e aprendizagem, o oposto também ocorre, ou seja, se há problemas na relação professor e aluno, há uma grande probabilidade de os alunos apresentarem dificuldades na disciplina ministrada pelo professor. 6 Para Borges (2008), os professores devem valorizar os alunos dando mais ênfase no aluno e não na matéria, como geralmente acorre. Não significa dizer, no entanto, que o professor abandonará seus conteúdos, pois somente aqueles professores que alcançaram um grau de conhecimentos significativos sobre seus conteúdos é que são capazes de se libertarem dos mesmos, para efetivamente, dar atenção devida para as reais necessidades de seus alunos. O professor deve valorizar seu aluno permitindo-lhe o desenvolvimento do seu aprendizado, para que ele seja capaz de construir e reconstruir, elaborar e re-elaborar seu conhecimento de acordo com sua habilidade e seu ritmo. Um dos fatores que podem interferir nesta capacidade de valorização das relações interpessoais em sala de aula pode ser imputado à difícil separação da vida pessoal/profissional, principalmente por parte dos professores, que para obter um relacionamento saudável com os alunos devem saber administrar os seus problemas pessoais, uma vez que é impossível afastá-los completamente, mesmo estando em sala de aula. Mosquera e Stobäus (2002) que, ao estudar sobre a idade adulta e sobre a afetividade no contexto escolar, comentam sobre a tentativa infrutífera de separar a vida pessoal do professor de sua vida profissional. Lembram que um professor com mais condições de ser bem sucedido seria aquele que desenvolvesse uma personalidade saudável e melhores relações interpessoais, tentando encaminhar-se para uma educação efetiva. Quando questionados se em sua concepção o relacionamento professor aluno interfere no aprendizado e desempenho do aluno, as respostas indicaram que para o sucesso do aprendizado o bom relacionamento é imprescindível, conforme gráfico 2: GRÁFICO 2 – Interferência da relação professor e aluno no processo de aprendizagem. m uito 71% m edio 18% pouco 4% não interf 7% Fonte: Dados extraídos dos questionários. Neste contexto vale efetuar um gráfico comparativo entre as disciplinas, visto que é diferente a percepção dos alunos de cada curso a respeito das relações interpessoais ocorridas em sala de aula. É possível constatar, por exemplo, que para os acadêmicos de Pedagogia, o relacionamento é de suma importância, enquanto que os discentes de outros cursos atribuem menor valor, conforme gráfico 3: 7 GRÁFICO 3 – Comparativo entre os cursos sobre a interferência das relações professor e aluno para a aprendizagem. 100 80 m uito 60 m edio 40 pouco 20 ñ interf 0 pedagogia cienc cont psicologia eng prod GERAL Fonte: Dados extraídos dos questionários. As respostas indicam que todos sabem da importância do relacionamento professor aluno, o difícil é colocar isto na prática. Conforme Luckesi (1994) trata-se de aprender a aprender, ou seja, é mais importante o processo de aquisição do saber do que o saber, propriamente dito. Portanto o bom profissional deve estar preparado para diversas situações inesperadas, para quando o inusitado acontecer, não interfira no bom relacionamento com os alunos e conseqüentemente ao transcurso normal da aula. Perguntados se já foram prejudicados sem motivo aparente por algum professor, 44% responderam que de uma a mais vezes, conforme gráfico 4: GRÁFICO 4 – Quantidades de vezes em que os alunos foram prejudicados pelos professores. sem pre alg vezes 25% um a vez 19% nunca 56% Fonte: Dados extraídos dos questionários. A única questão aberta, indagava sobre as causas dos conflitos existentes entre os professores e alunos. As respostas predominantes referiam-se, segundo a opinião dos alunos, a algumas posturas do professor, falta de conhecimento da matéria, autoritarismo, falta de profissionalismo, falta de experiência, faltas em excesso, entre outros. Vale ressaltar que novamente nesta questão onde envolve relacionamento interpessoal a grande maioria (70%) dos alunos de Pedagogia, respondeu que já foram prejudicados sem motivo aparente por algum professor. Ou seja, um curso em que se trabalha mais sobre disciplinas humanísticas, o problema de relacionamento entre professores e alunos parecem 8 ser mais graves. Talvez, justamente, porque os alunos identificam melhor estes problemas e procuram não ficar neutros diante de uma situação que consideram inadequada para o contexto de sala de aula. Ao mesmo tempo, foi possível constatar que em outros cursos, a maior queixa dos alunos relaciona-se à falta de preparo, pois com a falta de professores no mercado de trabalho, faz com que as instituições de ensino superior busquem profissionais de outras áreas para preencher as referidas vagas, e muitas vezes os mesmos não estão preparados para atuar em sala de aula, ou não estão motivados para a função docente. A grande percentagem de alunos que se dizem prejudicados ou perseguidos pelos educadores tende a levar a uma grande reflexão sobre o assunto, e questionar sobre o despreparo dos professores para lidar com situações adversas. Nesse sentido, Enricone (2002, p.105) comenta que: Para relacionar-se positivamente com outros, é necessário ter abertura para a diversidade e estrutura democrática para poder viver bem em um mundo múltiplo e plural. Não é necessário sempre dizer que sim, precisamos aprender a elegantemente saber dizer não, sem sermos cruéis ou desnecessariamente impositivos. O resultado exposto anteriormente agrava-se principalmente se for levado em conta que a média de idade dos pesquisados ficou em torno dos 30 anos, ou seja, não se está falando de crianças ou adolescentes, mais sim de pessoas adultas, que teriam por obrigação discernir sobre o que é certo ou errado, e principalmente do porque estão em salas de aula. Para corroborar ainda mais este fator a resposta à outra pergunta, 23% dos entrevistados afirmaram que estas divergências com professores ocasionaram dificuldades na sua jornada educacional. Uma das possíveis respostas para esse problema pode estar na conclusão da questão seguinte onde perguntamos sobre qual foi o fator principal para a escolha da profissão. No contexto geral apenas 32% responderam que a escolha da profissão deu-se por vocação. Novamente a turma de Pedagogia, o equivalente a 24% do total de alunos entrevistados, respondeu que escolheram por questões financeiras e oportunidade de emprego, e apenas 52% por gostar da profissão (gráfico 5). Portanto conclui-se através deste fato algumas das possíveis causas de problemas em sala de aula, ou seja, falta de motivação pela profissão. GRÁFICO 5 – Motivo da escolha da profissão pelos alunos. 60 50 professor 40 oportunidade 30 vocação 20 rend financ 10 pais 0 outros pedagogia cienc cont psicologia Fonte: Dados extraídos dos questionários. eng prod GERAL 9 O bom relacionamento professor-aluno deve ser preponderante durante o percurso escolar, pois conforme foi visto na resposta acima, o grande número de pessoas que ficaram marcadas emocionalmente durante a trajetória escolar, muitas vezes porque faltou num determinado momento o controle emocional de uma, ou das duas partes envolvidas. Güell Barceló e Muñoz Redon (citado por ENRICONE, 2002, p. 93) comentam sobre a necessidade de desenvolver um programa de alfabetização emocional. Isto parece de grande importância quando se percebe uma desensibilização das pessoas no cotidiano. Encerrando os questionamentos com os discentes, conclui-se que grande parte, já se sentiu prejudicada de alguma maneira por alguns docentes, e, algumas vezes deixando conseqüências na sua jornada escolar. Ao discorrer sobre as entrevistas com os professores, no primeiro questionamento, referente ao relacionamento com seus alunos em sala da aula, 100% dos entrevistados responderam ser bom ou ótimo. Já em relação ao seu desempenho quanto às notas obtidas pelos alunos, 12% acham que tiveram uma atuação regular e 72% tiveram boa atuação, conforme gráfico 6: GRÁFICO 6 – Percepção dos professores sobre o seu desempenho em relação as notas dos alunos. OTIMO 16% BOM 72% REGULAR 12% Fonte: Dados extraídos dos questionários. É preocupante quando o profissional educador acha que o seu desempenho não está conseguindo propiciar ao aluno um nível de conhecimento suficiente para ajudar na sua formação, faltando-lhe muitas vezes apenas conversar com o aluno e descobrir a causa da sua dificuldade. Todo professor gostaria de ministrar uma aula memorável, de tal forma que os seus alunos pudessem se lembrar posteriormente, mas sabe-se que para chegar a esse ponto, necessita-se de maior paixão pelo que se faz e por quem se faz, mas o saber evolui rapidamente sobre a aprendizagem e, por isso, compreende-se que é essencial estudar muito, ou seja, estudar sempre. Antunes (2003), diz que para haver um processo de intercâmbio que propicie a construção coletiva do conhecimento, é preciso que a relação tenha como base o diálogo. É por meio do diálogo que professor e aluno juntos constroem o conhecimento, chegando a uma síntese do saber de cada um. Vale ressaltar aqui o método Socrático, segundo Strathern (1998), onde consta que Sócrates adotava sempre o diálogo, que revestia uma dúplice forma, conforme se tratava de um adversário a rebater ou de um discípulo a instruir. No primeiro caso, assumia humildemente a atitude de quem aprende e ia multiplicando as perguntas até colher o adversário presunçoso em evidente contradição e constrangê-lo à confissão humilhante de sua 10 ignorância. É a ironia socrática. No segundo caso, tratando-se de um discípulo (e era muitas vezes o próprio adversário vencido), multiplicava ainda as perguntas, dirigindo-as agora a fim de obter, por indução dos casos particulares e concretos, um conceito, uma definição geral do objeto em questão. A este processo pedagógico, em memória da profissão materna, denominou-se de maiêutica ou engenhosa obstetrícia do espírito, que facilitava a parturição das idéias. Na questão que indagava se já se sentiram prejudicados sem motivo por um ou outro graduando, 76% do professores entrevistados afirmaram que sim, sendo a principais causas relativas aos conteúdos trabalhados (gráfico 7). GRÁFICO 7 – Quantidades de vezes em que os professores foram prejudicados por algum aluno. ALGUMAS VEZES 60% UMA VEZ 16% NUNCA 24% Fonte: Dados extraídos dos questionários. Perguntado aos professores se no passado, enquanto alunos, o conflito com algum professor ocasionou ou não, alguma dificuldade em sua jornada educacional. Sendo que 16% responderam mais de uma vez e 12% uma vez, conforme gráfico 8: GRÁFICO 8 – Quantidades de vezes em que os professores, quando eram alunos, se sentiram prejudicados por seus mestres. MAIS DE UMA VEZ 16% UMA VEZ 12% NUNCA 72% Fonte: Dados extraídos dos questionários. A resposta a esta questão deixa claro que independentemente de época ou idade, o bom relacionamento professor-aluno é imprescindível para a compreensão mútua e consequente aprendizado de ambas as partes, e mostra que, mesmo com o passar do tempo, a 11 situação não muda, pois os atuais professores relatam situações semelhantes da época em que eram alunos de outros níveis de ensino. Apesar de a maioria (72%) afirmaram que nunca houve este tipo de problema, talvez por se considerarem bons alunos, ou pelo fato de que com o tempo não se lembram tanto das suas atitudes de alunos, visto que as lembranças da sua atuação docente são as predominantes. Na questão seguinte que indagava se o conflito com algum aluno pode interferir no bom andamento da aula como um todo, 70% dos professores disseram que sim, confirmando o ditado popular de que “uma laranja podre, pode estragar toda a caixa”. Na sala de aula é muito comum que um aluno visto como “bagunceiro” interfira no comportamento dos demais por ter um perfil de liderança, fazendo com que toda a sala seja influenciada por suas atitudes. Assim, o professor precisar ter equilíbrio para saber lidar com a situação e acima de tudo ter uma postura de autoridade diante da turma. Para Luckesi (1994), na relação professor-aluno prevalece à autoridade do professor, exigindo uma atitude receptiva dos alunos e impedindo a comunicação entre eles. O professor transmite o conteúdo como uma verdade a ser retida, sendo que estes conteúdos do ensino correspondem aos conhecimentos e valores sociais acumuladas pelas gerações passadas como verdades acabadas, e, apesar da escola objetivar a preparação para a vida, não busca estabelecer relação entre conteúdos que se ensinam e os interesses dos alunos, tampouco entre esses e os problemas reais que afetam a sociedade. Uma das funções principais da escola, desse modo, é transmitir conhecimentos disciplinares para a formação geral do aluno, formação essa que o levará, a inserir-se futuramente na sociedade, a optar por uma formação valorizada. Quando perguntado aos professores sobre a sua influência exercida nos alunos no processo de escolha e permanência na profissão, já que nem todos os alunos do ensino superior têm convicção de que realmente é aquela área que pretende seguir, todos os docentes responderam que influenciam no sentido de levar o aluno a perceber se fez a escolha certa. Nota-se que realmente os docentes sabem que têm responsabilidades em relação aos discentes no processo de formação profissional, principalmente por prepará-los para encarar as situações adversas que encontrarão no decorrer de suas vidas. Nesse sentido, Antunes (2003, p.12) relata que: A escola ao assumir, um papel "educativo" e, portanto, ao usar a herança cultural a ser transmitida como instrumento para desenvolver competências, aguçar sensibilidades, ensinar a aprender, animar inteligências, desenvolver múltiplas linguagens, capacitar para viver, e assim, "transformar" o ser humano; as relações interpessoais passaram a ganhar dimensão imprescindível. Pode-se notar que a totalidade dos professores e a grande maioria dos alunos acreditam que o bom relacionamento entre professor e aluno deve prevalecer, para que ambas as partes se beneficiam. Ou seja, o bom convívio faz com que o professor ministre as suas aulas de maneira que os alunos aprendam com maior facilidade. O estudo e a prática das relações interpessoais busca examinar os fatores condicionantes das relações humanas e, face aos mesmos, sugerir procedimentos que amenizem a angústia da singularidade de cada um e dinamizem a solidariedade entre todos que buscam conviver em harmonia. (ANTUNES, 2003 p. 10). 12 Conforme Magalhães (2008), por meio de relações interpessoais, pode-se trabalhar a maioria das grandes mazelas que castigam a humanidade, senão vejamos constrangimento, preconceito, discriminação, conflitos, a corrupção, estresse, guerra, destruição ambiental, ignorância, exploração e mais e mais, e que se reduzindo à sala de aula temos nas relações interpessoais entre professores e alunos e a construção de vínculos com a aprendizagem, um dos aspectos fundamentais a serem considerados, cada um pode reportar-se a experiências em que passaram a interessar-se ou a rejeitar determinadas disciplinas a partir de certos tipos de relações interpessoais. Finalizando os questionamentos com os docentes, pode-se perceber que enquanto alunos passaram pelos mesmos problemas que os alunos de hoje encontram, ou seja, os anos passam e os problemas continuam os mesmos e pouco se faz para corrigi-los. 5. Considerações Finais Ao analisar o assunto, objeto deste artigo, que é o resultado de uma pesquisa de campo realizado com alunos e professores de uma instituição particular de Cascavel, conclui-se que alunos de hoje, não diferem dos alunos de ontem, como provavelmente serão iguais no amanhã, ou seja, eles vão para as salas de aula para aprender, mas muitos não fazem nada para isso, principalmente porque envolve a questão financeira, e acham que é obrigação do professor ensiná-los. Portanto os professores podem estabelecer parâmetros de relacionamento com seus alunos, e ter a capacidade de adaptar-se a situações adversas, para que o convívio em sala de aula seja satisfatório. Freqüentemente percebe-se que é difícil parar para ouvir os outros. Ouvir os outros, e, aprender a vê-los como são realmente, é fundamental para as relações interpessoais, em especial para os professores, que devem estar muito atentos para ouvir seus alunos e orientálos conforme a necessidade. Assim, é necessário que os professores aprendam que além de dominar o conteúdo de suas disciplinas, devem saber contornar situações de conflitos e antipatias mútuas com alunos, para o bom desempenho da profissão e que o aproveitamento por parte dos educandos seja o melhor possível. É importante salientar que, o professor tem a consciência de que sua atuação, e a relação com seus alunos de hoje, com certeza repercutirá na formação do profissional do amanhã. Concluindo este trabalho nada melhor do que repetir o que o mestre Paulo Freire (1996, p. 73) que disse: "O professor autoritário, licencioso, o professor competente, sério, o professor incompetente, irresponsável, o professor amoroso da vida e das gentes, o professor mal-amado, sempre com raiva do mundo e das pessoas, frio, burocrático, racionalista, nenhum deles passa pelos alunos sem deixar sua marca”. Após analisar essas belíssimas palavras pode-se concluir que o relacionamento interpessoal só tem a contribuir durante o aprendizado escolar firmando assim, uma cumplicidade do professor com o aluno, quebrando qualquer resíduo de autoritarismo, pois qualquer que seja o professor seja ele bom ou ruim contribuirá negativa ou positivamente para o futuro do educando. 13 REFERÊNCIAS: ANTUNES, C. Relações interpessoais e auto-estima. Petrópolis. Editora Vozes Ltda, 2003. BORGES, P F. O professor da década de 90. Artigo apresentado no simpósio de qualidade total na Universidade Mackenzie, 1995. In: GARCIA, Paulo Sérgio. Uma nova relação e o uso de redes eletrônicas. Disponível em: <http://www.geocities.com/Athens/Delphi/2361/profal.html>. Acesso em: 15 mai. 2008. ENRICONE, D. (org.). Ser Professor 3ª ed. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2002. FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática. São Paulo: Papirus, 1996. GONÇALVES, J. P. Relações Interpessoais: condição para a sobrevivência do ser humano. Psicologia Brasil (São Paulo), São Paulo, v. 4, n. 33, p. 32-33, 2006. GUARESCHI, P. Psicologia Social Crítica como Prática de Libertação. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2002. HAYDT, R.C.C. Curso de didática geral. 7ª ed. São Paulo: Ática, 2002. LUCKESI, C.C. Filosofia da Educação. São Paulo: Cortez Editora, 1994. MAGALHÃES, L.R. Relações inter pessoais no cotidiano e aprendizagem, disponível em: <http://www.Psicopedagogia.com.br/entrevistas/entrevista.asp?entrID=94>. Acesso em: 15 mai. 2008. 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