UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO Desnutrição Conseqüências clínicas da desnutrição Quando uma pessoa que está sofrendo de uma doença perde 10-20% do peso do seu corpo, uma deterioração significativa na função corporal pode ocorrer. Isto reduzirá a velocidade da recuperação e poderá terminar levando à morte. As funções muscular, respiratória e termoreguladora poderão ser prejudicadas. As respostas imunológicas serão diminuídas, a resistência à infecção diminuirá e a cicatrização de ferimentos será retardada. No caso de uma perda de peso mais grave, ambas as funções cardiovascular e gastrintestinal são prejudicadas. Os pacientes também podem sofrer psicologicamente quando eles estão desnutridos, tornando-se deprimidos e apáticos. Algumas das conseqüências serão discutidas a seguir de maneira mais detalhada: Perda da resistência muscular A perda da resistência muscular leva a uma redução na mobilidade e na independência, o que, juntamente com reservas de gordura subcutânea reduzidas, aumenta a incidência e a persistência de complicações, tais como quedas e feridas por pressão. Aumento de fraturas A desnutrição pode ser considerada um fator de risco para fratura do quadril, podendo acelerar a perda de massa óssea dependente da idade, uma vez que as dietas deficientes em cálcio podem levar à osteoporose. A coordenação prejudicada, que também ocorre com a desnutrição, aumenta a probabilidade de queda, levando à fraturas. Um estudo de Bastow e outros mostraram que 20% dos pacientes com fratura de quadril estavam seriamente desnutridos e apresentavam uma mortalidade de 20% (em comparação com 4% dos bem nutridos). Incidência aumentada de feridas por pressão Em um levantamento de 501 pacientes consecutivos admitidos a um pavilhão médico de longa permanência, Ek e outros descobriram uma incidência de feridas por pressão, na admissão, de 34,8% entre aqueles avaliados como desnutridos, em comparação com 20,6% naqueles adequadamente nutridos (p<0,01). Durante o estudo, o desenvolvimento de novas feridas por pressão durante a hospitalização foi significativamente mais elevado. A cicatrização das feridas existentes foi menor no grupo desnutrido, apesar de cuidados e tratamento idênticos. Cicatrização retardada de ferimentos Um problema particular entre os pacientes cirúrgicos desnutridos é a cicatrização retardada dos ferimentos. Haydock & Hill mediram a resposta da cicatrização de ferimentos de 66 pacientes cirúrgicos medindo o teor de colágeno (hidroxiprolina) de sondas de Gore-Tex inseridas ao longo de trajetos de agulha subcutâneos padronizados. Após sete dias, o teor de hidroxiprolina das sondas estava significativamente mais baixo nos 30 pacientes com desnutrição pré-operatória do que nos 36 pacientes eutróficos (p<0,01). Funções imunológicas e hormonal prejudicadas A desnutrição pode levar a um comprometimento considerável do equilíbrio hormonal, com hipoinsulinismo ou hipotiroidismo. Ela também compromete o sistema imunológico com linfopenia periférica; fagocitose reduzida por fagócitos polinucleares e macrófagos; produção reduzida de citoquina por monócitos e o aparecimento de linfócitos imaturos. Tais deficiências aumentam o risco e as consequências de infecções, o que, por sua vez, exacerba o déficite nutricional, levando a uma espiral descendente, que pode se mostrar fatal. Um quadro muito semelhante de deficiência imunológica e desnutrição que se exacerbam mutuamente ocorre em pacientes de AIDS. Complicações Pós-Circúrgicas A desnutrição tem sérias implicações para a recuperação após uma cirurgia, em todos os grupos etários. Já em 1936, Studley relatou uma taxa de mortalidade de 33% em pacientes de úlceras com uma perda de peso >20% no período pré-operatório, em comparação com uma mortalidade operatória de 3,5% naqueles com nenhuma perda de peso. Mullen e outros, em uma experiência prospectiva de 64 admissões consecutivas para cirurgia eletiva, descobriram que aqueles com um nível de albumina do soro <3 g/dl e aqueles que apresentaram reações de hipersensibilidade retardada da pele tinham o dobro da taxa de complicações daqueles com um nível >3 g/dl. Além disso, aqueles com um nível de transferrina do soro <220 mg/dl corriam um risco de complicações cinco vezes maior, especialmente de sepse. Os problemas em potencial se tornam mais agudos nos pacientes que estão sendo operados por razões graves, tais como tumor maligno. Numa série de 365 pacientes consecutivos (idade média de 60 anos) que estavam sendo submetidos à ressecção abdominal por causa de vários tumores malignos, Meguide e outros relataram uma taxa de complicação de 72% e uma taxa de mortalidade pós-operatória de 23% nos 177 pacientes desnutridos, em comparação com 29% de complicações e 4% de mortalidade nos eutróficos (p<0,001). As complicações observadas mais frequentemente incluiram não apenas aquelas normalmente associadas com a desnutrição, tais como sepse, infecção de ferimento, abscesso intra-abdominal e pneumonia, mas também as menos comumente associadas, tais como deiscência anastomótica e íleo protraído. Resumo: • A desnutrição causa o enfraquecimento generalizado, exacerba a patologia existente, reduz os poderes de recuperação e aumenta o risco de mortalidade. • As funções muscular, respiratória e termoreguladora podem ficar prejudicadas. A perda da força muscular leva a uma redução na mobilidade. Resumo: As respostas imunológicas são diminuídas, a resistência à infecção cai e a cicatrização de ferimentos é retardada. • A desnutrição afeta todos os grupos etários com graves implicações para a recuperação, particularmente após a cirurgia. • Os pacientes também podem ficar deprimidos e apáticos. Referências 3. Mullen JL, Gertner MH, Buzby GP et al. Implications of malnutrition in the surgical patient. Arch Surg 1979;114: 121-5. 15. Süttmann U, Müller MJ, Ockenga J et al. Malnutrition and immune dysfunction in patients infected with human immunodeficiency virus. Klin Wochenschr 1991;69:156- 62. 16. Lesourd BM et Club Francophone Gériatrie et Nutrition: Conséquences de la malnutrition chez le sujet âgé. Rev de Gériatrie 1995;20:329-32. 17. Ek A-C, Unosson M, Larsson J et al. The development and healing of pressure sores related to the nutritional state. Clin Nutr 1991;10:245-50. Resumo/Desnutrição A desnutrição é uma doença causada pela dieta inapropriada, hipocalórica e hipoproteica. Também pode ser causada por má-absorção de nutrientes ou anorexia. Tem influência de fatores sociais, psiquiátricos ou simplesmente patológicos. Acontece principalmente entre indivíduos de baixa renda e principalmente as crianças de países subdesenvolvidos. Fisiologia Em um indivíduo primeiramente com estado nutricional normal, ao ter sua alimentação altamente limitada, sofre primeiramente com o gasto energético. Gasta-se rapidamente os ATPs produzidos pelas mitocôndrias e em seguida a glicose dos tecidos e do sangue com a liberação de insulina. Com o esgotamento da glicose, a próxima fonte de energia a ser utilizada é o glicogênio armazenado nos músculos e no fígado. Ele é rapidamente lisado em glicose e fornece um aporte razoável de energia. Sua depleção irá causar apatia, prostração e até síncopes - o cérebro que utiliza apenas a glicose e corpos cetônicos, como fonte de energia sofre muito quando há hipoglicemia. Em seguida, a gordura (triacilglicerol) é liberada das reservas adiposas, é quebrada em acido-graxo mais glicerol. O glicerol é transportado para o fígado a fim de produzir novas moléculas de glicose.O ácido-graxo por meio de beta-oxidação forma corpos cetônicos que causa aumento da acidez sanguínea (ph sanguíneo normal 7,4). O acumulo de corpos cetônicos no sangue pode levar a um quadro de cetonia, sua progressão tende a evoluir com o surgimento de ceto-acidose (ph<7,3) compensado pelo organismo com liberação de bicarbonatos na circulação. A pele fica mais grossa, sem o tecido adiposo subcutâneo. Nessa etapa, as proteínas dos músculos e do fígado passam a ser quebradas em aminoácidos para que esses por meio da gliconeogênese passem a ser a nova fonte de glicose (energia). Na verdade, o organismo pode usar ainda várias substâncias como fonte de energia além dessas, se for possível. Há grande perda de massa muscular e as feições do indivíduo ficam mais próximas ao esqueleto . A força muscular é mínima e a conseqüência seguinte é o óbito. Curiosidade... A desnutrição é dividida em três estágios: leve, moderada e grave. Como conceito, a subnutrição é o estágio denominado leve da desnutrição. Pelo fato da subnutrição ser a forma mais amena da consequência da fome, tende a ser sub estimada, já que seus efeitos são menos severos, como, por exemplo, (maior susceptibilidade às doenças infecciosas, levando ao agravamento da desnutrição e suas consequências). Isto é um grande erro, pois a subnutrição constitui-se num sinal de alerta para que se evite conseqüências piores para uma vida.