Variações Nutricionais na Infância (Obesidade e Desnutrição) Maristela Estevão Barbosa Endocrinopediatra do Serviço de Endocrinopediatria HRAS 2008 www.paulomargotto.com.br 8/5/2008 Obesidade na criança e no adolescente • Acúmulo de tecido gorduroso localizado ou generalizado produzido por desequilíbrio nutricional associado ou não a distúrbios genéticos e ou endocrinometabólicos. Projeto diretrizes MAPA MUNDI DA OBESIDADE ↑Itália e alemanha 15.3% - IMC > 95 30%-IMC85/95 Obesidade Infantil em 2010 38% 50% Números da obesidade infantil- 1989 intermediária 1,5 milhões de crianças : F - 5 % M – 4,8% 2,5% 6,2% 7,2% INAN 1991 Números da obesidade infantil ↑ 2.1% 3-5% há 2 décadas 10-15% atualmente (Jansen 2004) 33% dos adolescentes até 15 anos sobrepeso ( Gentile 2004) ↑ 5.8% ↑ 3.1% FISIOPATOLOGIA DA OBESIDADE ETIOLOGIA MULTIFATORIAL : Fatores genéticos Fatores ambientais Fatores comportamentais O tecido adiposo é um órgão endócrino e parácrino, que libera um grande número de mediadores bioativos, que influenciam não apenas a homeostase do peso corporal mas também a inflamação, a coagulação, a fibrinólise,o diabetes, a resistência insulínica, aterosclerose e algumas formas de câncer. GÊNESE DA OBESIDADE “TEORIA DO GEN ECONÔMICO” FEED-BACK : HIPOTÁLAMO-ADIPÓCITO CAUSAS DE OBEDIDADE INFANTO -JUVENIL Obesidade primária (exógena multifatorial) Alterações endócrinas S. de Cushing Hiperinsulinismo Hipogonadismo Doença de Alright ( Hipotiroidismo *) Alterações Genéticas S. Turner S. Cohen S. Down S. Carpenter S. Prader Willi S. Alstrom S. Laurence-Moon-Bardet-Biedl Alterações Neurológicas Lesões cerebrais diversas Distrofias musculares Cirurgias ,traumatismos , pós-inflamação /QT Transtornos Psicológicos Bulimia Iatrogenia Fatores de risco Obesidade dos pais Sedentarismo Peso ao nascer Aleitamento materno Menarca menor que 11 anos Grau de instrução materna Diagnóstico e Classificação Bioimpedância elétrica (BIA) infravermelho (NIRI) Ultra-som (US) tomografia computadorizada (TC) Ressonância magnética (RM) DEXA(dual emission x-ray absorptimetria) peso Estatura Prega cutânea Circunferência abdominal Índice de massa corporal (IMC) Peso/estatura: peso real _____________________________ X 100 peso ideal para estatura no pecentil50 <10% : normal 110-120%:sobrepeso 121-140% :obesidade > 140% obesidade mórbida Circunferência abdominal em crianças Percentis para idade, raça e sexo ( Bogalusa heart Study) Percentual gordura >33% Percentual gordura <20% Cir.abd >71cm C. Abd <61 cm (risco cardiovascular) (Risco mínimo) Índice de Massa corporal meninos meninas NCHS,2000- www.cdc.gov/growthcharts. REPERCUSSÕES DA OBESIDADE Distúrbios Psicossociais Alterações Ortopédicas Alterações dermatológicas – Acantose Nigricans Alterações da Função Pulmonar Hiperinsulinismo Esteatose Hepática - Esteatohepatite Hipertensão Arterial Dislipdemias Alteração do Metabolismo da Glicose (Síndrome Metabólica) Síndrome Metabólica SINDROME METABÓLICA EM CRIANÇASE ADOLESCENTES INTOLERANCIA À GLICOSE É COMUM EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES OBESOS Sinha et al, NEJM, 2002 25% entre 4 – 10 anos 21% entre 11 – 18 anos <10% crianças com DM2 atingem controle glicemico sem medicação LWPES, 2000 (130 EP) – ins.(48%) vs oral(44%) Valores séricos de triglicerídeos e colesterol total e frações Colesterol total < 170 mg/dl HDL-c > 40 mg/dl (< 10 anos ) ≥ 35 mg/dl (10 – 19 anos) LDL-c < 110 mg/dl TG ≤100 mg/dl (<10 anos) ≤130 mmdl (10 – 19 anos) Kwiterovich,1989 Valores séricos de glicemia e insulinemia Glicemia de jejum < 126 mg/dL GTT 140 a 200 mg/dl (2 horas) Insulinemia < 15 mU/L Sperling M (2001); Yensel (2004); Weiss (2004) AÇÃO DA INSULINA NORMALLY IN THE BODY: DIABETES TYPE 2: INSULIN RESISTANCE Definição de Resistência Insulínica CLAMP EUGLICÊMICO HIPERGLICÊMICO HOMA Glicemia(mMol) x insulina(mU/mL) 22,5 RELAÇÃO GLICOSE /INSULINA QUICKI 1 Log insulina (mcU/ml) +Log glicose(mg/dL) DEFINIÇÃO DE RESISTÊNCIA INSULÍNICA ADOLESCENTES cutoff 3,16 HOMA maior que 4 ADULTOS maior que 2,5 Pediatrics 2005; Mar 1,2005 > GLICOSE / INSULINA < HOMA X G / I 4,5 7 95% SENSIBILIDADE 84% ESPECIFICIDADE JCEM-2001 HOMA tem maior sensibilidade e especificidade Pediatrics 2005; Mar 1,2005 História natural da obesidade infantil: Pequeno para a idade gestacional (peso) Ganho de peso excessivo na infância Pubarca precoce Acantosis nigricans Estrias e ginecomastia Aumento de triglicerídeos Aterosclerose prematura - Hipertensão, SOP glomerulonefrite focal, DMT2 Predisposição para câncer Doença de Alzheimer O diagnóstico de obesidade é também um diagnóstico comportamental Pirâmide alimentar antes da intervenção diétetica Pirâmide alimentar após da intervenção diétetica OBESIDADE: Fator de risco para desenvolvimento de RI e DM2 < sensibilidade insulínica e hiperinsulinemia DM2: Predisposição pode ser programada no útero Alteração da primeira fase de secreção de insulina Glico e lipotoxicidade Diminuição progressiva da célula ß (apoptose) PROTOCOLO AGRESSIVO DE INTERVENÇÃO Acantose Nigricans Acantose Nigricans Marcador clínico de RI/hiperinsulinemia subgrupo com alto risco para DM2 Pode preceder RI ☞ Receptores para insulina e GH em queratinócitos PROTOCOLO DE INTERVENÇÃO Anamnese/Exame Físico: Laboratório: Tratamento: História familiar, dados do nascimento PA, acantose nigricans, Insulina ,curva de sobrecarga de glicose Mudança do estilo de vida. dietas hipolipídicas (máximo :25%) Restrição - Não ultrapassar - 400 Kca/dia - 700 Kcal/dia (adolescentes fora do estirão) American Dietetic association EXERCÍCIO FÍSICO: MEDICAÇÃO: Metformina, inibidor ECA, estatina, fibrato, acarbose, niacina, redutor de apetite, cirurgia. TRATAMENTO DE HIPERCOLESTEROLEMIA FAMILIAR INDICAÇÕES: crianças maiores 10 anos após 6m a 1 ano tto diétetico Riscos cardivasculares história Familiar positiva de antecedentes cardiovasculares precoces LDL ≥ + 158mg/dl ou LDL ≥ 190 mg/dl American National Cholesterol Education Program Alvos em potencial para prevenção da obesidade infantil e adolescente A menos que estratégias e intervenções de sucesso ocorram em nível local nacionalmente, tudo leva a crer, que a diminuição das DCV em adultos nos últimos 50 anos, poderá ser revertida , quando a população de crianças e adolescentes com sobrepeso e obesidade se tornarem adultos. Desnutrição Proteico-Energética Desnutrição Protéico- Energética • 1/3 da população infantil dos países em desenvolvimento apresenta algum tipo de desnutrição • Mais de 56% das mortes de crianças menores de 5 anos é influenciada pela desnutrição J. Pediatria; 2000 Desnutrição Protéico – Energética Prevalência • 11% das desnutridas crianças brasileiras são • 30% dos adultos são seqüelados pela baixa estatura • A situação nutricional de menores de 5 anos melhorou nos últimos anos ONU; 1990 Desnutrição Protéico – Energética Indicadores Altura para idade (A/I) Peso para a idade (P/I) Peso para a altura (P/A) Há déficit ponderal e estatural quando o peso e altura estão abaixo de 2 DP Desnutrição Protéico – Energética Indicadores • O déficit de estatura é um indicador melhor da má nutrição para a população infantil (A/I) • Déficit neste índice indica inadequação cumulativa e prolongada da situação de saúde e nutricional • O peso para a idade é o índice mais habitualmente usado • Reflete o acúmulo de peso alcançado a longo ou curto período de tempo Desnutrição Protéico – Energética Etiologia O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) resumiu o pensamento atual de que as causas imediatas de má nutrição são a dieta carente e a doença. Desnutrição Protéico – Energética Pode ser : • Específica • global • primária • secundária Manifestações: Universais Hipoalbuminemia Hipocolesterolemia Hipoglicemia Circunstâncias Edema Altc. de cabelos Altc. De pele Desaceleração→Interrupção→Involução Diluição Disfunção Depleção Desnutrição Protéico – Energética Classificação de GOMEZ – até 2 anos P/I= Peso observado X 100 Peso esperado para idade e sexo (p50) (p50) – percentil 50 do padrão de referência (NCHS) Desnutrição Protéico – Energética Classificação de GOMEZ % P/I 91 – 110 Estado de Nutrição Eutrofia % Déficit 76 – 90 Desnutrição leve ou 1º grau 10 – 24 61 – 75 Desnutrição moderada ou 2º grau ≤ 60 Desnutrição grave ou 3º grau <9 25 – 39 > 40 Desnutrição Protéico – Energética Classificação de WATERLOW – 2 a 10 anos A/I= Estatura observada X 100 Estatura esperada para idade e sexo (p50) P/A= peso observado X 100 Peso esperado para estatura observada Desnutrição Protéico – Energética Classificação de WATERLOW Estado de Nutrição A/I P/A Eutrófico > 95% > 90% Desnutrido Agudo > 95% < 90% Desnutrido Crônico < 95% < 90% Desnutrido Pregresso < 95% > 90% Desnutrição Protéico – Energética Classificação da OMS – escore DP Desnutrição Moderada Grave P/A A/I DP – 3 ≤ -2 DP – 3 ≤ -2 DP < -3 DP < -3 Edema Não Sim Desnutrição Protéico – Energética Classificação utilizada na Rede Básica de Saúde • Abaixo do p3: desnutrição moderada/grave • Entre p3 e p10: desnutrição leve Desnutrição Protéico – Energética Aspectos Clínicos • DPE leve falência do crescimento (peso estatura) • DPE grave Kwashiorkor e marasmo Desnutrição Protéico – Energética Aspectos Clínicos Marasmo – abaixo de 1 ano • Restrição crônica e severa de energia e de proteína • Perda de gordura e massa muscular • Hipotrofia severa • Face simiesca • Deficiências de micronutrientes (vit. A e D) Desnutrição Protéico – Energética Aspectos Clínicos Marasmo – abaixo de 1 ano • Diarréia • Infecção respiratória • Parasitoses • Tuberculose • Mais ansioso do que apático Desnutrição Protéico – Energética Aspectos Clínicos Kwashiorkor – 1 a 3 anos • Acentuada limitação na ingestão de proteínas • Retardo no crescimento • Edema depressível • “face de lua” • Hepatomegalia • Alterações mentais e do humor Desnutrição Protéico – Energética Aspectos Clínicos Kwashiorkor – 1 a 3anos • Lesões de cabelo: despigmentações • Lesões de pele: dermatoses descamativas • Anorexia • Diarréia • Deficiências de micronutrientes Desnutrição Protéico – Energética Diagnóstico História Clínica Exame Físico Exames laboratorias Desnutrição Protéico – Energética Alterações Fisiológicas Pele e gordura subcutânea atrofiadas pregas cutâneas Glândulas atrofiadas secura de boca e olhos Olhos encovados devido a perda da gordura subcutânea na órbita Desnutrição Protéico – Energética Alterações Fisiológicas - Fígado Síntese protéica diminuída Gliconeogênese reduzida – risco de hipoglicemia Secreção de bile reduzida Esteatose hepática Desnutrição Protéico – Energética Alterações Fisiológicas - TGI Produção de ácido gástrico reduzida Motilidade intestinal reduzida Pâncreas atrofiado e secreção de enzimas digestivas reduzida Mucosa do intestino delgado atrofiada em graus variados Desnutrição Protéico – Energética Alterações Fisiológicas - SCV Débito cardíaco e volume circulatório reduzidos Pressão arterial baixa Perfusão renal reduzidos e tempo de circulação Qualquer aumento no volume sangüíneo pode produzir ICC Desnutrição Protéico – Energética Fisiológicas – Renais Filtração glomerular reduzida. Excreção de sódio e ácidos reduzida. Dificuldade na capacidade de concentrar urina – Hipostenúria. Alteração da bomba Na/K. Perda renal de K. 50% do k intracelular pode ser pelo Na. Hiponatremia com Na corporal aumentado. Importante!!!! • Toda criança encaminhada para internação por qualquer causa deve ter seu estado nutricional avaliado. Se apresentar desnutrição ,mas não se enquadrar nos critérios e não houver motivos outros para internação. • Deve ser encaminhado para tratamento ambulatorial ou domiciliar. • Neste caso mãe e/ou cuidador devem ser esclarecidos sobre a situação da criança. Desnutrição Protéico – Energética Exames úteis para o tratamento: Hemograma Glicemia Urina I e Urocultura Exame de fezes Hemo , nasofaringe e coproculturas Exames para condições específicas Esfregaço sanguíneo Rx de tórax Teste de mantoux Sorologias LCR Exames de pouco valor : Proteínas séricas Eletrólitos Desnutrição Protéico – Energética Tratamento Inicial – 2 a 7 dias Tratar ou prevenir hipoglicemia e hipotermia (glicemia < 54 mg/dl e temperatura axilar < 35 ºC) Tratar ou prevenir desidratação (soro ressomal) / choque e restaurar o equilíbrio eletrolítico – SRO – 1 pacote/2 L água + 50g sacarose – SF 0,45% - 15 ml/Kg EV em 1h Tratar choque séptico Corrigir deficiências de micronutrientes Desnutrição Protéico –Energética Tratamento - Reabilitação Aumentar a alimentação para recuperar o peso perdido ( crescimento rápido ) Objetivo : Repor 10 g/Kg de peso/dia Calorias 150-220Kcal/Kg/dia Proteína 4 a 6 g/Kg/dia. Vol. Máximo : 30ml/Kg de peso/dia. Ganho ponderal >10 g/Kg/dia → Sucesso ! Promover estimulação e suporte emocional ESQUEMA ALIMENTAR INICIAL DE 100KCAL/KG/DIA DIAS FREQUENCIA VOL/KG DE PESO/REFEIÇÃO VOL/KG DE PESO/DIA 1-2 2/2 HORAS 11ML 130ML 3-5 3/3HORAS 16ML 130ML 6-7 +4/4HORAS 22ML 130ML MAHARAJ,2003 CLASSIFICAÇÃO E CONDUTA PARA GANHO DE PESO CLASSIFICAÇÃO DO GANHO DE PESO VALOR DE REFERENCIA CONDUTA INSUFICIENTE <5g/KG de Reavaliação completa MODERADO 5-10g/Kg de peso/dia Verificar se meta de ingesta está sendo alcançada ou existe infecção BOM >10g/kg de peso/dia peso/dia Evolução satisfatória CÁLCULO DO GANHO MÉDIO DE PESO SEMANAL 1.CALCULE O GANHO MÉDIO DE PESO/DIA (GPM)- 7 dias Explo: Cça desnutrida sem edema no primeiro dia de alimentação pesou 8.500g e no sétimo dia pesou 8.850 P2-P1/7 dias : 8.850 – 8.500/ 7 = 350/7 = 50g por dia. 2. CALCULE O PESO MÉDIO (GMP)/kG /NESTE PERÍODO a. Peso médio: P1+P2/2 8,5+8,850/2 = 8,675 gramas (PM). b. GPM do período: 50(g/dia)/8,675Kg = 5,76g/Kg de peso/dia GANHO DE PESO INSUFICIENTE OU MODERADO Lesões corneais indicativas de hipovitaminose A Xerose conjuntival Mancha de bitot Olho seco Queratomalácia Sem tratamento 1 mês após tratamento Administração de vitamina A conforme idade da criança IDADE DOSE Abaixo de 6meses 50.000UI 6 a 12meses 100.000UI 1 a 5 anos ou mais 200.000UI º OPAS,2000 Crianças com manifestações de hipovitaminose A devem receber Megadoses pelo risco de cegueira . Necessitando da primeira dose já de 1º dia de internação. 2º dose no 2º dia de internação. 3 ºdose (mínimo de 2 semanas ápos da 2º dose. Ácido Fólico: 5mg no primeiro dia e a partir daí 1mg /dia por no mínimo 2 semanas. Desnutrição Protéico – Energética Critérios para Alta Aceitação da dieta. Ganho ponderal. Tratadas infecções e deficiências. Capacitação da família. T T O D A H I P O G L I C E M I A T T O D A D E S I D R A T A Ç Ã O Ironicamente, obesidade e desnutrição apesar de diametralmente opostas apresentam etiologia em comum : A ausência de política de saúde preventiva que vise o indivíduo a longo prazo. E caso, medidas imediatas não sejam tomadas seremos uma sociedade doente e inoperante nas próximas décadas. OBRIGADA!