A EMERGÊNCIA DAS MÍDIAS DIGITAIS Capítulo 30 INTRODUÇÃO As mídias digitais, também chamadas novas tecnologias incluem conhecimento, ciência, reflexão, produção e relações colaborativas entre as pessoas. Provocam transformações na vida social, nos hábitos, nas ciências e na forma de produzir Seu impacto na vida social se iguala ao da Revolução Agrícola e ao da Revolução Industrial. Despertou muitas resistências pois as mudanças são sempre acompanhadas de descontentamento. E as razões são muitas: a comodidade experimentada diante de hábitos arraigados, o custo da mudança tecnológica, o estranhamento e a falta de informação perante os procedimentos técnicos e os problemas sociais deles decorrentes. OS ANTECEDENTES Na China antiga, há milhares de anos, foi inventado um instrumento que auxiliava comerciantes e cientistas a executar operações aritméticas: o ábaco. A palavra algarismo vem do nome do matemático e astrônomo árabe do século VIII Al-Khwarizmi, cuja obra, algum tempo depois, difundiu o sistema de numeração hindu entre os europeus. Os signos numéricos foram chamados de dígitos. Em sua origem, dígito designava tanto a quantidade de dedos em nossas mãos quanto a base de nosso sistema numérico. Com o crescimento do comércio e da matemática, a partir do Renascimento, as invenções se intensificaram. No século XVII, foi inventada a régua de calcular por William Oughtred, e Pascal criava, aos 18 anos, a primeira máquina de calcular. Depois foi a vez de Leibniz aperfeiçoar o invento, possibilitando também operações de cálculo de raiz quadrada. No século XIX, o matemático e engenheiro inglês Charles Babbage desenvolveu um novo sistema capaz igualmente de realizar operações mais sofisticadas, como equações trigonométricas, e imprimir relatórios sem a mediação do operador, cuja função se limitava à inserção de dados iniciais. Era uma máquina com dispositivos de memória movida a vapor. No início do século XIX, o mecânico francês Joseph Marie Jacquard automatizou o tear. Foi a primeira máquina programável que se tem notícia. Com 24 mil cartões, Jacquard conseguiu tecer seu próprio retrato. Apesar das resistências e críticas, seu invento fez sucesso e seu método é usado até hoje. Jacquard inventara o código binário, que utilizava pontos para programar a confecção de qualquer desenho. Esse foi o princípio de automação do telégrafo, do tear e dos futuros computadores. Inspirado na ideia dos cartões perfurados de Jacquard, o estatístico americano Hermann Hollerith criou a tabuladora de censo. Dedicando-se às pesquisas estatísticas sobre a população americana, desenvolveu o modelo de banco de dados fabricado por sua empresa, a Computing Tabulation Recording Company, que mais tarde daria origem à International Business Machine (IBM). COMENTANDO A EMERGÊNCIA DAS MÍDIAS DIGITAIS A evolução tecnológica entre as máquinas de calcular e contar até os computadores, que começaram a funcionar no século XX, foi rápida. Para muitos filósofos, passamos a viver uma era pós-moderna, em que princípios característicos da modernidade, como o individualismo, o evolucionismo e o nacionalismo, são substituídos por outros, como o coletivismo e a globalização. A percepção da existência de uma ruptura ou de uma revolução é sentida por todos. A disseminação das mídias digitais na produção material, na comunicação, na educação e no conhecimento impacta o planeta e aproxima vertiginosamente os mais distantes territórios. A revolução tecnológica tem sido marcada pela rapidez com que penetra na sociedade e altera a vida cotidiana. Daí a impressão de permanente obsolescência das máquinas e seu título permanente de “novas tecnologias”. A revolução digital ocorreu durante o século XX, impulsionada por dois grandes conflitos. Inicialmente, pelas guerras mundiais da primeira metade do século, envolvendo os cinco continentes, e, depois, pela Guerra Fria, que contrapôs as duas potências mundiais, Estados Unidos e União Soviética, que disputavam a hegemonia sobre o mundo. Essa disputa política foi transferida para a ciência, que ficou incumbida de desenvolver tecnologias que afirmassem a superioridade de uma potência sobre a outra. BREVE HISTÓRIA DOS COMPUTADORES Em 1947, os físicos John Bardeen, Walter Brattain e William Shockley ganharam o Prêmio Nobel pela invenção dos transistores, graças aos quais se tornou possível processar impulsos elétricos em alta velocidade. Dos transistores passou-se aos chips e aos circuitos integrados, inventados pelo engenheiro norte-americano Jack Kilby em 1957. Chegava-se à microinformática, cujo desenvolvimento foi rápido demais. Mas os atuais computadores só se tornaram realidade na década de 1970, quando jovens inventores, depois de um trabalho de bricolagem com peças de diversos equipamentos, como teclados e monitores, criaram o PC, o computador pessoal, capaz de ser manuseado pelo cidadão comum e não apenas por engenheiros e técnicos de informática. Idealizado pelos norte-americanos Steve Wozniac e Steve Jobs, o computador Apple foi um sucesso comercial. O computador havia se transformado num equipamento multimídia que podia ser manipulado por meio de uma interface gráfica (espécie de tradutor entre informação e usuário). Mas, para que o mundo se constituísse como uma sociedade virtual, era preciso que mais duas invenções se incorporassem à revolução digital: o hipertexto e a internet. O HIPERTEXTO A divisão dos textos por assuntos e temas remonta à Biblioteca de Alexandria. O primeiro a criar uma catalogação de pretensões universais foi Calímaco de Cirene, do século IV a.C., que dividiu os livros em rolos por classes, oito ao todo: teatro, oratória, poesia lírica, legislação, medicina, história, filosofia e miscelânia. Em 1588, o engenheiro e inventor italiano Agostino Ramelli inventou a roda de leitura. Foi apenas depois da Segunda Guerra Mundial, responsável pela maioria das invenções do século XX, que o engenheiro norte-americano Vannevar Bush conseguiu estabelecer conexão entre catalogação, indexação de textos, organização por temas e o interesse do leitor. O resultado era o memex, dispositivo que permitia executar essa tarefa de forma mecânica. Era a base do hipertexto, sistema capaz de organizar dados (texto, imagem, som, simulação, etc.) em um arquivo, possibilitando o processamento e o acesso a informações. Em 1965, o filósofo e sociólogo norte-americano Theodore Nelson aperfeiçoava o sistema ao propor que essa organização incluísse também imagens, sons e animações, interconectados por links. Tratava-se de uma estrutura de ‘leitura’ não linear que recebeu o nome de Xanadu. Pressupunha-se um sistema coerente e aberto de mútua referência entre os documentos armazenados. Era o hipertexto. Além do cálculo, as máquinas então inventadas eram programadas para associar ideias e estabelecer relações entre si, como a mente humana. A INTERNET Foi resultado de todos esses avanços somados ao projeto do governo norte-americano de construir uma rede segura de informação para ser usada na Guerra Fria. Na acirrada oposição entre os Estados Unidos e a União Soviética, o espião era uma figura estratégica. Se por um lado, o espião era uma pessoa-chave, por outro se mostrava frágil ao ser pego por mãos inimigas. (Surgia o perigo de contraespionagem) A ideia era criar uma rede de informações flexível e multidirecional que pudesse ser reconstruída quando algum dos nós ou centros se tornasse inoperante. Na década de 1970 mais de 70 redes locais privadas estavam em funcionamento. Graças à criação do computador pessoal e ao endereço eletrônico, o cidadão comum conectou-se à rede globalizada. PARA UMA CRÍTICA DA INFORMATIZAÇÃO O desenvolvimento da chamada Terceira Revolução Tecnológica não ocorreu para melhorar o desenvolvimento humano e social, mas para a acumulação de capital, o planejamento da produção, a racionalidade administrativa e a dominação política. Podemos dizer até que esse desenvolvimento se deu à revelia dos prejuízos que pudesse causar ao meio ambiente, à sociedade e às pessoas. Pela rede de computadores todo tipo de rastreamento é possível. Há uma topologia que centraliza os fluxos de informação para certos nós, criando novas hierarquias e exclusões. Assim, por servir a interesses econômicos e políticos das grandes nações, promover uma alienação ainda maior entre o público e o fluxo de informações, possibilitar formas ilimitadas de controle e acentuar as desigualdades de conhecimento e informação presentes na modernidade, a revolução tecnológica foi recebida por muitos com ceticismo e descrença. A sociologia, que já havia promovido teorias críticas em relação à ação dos meios de comunicação na sociedade, fez surgir um pensamento bastante radical contra a desumanização promovida pelas mídias digitais.