Ludicidade Aula 02 • Conteúdo: Discussão Geral sobre a importância do lúdico na formação humana. • Objetivos: Compreender a importância do lúdico no processo de ensino aprendizagem e no exercício profissional. Evidenciar a importância da atividade lúdica e a sua utilização na escola • PROFESSOR: Alexandre Freitas Marchiori Faculdade Pitágoras 2013-1 Concepção de criança e infância Criança: Sujeito social e histórico, sujeito em desenvolvimento, mas não implica somente a questão biológica, ele é um sujeito biológico que se forma e tem processo de maturação psicológica (Piaget, Vigotski, Benjamin, Baktin, Wallon). Infância um tempo de passagem, se pensarmos em um contexto biológico é uma fase da vida, se pensarmos em um contexto social é um tempo específico da formação humana, se pensarmos em termos filosóficos, infância é algo que você traz desde a sua meninice, uma condição humana. Linguagens Em Vygotsky (1984), o uso da linguagem se constitui na condição mais importante do desenvolvimento das estruturas psicológicas superiores (a consciência) da criança. [...] A interiorização dos conteúdos historicamente determinados e culturalmente organizados se dá, portanto, principalmente por meio da linguagem, possibilitando, assim, que a natureza social das pessoas torne-se igualmente sua natureza psicológica (p. 125). Tanto Vygotsky (1987) quanto Bakhtin (1985) manifestam-se em perfeita sintonia com as ideias de Benjamin em relação ao papel fundamental da imaginação na constituição do conhecimento. Esses autores questionam o critério vulgar que traça uma fronteira impenetrável entre fantasia e realidade ou entre paixão e razão. [...] a imaginação, sendo a base de toda atividade criadora, manifesta-se por igual em todos os aspectos da vida cultural, possibilitando a criação artística, científica e técnica. Nesse sentido, tudo que nos rodeia e tenha sido criado pela mão do homem, todo o mundo da cultura (com exceção do mundo da natureza), tudo é produto da criação e da imaginação humana. Portanto diz Vygotsky, todos os objetos da vida diária, sem excluir os mais simples e habituais, são como fantasias cristalizadas (grifo do autor) (JOBIN e SOUZA, p. 147, 1994). Infâncias Questões provocadoras Utiliza-se as atividades lúdicas para atingir outros objetivos cognitivos; As linguagens da infância contemplam o brincar, a estética, a oralidade, a cultura, o corpo, o letramento, as artes, dentre outros; Dentre as funções do(a) pedagogo(a), é possível identificar: a regência de classe, a coordenação pedagógica da escola, a articulação entre os diferentes profissionais/conhecimentos/disciplinas que estão presentes na escola/instituição. A persistência da memória (1931) Salvador Dali Discussões pertinentes Os tempos da Infância: O tempo é, nesta concepção (chrónos), a soma do passado, presente e futuro, sendo o presente um limite entre o que já foi e não é mais (o passado) e o que ainda não foi e, portanto, também não é mas será (o futuro). [...] Kairós, que significa 'medida', 'proporção', e, em relação com o tempo, 'momento crítico', 'temporada', oportunidade (Liddell; Scott, 1966, p. 859). Uma terceira palavra é Aión que designa, já em seus usos mais antigos, a intensidade do tempo da vida humana, um destino, uma duração, uma temporalidade não numerável nem sucessiva, intensiva (Liddell; Scott, 1966, p. 45) (Kohan, 2004). Relação entre Jogo e o desenvolvimento do indivíduo (Piaget, Vigotski e Wallon) Pensamentos e conceitos utilizados pelas áreas da Educação e da Educação Física: Claparède e Piaget, por um viés psicológico; Huizinga, em uma perspectiva cultural; Caillois, em uma abordagem antropológica; Chateu, em uma dimensão pedagógica • • • • Condutas lúdicas e não lúdicas Jogo e trabalho Lúdico e a atividade “séria” O esforço e o prazer Do ponto de vista funcional, não há, entre a atividade do jogo e a do trabalho, nenhuma diferença: ambos satisfazem necessidades e realizam desejos. Huizinga (1980), Caillois (1990) e Piaget (1971) afirmam que há jogo quando a atividade contém “em si mesma” o seu fim, ou seja, quando ela é autotélica. A palavra autotélica originou-se da união de duas palavras gregas: auto, que significa por (ou de) si mesmo, e telos, que significa finalidade. Portanto, uma experiência autotélica refere-se a uma atividade sem a expectativa de algum benefício imediato ou futuro, a finalidade da tarefa está nela mesma. Ou seja, a realização da tarefa é a própria recompensa" • Continuar daqui... 01/03 (1A) • Piaget (1971), no entanto, comenta que o jogo, em certo sentido, é altamente “interessado”, pois geralmente o jogador se preocupa com o resultado de sua ação. • No livro “A formação do símbolo na criança”, Piaget (1971) aponta outro critério para distinguir as condutas lúdicas das não lúdicas: o caráter livre e espontâneo do jogo. Essa característica surge em oposição às obrigações do trabalho, que está vinculado a metas e objetivos externos, pertencentes ao universo do real. • Contudo, Piaget questiona a ideia de espontaneidade associada apenas ao jogo e chama a atenção para o fato de que a subordinação das ações aos dados da realidade externa não se constitui como uma fronteira absoluta entre o jogo e o trabalho. Piaget afirma que não existe fronteira definida entre o jogo e o trabalho, e defende a ideia de que o jogo não deve ser definido como uma função isolada da realidade, já que ele não se constitui como uma conduta à parte ou um tipo particular de atividade, descontextualizada de outras ações humanas. Johan Huizinga (1980), em seu livro “Homo ludens”, integra o conceito de jogo ao de cultura, afirmando ser o primeiro anterior ao segundo. Ele analisa o jogo em uma perspectiva histórica, como um fenômeno cultural e não biológico. Huizinga destaca que o jogo é uma atividade voluntária, em que a necessidade de jogar está voltada para a busca do prazer; não é uma ação externamente orientada. O jogo é um fenômeno cultural, já que sempre pode ser repetido, transmitido, conservado e transformado. Caillois (1990) faz uma análise detalhada do termo jogo, demonstrando como o conceito é amplo, já que é empregado para nomear diferentes acontecimentos e objetos. Jogo, por exemplo, é associado à descontração, diversão, não seriedade, improdutividade, liberdade, criação, sorte ou destreza. Esse autor ressalta o valor pedagógico do jogo, ao afirmar que “[...] cada jogo reforça e estimula qualquer capacidade física ou intelectual. Através do prazer e da obstinação, torna fácil o que era difícil ou extenuante” (CAILLOIS, 1990, p.16). Conceitos Provisórios Por meio desse critério, por exemplo, podemos perceber as particularidades da brincadeira e do jogo. Embora possuam aspectos semelhantes, a primeira é caracterizada como uma atividade lúdica, com o predomínio da imaginação, enquanto o segundo é caracterizado como uma atividade lúdica, com o predomínio das regras. Piccolo (2009) afirma que somente os “jogos protagonizados” podem ser considerados como sinônimo de brincadeira. Chateau (1987) discute o jogo nas dimensões psicológica e pedagógica. Ele estabelece relações entre o jogo e o seu desenvolvimento na infância, evidenciando a presença do aspecto lúdico nas atividades realizadas pelas crianças. O trabalho mais importante de Chateau sobre o jogo é, sem dúvida, o livro “L’enfant et le jeu” (A criança e o jogo), publicado originalmente em 1908. Chateau ressalta a contribuição do jogo em grandes descobertas humanas e exalta a sua contribuição no processo de desenvolvimento de cada indivíduo, evidenciando o valor educativo dessa manifestação cultural. 4º Per. Categorias constituintes dessa manifestação cultural – o jogo •Prazer •O caráter ‘não-sério’ •Natureza livre do jogo •Existência de regras •O jogo está circunscrito no espaço e no tempo, geograficamente e sequencialmente; •Caráter improdutivo •Incerteza •Não-literalidade •Flexibilidade •Prioridade no brincar •Controle interno Segundo Kishimoto (1994), foi com Froebel, no século XIX, que teve início a discussão do jogo como uma ação livre e espontânea da criança que pode estar em harmonia com as orientações pedagógicas da escola, buscando conciliar a intervenção do educador com a necessidade de liberdade da criança. Froebel foi o primeiro pensador a incluir o jogo como parte integrante do sistema educativo, não como descanso ou brincadeira, mas como uma estratégia metodológica para o desenvolvimento físico, moral e intelectual da criança. Kishimoto (2008) ressalta a busca de equilíbrio entre a função lúdica e a função educativa como o grande desafio para a inserção do jogo no contexto escolar. Para ela, quando a função lúdica predomina, há apenas o jogo, não há mais ensino e, quando a função educativa é enfatizada no jogo, o hedonismo é eliminado, restando apenas o ensino. [...] Intencionalidade pedagógica, que justifique a sua inserção em um ambiente que possui uma função educativa específica. Protagonismo infantil [...] protagonismo às crianças, considerando-as como coprodutoras de cultura e de conhecimento, substituindo a visão que as concebe como seres passivos por uma representação de sujeito ativo, que possui interesses, expectativas e necessidades específicas de sua geração. [...] o desafio para a efetivação dessa perspectiva é de natureza didático-metodológica, ou seja, está circunscrito nas possibilidades de materialização de uma práxis pedagógica que dê voz e vez às crianças nos processos de ensino-aprendizagem empreendidos pela escola. O jogo em Vygotsky Esse autor russo teve um curto período de vida (18961934), morreu aos 37 anos, de tuberculose. Embora tenha vivido pouco, ele deixou um grande legado para a Psicologia e para a Educação. Vygotsky é um autor interacionista, pois concebe que o desenvolvimento humano ocorre na convergência dos fatores internos, biológicos e genéticos, com os fatores externos, sociais e culturais. No início do desenvolvimento infantil, a linguagem se apresenta em uma fase pré-intelectual, ela não tem a função de signo, e o pensamento é caracterizado pela inteligência prática, em um universo não representado. Dentre os diferentes tipos de jogos, Vygotsky atribui uma ênfase especial aos jogos de faz de conta. Para esse autor, eles contribuem para o desenvolvimento da criança em um duplo sentido: ajudam a separar objeto de significado e criam uma zona de desenvolvimento proximal (ZDP). Ao brincar de faz de conta, o pensamento infantil opera no campo das representações, desprendendose do “aqui e agora”. O jogo em Wallon Henri Wallon (1879-1962), francês, cuja trajetória acadêmica revelou sólida formação em Filosofia, Medicina, Psiquiatria, áreas que configuraram seu interesse em Psicologia, é considerado referência nos estudos da infância. Em toda a sua vasta obra, Wallon destina apenas um capítulo do livro “A evolução psicológica da criança” (1981) para tratar especificamente do jogo. No entanto, ao focalizar o movimento infantil e as suas relações com o desenvolvimento global da criança, suas análises nos ajudam a compreender a importância da ação, que se manifesta nos gestos e na postura, para o progresso do ato mental e enfatiza a importância dos jogos na promoção desse ato. [...] a atividade infantil é lúdica por natureza, em decorrência do estágio de maturação do seu sistema nervoso central. Para esse autor, toda atividade em estado nascente é lúdica, no sentido de ser espontânea, ou seja, não está integrada e subordinada à convenções socialmente estabelecidas. Esse lúdico expressa, portanto, tanto liberdade como imaturidade. Ao analisar o jogo no desenvolvimento infantil, Wallon (1981) subdivide-o em quatro grupos: jogos funcionais, jogos de ficção, de aquisição e de fabricação. • Os jogos funcionais – Sentidos – corpo • Os jogos de ficção – simulacro – símbolo • Os jogos de aquisição - “[...] a criança é toda olhos, ouvidos, boca, nariz e epiderme” – imitação • Os jogos de fabricação – exploração e conhecimento • Só há jogo se existir a satisfação de subtrair momentaneamente o exercício duma função às imposições ou às limitações que normalmente ela experimenta de atividades de certo modo mais responsáveis. A desintegração passageira supõe a integração habitual (WALLON, 1981, p. 81). O jogo em Piaget • Jean Piaget (1896-1980), suíço, biólogo por formação e epistemólogo por vocação, é autor de uma obra prodigiosa. Suas publicações incluem mais de 50 livros e, aproximadamente, 500 artigos. Por isso, ele é considerado um dos mais destacados autores do século XX. Fundador da chamada Epistemologia Genética, o reconhecimento internacional do pensamento de Piaget permanece uma referência necessária até os dias de hoje. • Em seu livro “A Formação do Símbolo” (1971), Piaget descreve a evolução do jogo na criança numa perspectiva rumo à equilibração, processo cíclico que envolve a acomodação e a assimilação e que caracteriza as atitudes inteligentes. [...] três tipos de estruturas, assim definidas: jogos de exercício, simbólicos e de regras. [...] é possível afirmar que, para Piaget, os jogos não são tratados como objeto de estudo, mas sim como objeto de conhecimento. [...] uma intenção construtivista de intervenção, quando se trata do processo de ensino-aprendizagem orientado pelos pressupostos estabelecidos por Piaget. Jogar, então, é uma das atividades em que a criança pode agir e produzir seus próprios conhecimentos. Jogo de exercício Os jogos de exercício, que são os primeiros que aparecem na vida do bebê – assim como os jogos funcionais analisados por Wallon –, constituem-se na repetição de gestos ou movimentos por simples prazer funcional. A extinção espontânea por saturação Jogo simbólico O jogo simbólico, diferentemente do jogo de exercício, pressupõe uma estrutura representativa, isto é, uma capacidade de simbolizar, de representar um objeto ausente ou uma situação fictícia. O jogo simbólico caracteriza-se pela presença do outro, como objeto social e cultural, que regula a ação. No processo de socialização, o simbolismo caminha para a reprodução objetiva da realidade. Por volta de 7/8 a 11/12 anos, verifica-se um declínio evidente do simbolismo em detrimento dos jogos de regras e as construções simbólicas, tornando-se cada vez menos evidentes e próximas ao trabalho adaptado. Jogo de regras A terceira estrutura de jogos analisada por Piaget, em sua obra “O julgamento moral na criança” (1994), é a dos jogos de regras, que constitui a atividade lúdica do ser socializado. Para Piaget, isso só é possível a partir de uma idade na qual a criança possa considerar o outro e respeitá-lo. O jogo de regras supõe, ao mesmo tempo, ação (motora e mental) e objeto (seja ele o jogo, seja o outro, seja ambos). A regra institucionalizada (como aparece nos jogos tradicionais) ou espontânea (proposta na relação entre os pares), supõe sempre relações sociais e interindividuais, pois é “[...] uma regularidade imposta pelo grupo, e de tal sorte que a sua violação representa um falta” (PIAGET, 1971, p. 148). Referências ALMEIDA, A. C. P. C.; SHIGUNOV, V. A atividade lúdica infantil e suas possibilidades. Revista da Educação Física/UEM Maringá, v. 11, n. 1, p. 69-76, 2000. COSTATO, E. P. M.; SPONDA, E. A relação entre a atividade lúdica e a aprendizagem na pré-escola de colégios particulares. Revista Interfaces: ensino, pesquisa e extensão, Suzano: UNISUZ, ano 1, nº 1, p. 17-20, 2009. Disponível em: http://www.revistainterfaces.com.br/Edicoes/1/1_6.pdf JOBIN e SOUZA, Solange. Infância e Linguagem: Bakhtin, Vygotsky e Benjamin. 11ª Ed. Campinas/SP: Editora Papirus, 1994. KOHAN, Walter O. A infância da educação: o conceito devir-criança. In: KOHAN, Walter Omar (org.) Lugares da infância: filosofia. DP&A, 2004. Disponível em: http://www.educacaopublica.rj.gov.br/biblioteca/educacao/0184.html. Acesso em: 10/12/2012. MELLO, André da Silva; DAMASCENO, Leonardo G. Conhecimento e metodologia do ensino do jogo. Vitória: UFES, NEAAD, 2011.