XVIII Encontro Sul-Mato-Grossense de Contabilidade Pública Ações para Consolidação das Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público Profa. Diana Vaz de Lima – Universidade de Brasília Membro do Grupo Assessor da Área Pública do CFC Campo Grande – MS, 5 de dezembro de 2014. 1 Membros do grupo assessor Fazem parte ainda do nosso GA: a coordenadora Verônica Souto Maior, e os contadores João Eudes, Luiz Mário e Sandra Campos. 2 Desenvolvimento conceitual O ponto de partida para qualquer área do conhecimento humano deve ser sempre os princípios que a sustentam. Esses princípios espelham a ideologia de determinado sistema, seus postulados básicos e seus fins. Vale dizer, os princípios são eleitos como fundamentos e qualificações essenciais da ordem que institui. Considerando a necessidade de um maior esclarecimento sobre o conteúdo e abrangência dos Princípios de Contabilidade sob a perspectiva do Setor Público, o CFC publicou em 2007 a Resolução 1.111. Esse foi o primeiro passo para o desenvolvimento conceitual da contabilidade aplicada ao Setor Público no Brasil. 3 Orientações estratégicas do CFC Em 2008, o Conselho Federal de Contabilidade (CFC) apresentou as Orientações Estratégicas para a Contabilidade Aplicada ao Setor Público no Brasil, consubstanciadas em diretrizes relacionadas à promoção e ao desenvolvimento conceitual, à convergência às normas internacionais e ao fortalecimento institucional da Contabilidade. Uma das discussões apresentadas neste estudo foi que a contabilidade pública ressentia de um conjunto de normas profissionais que contemplasse a Teoria da Contabilidade como base para o registro, a mensuração e a evidenciação dos atos e fatos do Setor Público. Essência sobre a forma Para tanto, o entendimento é que seria preciso resgatar o tratamento dos fenômenos do Setor Público em bases teóricas para refletir a essência das transações governamentais e seu impacto no patrimônio, e não meramente cumprir os aspectos legais e formais. A inadequada evidenciação do patrimônio público e a ausência de procedimentos contábeis suportados por adequados conceitos e princípios revelou a necessidade de se desenvolverem diretrizes estratégicas para o aperfeiçoamento da Contabilidade aplicada ao Setor Público. Diretrizes estratégicas Assim, foram estabelecidas três grandes diretrizes estratégicas, desdobradas em macrobjetivos, com o objetivo de contribuírem para o desenvolvimento da Contabilidade aplicada ao Setor Público, cujas implantações vem ocorrendo com a celebração de parcerias entre o CFC e instituições que atuam, de forma direta ou indireta, com a Contabilidade aplicada ao Setor Público. A primeira diretriz compreendeu um conjunto de atividades voltadas ao permanente desenvolvimento conceitual da Contabilidade aplicada ao Setor Público no Brasil, destacando-se entre elas a elaboração das Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público (NBC T SP 16). Suporte na Teoria Contábil Ao dispor sobre o reconhecimento e a mensuração, a Teoria da Contabilidade busca orientar para o correto procedimento em situações práticas relativas aos elementos patrimoniais, a fim de que a informação contábil reflita a verdadeira situação patrimonial e possa embasar a tomada de decisões. Nesse sentido, é preciso que as informações sejam apresentadas adequadamente aos usuários da Contabilidade. 7 Confiabilidade da informação A não-observância do arcabouço conceitual pode levar a interpretações enviesadas e comprometer a confiabilidade da informação que se queira evidenciar. Para Hendriksen e Van Breda (1999), é necessário definir explicitamente ativos e passivos e analisar especificamente a sua natureza básica. Para Niyama e Silva (2008, p. 117), a “[...] sólida definição dos principais conceitos contábeis serve de base para a correta aplicação em situações práticas.”. 8 Reconhecimento de Ativos e Passivos No caso dos Ativos, além da verificação sobre as características próprias, deve-se analisar a materialidade, no que diz respeito à expressividade do valor; a probabilidade de ocorrência, relacionada à incerteza com que o benefício econômico irá ocorrer; e a confiabilidade da avaliação, pois a mensuração deve ser confiável para o reconhecimento. Quanto ao Passivo, o primeiro passo para o reconhecimento é satisfazer a sua definição, seguido da condição de este ser mensurável em bases confiáveis. 9 Critérios de evidenciação Conforme Iudícibus (2004), a informação contábil pode ser evidenciada de várias formas: demonstrações contábeis, informações entre parênteses, notas explicativas, quadros e demonstrativos suplementares, entre outras, o que atenderia as três questões fundamentais apresentadas por Dias Filho (2000): os destinatários da informação, o conteúdo adequado e as formas de evidenciá-la. 10 O papel das NBC T SP A elaboração das NBC T SP partiu do princípio de que a Contabilidade aplicada ao Setor Público não deve se limitar a questões orçamentárias e legais. E que o processo de controle do patrimônio público deve considerar os fenômenos e transações que o afetam e, consequentemente, deve estar referenciado numa adequada base conceitual. Portanto, o papel das NBC T SP é oferecer um suporte conceitual fundamentado na doutrina contábil para o registro das transações do Setor Público. Elaboração das NBC T SP 16 As NBCASP foram submetidas a audiências públicas, com espaço para discussão e apresentação de sugestões. Como resultado desse trabalho, as dez primeiras normas foram publicadas ao final de 2008. Em 2011, foi publicada a NBC T SP 16.11. 12 13 Revisão em 2012 Em seu processo de consolidação, em 2012 as NBC T SP 16 passaram por um processo de revisão (cujas alterações foram comentadas na XVI edição deste encontro). Em sua maioria, as mudanças procuraram aproximar a redação das normas aos fundamentos da doutrina contábil, e aos termos utilizados no Manual de Contabilidade Aplicada ao Setor Público (MCASP) editado pela Secretaria do Tesouro Nacional. 14 Revisão em 2014 Em outubro de 2014, foi publicada uma revisão da NBC T SP 16.6, que trata das demonstrações contábeis. Basicamente, a mudança refere-se `a composição da demonstração das variações patrimoniais, onde não será mais exigida a discriminação das variações orçamentárias por categoria econômica, nem as mutações e variações independentes da execução orçamentária em grau de detalhamento compatível com a estrutura de contas. 15 Elaboração das novas normas Conforme foi comentado no XVI Encontro do CRC/MS, o GA da área pública do CFC vinha gestando a elaboração da NBC T SP 16.12, para tratar da adoção inicial das NBC T SP no Setor Público. Essa norma acabou se convertendo na Instrução de Procedimento Contábil IPC 00, publicada pela Secretaria do Tesouro Inicial, que apresenta um plano de transição para a implantação da “nova contabilidade”. Outras NBC T SP serão elaboradas sempre que a observância aos fundamentos da doutrina contábil no âmbito da contabilidade pública se façam necessários. 16 Portaria STN nº 634 Em 2013, com o objetivo estabelecer diretrizes acerca das normas e procedimentos contábeis, com vistas à consolidação das contas públicas, a STN publicou a Portaria nº 634/13. Essa portaria unificou os normativos até então publicados a respeito do processo de convergência da contabilidade pública brasileira, e sinalizou o desenvolvimento de um padrão brasileiro próprio fundamentado nas normas internacionais de contabilidade. 17 Representação institucional O Brasil tem hoje um representante no board da IFAC, que tem levado propostas e questionamentos sobre algumas IPSAS ao invés da simples adoção. Reflexão sobre a implantação progressiva das IPSAS em função do processo de convergência e do modelo brasileiro de contabilidade. Realização de eventos que promovam a discussão do processo de convergência, a exemplo do congresso brasileiro de contabilidade, realizado anualmente em Brasília, e do congresso internacional de contabilidade, realizado a cada dois anos em Minas Gerais. 18 18 Atualização do MCASP A 6ª edição do MCASP continuará abordando os conceitos apresentados nas NBC T SP, discutindo operacionalmente como devem ser registradas as transações do Setor Público. Conselho Federal de Contabilidade Elaboração das NBC TSP Órgão Central de Contabilidade - Tesouro Nacional Padrão Internacional de Contabilidade Manualização e Padronização para Implantação e Consolidação na União, Estados e Municípios (MCASP) 19 PCASP e DCASP Exigência da nova estrutura do plano de contas (PCASP) e das demonstrações contábeis (DCASP) para 2015. As mudanças impulsionarão a reestruturação dos sistemas contábeis, contribuindo para que gradualmente os procedimentos contábeis patrimoniais também sejam implantados, Por consequência, os fundamentos presentes nas NBC T SP passarão a ser observados. 20 Nova estrutura conceitual da IFAC Definição dos critérios de mensuração, reconhecimento e evidenciação dos elementos patrimoniais no âmbito dos padrões contábeis internacionais. Novidades: registro dos bens militares e patrimônios culturais. Polêmica: o IFAC deixa de reconhecer o valor justo como critério de mensuração, em razão de a consulta pública sinalizar que o mesmo não é confiável. 21 O papel das instituições É preciso considerar a importância do papel das instituições como os órgãos de controle interno e externo, e dos conselhos regionais de contabilidade. O desenvolvimento de ações de orientação e de fiscalização efetuados por essas instituições contribuem para que a adoção dos procedimentos contábeis patrimoniais tragam como suporte os conceitos presentes no conjunto das NBC T SP. 22 23 Critérios de mensuração Com relação ao critério de mensuração, é do conhecimento de todos que a legislação em vigor carece de conceitos e apresenta métodos de avaliação parciais. As NBC T 16 estabelecem definições tanto de mensuração e avaliação, bem como dos métodos empregados para avaliar ou mensurar os itens, em conformidade com a doutrina contábil. Mas é preciso reconhecer a dificuldade do profissional contábil quando o registro envolve mensurações complexas. 24 Critérios de reconhecimento Quanto ao reconhecimento, na legislação contábil aplicável ao Setor Público há divergências quanto ao regime contábil a ser adotado. As NBC T 16 estabelecem que as receitas e despesas devem ser reconhecidas pelos respectivos fatos geradores (competência integral), independentemente do momento da execução orçamentária. Definição de um modelo próprio no Brasil, separando o “mundo orçamentário” do “mundo patrimonial”. 25 Critérios de evidenciação Sobre o critério de evidenciação, as demonstrações contábeis exigidas pela Lei nº. 4.320/64 apresentam estruturas peculiares, fundamentadas no controle do orçamento público, enquanto a LRF exige a elaboração de demonstrativos fiscais, contemplando informações de natureza orçamentária e financeira. As estruturas das DCASP contempladas nas NBC T SP 16 e no MCASP já trazem os elementos presentes na doutrina contábil, presentes nas NBC T SP. É preciso preparar os gestores públicos e demais usuários para utilizar adequadamente as novas informações contábeis no processo decisório. 26 Nossas considerações Como o conjunto das normas brasileiras de contabilidade aplicadas ao Setor Público representam o arcabouço conceitual em que deve se basear o registro das transações governamentais, as ações para sua consolidação é a própria observância aos fundamentos da doutrina contábil. É papel do operador da contabilidade que atua no Setor Público aplicar os conhecimentos adquiridos em sua formação profissional, para que as informações por ele geradas sejam úteis e tempestivas para a tomada de decisão e instrumentalização dos controles internos, externo e social. 27 Fernando Pessoa, Revista de Comércio e Contabilidade, 1926. 28 XVIII Encontro Sul-Mato-Grossense de Contabilidade Pública Ações para Consolidação das Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público Profa. Diana Vaz de Lima – Universidade de Brasília Membro do Grupo de Estudo da Área Pública do CFC Campo Grande – MS, 5 de dezembro de 2014. 29