Os sentidos da docência na concepção da comunidade escolar de unidades de ensino da rede estadual de Florianópolis. Andréia Maria Wollinger de Souza, aluna da graduação de pedagogia para as séries inicias do ensino fundamental, da Universidade do Sul de Santa Catarina – UNISUL / Campus Norte - Palhoça/ Pedra Branca, com pesquisa subsidiada pelo Artigo 170. Introdução O século XX nasce sob o impacto das idéias escolanovistas, mas a educação tradicional continua existindo em grande parte das escolas, convivendo com diversas outras tendências.” (ARANHA, 1996, p. 162). O século XXI inaugura uma fase em que se encontram entrelaçadas várias tendências, deixando o professor à mercê dos objetivos da organização na qual trabalha. Quando falamos do perfil do professor, percebe-se que devemos partir da indagação sobre o que determina o desempenho do professor na prática pedagógica e como se realiza o ato pedagógico escolar, ou seja, “o ser e o fazer. Objetivos • Identificar a “imagem” que a comunidade escolar apresenta em relação à profissão docente, quanto aos aspectos relativos a sua formação e atuação • Discutir as responsabilidades atribuídas ao professor dos anos iniciais do ensino fundamental nas escolas públicas, dimensionando o significado da profissão docente nos dias atuais. • Comparar os aspectos que a comunidade escolar idealiza e avalia sobre as funções docentes nos anos iniciais do ensino fundamental. Metodologia Este estudo de base teórico-epistemológica materialista dialética constitui-se numa pesquisa de tipo bibliográfica e empírica, de natureza qualitativa. As fontes bibliográficas permitiram a construção do referencial teórico necessário ao processo de análise. A empiria possibilitou nosso contato direto com o objeto de estudo, levando-nos a interpretar este objetivo com contexto naturalístico (campo de pesquisa) de sua existência.Nesta pesquisa, as respostas em torno dessa questão, assumiram diversas naturezas, para uma melhor compreensão do leitor, as mesmas foram classificadas e categorizadas de acordo com os sujeitos e com as perguntas que lhes foram apresentadas no processo de entrevista e interpretação à luz de um referencial teórico. Vários questionamentos foram realizados com os sujeitos da comunidade escolar de três escolas da rede estadual de Florianópolis, sendo entrevistados, de cada escola, 3 professores, 3 administradores pedagógicos, 3 alunos, e 3 pais/responsáveis, chegando ao total de 12 entrevistados por escola, totalizando um universo de 36 entrevistados. Com o intuito de analisar como os sujeitos da comunidade escolar compreendiam alguns dos aspectos diretamente relacionados ao nosso objeto de estudo – os sentidos da docência. Aspectos estes que são subdivididos em: concepção e função do professor; formação e prática docente (ideal e real). Condições de trabalho e valorização social da profissão. Foi realizado um pequeno recorte das respostas obtidas para demonstração neste trabalho. Resultados Quando falamos do perfil do professor, percebe-se que devemos partir da indagação sobre o que determina o desempenho do professor na prática pedagógica e como se realiza o ato pedagógico escolar, ou seja, “o ser e o fazer”. Durante a investigação podemos constatar, através de entrevistas e das observações realizadas no cotidiano escolar das escolas – campo de pesquisa, que a concepção do “ser e do fazer” docente, está muito enraizado no passado, os sujeitos – fontes, possuem plena consciência de como deve ser o professor da atualidade (ideal), porém na ação surge à tona o professor do passado (tradicional) que não condiz com a realidade da educação atual. O professor é visto como aquele que: ensina, repassa conhecimento, possui uma missão/vocação, assume o papel da família, cuida e educa. Para os especialistas, agora ele é visto como: educador, gestor, mediador, formador, palavras novas que traduzem o perfil do professor ideal de hoje, porém bem distante da realidade nacional de muitas de nossas escolas públicas. O pior disso tudo é que o próprio professor ora é vítima, ora é o vilão da história, o depreciador de sua própria imagem. Segundo Vasconcellos (1996, p. 27): Nesta perspectiva, o levantamento de dificuldades, problemas da prática é o álibi ideal para gerar justificativas até o ano 2010... Esta pode ser, inclusive, uma forma sutil de resistência: fica-se discutindo eternamente os problemas e nunca se entra no estudo de formas possíveis de enfrentamento e superação; passa-se certa imagem de sujeito “crítico”, garantindo o eterno imobilismo [...]. Observamos também que a concepção de professor entre os grupos entrevistados difere muito, principalmente em questão ao nível intelectual dos entrevistados. Para os professores e equipe técnica, as respostas giram em torno de conhecimentos adquiridos em sua formação, já para alunos e pais, as respostas condizem com a prática pedagógica recente, geralmente os alunos descrevem seus professores atuais e os pais relembram quando eram alunos, relacionando a imagem do professor à sua prática, para este grupo, o professor é aquele que ensina, não briga, passa as tarefas, as matérias, explica, cuida, ajuda, é como se fosse a nossa mãe, chama atenção, dá disciplina; é uma pessoa boa; constituindo assim, especificidades do “ser professor”. Devemos compreender o professor como um profissional, para isso a demanda rompe com estereótipos que foram colocados, como se ser professor fosse uma “segunda mãe” e a escola um “segundo lar”. Quando nos deparamos com a questão que trata da formação e prática docente, percebemos que os profissionais da área (professores e equipe técnica), acreditam que não basta só ter fundamentação teórica, graduação ou especialização, além disso, o professor tem que gostar do que faz e ser comprometido com sua função. Já para os pais e alunos, os professores além desses requisitos é primordial que os professores tenham “vocação”. Uma coisa ficou bem clara, o professor precisa e deve ser “bem formado e bem preparado” para atuar. A literatura sobre os problemas educacionais é extensa e mostra com clareza a baixa qualidade da educação. Shiroma & Evangelista (2003), questionam a forma de acesso à informação pelos professores e como permitir aos professores acesso às informações e ao conhecimento necessário para produzir mais e melhor e, simultaneamente, assegurar o controle sobre eles?. Como administrar uma força de trabalho qualificada e competente, transformando-a num coletivo inofensivo?. Ainda segundo Shiroma & Evangelista (2003, p. 85): A atribuição de centralidade ao professor é bastante referida nas reformas, principalmente com relação à formação docente, produzindo uma inflexão importante na política de (con) formação do professor. A próxima questão analisada trata das condições de trabalho e da valorização social da profissão. Nossos entrevistados relataram que as condições de trabalho são precárias, falta estímulo, investimento por parte dos governantes, salários justos, os materiais são de péssima qualidade, infra-estrutura precária com prédios antigos, salas superlotadas, violência e stress constantes, poucos cursos oferecidos para aperfeiçoamento profissional e quando estes são oferecidos, não podem ser cursados por serem nos horários de trabalho. Não foi por um descuido que a Lei de Diretrizes e Bases (1996) inverteu os termos da Constituição Federal: “A educação é um dever da família, e do Estado, fazendo com que a família venha antes do Estado e o privado anteceda o público, caracterizando assim a famosa cena cristã do ato de lavar as mãos”. Conclusão Acreditamos que a imagem do professor implica em muitos fatores, porém o ideal é que “juntos” possamos além de melhorar esta imagem, temos que legitimá-la positivamente, tornando-a mais forte e mais intensa do que ela própria. Há uma lacuna muito grande ao compararmos a visão que pais e alunos têm dos professores e que eles tem de si próprios. Enquanto os pais e alunos vêem os professores como um membro da família, alguém que educa em seu lugar, os professores se negam a desempenhar este papel. Devemos compreender o professor como um profissional, para isso a demanda rompe com estereótipos que foram colocados, como se ser professor fosse uma “segunda mãe” e a escola um “segundo lar”. De acordo com Facci (2004, p. 27): Existe, até hoje, uma ambigüidade entre o doméstico e o científico, segundo a autora, no que se refere à educação infantil. Podemos, também, presenciar esse mito entre professores dos primeiros anos do processo de escolarização. E, mesmo nas séries posteriores, circula, muitas vezes, entre educadores que é muito mais importante ser passivo, cordato, amoroso, do que ter uma formação profissional. Tal visão romântica e idealista do professor traz como conseqüência a reprodução da alienação da vida cotidiana e uma desqualificação do trabalho docente. Dentro das respostas coletada observamos que o problema não são apenas as condições de trabalho, mas conforme um dos entrevistados a “inércia política destes professores que na maioria das vezes fazem um jogo individualista do capitalismo, sem a mínima noção do poderoso aspecto das demandas educacionais, contribui para a manutenção desta situação precária”. Corroborando ainda com esta colocação, Pedro Demo (1993) afirma que “a questão dos professores é complexa, incluindo pelo menos dois planos mais relevantes: valorização profissional e competência técnica. O problema é de qualidade formal e política”. Enquanto os professores não agirem de maneira profissional, desmistificando o papel romântico da “segunda mãe”, não poderão exigir o reconhecimento profissional tanto mencionado nas entrevistas, já que a categoria é massa de manobra do jogo político que prefere uma população inculta e sem consciência para poder ser facilmente manipuladas, e por isso não se interessa em valorizar a profissão docente nem suas condições de trabalho. Professores desempenhando a arte de “educar”. Bibliografia DEMO, Pedro. Desafios modernos da educação. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 1993. FACCI, Maria Gonçalves Dias. Valorização ou esvaziamento do trabalho do professor? Um estudo crítico - comparativo da teoria do professor reflexivo, do professor construtivismo e da psicologia vigotskiana. São Paulo: Autores Associados LTDA, 2004. FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários a prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996 (coleção leitura) SHIROMA, Eneida Oto; EVANGELISTA, Olinda. Um fantasma ronda o professor: a mística da incopmpetência..In: MORAES, Maria Célia Marcondes et al. Iluminismo às avessas; produção de conhecimentos e políticas de formação docente.Rio De Janeiro: DP &A, 2003. p.85-87 VASCONCELLOS, C. dos S. Para onde vai o professor? Resgate do professor como sujeito de transformação. São Paulo: Libertad, 1996. (Coleção Subsídios Pegagógicos do Libertad; v.1)