Pensando a formação (de uma subjetividade) docente
através do ensino aprendizagem por projetos
Profa. Virgínia Buarque
Natiele Rosa de Oliveira
- Projeto acadêmico-pedagógico realizado entre março de 2009 a
março de 2010, envolvendo 19 licenciandos, 4 professores e 15
turmas do ensino fundamental e 2 docentes do Departamento de
História da UFOP.
- Objetivo geral: “Aprimorar a formação do futuro docente de
História, através do planejamento, embasamento teóricometodológico, implementação e avaliação continuada de práticas
pedagógicas voltadas à interpretação histórica de identidades
portadas por alunos que estudam e residem nos municípios de
Mariana e Ouro Preto.”
- “Desafios epistêmicos”:
(CANDAU, Vera Maria. Sociedade multicultural e educação: tensões e desafio. In: ______(Org.). Cultura(s) e educação. Entre o crítico
e o pós-crítico. Rio de Janeiro: DP&A, 2005)
1- Favorecer a interpretação das identidades locais pelo ensino de
História, com destaque aos processos de hibridização, evitando-se
a busca do autêntico e do original.
2- Estabelecer vínculos de efetiva co-participação entre a
universidade, o espaço escolar e as comunidades onde os
estabelecimentos de ensino encontram-se sediados, em prol do
fortalecimento de uma consciência crítica e afetiva sobre o espaço
vivido.
* Buscou-se proceder a uma re-elaboração do conceito de cidadania, geralmente
vinculado à participação política no Estado e à conquista dos direitos sociais, mas aqui
aproximado de um uso diferenciado dos patrimônios recebidos, que passam a ser
apropriados pelos sujeitos sociais, de forma pragmática e simbólica, a partir de seus
múltiplos pertencimentos/marginalizações (de gênero, de etnia, de grupo social etc.).
.
- Metodologia:
1- Ensino por projetos: Destaque à prática investigativa, pautada
na formulação de problemáticas, na interpretação das fontes, na
elaboração de hipóteses, na apresentação dos resultados, na
socialização do saber.
2- Linguagem cinematográfica: interesse dos alunos e desafio de
transposição de um “efeito de real” para interpretação de
versões e alargamento do entendimento de “verdade”.
3- Dinâmica operacional da equipe: encontros semanais nas
escolas (para as oficinas) e na Universidade (para debate e
fundamentação bibliográfica).
- Problemática trazida a esta comunicação:
A abordagem das identidades locais pode constituir-se em
oportunidade de auto-elucidação da subjetividade docente?
- Conceituação de história “local” :
1- Ponto de partida: ética de pertencimento, associada ao
compartilhar de práticas, acontecimentos e valores, vivenciadoscomunicados no cotidiano, o que implica numa proximidade
espacial e numa contiguidade de relações sociais (como de
vizinhança e até de parentesco).
 Refuta a consideração da nação como única memória coletiva,
bem como da dicotomia centro/periferia;
Viabiliza a identificação da atuação de pessoas e grupos na
construção da realidade histórica, inclusive daqueles não
mencionados por uma narrativa oficial;
 Possibilita a formulação de conceitos históricos singularizados;
 Pólo de experiência e significação para os sujeitos envolvidos na
produção do saber histórico escolar, ainda que não
necessariamente o mais próximo e mais conhecido.
GONÇALVES, Márcia de Almeida. História Local: o reconhecimento da identidade pelo caminho da insignificância. In: MONTEIRO, Ana
Maria; GASPARELO, Arlete Medeiros; MAGALHÃES, Marcelo de Souza (org). Ensino de História: sujeitos, saberes e práticas. Rio de
Janeiro: Mauad/FAPERJ, 2007.
2- Conceituação associada à problemática do projeto:
 Articulação entre “local” e “lugar de fala”, entendido como o
viés a partir do qual as experiências locais (que articulam
cotidiano e institucionalização) apropriam-se seletivamente de
espacialidades geográficas, culturais e políticas diferenciadas.
DE CERTEAU, Michel. A operação historiográfica. In: A escrita da história. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1982.
 Trata-se de uma perspectivação do mundo, vinculada a uma
“temporalização” da trajetória biográfica, de uma formação
(escolar/acadêmica) e de um exercício profissional, num
entrecruzamento do existencial e do intelectual.
“Embora seja teoricamente imaginável estar na corrente temporal sem atribuir sentido
a ela, não é possível agir no mundo sem essa atribuição de sentido; como deixar de
agir também parte de uma interpretação, na prática também não há opção de atribuir
ou não significado ao tempo que passamos ou que passa por nós”.
CERRI, Luis Fernando. Os conceitos de consciência histórica e os desafios da didática da história. Revista de História Regional, v. 6, n. 2, p. 93112, 2001. p. 99.
 O local passa ser visto como uma mediação, protocolo ou
escala interpretativa, ao invés de objeto de análise.
- Hipótese para debate:
A importância da subjetivação docente, entendida como
autoexplicitação e aposta (crítica e criativa) em escolhas e
expectativas. É este investimento na subjetivação docente que vai
possibilitar ao professor maior fundamentação e gratificação no
exercício de sua mediação docente.
“Minha resposta a esta questão, de cunho eminentemente pessoal, é de que talvez uma
relevante contribuição do projeto “Ensino de História e Identidades Locais” tenha sido a de
propiciar aos licenciandos a descoberta de seu potencial como futuros professores/
pesquisadores de História, justamente por retirar-lhes as pseudo-seguranças, alicerçadas em um
saber consolidado em bibliografias e currículos. Houve momentos, no processo de realização
dos filmes, em que tudo parecia dar errado – não havia equipamentos nem recursos, oficinas
eram canceladas pelos mais variados motivos, faltava maior sintonia entre a roteirização e a
discussão conceitual, justamente porque, nesta metodologia, o conhecimento se produz numa
contínua abertura à mudança, numa permanente aliança entre a crítica e a subjetivação. Espero,
assim, que o projeto “Ensino de História e Identidades Locais” tenha consistido, para os
licenciados, num fator de aprimoramento de sua formação, seja no tocante ao exercício do
direito de procederem a suas próprias escolhas, seja na apropriação das condições acadêmicas e
pedagógicas para sustentá-las, ainda que para depois refutá-las ou alterá-las.”