Tópicos em
Libras: Surdez e
Inclusão
Aula 5
Gabriela Maffei e
Tatiana Palazzo
Reflexão sobre
• Comunicação: oral, gestual e total.
• Línguas orais e línguas de sinais.
Para refletirmos...
• A comunicação é a base dos relacionamentos
humanos.
• A aprendizagem do surdo
necessita de recursos
educacionais, econômicos e
tecnologias, mas acima de tudo,
de profissionais capacitados.
Para refletirmos...
• Uma língua não impede a outra de se
desenvolver. Através da língua de sinais o surdo
consegue participar na íntegra do contexto escolar
e social.
Tipo de
Comunicação
Oralismo
Línguas
Orais
Bilinguismo
Comunicação
Total
Língua
de
Sinais
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Comunicação
É a necessidade básica do ser humano,
independentemente da habilidade ou nível de
desenvolvimento cognitivo.
• Por meio da comunicação compartilham-se
sentimentos, desejos, ações, experiências e
pensamentos.
• A comunicação pode não apresentar linguagem
verbal, mas utiliza-se dos gestos, olhares,
movimentos corporais, sinais e símbolos.
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Comunicação total
- Expansão no século XX, no Brasil: 1960.
- Evans (1982): “[...] o conceito de comunicação total
abrange uma rede de atividades, mas a linguagem
falada, o alfabeto digital, sinais e linguagem escrita
constituem seu núcleo linguístico.”
- Marchesi (1987): “[...] é a língua falada sinalizada,
associação de códigos manuais para o auxílio na
discriminação e articulação dos sons e
combinações entre sinais, fala, alfabeto digital,
gestos, pantomima, etc.”
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A Comunicação Total
• A filosofia da Comunicação Total teve sua
expansão no século XX. De acordo com
Ciccone (1996 apud Muntaner, 2003, p.58)
esta “[...] filosofia educacional entende o
surdo como uma pessoa, e a surdez como
uma marca, cujos efeitos adquirem,
inclusive, as características de um fenômeno
com significações sociais”.
A Comunicação Total
• Para Quadros (1997), esse tipo de sistema é
inadequado, pois desconsidera a estrutura
linguística da língua de sinais e desestrutura
o português.
• Para Behares (1993) e Marchesi (1987), a
comunicação total beneficia mais os
familiares e os professores ouvintes e não o
surdo.
O oralismo
• Metodologia precursora na educação dos
surdos no mundo. A crítica central é que
somente através da aquisição da língua oral,
os surdos seriam capazes de se desenvolver,
tanto social quanto academicamente.
• No oralismo existem três procedimentos para
esse aprendizado: o treinamento auditivo, a
leitura labial e o uso do aparelho de
amplificação sonora individual (AASI).
O oralismo
• Para Quadros (1997, p.21) “[...] a proposta
oralista fundamenta-se na “recuperação” da
pessoa surda, chamada de deficiente
auditiva. O oralismo enfatiza a língua oral em
termos terapêuticos”.
Oralismo
Góes (1996,p.40):
“[...] a visão oralista se impôs, com as teses de
que só a fala permite integração do surdo à
vida social e de que os sinais prejudicam o
desenvolvimento da linguagem, bem como a
precisão das ideias.”
Para Quadros (1997,p.21), “[...] a proposta
oralista fundamenta-se na ‘recuperação’ da
pessoa surda [...]”. O oralismo enfatiza a
língua oral em termos terapêuticos.
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O bilinguismo
• Se trata de uma língua, com estrutura própria
e que tem o canal de comunicação visualespacial. Tem-se como língua primeira,
materna, para o surdo, a língua de sinais.
• O idioma do país passa a ser o segundo
código de comunicação desse indivíduo.
O bilinguismo
• A educação bilíngue pressupõe que a língua
de sinais propicia o desenvolvimento
linguístico e cognitivo da criança surda, facilita
o processo de aprendizagem de língua oral,
serve de apoio para leitura e compreensão de
textos e favorece a produção escrita.
Libras
• O Brasil reconheceu a língua brasileira de
sinais (LIBRAS) através da lei n.º 10.436, de
24 de abril de 2002, sancionada pelo
Presidente Fernando H. Cardoso.
• Nesta lei também consta que o surdo deve
ler e escrever na língua oficial do país, a
língua portuguesa. Então passamos a ter o
surdo como um indivíduo bilíngue que tem a
língua materna L1 (LIBRAS) e a L2 (língua
portuguesa).
Língua Portuguesa
• Outro ponto importante na educação das
pessoas com surdez é que elas percebam a
necessidade e importância da língua
portuguesa. A inserção no mercado de
trabalho, leituras de revistas, jornais,
receitas de bolo, cartas, emails, bula de
remédio, enfim o mundo que o rodeia é na
forma escrita da língua do país, no caso do
Brasil, a LP.
Língua Portuguesa
• “A escrita deve ser incorporada a uma tarefa
necessária e relevante para a vida”
(Vygotsky, 1984, p.133).
Referências
• LACERDA, C. B. F. Um pouco da história das
diferentes abordagens na educação dos surdos.
São Paulo,1996.
• LODI, A. C. B. Plurilinguismo e surdez: uma leitura
bakhtiniana da história da educação de surdos.
Educação e Pesquisa, São Paulo, v.31, n.3,
p.409-429 set/dez.2005.
• QUADROS, R. M. Idéias para ensinar português
para alunos surdos. Brasília: MEC, SEESP, 2006.
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Inclusão
Atividade 5
Gabriela Maffei e
Tatiana Palazzo
Poema em LIBRAS
“ O Fantasma do Quase”
Talvez 1956. Quinze anos de idade. Cabelo escuro
e brilhante preso num “rabo de cavalo”, com
pequenas flores caprichosamente cobrindo o
elástico. Rosto corado, queimado de sol,
valorizando os dentes brancos e perfeitos. No
pescoço e nas orelhas, as pérolas, também
brilhando. Vestido branco, bastante decotado,
privilegiando o pescoço esguio (de princesa, diziam)
e o colo.
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A cintura fina, cingida por larga faixa, prometendo
um alargar suave nos quadris.
Anáguas engomadas sustentando camadas de tule
na saia larga e farta. Embaixo, sob as muitas saias
um pesado par de botas pretas.
O salão de festas fervilhando no baile de formatura
da amiga. Silvio Mazzuca e seu conjunto
impregnando o ambiente com “ Blue
Moon”, “Tenderly”... Começo de noite, olhares
exploratórios, tamborilar de dedos
sobre a mesa, sorrisos meio envergonhado.
Guaraná esquentando no copo.
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A bolsinha de lantejoulas brancas e leitosas
encerrando, como a um tesouro, o espelho.
Sentada, a expectativa de ser tirada para dançar.
Os pensamentos volteando pela cabeça: que vitória
havia sido dançar.
Os primeiros passos hesitantes, a duvida, o “será
que vou conseguir”? Os tios jovens e os amigos,
sem pressa acompanhando e construindo juntos
“sisteminhas” de compensação, de balanço, de
parada. O mais difícil foi sempre o giro para a
direita, mas um novo “sisteminha” resolveu o
problema.
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Medo de chá de cadeira não havia, pois os amigos
já há muito compartilhavam o dançar e amigos era
o que não faltava por lá: o pessoal do Jardim
Paulista, os riobranquinos e os mackenzistas. A
expectativa muito mais dirigida para os rostos
novos, os desconhecidos e, quem sabe,
misteriosos galãs de olhos verdes. De repente
acontece: ali está ele inclinado sobre mim. Sorriso
largo, topete, e os imprescindíveis olhos verdes
(se fecho os meus, consigo vê-lo ainda hoje com
toda a riqueza de detalhes). - Vamos dançar?
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- Caminho tortuoso entre as mesas, um passo para
esquerda, um desviar de cadeira, dois passos para
direita, uma parada deixar passar outro casal, mais
dois passos para direita... Devemos ter chegado à
pista sem termos caminhando em linha reta e de
forma cadenciado. Claro que no momento não dei
conta disso. Só mais tarde, ao processar
vagarosamente aquela noite, pensei nesse
trajeto da mesa à pista. Começamos a dançar e sei,
ainda, que era a música “Stranger in Paradise”.
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Não! Antes dela dançamos duas ou três músicas e
sempre conversando. Primeiro “dando a ficha”:
nomes, idades, colégios, bairros, cinemas,
sorvetes... Depois comentários e elogios - e aí foi o
começo do fim. Estamos bem no meio do salão.
- Você dança tão bem. É suave como uma pluma.
- E você nem imagina o quanto me custou
aprender, mas tem valido pena. Faz mais de uma
no que só quero saber de dançar!
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Porque tive paralisia infantil e tudo isso é mais difícil
para mim.
- Não acredito que você teve paralisia.
- Pois então veja. Risonha e feliz levanta um pouco a
longa saia mostrando o que naquele momento, me
parecia um troféu: as minhas botas. Os olhos dele se
arregalaram, titubeia, gagueja, afasta as mãos de
mim, vira as costas e me deixa ali plantada no meio
do salão, como estatuía de sal prestes a
desmoronar. Não desmoronei. A muito custo não
desmoronei.
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Acho que essa foi a minha primeira-grande
experiência de quase normal. Porque digo primeiragrande? Penso que por intuir que existiam outras
antes, mas que, ou não me abalaram, ou não
mantive registro delas. Essa, então, me parece a
primeira-grande. E
primeira também porque foi a precursora de um
pesadelo do qual nunca mais me livrei; tem sido
desde então, e sempre, uma serpente prestes a dar
o bote. No meu código interno chamo de “fantasma
do quase”: quase normal.
Ligia Assumpção Amaral
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