A MÚSICA COMO MEIO E PROCESSO DE APRENDIZAGEM NA CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO DO ALUNO SURDO. Mariana de Lima Alves Hathenher INTRODUÇÃO A inclusão e a educação de pessoas surdas tem sido alvo de grandes discussões em todo mundo. É certo que a surdez compromete certos níveis de aprendizagem dos alunos, porém, estudos demonstram que é perfeitamente possível o aprendizado por parte dos mesmos, se estimulados de forma correta. Por este motivo, embora as propostas educacionais tenham como objetivo proporcionar o desenvolvimento pleno de suas capacidades, as diferentes práticas pedagógicas têm lhes determinado uma série de limitações. E a música vem nesse sentido, mostrar que é possível reverter tal situação. Em relação ao deficiente auditivo no contexto escolar, é possível observar que não basta colocá-los em sala de aula com os outros alunos sem um profissional intérprete da língua de sinais, pois não há professores capacitados para exercer tal função com competência. Pois há uma enorme diferença entre dom e competência e é esse equilíbrio que faz a diferença na Educação Especial. Há professores que não sabem ao menos o que vem a ser essa educação especial, deixando-os inseguros e ansiosos, o que faz com que muitos profissionais desistam mesmo sem começar. O medo do desconhecido dá espaço às idéias, fantasias, expectativas frente à nova situação que será enfrentada. Por isso é preciso um educador calmo e seguro que consiga transmitir essa calma e segurança ao educando e aos pais. Esse educador deve estar aberto ao que é novo, às opiniões dos outros, buscando qualificações e informações sempre. Portanto, não é só colocar o educando com surdez em sala de ensino comum, faz-se necessário que o mesmo possa ser atendido conforme as suas necessidades. Esta dificuldade pode ser percebida se verificarmos a história da educação especial do Brasil e no mundo, desde os primórdios, em que várias barreiras foram interpostas para a inclusão do educando com limitações auditivas no espaço escolar. Conforme Sacks (1990), as pessoas que não ouviam não eram consideradas, na sua essência, pois se acreditava que esta limitação influenciava na forma como as mesmas processavam as informações linguísticas. Nesse sentido a pesquisa com o tema relacionado, justifica-se pela necessidade de conhecer e compreender as dificuldades de um aluno surdo, matriculado em uma escola regular na qual fizemos a maior parte do nosso estágio e que frequenta aulas de música, por acharmos que a música é um excelente método para a aquisição da LIBRAS e consequentemente para a aquisição da comunicação com o mundo; E pelo contato direto com surdos, alunos do Conservatório Estadual de Música Cora Pavan Caparelli, O estudo, como um todo, foi dividido em três capítulos. No primeiro capítulo “O processo histórico da Educação Especial no Brasil e no Mundo” abordamos um breve histórico sobre a Educação Especial no Brasil, em especial sobre a Educação do Surdo no Brasil. No segundo capítulo “A surdez seus conceitos e pré-conceitos, uma revisão de literatura” discutimos os vários conceitos sobre o que é deficiência auditiva e/ou surdez, sobre o processo de aquisição da Língua Brasileira de Sinais “LIBRAS” e também em um sub-tópico, sobre a relação da surdez com a música e suas contribuições para o aprendizado dos educandos. No terceiro capítulo “O processo inclusivo do deficiente auditivo no ensino regular: contribuições da educação musical” discutimos sobre o processo de construção do conhecimento do surdo na sala regular de ensino e como é avaliada a união da música e das aulas em sala, em uma análise mais abrangente dos dados recolhidos na pesquisa qualitativa realizada, pois acreditamos que esta é uma forma de valorizar as falas dos participantes envolvidos no processo e ao mesmo tempo refletir sobre suas práticas e suas metodologias. E por fim, nas considerações finais, foi feita uma análise geral do estudo desenvolvido, explicitando todas as dificuldades e as possibilidades vivenciadas durante a realização deste trabalho. Comentamos também sobre as conclusões obtidas ao longo desta proposta, considerando que esse será objeto de novos e incansáveis estudos, tendo em vista que, a proposta é relativamente nova e será preciso investimento nessa área, uma vez que, foi possível constatar grandes avanços antes mesmo de se obter um resultado final. METODOLOGIA O presente estudo tem como proposta a realização da análise dos dados coletados através de uma pesquisa de campo, num enfoque qualitativo, adotando um questionário com perguntas abertas que contemplam as informações sobre o deficiente auditivo, a prática pedagógica e as metodologias utilizadas por professores de uma escola regular, do conservatório de música, intérpretes de Libras, professores de música e familiares, que favorecem o processo de educação do deficiente auditivo e, também, como agem seus familiares diante dos desafios diários enfrentados por eles. A pesquisa foi direcionada a três escolas municipais e uma estadual, da cidade de Uberlândia/MG. Para sua realização, foram enviados oito questionários (em anexo), que foram divididos da seguinte forma: dois questionários para as mães, dois para as professoras do ensino regular, dois para as professoras de música, dois para os intérpretes de língua de sinais (LIBRAS) e dois para os alunos surdos. No entanto, uma professora do ensino regular e um dos intérpretes, não conseguiram responder a tempo e um dos alunos surdos, não consegue responder. Por isso, realizei com ele, um diário de bordo, em que observei seu cotidiano escolar e analisei com base nas questões do questionário. Neste contexto, esse trabalho tem como objetivos: - Estudar e analisar o processo de aquisição do conhecimento dos alunos (as) surdos com o auxílio da música; - Mostrar como o aprendizado da Música, seja através de instrumento musical, seja através do coral de Libras é uma ferramenta de grande valia para o professor da escola regular, pois o surdo ao tocar com as mãos o instrumento musical demonstra habilidade e domínio em uma área inesperada, percebendo e decifrando os sons de uma música em execução, confrontando assim, o mundo que discrimina, desenvolvendo nele, desenvoltura suficiente para superar obstáculos e, certamente conseguirá reverter situações cotidianas de difícil assimilação e consequente solução a seu favor, transformando assim sua deficiência num detalhe pequeno, que mesmo sem a capacidade de ouvir sons, far-se-á escutar; - Conhecer o processo de alfabetização do aluno surdo nas escolas regulares, considerando ser importante que todos aqueles que atuam junto a esta criança devam aprender, saber e entender como acontece a alfabetização desta; - Refletir sobre qual a concepção do professor quanto ao seu papel frente a esse aluno surdo e o trabalho de parceria entre o atendimento educacional especializado e o ensino regular; Acreditamos que os educandos aprendem melhor e não sentem tanta dificuldade, a partir do momento que têm o primeiro contato com a música, pois conseguem se soltar, socializar, sentindo na pele o ritmo e com isso a atenção e a calma passam a fazer parte do seu cotidiano diário. Devido à necessidade de se obter mais informações sobre o tema em questão, foi aplicado um questionário que contou com a participação de professores da Escola Municipal de Sobradinho, do Conservatório Estadual de Música Cora Pavan Caparelli, da Escola Municipal Professor Otávio Batista Filho e da Escola Municipal Professor Afrânio Rodrigues da Cunha em Uberlândia-MG, no nível Fundamental de ensino. A elaboração deste teve como preocupação a necessidade de buscarmos adquirir informações que norteassem o que ocorre nas instituições educacionais em relação ao processo inclusivo e ao aprendizado da música pelo surdo. No final do Ensino Fundamental a maioria dos alunos surdos não são capazes de ler e escrever satisfatoriamente ou de terem domínio adequado dos conteúdos acadêmicos. Um dos principais objetivos da política de inclusão é inserir o aluno no ensino regular. Porém, alunos surdos só apresentarão bom desempenho escolar se a escola apresentar condições linguísticas e culturais especiais, com a presença da Língua Brasileira de Sinais. Para que isso aconteça é essencial a presença de interpretes de LIBRAS e de educadores, surdos ou não, que divulguem os conteúdos escolares nesta língua, bem como o uso de auxílios tecnológicos. Para os profissionais que trabalham com Psicopedagogia e Educação Especial é comum se deparar com situações em que é preciso estabelecer a intervenção psicopedagógica em funções das necessidades especiais da criança. A música torna-se um instrumento de grande relevância nesse sentido. Segundo Mantoan (2006, p. 49): Ensinar significa atender às diferenças dos alunos, mas sem diferenciar o ensino para cada um, o que depende, entre outras condições, de se abandonar um ensino transmissivo e adotar uma pedagogia ativa, dialógica, interativa, integradora, que se contrapõe a toda e qualquer visão unidirecional, de transferência unitária, individualizada e hierárquica do saber. Portanto, durante o planejamento das estratégias de ensino, é importante refletir se a metodologia está contemplando não só a aprendizagem, mas também a socialização. Por isso, além dos questionários utilizados na pesquisa, observando o projeto idealizado pela professora Sarita Araújo1, PROJETO “O SURDO: CAMINHO PARA EDUCAÇÃO MUSICAL”, foi proposto por ela, materiais diferenciados dentro da metodologia da música que facilitam o aprendizado dentro e fora do conservatório. Utilizando técnicas próprias, instrumentos e o livro de Termos Musicais em LIBRAS1, escrito pelos professores, tradutores\intérpretes. RESULTADOS E DISCUSSÃO Uma das grandes preocupações nossa era no fato de verificarem-se as mudanças ocorridas na trajetória dos deficientes auditivos no Brasil e as necessidades básicas de aprendizagem dos alunos (com a qualificação dos profissionais de educação), seja na elaboração do projeto político pedagógico da escola, ou no oferecimento dos serviços de apoio especializado, são questionamentos que pontuaram o nosso estudo, estimulado inúmeras reflexões. 1 (Sarita Araújo, professora de música no Conservatório Cora Pavan Caparelli, autora do projeto “Surdo, Caminho para a Música). Livro: Termos Musicais em Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS Ao final dos estudos realizados para a construção dessa monografia, constatamos mais uma vez, que muito se discute, muito se debate, mas a efetiva proposta de mudanças, ainda é bem remota. Inclusão, Integração, Alfabetização, Libras X Fonoaudiólogos, Música, Deficiente ou Surdo, essas são alguns contextos que precisam urgentemente serem entendidos e compreendidos. Os obstáculos desse processo são inúmeros, mas podem ser vencidos, basta que para isso, encontrem profissionais dispostos a enfrentar tais obstáculos, fazendo que esses, sejam degraus para escalada rumo ao conhecimento. Nesse curto espaço de tempo, pudemos perceber que o papel do educador é de extrema importância, tanto na esfera educacional, quanto na emocional e a música nesse contexto traz uma sensibilidade à vida dessas crianças o que contribui para seu desenvolvimento cognitivo. Além disso, as atividades psicomotoras auxiliam o aluno no desenvolvimento cognitivo e social, aprimorando também sua expressão corporal e facial, essenciais para uma boa interpretação em LIBRAS. Esse é mais um ponto a ser levado em conta, a música ajuda também na aquisição ou aperfeiçoamento da Língua Portuguesa pelos surdos e esse ponto será mais explorado em uma outra oportunidade. Os resultados dos questionários juntamente com a evolução do projeto, mostraram que a criança deficiente auditiva (DA) é sensível à música, gosta, deseja-a e manifesta-se tocando, dançando e cantando espontaneamente. A criança participa de vivência musical com todo o corpo, apresentando descontração e criatividade. Estes resultados evidenciam a relevância da música na vida da criança DA. Portanto a importância de sua inclusão nos currículos escolares. Diante disto, pode-se dizer que experiências musicais oferecidas às crianças surdas, podem contribuir para a formação e desenvolvimento de sua sensibilidade, criatividade e motivação. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS GONÇALVES, D. B.; OLIVEIRA, M. R. Termos Musicais em Língua de Sinais-LIBRAS. Uberlândia, Pessália, 2011. MANTOAN, Maria Tereza. Compreendendo a deficiência Mental. São Paulo: Scipione, 1989. SACKS, Oliver. Vendo Vozes: Uma jornada pelo mundo dos surdos. Rio de janeiro: imago, 1990.