A EDUCAÇÃO NO HORIZONTE DO BEM-ESTAR E DA QUALIDADE DE VIDA 1 CLARIFICAÇÃO DO CONCEITO DE QUALIDADE DE VIDA Acepção ampla: qualidade de vida = “o que faz com que uma vida seja melhor” (Derek Parfit, 1984); é “uma boa vida” (Dan Brock,1996). relação entre qualidade de vida e bem 3 teorias filosóficas a uma boa vida: 1) hedonista experiências conscientes: de prazer, de felicidade e de disfrute; satisfação dos nossos desejos 2) “satisfação de preferências” – Obter o que se prefere 3) “ideais de uma boa vida” - realização ideais: autodeterminação, ser um agente autónomo 2 objectividade ou subjectividade dos juízos relativos a “uma boa vida”. teorias ideais teorias hedonistas e de preferências objectivas subjectivas desejo e preferência individual é bom é-o por norma pensamento dicotómico parece não ser vantajoso QUALIDADE DE VIDA juízos subjectivos factos materiais auto-avaliação da própria situação juízos objectivos com base numa intersubjectividade conjugação de factos materiais avaliação social 3 Qualidade de vida Forma como cada um percepciona e se sente física, psicologicamente e nas relações com o meio. De acordo com a definição dada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) a qualidade de vida é: a “percepção por parte do indivíduo ou grupos, da satisfação das suas necessidades e daquilo que não lhes é recusado nas ocasiões propícias à sua realização e à sua felicidade.” “...a percepção do indivíduo da sua posição na vida, no contexto da cultura e sistema de valores nos quais ele vive em relação aos seus objectivos, expectativas, padrões e preocupações.” 4 COMPONENTES DA QUALIDADE DE VIDA QUALIDADE DE VIDA “O que faz com que uma vida seja melhor” (Derek Parfit) “Uma boa vida” (Dan Brock) Objectiva Bens materiais Subjectiva intersubjectiva Bens imateriais Percepção/internalização das “condições objectivas” 5 ORIGENS DA ÊNFASE NA QUALIDADE DE VIDA degradação ambiental • erosão da sustentabilidade ecológica • secundarização das identidades culturais próprias • uso depradador dos recursos degradação do bem-estar • produção excessiva • elevados padrões de consumo • exploração dos bens naturais comuns CONSEQUÊNCIAS: • empobrecimento critico das populações • marginalização dos circuitos de produção e de consumo • marginalização cultural 6 Qualidade de vida Reavaliação do Real e do sentido da vida contemporânea • Redimensionar à luz de categorias qualitativas; • Reavaliar o estilo de vida urbana; • Reavaliar a qualidade do consumo, do trabalho, da distribuição de riqueza e do acesso aos bens e serviços “A qualidade de vida abre uma perspectiva para pensar a equidade social no sentido da diversidade ecológica e cultural” bem-estar, de nível de rendimentos, condições de existência, estilos de vida desenvolvimento humano, 7 A PROBLEMÁTICA DA MENSURAÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA Como medir ou como avaliar a concretização a qualidade de vida? Como determinar a qualidade de vida dos habitantes de uma nação ou região? Que critérios são importantes para o desenvolvimento humano? 8 Métodos e estratégias para medir a qualidade de vida Erikson (1996) Estudo Sueco (1968 e 1981) Condições, problemas das pessoas com baixos rendimentos riqueza, recursos económicos, recursos políticos, relações sociais e habitação. Allardt (1996) Estudo comparativo entre os países escandinavos (1972) nível de qualidade de vida necessidades básicas 9 Estudo Sueco (1968 e 1981) enfoque dado no estudo: o “...domínio do indivíduo sobre os recursos em forma de dinheiro, propriedades, conhecimento, energia mental e física, relações sociais, segurança e outros por meio dos quais o indivíduo pode controlar e dirigir conscientemente as suas condições de vida.” QUADRO I COMPONENTES E ALGUNS INDICADORES TIPICOS NAS ENTREVISTAS SUECAS SOBRE O NIVEL DE VIDA Componentes Indicadores 1. Saúde e acesso aos cuidados Habilidade para caminhar 100 de saúde metros, vários sintomas de doença, contactos com enfermeiras e médicos. 2. Emprego trabalho e condições de Experiências de desemprego, exigências físicas do trabalho, possibilidade de sair do lugar de trabalho durante as horas laborais. 10 Componentes 3. Recursos Económicos 4. Educação e Capacitações Indicadores Rendimento e riqueza, propriedade, habilidade para fazer face a gastos inesperados de até 1 000 dólares numa semana. Anos de educação, nível de educação alcançado. 5. Família e integração social Número de pessoas por quarto, comodidade 6. Habitação Número de pessoas por quarto, comodidade 7. Segurança da vida e da propriedade Exposição à violência e roubos 11 Componentes Indicadores 8. Recreação e cultura Actividades no tempo livre, viagens de férias 9. Recursos políticos Votar nas eleições, ser membro de sindicatos e partidos políticos, habilidade para apresentar queixas. Extraído de Nussbaum, Martha C.; Sen, Amartya (Compil.), La Calidad de Vida, Fondo de Cultura Económica, México, 1996, p.103 “espaço de acção” do indivíduo, que configurará o seu nível de vida 12 Estudo comparativo entre os países escandinavos (1972) necessidades básicas = condições sem as quais o ser humano não pode sobreviver ou evitar a miséria ou relacionar-se com as outras pessoas e evitar o isolamento. o Ter, o Amar e o Ser QUADRO II UTILIZAÇÃO DOS DIFERENTES INDICADORES NA INVESTIGAÇÃO SOBRE AS CONDIÇÕES DE VIDA Ter (necessidades materiais e impessoais) Amar (necessidades sociais) Ser (necessidades de desenvolvimento pessoal) Indicadores Objectivos Indicadores Subjectivos 1.Medidas objectivas do nível de vida e das condições ambientais. 4. Sentimentos subjectivos de insatisfação/satisfação das condições de vida 2. Medidas objectivas das relações com outras pessoas 3. Medidas objectivas da relação das pessoas com a) a sociedade, e b) com a natureza 5.Sentimentos de infelicidade/felicidade nas relações sociais 6. Sentimentos subjectivos de isolamento/desenvolvimen to pessoal 13 “espaço de acção” do indivíduo Recursos + Áreas O nível de vida do indivíduo depende dos seus recursos, das áreas em que os vai utilizar e das condições de vida essenciais. estudo escandinavo cruzaram-se indicadores: objectivos (para medir as condições reais e a conduta evidente com base no que os investigadores pensam que é desejado ou necessário para os seres humanos) + subjectivos (para medir as atitudes e a percepção das pessoas quanto às condições de vida) de bem-estar,ao contrário do inquérito sueco, que usou apenas indicadores objectivos. 14 A qualidade de vida aparece, frequentemente, associada à satisfação das necessidades básicas padronizadas, mas deveria ir mais longe e ter em conta aspectos como as opções pessoais que os indivíduos fazem A qualidade de vida deveria ir mais longe e ter em conta aspectos como as opções pessoais que os indivíduos fazem As concepções sociopolíticas de qualidade de vida não abrangem uma dimensão que a bioética enfatiza: a da dignidade humana Para avaliar a qualidade de vida é necessário atender ao homem como totalidade A qualidade de vida deve constituir um direito essencial independentemente das condições de eficiência ou de produtividade económica. Amartya Sen Além dos rendimentos é preciso saber das capacidades das pessoas para conduzirem as suas vidas e que liberdade têm para isso 15 A Educação é um vector crucial para a qualidade de vida porque: educação - saúde das populações maior impacto na saúde que o rendimento • Receptividade à prevenção da saúde • Fornece informações que permite equilibrar os estilos de vida procurando os mais saudáveis a escolaridade também aparece associada à esperança de vida que é menor nos PBR alguns dos países com baixo rendimento têm esperanças de vida equivalentes à dos desenvolvidos devido, precisamente, à educação da sua população. Tal 16 éo caso, por exemplo, do Sri Lanka. Conclusão: As medidas de qualidade de vida têm de usar, simultaneamente, indicadores objectivos e subjectivos; descritivos e quantitativos de modo a, também considerar as percepções subjectivas e os sistemas de valores subjacentes à qualidade de vida de uma pessoa humana. 17