Prof. Dr. Jose G. Speciali Professor Associado de Neurologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto Definição As cefaleias crônicas diárias (CCD) são definidas como aquelas que: • Ocorrem em 15 ou mais dias por mês, • Duram mais de 4 horas por dia, • Iniciaram há mais de 3 meses. CCD primárias e secundárias • Muitas preenchem esses critérios Primárias – Migrânea Crônica – Cefaleia do Tipo Tensional Crônica – Hemicrania Contínua – Cefaleia Persistente e Diária desde o Início (DPDI) Secundárias – Cefaleia por Uso Excessivo de Medicações Sintomáticas (CEM) – Pós traumáticas – Hiper e Hipotensão intracranianas – Infecções crônicas do SNC – Sinusopatia – Transtornos psiquiátricos Migrânea Remissão Sem sintomas após período de tempo variável Persistência Relativa estabilidade clinica sem fatores de risco para progressão Progressão Clinica -Evolução para migrânea crônica Funcional - Modificações na PAG - Sensibilização central Anatômica - Lesões no cérebro - Lesões fora do cérebro Bigal ME e Lipton R. Curr Neurol Neurosci Rep (2011) 11:139 – 148 Queiroz LP, Peres MFP, Kowacs F, Piovesan EJ, Ciciarelli MC, Souza JA & Zukerman E. Chronic daily headache in Brazil: a nationwide population-based study. Cephalalgia 2008; 28:1264–1269 • 3848 people, aged 18–79 years, randomly selected from the 27 States of Brazil. • Estimated 1-year gender- and age-adjusted prevalence of CDH was 6.9%. CDH • 2.4 times more prevalent in women, • 1.72 times more in unemployed, • 1.63 times more in subjects with high household income and • 2.0 times greater in those who did not exercise. • The overall prevalence of CDH in Brazil is high. Evolução da Migrânea As crises podem aumentar ou diminuir em frequencia no decorrer do tempo Sem crises Até 9 crises por mês 10 a 14 crises por mês MC 6% ao ano 3% ao ano A progressão é gradual Não é inexorável nem irreversível Não ocorre em todos os migranosos (2%/ano) ≥15 crises por mês Conceito de prevenção de doença Uso excessivo de sintomáticos 1) Opiáceos está associado com progressão (dose crítica 8 dias por mês) 2) Barbituratos também ( dose critica 5 dias/mês, principalmente em mulheres) 3) Triptanos induz progressão em casos de elevada frequencia (10-14 dias/mês) 4) AINEs são protetores nos casos de baixa frequencia (< 10 dias/mês) Uso excessivo de sintomáticos Barbiturico Bigal ME, el al. Headache 2008; 48:1157–1168. AINEs Cafeína • Indivíduos com MC consomem mais cafeína antes da cronificação do que os com Migrânea episódica (OR=1.50, P<0.05), portanto • O risco da cafeína é dose dependente • Retirada abrupta de cafeína em indivíduos com MC está associada a cefaleia rebote • Cafeína é importante fator de risco para a cronificação Scher AI, et al. Neurology 2004; 63:2022–27. 27 Silverman K, et al. N Engl J Med 1992; 327:1109–14. Frequencia dos ataques 0.3 CDH (180+) Frequencia intermediaria (105 to 179) Previsão da incidencia anual 0.2 0.1 0 2 24 52 Frequencia das crises 104 *The top line shows the predicted incidence of intermediate frequent headaches (105 to 179 headache days/year) and the bottom line shows the predicted incidence of CDH (180+ headache days/year). Estimates were calculated using multinomial logistic regression. Scher AI et al. Pain. 2003;106:81-89. Fatores de Risco mais importantes – Freqüência de Ataques... 0.3 Migrânea Crônica 0.2 Incidência anual Sem preventivo 0.1 Com preventivo 0 2 24 52 Frequência inicial 104 . Scher AI et al. Pain. 2003;106:81-89. Obesidade Obesidade aumenta o risco de desenvolvimento de MC em 5X, enquanto que nos com sobrepeso o risco é de 3X 7% 6.6% 6% 5% 4.6% 4% 4.5% 3.9% 3.8% Normalweight Overweight 3% 2% 1% 0% Underweight Obese Morbidly obese Bigal ME, et al. Neurology 2006; 66:545–50; Bigal et al.American Academy of Neurology 2005 Fatores genéticos • Presença de MC em parentes de primeiro grau de indivíduos com MC é maior que a da população • Esse dado sugere que uma predisposição biológica poderá ser a única situação necessária para a cronificação, pelo menos em alguns indivíduos • Polimorfismos da COMT têm sido relacionados com a progressão das dores em geral e da migrânea Rueda-Sanchez M, et al. Cephalalgia 2008; 28:216–225. Ronco e Apnéia do sono • A relação entre cronificação e ronco foi comprovada em estudos populacionais e casocontrole • A associação é independente de peso, idade, gênero, hipertensão e outros distúrbios do sono Jennum P, et al. J Sleep Res 1992, 1:240–44; Scher AI, et al. Neurology 2003, 60:1366–68 Alodinia Lipton RB, et al. Ann Neurol 2008; 63:148–158. Gonçalves, D.A.G; Speciali, JG et al. Temporomandibular symptoms, migraine, and chronic daily headaches in the population. Neurology; 73; August 25, 2009:645 CTT MIGRÂNEA MIGRÂNEA CRÔNICA Condições psiquiátricas e eventos estressantes • Embora vários estudos relacionam condições psiquiátricas (depressão, ansiedade) e MC poucos tentaram demonstrar que sejam fatores de risco para a cronificação • Aumento da frequência da Migrânea está associado com maior frequência de eventos estressante no ano anterior (mudança de residência, emprego, estado conjugal, problemas relacionados com filhos, morte de parentes ou amigos, e outras situações estressantes Scher AI, et al. Cephalalgia, 2008; 28:868–876. Outras síndromes dolorosas • Pessoas com migrânea frequente tem maior probabilidade de apresentarem dor não cefaleias (especialmente relacionadas com dor musculoesquelética ou artrite) quando comparadas com os sem cefaleia • O mesmo foi demonstrado quanto à DTM e em crianças Scher AI, et al. Headache 2006;46:1416–1423; Gonçalves DG et al, Neurology 73 August 25, 2009; El Metwally A,et al. Pain. 2004, 110(3):550-559 Hipertensão Arterial • Vários estudos associam MC com hipertensão arterial • Demonstram que a hipertensão pode ser fator de risco para cronificação • A hipertensão provavelmente amplifica os efeitos da migrânea sobre os vasos cerebrais • Estudos poderiam verificar se as drogas bloqueadoras dos canais de cálcio, betabloqueadoras, inibidoras da Enzima Conversora da Angiotensina e sartanas seriam as mais indicadas para a profilaxia desses pacientes Barbanti P et al. Neurol Sci. 2010 Jun;31 Suppl 1:S41-3 Maus tratos em crianças Levantamento eletrônico multicêntrico realizados em pacientes que procuraram atendimento em clinicas de cefaléia - 11 centros dos EUA e do Canada • • • • Abuso físico, sexual Emocional Negligencia emocional Fatores de risco independente de depressão e ansiedade • Álcool e cigarro na gravidez Tietjen GE,Headache. 2010 Jan;50(1):20-31. Tietjen GE et al. Headache. 2010 Jan;50(1):32-41 Fatores de risco para progressão Não modificáveis Dificilmente modificáveis Modificáveis Prováveis fatores de cronificação Idade Baixo nível educacional Frequencia dos ataques Alodinia Mulher Estado socioeconômico Obesidade Estados prótrombóticos Branco Trauma craniano Uso excessivo de sintomáticos Estados próinflamatórios Fatores genéticos Maus tratos crianças Estresse Genes específicos Hipertensão arterial Uso excessivo de cafeína Ronco/apnéia Tabaco na gravidez Outras síndromes dolorosas (DTM) Depressão e ansiedade Modificado de Scher, AI et al. Headache 2008;48:16-25 Prevenção primária Do clinico geral Sem crises Do especialista Até 9 crises por mês 10 a 14 crises por mês MC 6% ao ano 3% ao ano ≥15 crises por mês A progressão é gradual Não é inexorável nem irreversível Não ocorre em todos os migranosos (2%/ano) Cenário 1: Cefaléia recorrente com exame neurológico normal Cenário 2: Cefaléia aguda emergente Atenção básica Atenção básica Cefaléia em pressão, moderada intensidade Cefaléia tensional Cefaléia de forte intensidade, pulsátil com náuseas, vômitos Cefaléia excruciante unilateral, rinorréia e coriza ipsilateral Enxaqueca Cefaléia em salvas Tratamento abortivo Tratamento abortivo: O2 a 100% Atenção básica Com febre Sem sinais de alerta: IVAS, dengue e outros Tratamento sintomático e/ou antibiótico Sem febre Com sinais de alerta: Meningite, encefalite, abscesso Cefaléia súbita (a pior da vida) com sinais de alerta:HSA, AVCi, hidrocefalia aguda, trombose venosa central Profilaxia de crises Características de cefaléia tensional com mais de 15 episódios/ mês: Cefaléia tensional crônica História pregressa de migrânea, com aumento do n° de crises, pouca resposta a analgésicos: Migrânea transformada Medidas educativas Tratamento abortivo Profilaxia de crises Atenção básica Cefaléia crônica associada a transtornos psiquiátricos Alteração neurológica: edema de papila, paralisia VI par craniano Investigação e tratamento de transtorno psiquiátrico Controle da dor com analgésicos comuns Diagnóstico diferencial: Hipertensão liquórica, neoplasia intracraniana, hematoma subdural crônico, abscesso cerebral, AIDS, arterite temporal dentre outros. Complexo regulador Melhora Seguimento em UBS Protocolos clínicos e de regulação: acesso à rede de saúde / José Sebastião dos Santos... [et al.]. - Rio de Janeiro: Elsevier, 2012. Cap 57 Não melhora Melhora clínica? Melhora clínica? Complexo regulador Ambulatório neurologia secundário Cenário 4: Cefaléia crônica progressiva Cenário 3: Cefaléia crônica não progressiva Remoção: Suporte básico ao Hospital Terciário Avaliação de neurologista/ neurocirugião SIM SIM Mantém profilaxia Retorno rotina em UBS NÃO NÃO Encaminhamento ao ambulatório neurologia nível secundário Serviço agenda retorno para seguimento Complexo regulador agenda tratamento complementar em outros serviços Redirecionamento à atenção básica com contra-referência (tratamento co-morbidades,curativos) Retorno rotina em UBS Avaliação de psiquiatra e neurologista em nível secundário Complexo regulador (15 dias) Hospital terciário: investigação e tratamento Cenário 3: Cefaléia crônica não progressiva Atenção básica História pregressa de migrânea, com aumento do n° de crises, pouca resposta a analgésicos: Migrânea Características de cefaléia tensional com mais de 15 episódios/ mês: Cefaléia tensional crônica Medidas educativas Tratamento abortivo Profilaxia de crises Crônica Cefaléia crônica associada a transtornos psiquiátricos Investigação e tratamento de transtorno psiquiátrico Controle da dor com analgésicos comuns Melhora clínica? Melhora clínica? SIM SIM Mantém profilaxia Retorno rotina em UBS NÃO NÃO Encaminhamento ao ambulatório neurologia nível secundário Retorno rotina em UBS Avaliação de psiquiatra e neurologista em nível secundário Migrânea crônica (MC) Tratamento Tratamento medicamentoso • Poucos estudos com metodologia recomendada pela IHS foram feitos com pacientes com migrânea crônica • Em geral se utiliza os mesmos profiláticos recomendados para o tratamento da migrânea • Fundamental abordar comorbidades – depressão, ansiedade, estresse, obesidade, etc. • A recomendação de “experts” é de politerapia racional, com associação de profiláticos com ação em diferentes sistemas neurais • Considerar a elevada recorrência alguns meses após sucesso inicial 7 frontais Toxina Botulí nica 8 temporais 6 occipitais superiores 4 occipitais inferiores 6 trapézios Total de pontos = 7+8+6+4+6 = 31 + outros locais dolorosos Total de dose utilizada de 155 a 195U Migrânea crônica (MC) Tratamento TBA 2,0 1,8 EFEITOS ADVERSOS Interrupção : dor local (0.6%), fraqueza muscular (0.4%), cefaléia (0.4%), e migrânea (0,4%) Migrânea crônica (MC) Tratamento com Topiramato Silberstein, et al. Headache2007;47:170-180 1,5 1,7 PREEMPT (TBA) 2,0 1,7 Migrânea crônica (MC) Tratamento