Estado e a Federação: crise e reformas Estados nos Regimes Federativos - Aspectos Fiscais José Roberto R. Afonso Seminário CAE/Senado, IDP, BID Brasília, 27/11/2013 Decisões Fiscais: por esfera de Poder Poder Executivo Federal no Brasil… … é dos países latinos que mais gozam de autonomia para decidir sobre matérias fiscais. … tem gozado de maioria parlamentar e crescente (nos últimos mandatos presidenciais) … apresentou diferentes propostas de reforma tributária (de estruturantes à fatiada), não foram aprovadas como um todo, mas resultando em cerca de 80 mudanças no capítulo do sistema tributário da Constituição… Congresso Nacional sempre reagiu ao Executivo, mas raramente rejeitou (CPMF, caso raro) ou tomou iniciativa… Supremo Tribunal Federal recentemente passou a pautar agenda federativa, ao tomar iniciativa de condenar rateio do FPE, guerra fiscal do ICMS e criação de municípios, ou dar palavra final em temas polêmicos (como no caso de royalties) Resulta espetacular desempenho da arracadação tributária, das maiores cargas tributárias entre emergentes. Força presidencial comparada Compilado de Francisco Diaz y Jorge Rodriguez, CIEPLAN, 2013. Apoio parlamentar aos Presidentes Proporción de coalición del gobierno nacional en la Cámara de Diputados 65% 60% 55% 50% 45% 40% 35% 30% 25% 20% SARNEY COLLOR ITAMAR FHC Início LULA DILMA Fim Fontes primarias: CEBRAP, Marta Arretche Carga tributária comparada Fora da curva Carga Pesada Alta carga de tributos indiretos Decisões Fiscais: por nível de governo Divisão Federativa da receita tributária nacional em uma trajetória histórica longa mostra seguintes caractetísticas: Historicamente, regime político e federativo oscilaram em ciclos, coincidindo maior centralização política (Estado Novo, regime militar) com tributária (maior participação federal no total)… Pós-Constituição de 1988 é período mais longe de democracia plena mas a descentralização tributária inicial foi parcialmente revertida (pela expansão das contribuições e menor dinamismo dos impostos compartilhados e do ICMS) a municipal foi o nível mais beneficiado no longo prazo (ainda que com participação estável recente)… a estadual importa relativamente, hoje, menos do que quando foi promulgada a Constituição, inclusive porque transfere aos municípios um volume superior ao recebido da União…nunca voltou ao patamar observado antes do regime militar. Não há perspectiva de mudança desse cenário federativo, mesmo que fosse aprovado a reforma fatiada focada no ICMS interestadual, se prestaria ao menos a estancar a sangria do imposto e dos estados do que a reverter o quadro… Divisão Federativa da Carga Tributária EVOLUÇÃO DA DIVISÃO FEDERATIVA DA RECEITA TRIBUTÁRIA POR NÍVEL DE GOVERNO (conceito contas nacionais) Conceito Central Estadual Local Carga - % do PIB ARRECADAÇÃO DIRETA 1960 11,14 5,45 0,82 1970 17,33 7,95 0,70 1980 18,31 5,31 0,90 1988 16,08 5,74 0,61 2000 20,77 8,61 1,77 2012 25,03 9,27 2,08 RECEITA DISPONÍVEL 1960 10,37 5,94 1,11 1970 15,79 7,59 2,60 1980 16,71 5,70 2,10 1988 13,48 5,97 2,98 2000 17,38 8,19 5,58 2012 20,97 8,86 6,56 Total Central Estadual Local Total Composição - % do Total 17,41 25,98 24,52 22,43 31,15 36,39 64,0 66,7 74,7 71,7 66,7 68,8 31,3 30,6 21,6 25,6 27,6 25,5 4,7 2,7 3,7 2,7 5,7 5,7 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 17,41 25,98 24,52 22,43 31,15 36,39 59,5 60,8 68,2 60,1 55,8 57,6 34,1 29,2 23,3 26,6 26,3 24,4 6,4 10,0 8,6 13,3 17,9 18,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 Fonte: Elaboração própria, a partir de STN, SRF, IBGE, Ministério da Previdência, CEF, Confaz e Balanços Municipais. Metodologia das contas nacionais inclui impostos, taxas e contribuições, inclusive CPMF, FGTS e royalties, bem assim dívida ativa. Receita Dispon'ivel = arrecadação própria mais e/ou menos repartição constitucional de receitas tributárias e outros repasses compulsórios. Receita Tributária Disponível Participação no Total da Receita Tributária Disponível de Estados X Municípios 1960, 1965, 1970 a 2012 40 35 Em Porcentagem do Total 30 25 Estados 20 15 10 5 Municípios Participação Estadual Arrecadação Direta e Receita Disponível - ESTADOS 36 Em porcentagem do Total 34 32 30 28 Arrecadado Disponível 26 24 22 20 Mudanças Tributárias ICMS ainda é o maior tributo individualmente arrecadado no Brasil mas perdeu dinamismo … está assentado sobre mercadorias que perde cada vez mais espaço para serviços na economia moderna. … desindustrialização e guerra fiscal agravam ainda mais a situação do ICMS cuja carga tributária ficou estável enquanto cresceu a nacional … estados sobrecarregam a tributação de combustíveis, energia, comunicações e dependem cada vez mais de substituição tributária, de importações e reter créditos (inclusive de exportadores e investidores) para atenuar ou compensar a redução desigual do ônus efetivo dos incentivados Na última década, o pior desempenho entre os tributos indiretos foi do IPI (base dos fundos de participação, nunca arrecadou tão pouco) e do ICMS (estável, na melhor das hipóteses) – na margem, o ISS municipal tem crescido mais que o ICMS estadual Desempenho diferenciado TRIBUTAÇÃO SOBRE BENS E SERVIÇOS Variação em pontos do PIB 2012-2000 1.2 1.0 0.8 0.6 1.17 0.4 0.68 0.44 0.2 0.0 TOTAL -0.2 0.25 0.01 ICMS IPI FINSOCIAL COFINS PIS PASEP -0.52 -0.4 -0.6 TRIBUTAÇÃO SOBRE BENS E SERVIÇOS IOF 0.31 ISS ICMS Decrescente ICMS Pós-Constituinte Cresceu menos que COFINS e, recente, do que ISS e PIS Estados Pós-Constituinte Perda de peso relativo na receita tributária disponível 15 Mudanças nos Repasse Municípios foram mais beneficiados … a Constituição de 1988 elevou cota municipal de 20% do ICM para 25% do ICMS para compensar o ISS que não foi extinto. … a criação do FUNDEF/FUNDEB e a estruturação do SUS levaram à descentralização dos gastos com educação e saúde em detrimento de perda de posição relativa dos estados . … as transferências voluntárias da União passarão a beneficiar cada vez mais as prefeituras no lugar dos estados. Estados, recentemente, voltaram a recorrer ao endividamento (como fizeram no auge da ditadura militar) como alternativa de financiamento, direta (bancos federais) ou indiretamente (garantias) junto ao governo federal. Voluntárias Redirecionadas Transferências Voluntárias da União aos Estados e Municípios 0.40% 2.50 0.35% 2.00 0.25% 1.50 0.20% 1.00 0.15% 0.10% 0.50 0.05% 0.00% 0.00 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 Estados 2004 2005 Municípios 2006 2007 2008 Municípios/Estados 2009 2010 2011 2012 2013 Municípios/Estados Em Porcentagem do PIB 0.30% Voluntárias Redirecionadas Transferências Voluntárias da União aos Estados e Municípios 9,000 2.50 8,000 2.00 6,000 1.50 5,000 1.00 4,000 3,000 0.50 2,000 1,000 0.00 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 Estados 2004 2005 Municípios 2006 2007 2008 Municípios/Estados 2009 2010 2011 2012 2013 Municípios/Estados Em Valores Nominais - Milhares 7,000 Financiamento como escape UF Operações de Crédito Até 4º Bim./10 Até 4º Bim./13 Variação Acre 290.513.929 111.927.122 Amazonas 343.125.610 42.931.483 -61% -87% Bahia 335.245.773 1.203.409.067 259% -45% Ceará 852.387.952 464.658.202 Distrito Federal 253.631.553 117.700.261 -54% Goiás 136.215.157 403.276.913 196% 28209% Maranhão 801.251 226.825.863 Mato Grosso 300.147.619 780.661.882 160% Mato Grosso do Sul 6.008.994 116.235.699 1834% Minas Gerais 305.106.918 4.328.405.813 1319% Pará 570.054.511 129.647.048 -77% Paraíba 16.952.545 171.285.058 910% Paraná - 100.543.105 … Pernambuco 418.147.649 1.951.135.027 367% Piauí 471.200.775 356.771.371 -24% Rio de Janeiro 1.154.925.414 3.260.631.816 182% Rio Grande do Norte 184.038.573 504.564.558 174% Rio Grande do Sul 942.153.445 272.029.768 -71% Rondônia 139.510.302 319.711.368 129% Roraima 156.127.746 309.221.062 98% São Paulo 1.122.755.517 1.614.046.011 44% Sergipe 260.056.150 416.487.673 60% Tocantins 232.260.748 72.030.994 -69% SOMA 8.491.368.132 17.274.137.164 103% ¹ Soma dos estados, excluindo Alagoas, Amapá e Espiríto Santo. Fonte primária: RGF. Levantamento: Compara Brasil Conclusão Ao contrário de federações tradicionais (em que só se relaciona com os Estados), o governo federal passou cada vez mais a negociar, contratar e repassar recursos diretamente aos municipais… Pode não mais ser uma opção mas uma nova cultura e convenção… Brasil vai se transformar em uma federação de municípios? José Roberto Afonso é economista, doutor pela UNICAMP, consultor técnico do Senado, pesquisador do IBRE/FGV e especialista em finanças públicas Opiniões de exclusiva responsabilidade do palestrante. Felipe de Azevedo e Kleber Castro deram suportes nas pesquisas.