A tradução como retextualização (2ª. parte) Neuza Gonçalves Travaglia Capítulo 3 do livro: Tradução e retextualização: a tradução numa perspectiva textual. Uberlândia: EDUFU, 2003. Siglas utilizadas • TP – Texto de Partida (“original”) • TC – Texto de Chegada (“tradução”) • LP – Língua de Partida • LC – Língua de Chegada Produção do TP ou do TC: mobilização textualização revisão estratégias linguísticas conhecimentos assunto necessidades estratégias linguísticas ancoradas no contexto reduzir falhas Tradução como retextualização • O autor do TP textualiza: “coloca em texto” seus objetivos, usa certas estratégias, maneja certos elementos. • O tradutor retextualiza o TC: “recoloca em texto” numa outra língua a reconstrução de um sentido que faz a partir de uma textualização anterior (TP), seguindo novas regras (da língua de chegada e da cultura de chegada). Tradutor como mediador • Autor do TP • TRADUTOR: – leitor do TP – mediador entre autor do TP e leitor do TC – autor do TC • Leitor do TC Aspectos de Coerência • Aspectos já estudados: – Continuidade – Progressão – Articulação – Não-contradição Novos Aspectos de Coerência Conhecimento linguístico • Elementos da LP e da LC: – Léxico – Sintaxe – Sentidos – Instruções do texto – Função de cada elemento ou de um conjunto – Encadeamento: coesão referencial e sequencial O funcionamento pode ser diferente de uma língua para outra. Exemplos: Alto índice de elipse de sujeito, baixo índice de pronome oblíquo. Terminologia e construção de neologismos. Dupla negação. Ordem singular das palavras na frase. Conhecimento de mundo • Memória particular do tradutor • Buscar informações de uma área específica • Estar antenado com informações cotidianas • Reconhecer aspectos culturais • Conhecimento de mundo autor do TP • Conhecimento de mundo do leitor do TL Conhecimento partilhado • Conhecimentos do autor do TP • Conhecimentos dos leitores previstos pelo autor do TP • Conhecimentos dos leitores não previstos pelo autor do TP (ex.: tradução de textos antigos para leitores atuais) • Conhecimentos do tradutor Ex.: Tradução de “boiada” para o público de um país europeu. Boiada Informatividade • Informações já conhecidas pelo leitor • Grau de previsibilidade • O que é esperado e o que não é esperado de um texto por um leitor do TP e por um leitor do TC Focalização • Perspectiva do autor sobre o tema • Perspectiva do tradutor • O que determina o foco do tradutor: especialização em determinada área, posicionamento, grupo social a que pertence... • Consequência: a seleção de uma palavra e a exclusão de outras dentro de um leque de traduções possíveis. • Exemplo: • Constituiu-se, então, um corpus de todas as ocorrências de mãe e filho* nos exercícios propostos • * No original, enfant oferece dupla leitura: pode ser interpretado como criança ou como filho. Dado o contexto em que se encontra o termo, ambas são válidas. Optei por filho para manter a relação com mãe mas seria interessante não esquecer a segunda leitura nas considerações que se seguem. (N.T.). • (MAINGUENEAU, Dominique. Novas tendências em análise do discurso. Tradução de Freda Indursky. Campinas: Pontes, Unicamp, 1989. p.135.) Inferência • Informações implícitas • Direcionamento dos argumentos para determinada conclusão • Alusões, insinuações, ironias... Relevância • Manutenção de um tópico na argumentação do texto • Tópico maior que abarca uma diversidade de tópicos menores • O que é relevante numa cultura pode não ser em outra. Fatores pragmáticos • Onde, quando, em que mídia e para quem foi publicado • Estilo de uma época e/ou de uma área • Ex.: Na tradução literária: a tradução ou a manutenção de um nome próprio ou de um sobrenome. O que esse nome significa naquela sociedade e naquele texto. Situacionalidade • Faz parte dos fatores pragmáticos • Especificamente: tempo, lugar, situação de enunciação, pessoas envolvidas, objetivos etc. Exemplo: • Contra os furacões, que são para os kamtchadalos o motivo pelo qual insultam o Criador, ainda não encontraram os cristãos de fato um remédio direto, como em geral o reino dos ares não é em nada conhecido e conquistado*; mas os cristãos sabem proteger-se contra a inclemência do clima através de outros meios que lhe são oferecidos pela cultura. • * Torna-se desnecessário frisar aqui a insignificância desta afirmação para nós. Que se lembre porém que quando F. escreveu essas linhas nem o automóvel existia ainda. Hoje o homem já foi diversas vezes à lua. • (FEUERBACH, Ludwig. Preleções sobre a essência da religião. Tradução de José da Silva Brandão. Campinas: Papirus, 1989. p.145.) Intertextualidade • Todo texto traz em si a intertextualidade. • Toda tradução, obviamente, também. • O tradutor deve estar atento à intertextualidade que constituiu o TP. • Na tradução, pode haver uma intertextualidade que não foi prevista pelo autor do TP. • Exemplo: • Os termos “nomenclatura” e “terminologia” dão lugar a confusões freqüentes. Um dicionário francês define ambos como “conjunto dos termos técnicos de uma ciência ou uma arte”*. • * No Pequeno Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa lê-se: Nomenclatura: conjunto de termos peculiares a uma arte ou ciência. Terminologia: tratado dos termos técnicos de uma arte ou ciência; conjunto desses termos, nomenclatura. • (MAILLOT, Jean. A tradução científica e técnica. Tradução de Paulo Rónai. São Paulo: McGraw-Hill; Brasília: UnB, 1975. p.113) Intencionalidade e Aceitabilidade • Intenção do autor do TP • Aceitação por parte do leitor do TP • Aceitação por parte do leitor do TC: – das ideias apresentadas – da intermediação por parte de um tradutor