Coordenadora Geral: Elaine Constant Coordenadora Pedagógica: Margareth Brainer Supervisores: Claudia Andrade, Edite Vieira, Elizabeth Ogliari, Fernando Celso, Gisela Maria, Lilian Nasser, Lucia Tinoco, Luiza Alves, Maria Cristina de Lima, Miriam Kaiuca, Nizia Ponte O FECHAMENTO DA AULA O FECHAMENTO DA AULA “Paulo tinha fama de mentiroso. Um dia chegou em casa dizendo que vira no campo dois dragões-da-independência cuspindo fogo e lendo fotonovelas. A mãe botou-o de castigo, mas na semana seguinte ele veio contando que caíra no pátio da escola um pedaço de lua, todo cheio de buraquinhos, feito queijo mesmo. Desta vez, Paulo não só ficou sem sobremesa como foi proibido de jogar futebol durante quinze dias. Quando o menino voltou falando que todas as borboletas da Terra passaram pela chácara de Siá Elpídia e queriam formar um tapete voador para transporta-la ao sétimo céu, a mãe decidiu leva-lo ao médico. Após o exame, Dr. Epaminondas abanou a cabeça: -Não há nada a fazer, Dona Colo. Este menino é mesmo um caso de poesia. Carlos Dummond Andrade FECHAMENTO DA AULA No momento do planejamento de uma aula ou aulas, há que se entender que processo de desenvolvimento da criança envolve uma contínua negociação de significados entre os atores em interação, onde as mensagens culturais são interpretadas e reinterpretadas de forma ativa pelos indivíduos. Ao mesmo tempo, tais mensagens culturais, de alguma forma transformadas, são constantemente internalizadas e externalizadas no contexto da sociocultura. As considerações finais para o fechamento de uma aula requer uma multiplicidade de opções no aspecto de avaliação para a compreensão e elaboração do objetivo a ser tratado. O desenvolvimento infantil é, em síntese, um processo bidirecional de construção de significados, onde os pólos da "cultura pessoal" e da "cultura coletiva" constituem um processo interativo no contexto da dinâmica de um sistema aberto (MARTINS & BRANCO, 2001; BRANCO & VALSINER, 1997; VALSINER, 2007). Nesse processo interativo, é marcante o papel mediador da linguagem. . a) Momento de socialização ou entrega das produções 1. As atividades desenvolvidas devem ser coletivas baseadas na oralidade ou em um contexto Material concreto Muitas vezes todo o tempo da aula foi dedicado a uma negociação coletiva e oral com os alunos, ou a um jogo ou a alguma atividade envolvendo manipulação de materiais e, nesse caso, as atividades que envolvem conceitos matemáticos e de linguagem precisam ser registradas pelos alunos e pelo professor. Material impresso Socializando as ideias desenvolvidas pelos alunos Segundo o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (MEC, 1998) e PCN9 anos ( MEC, 2007) , os objetivos dos componentes curriculares desta etapa de escolarização envolvem o desenvolvimento de competências e habilidades de ordem físico-motora, afetiva, cognitiva, ética, estética, de inserção social e referentes às relações interpessoais. As estratégias educativas para promover tais competências e habilidades são diversas e devem ser elaboradas de forma intencional e reflexiva, orientadas por um referencial de desenvolvimento que contemple a complexidade sistêmica do processo, enfatizada, por exemplo, pela abordagem sociocultural construtivista. Giovani: Pro, eu também sei medir. Vou medir com a caneta. [Nesse momento ele mostra uma caneta e um caderno para a professora – chamada pelos alunos de ‘pro’]. Professora: O Giovani está dizendo que consegue medir com a caneta. Vocês acham que é possível medir com a caneta? Alunos: sim. Professora: Giovani, o que você gostaria de medir com a caneta? Giovani: uma folha... (BAGNE, 2012, p. 117). Observe que a fala do aluno tem importância para a professora e, prevendo que nem todos tinham ouvido sua intervenção, ela convida a turma para participar da discussão, problematizando: “Vocês acham que é possível medir com a caneta?”. Como a autora relata em seu trabalho, imediatamente os alunos se mobilizaram para resolver o problema posto: como medir com um objeto que não é a unidade padronizada? Se essa não é uma prática usual em sala de aula, os alunos demoram um tempo para adquirir autoria de pensamento e levantamento de hipóteses e conclusões individuais e coletivas. SE ESSA NÃO É UMA PRÁTICA USUAL EM SALA DE AULA, OS ALUNOS DEMORAM UM TEMPO PARA ADQUIRIR AUTORIA DE PENSAMENTO E LEVANTAMENTO DE HIPÓTESES E CONCLUSÕES INDIVIDUAIS E COLETIVAS. DEMORAM UM TEMPO PARA APRENDER A SE ENGAJAR NAS DISCUSSÕES QUE EMERGEM. DAÍ A IMPORTÂNCIA DO PROFESSOR PROBLEMATIZAR AS FALAS E, EM MUITOS MOMENTOS, FAZER MESMO UMA SÍNTESE DO QUE JÁ FOI DITO OU REALIZADO. A questão da síntese envolve a busca de uma postura de interdisciplinaridade, em forma de registro, que permite uma discussão didática e epistemológica, e o processo pedagógico discutido visa a resolução de problemas fazendo uso de diversas especialidades. As práticas interdisciplinares não se justificam por si só. Nos trabalhos interdisciplinares não há normas disponíveis para saber qual ponto de vista disciplinar deve ser privilegiado: trata-se de uma decisão que se negocia em cada caso. A questão é que não há uma metodologia para o trabalho interdisciplinar, mas a interdisciplinaridade não suprime o interesse de métodos para gerar as negociações. • O foco de um trabalho de registro para o fechamento de aula ou de aulas baseia-se nas intencionalidades e concepções que permeiam todas as ações pedagógicas na própria prática com os alunos. Tanto no processo de construção, elaboração do trabalho e finalização das tarefas para a devolução, fechamento e socialização é preciso propiciar vivências e práticas educativas eficazes e orientadas para o alcance de objetivos gerais e específicos, em todos os níveis. VEJAMOS A ATIVIDADE PROPOSTA NAS PÁGINAS 28 A 31. • O ingresso no Ensino Fundamental marca, definitivamente, o vínculo com a vida estudantil. Mais do que aprender determinados conteúdos, o aluno enfrenta o desafio de se adaptar à vida escolar e à dinâmica de estudo, colocando-se disponível ao conhecimento. FECHAMENTO E DESDOBRAMENTOS É importante que a cada apresentação seja aberto o espaço para debate e discussão das respostas apresentadas. • Quando o professor é problematizador em sala de aula, os alunos também aprendem a formular boas perguntas aos colegas. o ensino de LP que costumava ser dedicado ao estudo da nomenclatura gramatical que o uso da língua. • • Dupla: Eu pensei em adição porque 4 alunos faltaram e de 34 – 4 é igual a 30 que também dá para pensar em 2 x 15 = 30 que o resultado. 2 vans serão necessárias. Professora-pesquisadora: E se eles não tivessem faltado. O que vocês sugerem para resolver essa situação? Dupla: 2 vans e um carro. Professora-pesquisadora: Mas a prefeitura não mandará carro, somente van. E agora? O que vocês sugerem? Dupla: Eu sugiro 17 crianças em cada van. Professora-pesquisadora: Mas só cabem 15 pessoas. O que fazer? Como levará 17? Dupla: A prefeitura mandará três vans. Fonte. MENGALI, 2011, p. 117. No plano metodológico a negociação e fechamento inibe e descarta as linhas mais diretivas de ensino que tendem a inibir a iniciativa pessoal, os esforços criativos de produção e a autonomia no trabalho escolar (GÓES;SMOLKA In ALENCAR, 1995; MINIAC; CROS e RUIZ, 1993). No plano funcional, a relação professor-aluno no fechamento e devolução das produções é igualmente relevante para a conformação do grupo, sobretudo no que diz respeito ao estabelecimento dos princípios de convivência e dos “contratos” que regem comportamentos e o “clima” em sala de aula mais ou menos facilitador da aprendizagem (AQUINO, 1996 a,b). No plano cognitivo, tanto o processo de aprendizagem como a disponibilidade para a realização de tarefas específicas são afetadas por diferentes aspectos. Por um lado, a história de escolaridade, vivida a longo prazo, deixa profundas marcas na valoração do campos do saber ou na constituição do auto-conceito acadêmico, fatores determinantes para a compreensão do modo como o sujeito se lança à busca do conhecimento. Por outro lado, há que se considerar o contexto imediato, cuja força circunstancial pode, na prática, reverter um quadro de referências, gostos e disponibilidades há muito tempo cristalizadas (COLELLO, 1997). Com o objetivo de apoiar o processo de escolarização, favorecer a aprendizagem e a constituição do “aluno estudante”, o professor deve estar atento à relação sujeito-escola nos vários planos de manifestação, enfrentando a difícil tarefa de canalizar energias, atenuar reações adversas, estimular propostas inovadoras, alimentar constantemente a curiosidade e o gosto pelo saber. Pensando em mais uma atividade José Carlos é pai de três filhos. No mês passado ele faleceu. Agora seus filhos terão que dividir os 19 cavalos deixados pelo pai. O que vocês sugerem que façam para que essa divisão não deixe nenhum dos filhos em desvantagem? Veja no relatório de entrada múltipla as soluções e intervenções da professora Dupla: Nós pensamos assim: Se 19 cavalos é pra dividir entre 3 filhos aí eu falei vamos desenhar que fica mais fácil nós desenharmos 3 filhos e 19 cavalos demos 6 para cada um e sobrou 1 que vendemos. Professora-pesquisadora: Vocês sugeriram a venda do cavalo que sobrou. E depois o que fazer com o dinheiro da venda? Dupla: Com o dinheiro nós dividiremos com os três filhos. Professora-pesquisadora: E por quanto vocês acham que os filhos devem vender esse cavalo? Dupla: Por 1000 reais. Professora-pesquisadora: E depois da venda, como dividiriam esse dinheiro de maneira que nenhum deles saia prejudicado? Dupla: Cada um receberá 300,00. Professora-pesquisadora: E o que fazer com o dinheiro que sobrou? Dupla: Nós doaríamos para os mais necessitados. Fonte: MENGALI, 2011, p. 111. Intervenção Quem , para quê, por que^? Reflexões A intervenção educativa propicia atividades culturais, escolares e sociais, tendo como alvo os processos de desenvolvimento, personalização, socialização, humanização e libertação. Trata-se, portanto de uma prática essencialmente pedagógica que ganha sentido pela sua conotação política. Problematizando Muitas vezes os alunos criam contextos irreais ou usam dados inadequados para o contexto. Ou, ainda, elaboram um problema com algum sentido, mas, apresentam uma resolução que nada tem a ver com o contexto criado, como no exemplo a seguir, extraído de Nacarato, Mengali e Passos (2009, p. 90-91): João tinha 45 kg e Maria tinha 28 kg. Quanto João tinha mais que Maria?Em seguida, ele apresentou o seguinte algoritmo: DU 345 –28 17 28 01 DU Logo, abaixo, colocou a resposta: João é 17 vezes mais pesado. O que nos chama atenção nesse caso: — O enunciado do problema está correto, inclusive sem erros ortográficos. — O algoritmo da divisão está correto e nele indicou todos os procedimentos que devem ser feitos. No entanto, usou o algoritmo da divisão para um contexto de subtração. Mas a sua resposta revela que ele, provavelmente, já o conhecia, pois ele se refere ao resto da divisão, e não ao quociente, ou seja, indica estabelecer a diferença entre 45 e 28, embora use de forma equivocada na resposta a expressão 17 vezes mais pesado, visto que esta se refere a um pensamento multiplicativo, e não aditivo. Chamamos a atenção para a particularidade do caso. Embora dividir possa ser interpretado como subtrair sucessivamente o divisor do dividendo, nesse caso particular, o resto corresponde à solução do problema proposto porque o quociente foi unitário. Numa situação como essa a professora poderia instigar seus alunos a investigarem outras situações em que o quociente fosse maior que um. O CONGRESSO MATEMÁTICO Ideia de Congresso Matemático O desenvolvimento de tal atividade exige uma nova metodologia em sala de aula. Nesse sentido, uma nova modalidade de exploração da matemática escolar vem ganhando uma certa valorização. Trata-se das aulas investigativas, em que o aluno é colocado diante de tarefas que requerem a predisposição e a aptidão para raciocinar pela investigação matemática aproximam-se do levantamento de hipóteses e da resolução de problemas. MOVIMENTO DO SER E DO SABER O congresso matemático, como atividade de ensino-aprendizagem, ajuda a trazer para a sala de aula o espírito da atividade matemática genuína, constituindo, por isso, uma poderosa metáfora educativa. O aluno é chamado a agir como um matemático, não só na formulação de questões e conjecturas e na realização de provas e refutações, mas também na apresentação de resultados e na discussão e argumentação com os seus colegas e o professor (PONTE; BROCARDO; OLIVEIRA, 2003) • Fechamento Forma marcas de integração sistêmica, elaborando: Relações Investiga ções Problemati Zações Registros Produções O fechamento ou a integração visa relacionar conceitos e ideias, pontos principais d aula, socialização de conteúdos trabalhados no processo ensino aprendizagem. Esse fechamento pode ser feito de forma oral, escrita, em equipe, individualmente, com a classe toda, utilizando as mais variadas técnicas, como dramatizações, por exemplo. Referência AQUINO, Julio. Confrontos na Sala de aula: uma leitura institucional da relação professor-aluno. São Paulo, Summus, 1996 a. ____________ Indisciplina na escola – Alternativas teórico práticas. São Paulo, Summus, 1996 b. BRANCO, A. U., & VALSINER, J. (2004). Communication and metacommunication in human development. Greenwich, CT: Information Age Publishing. Brasil, Secretaria de Educação Básica: Diretoria de Apoio à Gestão Educacional. PNAIC, Brasília: MEC, SEB, 2013. COLELLO, Silvia. Redação Infantil: tendências e possibilidades. tese de doutorado apresentada à Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, São Paulo, 1997. MARTINS, L. C., & BRANCO, A. U. (2001) Desenvolvimento moral: considerações teóricas a partir de uma abordagem sociocultural construtivista. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 17(2), 169-176. PONTE, João Pedro; BROCARDO, Joana; OLIVEIRA, Hélia. Investigações Matemáticas na Sala de aula. Belo Horizonte: Autêntica, 2003, 1a edição, 151p. VALSINER, J. (2007). Culture in minds and societies: Foundations of cultural psychology. New Delhi: Sage.