Carta Mensal aos Cotistas – Março 2015 “C uidado com os idos de março” alertava o vidente a César que, tal como a presidente Dilma Rousseff vinte séculos depois, se via às voltas com uma conspiração no senado. Se a presidente não chegou a sofrer o fim trágico do imperador romano, a devolução pelo presidente do senado das medidas provisórias do governo foi, certamente, um golpe de letalidade comparável. De fato, há consenso hoje que somente o prometido ajuste das contas públicas separa o Brasil do abismo financeiro. A agência Moody’s reforçou essa noção ao afirmar, em relatório recente, que a nota de crédito do país só não fora rebaixada a grau especulativo (“junk”) porque Dilma 2.0 se comprometera a uma guinada fiscal. A presidente acusou recibo e o ajuste passou a ser tábua de salvação, à qual se agarra o governo com o fervor dos agnósticos recém-convertidos à ortodoxia. Ocorre que para implementá-lo é preciso antes aprová-lo no legislativo, o que coloca o governo na precária posição de refém de um congresso amotinado. Ciente de seu poder de vida-ou-morte o congresso, por sua vez, ameaça, chantageia e até demite ministros despudoradamente. Enquanto o legislativo pendia uma espada sobre a cabeça da presidente, a Procuradoria encaminhava pedido de inquérito contra dezenas de políticos do governo e de partidos aliados, citados na investigação Lava Jato. Entre os citados, estavam os presidentes da senado e da câmara – que, prontamente, atribuíram sua inclusão a manobra do executivo. A crise entre poderes, e entre o governo e a dita base aliada, se escancarava. Acuada, a presidente via sua popularidade despencar enquanto a economia – que, segundo o IBGE, estagnou em 2014 – mergulhava no vermelho. Marqueteiros, a tropa de choque ministerial e o próprio Lula foram convocados para reverter a maré. Mas tentativas de retomar a ofensiva saíam pela culatra: quando foi à TV explicar o ajuste à população, a presidente foi surpreendida com “panelaço” das janelas de todo Brasil. Quando visitou uma feira industrial em São Paulo, foi saudada com sonora vaia e teve de ser escamoteada às pressas pelos fundos. Tamanha a impopularidade da chefe- de-estado que foi praticamente obrigada a se refugiar atrás dos muros palacianos, sob pena de novas e humilhantes execrações públicas. Os protestos culminariam com a maior manifestação de rua desde o movimento das Diretas Já: 1,7 milhões de pessoas em todo Brasil, segundo a polícia – justamente no fatídico dia 15, os idos do antigo calendário romano. A fragilidade política do governo reverberou forte nos mercados, principalmente com a disparada do dolar, mas isso não deteve o ministro Levy, que continuou a terraplanagem das velhas políticas: anunciou o fim da política concessão desenfreada de crédito público e, junto ao Banco Central, das intervenções no mercado de câmbio. Nos EUA, outro número forte de emprego fez aumentar expectativa de que o Federal Reserve finalmente comece normalizar a política monetária esse ano. Entre mortos e feridos da briga entre poderes, das investigações e protestos, salvaram-se ao menos dois ilesos: as instituições políticas que, em meio à convulsão, continuaram funcionando exemplarmente, e os valores democráticos da sociedade civil – sociedade que protestou ordeira e pacificamente e, na sua esmagadora maioria, rejeitou qualquer tentação extra-constitucional. Virtudes que, quaisquer que sejam seus outros vícios, diferenciam o país de muitos de seus pares. E, no longo prazo, tão ou mais importantes do que o almejado equilíbrio fiscal. Outra vez os acontecimentos políticos propiciaram um caldo fértil para alta de juros e dolar no Brasil. Nossos modelos de tendência, que em geral vicejam em tais condições, não desapontaram: o modelo 2 superou o bom desempenho de fevereiro e o modelo 1, que vinha neutro, deu entrada, registrando fortes ganhos iniciais. Esses ganhos, porém, foram subsequentemente devolvidos quando o tom otimista do Relatório de Inflação jogou água fria na perspectiva de elevação mais acentuada dos juros. Os modelos 3 e 4 foram beneficiados por uma bolsa surpreendentemente bem comportada e voltaram a entregar resultados positivos. O resultado agregado do mês ficou em 7.62%. Equipe Zeitgeist Apêndice: avaliação de três anos de Zarathustra FI O dia 6 de março marcou três anos do Zarathustra FI. Nesses três anos o fundo atingiu 73,3% de retorno líquido (até o dia 6), ou 244% do CDI no período, com um índice sharpe de 0,82. Destacamos algumas características observadas ao longo desse período: a) Consistência de retornos: o retorno acumulado de 252 dias úteis ficou acima do CDI durante 94% do período e acima de 200% do CDI durante 70% do período; consistência seja talvez dos objetivos mais desafiadores. Quando testamos nossos modelos um dos critérios é índice sharpe. Um sharpe alto geralmente se traduz em retornos elevados, mas não necessariamente consistentes no tempo (um modelo pode apresentar longos períodos de baixos retornos, intercalados de curtos períodos de alto retorno, resultando em alto sharpe) Através da diversificação de modelos, contudo, buscamos uma carteira que seja, simultanemante, rentável e consistente. b) Consistência de volatilidade: Partimos do princípio de que o mandato do gestor de fundo multimercado seja o de gerar retornos que o investidor, por si próprio com os instrumentos à sua disposição, não teria condições de gerar. Para tal é necessário, em geral, exposição a ativos de risco e/ou alavancagem. Embora a volatilidade não seja um objetivo em si mesmo (e possa ser minimizada, através de alocação e divesificação de carteira), baixa volatilidade pode indicar uma carteira insuficientemente exposta a risco e, portanto, aquém de seu potencial de retorno. A meta do Zarathustra FI é uma volatilidade anualizada de 15%. Nesses três anos, a volatilidade foi de 13,60%, sendo que a volatilidade de 252 dias ficou entre 14% e 21% durante 75% do período. c) Baixa correlação dos retornos com benchmarks: A correlação entre os retornos do fundo e benchmarks foi baixa: Correlacoes 2012-15 Ibovespa -0.26 IMAB +5 IRFM +1 dolar -0.32 -0.44 0.28 As correlações mensuram o quanto do resultado pode de fato ser atribuído à capacidade do gestor. Por exemplo: se a correlação entre os retornos de um fundo e o índice Bovespa fosse alta (próxima de 1), é provável que o gestor estivesse simplesmente investido em bolsa durante todo período. Ora, o investidor poderia obter o mesmo resultado, ele ou ela própria, simplesmente comprando o índice sem intermediação do gestor. Outra forma de medir o mesmo efeito é através da análise dos coeficientes de uma regressão múltipla dos retornos contra benchmarks. Os coeficiente são conhecidos como beta e representam o quanto do resultado pode ser atribuído a ficar investido no respectivo benchmark. O que sobra, o intercepto da regressão, ou alpha, representa o quanto o gestor efetivamente agregou ao retorno graças à sua competência (ou sorte!). Quando se faz essa análise para o Zarathustra FI, obtem-se a um alpha anualizado de 4% (tabela 1). Fazendo a mesma regressão para o IHFA, um índice de fundos multi-mercado, obtem-se alpha anualizado de 0.53%: Tabela 1: Zarathustra vs benchmarks Zarathustra alpha* Ibovespa IMAB +5 IRFM +1 dolar Coefficients 0.016% -0.119 0.255 -2.144 0.149 Standard Error 0.000 0.024 0.075 0.237 0.048 t Stat 0.486 -4.978 3.406 -9.062 3.065 Tabela 2: IHFA vs benchmarks IHFA alpha* Ibovespa IMAB +5 IRFM +1 dolar Coefficients 0.002% 0.006 -0.003 0.008 0.047 Standard Error 0.000 0.004 0.012 0.038 0.008 t Stat 0.395 1.526 -0.261 0.204 6.065