ID: 54535490
25-06-2014
Tiragem: 13350
Pág: 8
País: Portugal
Cores: Cor
Period.: Diária
Área: 26,82 x 10,68 cm²
Âmbito: Economia, Negócios e.
Corte: 1 de 1
OPINIÃO
Duarte Nunes
Direção de Investimentos do Banco Best
Foco no que é real
A volatilidade está a níveis muito
reduzidos: o VIX, medida de volatilidade
do S&P500 - o índice de referência
para os mercados acionistas norte-americanos - está a níveis não vistos
desde fevereiro de 2007, concretamente
nos 10%. Por comparação, o valor
médio deste indicador em 2013 foi
de 14%; em 2012 foi 18%; em 2011 foi
24%; em 2010 cifrou-se perto deste
valor nos 23%; e em 2009 e 2008
atingiu proporções elevadas de 31%
e 32%, com um máximo de 80%.
Observando a Europa, a métrica
equivalente reflecte um padrão
semelhante.
Da mesma forma, noutros ativos, como
as obrigações, verifica-se uma redução
das medidas de volatilidade para níveis
confortáveis, à medida que estes ativos
O risco está, em geral,
muito baixo nos mercados
financeiros
apreciam.
Concluindo: o risco está muito baixo
nos mercados financeiros, em geral.
Mas existe um reverso da medalha.
Do outro lado, existe também uma
queda significativa do retorno
esperado para os ativos financeiros.
Em teoria, o retorno de um ativo com
risco é igual à soma do retorno do ativo
sem risco (obrigações alemãs por
exemplo) mais o prémio de risco:
Ra=Ri+Prémio de Risco; em que Ra é
o retorno de um ativo com risco e Ri
o retorno de um ativo sem risco. Se o
Risco e, como tal, o Prémio de Risco,
é baixo, então o Retorno Esperado
também é baixo.
Neste cenário de risco mais reduzido e
retornos esperados, em conformidade,
mais moderados, os agentes de
mercado podem ser tentados a
procurar obter maiores retornos como
forma de manter níveis de remuneração
do capital interessantes. O problema é:
pode não ser possível conseguir fazê-lo
sem incrementar demasiado o risco.
Um perfil conservador deverá
compreender que os retornos mais
baixos dos seus investimentos são uma
consequência natural do menor risco
vigente no mercado financeiro e, da
mesma forma, um perfil agressivo
deverá compreender que o potencial
de ganho do seu portfolio é menor em
comparação com os anos anteriores.
Ambicionar um maior retorno será
acompanhado de um incremento de
risco não correspondente ao perfil
do investidor.
No entanto, note-se o seguinte: todo
este raciocínio aplica-se a retornos
nominais; os retornos reais, aqueles que
são ajustados pela inflação e que, de
facto, interessam como medida de
ganhos, são de momento adjuvados
por uma taxa de inflação baixa e que
se estima baixa em média para os
próximos anos.
Mais uma fórmula: Rr=Rn-inf. Em que
Rr é o Retorno Real e Rn o Retorno
nominal; e inf é a Taxa de Inflação. Se a
Taxa de Inflação descer no mesmo
valor que o Retorno Nominal, então
o Retorno Real fica igual.
Consultar os retornos nominais de uma
aplicação financeira, desde o Depósito
a Prazo ao retorno esperado de um
investimento direto em bolsa, pode
levar a uma ilusão de lapidação dos
ganhos. Na conjuntura atual em que tal
se espera vir a acontecer, mais que
nunca o investidor deverá focar-se
no Retorno Real. Esse esforço de
concentração no Retorno Real é
virtuoso, pois são só leva o investidor
a uma análise mais coerente - mais real
- como evitará cometer o erro de
incrementar o risco para além do
recomendado, expondo-se a perdas
indesejadas e mais avolumadas.
Assim, solicita-se: foco no retorno real.
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Foco no que é real